Only My Little Clove (Jogos Vorazes) escrita por Clove Flor


Capítulo 34
Amou daquela vez como se fosse a última. - Capítulo 35, final.


Notas iniciais do capítulo

Trecho do título da música "Construção" do Chico Buarque.

Falo com vocês no final BOA LEITURA!!!!!
>>>>>>>>>>>>>>>LEIAM AS NOTAS FINAIS POR FAVOR



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Point of View - Cato.

Amou daquela vez como se fosse a última.

Capítulo Final

(TEM O EPÍLOGO, AGUARDEM)

Os próximos dias vividos foram dias mortos.

Eu matei Thresh. Nunca me senti com tanta angústia, força e determinação: eu havia pego a pedra molhada de sangue dela e bati diversas vezes em sua cabeça, esmagando. Ele gritou.

Eu também.

Seu físico era bem maior que o meu, sua força mais poderosa em algumas situações, mas não importa, eu consegui, eu o matei. Me vinguei.

É estranho pensar nela quando não a tenho ao meu lado. Esse nome, agora, tão vazio quanto o próprio corpo, faz com que minhas pernas bambeiem, meu coração ficar dolorido e meus olhos arderem. Ela não está mais aqui. Ela não está mais aqui. Como?, me indaguei. Como não a salvei? Estávamos tão perto, tão perto, e agora está tão longe...

Poderíamos ter uma família linda.

Um barulho alto ecoou, me fazendo parar de andar e empunhar a lança trêmula em minhas mãos. Canhão.

Um canhão... Quer dizer que agora só há duas pessoas além de mim vivos nesta arena – e pensar que antes éramos vinte e quatro ─. Teria sido Peeta, por sua perna? Katniss? Ou a ruiva do Distrito 5?

Não sei.

Com uma dor de cabeça insuportável consegui encontrar um local um pouco camuflado pelas plantas ao redor (dane-se se parecer desprotegido) e, antes de adormecer, rezei para sonhar com ela.

Acordei rápido.

Com mais outro barulho, como um ruivo ou latido, algo rosnando.

Argh, amaldiçoei em pensamento, erguendo-me da posição desconfortável, observando os lados. Que é agora?

Talvez, internamente, eu não queria saber. Lembrei-me de quando meu pai reunia minha família em frente da lareira e nos contava sobre a Arena, o que acontecia lá dentro, o que via, ouvia e sentia. Só me deixava mais ansioso para quando chegasse minha vez – que quase não aconteceu ─.

Foi quando ouvi algo rastejando... – ele começou, mas logo parou para fazer um suspense ou coisa do tipo.

O que era, o que era? – apressei-o, ansioso. Ergui mais meu rosto para se aproximar pelo menos de seus joelhos, já que ele estava sentado em uma poltrona e eu no chão. Não iria perder nenhum detalhe.

Meu pai sorriu com todos os dentes e bagunçou meu cabelo com a mão.

Cobras. Mas cobras diferentes, Cato. Chamam isso de... como mesmo? Ah, sim! Bestantes.

Estreitei os olhos.

Bestantes?

Normalmente animais geneticamente modificados pela Capital. Acredite, você não gostaria de ver um.

Ah, mas naquele momento, desejei muito poder ver.”

Então deve ser isso, pensei. Bestantes.

E a próxima coisa que fiz foi correr. Forcei minhas pernas cansadas em um ritmo tão forte e rápido que, damn it!, imaginei que poderia ter corrido assim para salvá-la.

Mas você correu.

Porra, eu sei. Eu sei.

[...]

Aauf!

Vou morrer, vou morrer, repeti mentalmente enquanto tentava encontrar algum local para desviá-los. O que diabos são isso? Cachorros? Lobos?

Eu sabia um local em que poderia me manter salvo. Mesmo não querendo voltar pra lá, mesmo com medo de ver e tocar o mesmo local, percorri cheio de adrenalina a direção traçada em minha mente.

Enquanto pulava os galhos do chão, correndo e quase caindo a cada cinco passos, vi de longe duas figuras: um Peeta meio manco e uma Katniss suja. Ta, eu também não devo estar uma beleza, mas ugh, porquinha.

Não sei porque gritei.

─ Corre! – berrei desesperado, tentando fazê-los me ouvirem e saírem da frente. ─ Saiam daí! Corram!

Deu certo, acho. Eles me viram, os olhos arregalados, mas não prestei muita atenção porque eu estava tentando, sabe, viver. Conseguia sentir o calor emanando das criaturas atrás de mim, latindo alto, rosnando, correndo correndo correndo.

Acho que os dois estavam me seguindo, sem outra opção, porque essas bestas não cansavam de nos perseguir querendo nosso sangue.

Avistei o topo da Cornucópia entre o emaranhado de árvores e folhas. Quase lá, estamos quase lá.

Uma lufada de ar fresco atingiu meu corpo quando a clareia onde tudo começou surgiu. Mesmo com minhas pernas palpitando de dor e cansaço, meu corpo todo implorando para descansar um mísero segundo, continuei. Minhas mãos agarraram um dos metais da lateral da cornucópia e, tentando ao máximo não escorregar, escalei-a com dificuldade. Ouvi os ofegos de Peeta – como ele ainda não morreu? ─ e os gritos da chaminha.

Cai por um momento no chão de metal, tentando manter a respiração. Pensei, talvez eu não esteja vivo em alguns minutos.

É assim então, Capital? Quer terminar o Jogo dessa forma?

Então que termine.

Levantei-me quando vi que Katniss havia conseguido subir e segurava a mão de Peeta, o ajudando a se erguer. A matilha de bestantes – agora eu via melhor, eram uma espécie de cachorros enormes, olhos faiscantes e... Espera.

Puta que pariu, espera.

Eu já vi essa cor de amarelo antes. Não é simplesmente pelo, esses olhos azuis berrantes, me encarando, furiosos. Doentio. Parece muito com... Glimmer.

O que eles fizeram?

Não deu muito tempo para pensar antes que eu ouvisse um vento cortante atingir minha bochecha. Katniss quase acertou sua flecha no meu rosto!

Já chega. Anos de treinamento me renderam uma boa mira, não é só ela que sabe matar.

Eu também sei.

Minha lança, empunhada, voou em direção de Peeta, enfraquecido e com o ferimento protegido por um tecido. Teria acertado seu coração em cheio se ele não houvesse escorregado e caído de joelhos. Patético.

Aproximei-me dos dois com rapidez, desferindo um golpe no arco da morena, que deslizou até o outro lado da Cornucópia. Ambos sem armas, cansados e desesperados, tentávamos nos acertar com socos e pontapés – até que consegui empurrar Katniss, que se chocou contra o piso de metal. Aproveitei para pegar Peeta pelo pescoço e o jogar na beirada da lateral, forçando seu rosto para baixo. Os bestantes tentavam nos alcançar, pulando, quase mordendo os cabelos loiros do garoto.

Minha brincadeira durou pouco, quando Katniss agarrou meus ombros e me trouxe para trás, conseguindo, ó, salvar seu grande Peeta.

Não senti inveja pelos dois, não.

Ergui-me, as costas doloridas, e consegui mais uma vez fazer com que a morena caísse no chão, socando sua testa com o máximo de força. Puxei Peeta pelos cabelos, trazendo-o para cima e apertei meu braço sobre seu pescoço, com força.

Quando Katniss se levantou, já estava com o arco e flecha em mãos, posicionado para a última flechada. Todos nós paramos. Ela percebeu o impasse assim que ameacei jogar o loiro em direção dos Bestantes. Escorria sangue de algum ponto de minha testa, misturando com meu suor e não lembrava como consegui o ferimento. Inspirei.

─ Vamos lá, atire! – gritei, apertando com mais força a jugular do garoto. Quem irá vencer esses Jogos? ─ Nós dois caímos e você vence.

Os olhos cinzentos de Katniss estavam indecisos. Não sabia o que fazer, como agir. Eu soube nesse momento de hesitação que ela realmente gostava de Peeta.

─ Vá em frente! – apressei. Mas uma coisa se passou por minha cabeça: se eu vencer, o que irei fazer? Como vou viver sem ela, meu Deus? ─ Já estou morto mesmo.

Eu quero sobreviver? Eu realmente quero voltar para meu Distrito, ganhar uma casa nova e glória?

Não mais.

─ Sempre estive, não é? – ofeguei, olhando para os lados em busca de algo. Foi quando encontrei uma bestante, um pouco menor do que a maioria da Matilha. Tinha pelos claros, dentes afiados e olhos verdes. Era a única que não latia. Não, não. Pequena. Não sabia até agora. – encarei os céus, em busca de câmeras. ─ E aí?! É isso o que eles querem?!

Devo ter me mexido demais, meu coração batia com rapidez, machucando. Katniss apontou sua arma em minha direção, como um aviso, pronta para atirar.

─ Haa, - movimentei o corpo de Peeta em direção ao chão, onde a matilha se amontoava para agarrar qualquer coisa possível e posicionei minhas mãos ao redor do pescoço e nuca dele. Um movimento e eu quebrava seu pescoço. ─ Não, não. Eu ainda posso fazer isso. Mais uma morte; é a única coisa que eu sei fazer. Dar orgulho ao meu Distrito... Não que isso faça alguma diferença.

Soltei um grito agudo quando a dor começou a se fazer presente – no exato momento em que a flecha atravessou minha mão, e larguei inconscientemente o garoto, que aproveitou a oportunidade e me empurrou.

Me vi caindo em direção à morte.

Os dentes raivosos dos cachorros prendiam-se em minha pele, puxando, rasgando e dor, dor, dor. Mal podia enxergar devido os bestantes em cima de mim, atrapalhando qualquer coisa que eu pudesse ver. Eu gritei, várias e várias vezes, até que desisti de me espernear e implorei. Por socorro. Por ajuda. Porque, depois de tudo o que aconteceu dentro e fora desta Arena, ainda sou humano. Ainda sou mais um adolescente que gosta de acordar na hora do almoço, reclamar da escola, que sonha com grandezas e que se apaixona. Continuo sendo alguém que, de um jeito ou de outro, merecia mais. Mais tempo, mais um abraço nos pais, mais um beijo na namorada, mais um lanche do McDonald’s, mais um sorriso, mais uma vitória.

Só que acho que sorri. Porque, em meio de todo o barulho, dor, sangue, houve um momento de delírio. Visualizei primeiro aqueles olhos verdes como grama, úmidos, chamativos. Depois, o rosto; o cabelo com aquele cheiro de cereja que me traz paz; a boca fina rosada, ela, e, wow, que saudades eu senti dela. Clove, você, eu, nós dois... demos um belo show juntos nesta vida, pequena.

Mas então... ela começou a correr. Por que está fugindo de mim?

"Ei, não! Volte aqui!" acho que gritei. Tentei alcançá-la, aos prantos. "Não! Não posso te perder de novo, Clove! Eu... Espera!"

Devo ter segurado sua mão, porque a vi parando diante de mim, seus cabelos negros balançando até perderem o ritmo definitivamente.

Foi quando ela se virou e...



[Hey! Não ria desse jeito!
Eu pensei que nunca mais iríamos nos ver de novo!]


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Notas finais do capítulo

Então, é isso. Como é que dizem? A morte é algo tão... de repente, como uma frase mal acabada.
Isso machuca um pouco, ter escrito essa cena. Porque eu me lembro de todos os momentos Clatos que houve aqui, nesta fanfic, todos os beijos, brigas, histórias. São crianças inocentes. ME PERDOEM se o final não foi como esperava, mas eu não soube como representar a morte mais do que isso, algo sem um ponto final definitivo, que se diz "pronto, terminei, podem me levar". Nada parecia bom para terminar, nada. Eu devo ter re-feito o final mil vezes. Me perdoem. Ainda não sei se o final ficou bom.

NÃO ME ABANDONEM