Capítulo Quinze

Robertha, estragando tudo

“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade”

(Carlos Drummond de Andrade)

O coração de Anne fora a mil, enquanto seu rosto ficava de uma cor rubra. Feito um tomate. O que restara foi tapar os olhos pela cena que vira a sua frente. E isso fora visto quando passava ao corredor, de forma inocente, quando o banheiro fora aberto de forma brusca a sua frente.

E foi então que ela presenciou a pior visão de todas, mesmo que seja de um homem atlético, mas nu. Isso mesmo, nu!

A morena sempre pensava que viria um nessa situação apenas na sua primeira vez, mas não dessa forma. Porém, Max fora o primeiro a beijá-la e, agora, mostrar-se completamente para ela.

— O que você tem na cabeça para sair do toalete dessa forma? — questionou, ainda tapando sua visão.

— Quem mandou ficar no corredor bem nessa hora? — revidou.

— Mas eu não sabia que tu tinhas essa mania de andar nu pela casa. — respondeu.

Estava muito constrangida enquanto dava passos para mais longe dele, ainda sem querer enxergar o que estava a sua frente.

— Pode abrir os olhos, eu já me troquei. — comentou de maneira zombeteira.

A garota então ameaçou todos os ancestrais do loiro ao perceber que era mais uma brincadeira dele, fazendo com que o visse novamente sem traje. Automaticamente abaixou a cabeça, para depois fechar suas mãos em punho.

— Se não sumir agora irá se arrepender de ter nascido. — berrou.

Max sumiu rapidamente enquanto pedia socorro, já a morena ia em direção ao seu quarto enquanto ria loucamente. Porém ainda pensando no constrangimento que passou e que, provavelmente, terá que fechar aquele banheiro para que esses encontros não ocorram novamente.

Enquanto trocava de roupa, da qual fora escolhida há tempo, gargalhou ao imaginar o loiro correndo feito um gay pela casa, mas ainda nu. Botou uma calça de couro preta e uma blusa branca com a bandeira dos Estados Unidos nela, uma bolsa de marca amarela e um salto alto azul. E pensando no quanto chamaria atenção, deixou a bolsa de lado e sapato, colocando apenas um tênis.

Talvez nem a notassem. E isso é ótimo.

“Anne, já estais pronta? Quero muito ver o meu amor, deve estar lindo de cabelo loiro” — Fuinha.

Ao ver a mensagem apenas rolou os olhos e respondeu.

“Ainda são 16h30 fuinha” — Anne

Só depois notou o que tinha dito, mas era tarde.

“Do que me chamou? Melhor do que ser uma cópia mal feita da Charlotte. E eu sei que ainda são 16h30, mas não posso deixar de comentar o quanto quero me encontrar com o meu Ethan” — Fuinha.

Uma briga por mensagens? Isso está ficando bom.

Mas o que mais chamou sua atenção foi o “meu” que escreveu se referindo ao garoto. Aquilo era uma mentira, uma falácia e nunca ocorreria de verdade. E mesmo assim, tentou ignorar a dor em seu peito e a raiva repentina que surgiu.

“Ainda prefiro ser chamada dessa forma a parecer um animal com bigode. E o Ethan não é seu, mas sim da namorada dele apenas!” — Anne.

Em um segundo o celular tocara novamente, nunca fora tão rápida.

“Eu não tenho bigode! E me encontre daqui uma hora atrás do lote 39.” — Fuinha.

Então Anne percebera que estava realmente irritada, até usou letras maiúsculas. Respondeu apenas um “tá” e foi arrumar o cabelo. Colocou apenas uma tiara fina nele, não querendo por uma de laço para não parecer tão criança. Então soube que esse pensamento foi devido às zombarias do Ethan.

Ao chegar à penteadeira pensou várias vezes se colocaria ou não maquiagem, decidindo em por pó, base, blush, rímel e uma simples sombra. Não quis passar batom, já que os únicos que haviam em seu kit eram fortes e poderia arruinar o plano que tinha. Se bem que o buço da Robertha chamaria mais atenção que desejaria.

— Está muito linda, minha Anne. — sussurrou alguém em seu ouvido.

Nesse instante a garota mentalizou como não percebera uma pessoa desse porte entrando em seu território, esquecendo-se do que tinha lhe dito.

— O que disses? — questionou ao olhar para James.

— Eu te elogiei. — comentou.

— Normal. — revidou de forma indiferente.

O ruivo então se sentou na cama, olhando-a enquanto colocava as joias. Mirava de forma tão intensa que a garota ficou vermelha ao notá-lo pelo espelho. E mesmo que o fulminasse para que focasse em outro ponto ele não o fazia.

— Para de me olhar dessa forma. — gritou.

Então algo estranho soou de seus lábios.

— Posso te beijar? — questionou enquanto abaixava a cabeça.

E agora? Nem a desculpa de que vai borrar o batom pode dar.

— E também pare de dizer essas coisas tão de repente, é constrangedor. — confessou.

Com isso James a mirou de maneira decidida, parecendo pensar muito antes de continuar a conversa.

— Ainda não respondeu minha pergunta: posso te beijar, Anne Evans? — perguntou.

“Sim, diga sim”.

— Não. — respondeu rapidamente enquanto corria para fora do quarto.

Desceu as escadas de maneira rápida, parando ao ver alguém dormindo na sala. Era Ethan vestindo um terno. Daqueles mais elegantes, até porque fora dado por Anne no primeiro dia de aula. Ela então percebeu que o que gastou não foi de todo mal, já que ele ficara mais másculo com essa roupa.

Então teve certeza de que a acompanhante irá gostar do que vai ver. Muito.

Depois de tanto mirá-lo notou que não estava com o cabelo loiro, acordando-o em seguida. Com o despertar completo do gênio, Anne resolveu comprar uma peruca que fosse parecida com o de Max. Felizmente essa tarefa fora cumprida rapidamente, já que a primeira loja tinha realmente o que queriam.

— Não acredito que pagou R$200,00 por uma peruca! — exclamou o garoto.

— Até que foi barata, porque geralmente as que eu compro estão em torno de R$500,00 e R$1.000,00. — declarou sem emoção.

— Para que compra essas perucas? — questionou.

— Não te interessa. — revidou.

Ela não iria dizer que usava para seus shows particulares em que dançava em todos os ritmos e figurinos diferentes. Nunca.

☮

— Por qual motivo demorou tanto? — perguntou Robertha após a garota chegar.

— Pois tive que despistar o James. — mentiu.

— Agora vai dizer que estão namorando? Pois ninguém acredita nisso, até porque ele estava de beijos com a cópia popular. — comentou.

— Ele não é meu namorado. — respondeu com desdém.

— Eu sab-— começou, mas foi cortada.

— É meu noivo. — completou de forma mais nojenta possível.

— Mas eles entraram faz duas semanas na escola! — exclamou de forma perplexa.

— O que eu faço da minha vida não é da sua conta. — rosnou.

E nessa briga sem sentindo o tempo passou, e quando faltavam dez minutos para o encontro a fuinha a obrigou a ficar atrás do vaso de planta perto das mesas e esperar o seu amado lá.

Após esse acontecimento Anne não pode deixar de mirá-la, percebendo que seu bigode crescera desde a última vez que a vira. Mas o pior é que estava com um tênis que continha a hello kitty do lado, e o pior, luzes piscavam a cada pisada que dava.

— Não tinha um sapato melhor para usar não? — questionou de forma perplexa.

— Minha mãe disse que homens gostam de mulheres que pareçam frágeis. — confirmou enquanto tentava fazer uma expressão meiga, mas parecia mais um cão chupando manga.

E não é dos cães mais bonitos.

— Frágil não é sinônimo de infantil, Robertha. — revidou enquanto revirava os olhos.

— Fique quieta que ele está vindo. — comentou com os olhos brilhando.

Isso é mais estranho que a cara anterior.

Enquanto passava muitos olhavam para Ethan de uma forma faminta, como se fossem atacá-lo a qualquer instante. E Anne confessou que ele ficara bonito, porém esquisito com aquela peruca loira. Parecia que estava ocupado, talvez passando mensagem para alguém. E depois disso foi em direção a mesa que estava uma garota de cabelo ruivo.

— Eu queria ser leitora de lábios agora. — choramingou a fuinha do meu lado, despertando-a de seus devaneios.

Nesse instante, também querendo saber da conversa, levou a planta para mais perto do casal. Ethan no momento percebeu que Anne estava atrás daquele objeto, piscando para ela de maneira provocante.

— Ele piscou para você? — sussurou a menina que estava ao seu lado.

— Cala a boca. — retrucou, querendo ouvir.

Então tudo ficou em silêncio, dando apenas para escutar o que estavam falando. Mas o que Anne não gostara foi à forma que a garota mexia seus cachos, como se estivesse em um concurso de bate cabelo.

— Ally, o que vai querer comer? — questionou o pseudo Max.

— Uma salada e refrigerante light. — declarou.

Típico de uma pessoa que quer impressionar.

A morena com isso desejava comer um milk shake e batata frita.

Depois de o garçom vir e eles comerem, a ruiva entrelaçou sua mão com a dele.

Porém uma coisa Anne se esquecera: E se a Ally resolver chamar o Ethan de Max? Então o plano vai por água a baixo.

— Quer que eu te conte um segredo? — questionou a garota.

— Qual? — revidou.

— Eu sei que é o Ethan. E quer saber? Prefiro você a ele. — confessou.

Ally foi chegando mais perto ao falar isso enquanto a Robertha olhava para a Anne de forma curiosa, mas irritada. Infelizmente ela é uma garota inteligente e tem boa audição. Então pegou o celular e mandou uma mensagem que fora mandada para o Ethan. E com toda a certeza isso acabou com o clima entre eles.

“Descobri tudo meu amor, não precisa fazer isso para me causar ciúmes. Eu amo você.” — Fã irritante dois.

Mas então a ruiva ignorou o que ocorreu e o beijou de surpresa, fazendo com que ficássemos perplexas. E a morena não soube o porquê, mas seus olhos ficaram marejados com isso. Um bolo subiu pela sua garganta enquanto tentava parar as lágrimas que temiam em sair.

Quando abriu os olhos percebeu que a fuinha estava atacando a Ally, na verdade a esganando. E então o segurança chegou e nos tirou dali, fazendo com que todos os planos de Anne, do A ao Z, não pudessem dar certo. E antes de sair do local perceberam que todas as pessoas os olhavam como se fossem ETs.

— Eu não acredito que tu tiveste coragem de beijar o meu Ethan! — exclamou Robertha para a ruiva.

— Ele não é seu, nem de ninguém. — respondeu a morena, tentando ser indiferente.

— M-mas ele me ama, é obvio. — retrucou.

Essa garota não desconfia de nada, não? Tem o ego pior que o da Anne.

— Sinto muito, mas eu não te amo Robertha. — declarou.

E então a fuinha arregalou os olhos, como se tudo que acreditava não fosse verdade. Porém estava mais do que na hora dela perceber e aceitar a rejeição que tivera. Sim, nessa escola os nerds são tão ou mais confiantes que os próprios populares.

— Isso é mentira. — declarou.

Com isso ninguém percebera que Ally já tinha partido.

— Não é. — retrucou.

E Anne ligou para o motorista, partindo em seguida, deixando os dois brigando sozinhos. Não tinha paciência para esperar algo em que sabe-se o final. Ao entrar no portão da mansão lembrou-se que James não havia aparecido para importuná-la no restaurante. E só de mentalizar sobre ele o seu celular tocará após ligá-lo.

“Anne, onde está?” — James.

Isso fora mandado as 19h02 e agora já eram 20h43. A morena então trocou o nome dele por “Sr. chato”.

“Em que local está?” — Anne.

Segundos depois fora respondido.

“Já estou em casa, já que nem te vi. E por que não me respondeu antes?”— Sr. chato.

Ela nada mandou, pois estava chegando a casa. Mas antes que o fizera alguém a chamou do lado de fora. Como estava escuro nada enxergou e ao perceber quem era se assustou.