Distrito 11 escrita por esa


Capítulo 3
Primeiros Pesadelos


Notas iniciais do capítulo

tá ai pessoal, espero que gostem



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            Minha barriga deu um ronco alto, eu realmente não comia havia muito tempo. Pus-me de pé e caminhei até a cômoda, apanhando uma camiseta regata branca lisa e calças coladas, porém confortáveis, que não eram as peças mais bonitas que já vira na vida, pois o tecido da calça era metálico, o que não me agradava muito. Calcei o par de sapatilhas mais comuns, que ainda assim continuavam estranhas à meus olhos. Roupas da Capital, com certeza.

            Eu nunca entendera a moda da Capital. Eles usavam roupas extravagantes e de cores que faziam meus olhos doerem, sem contar aqueles projetos de seres humanos que tingiam a pele de cores chamativas ou doentias, cheios de tatuagens reluzentes. Já vira mulheres com saltos tão altos que mal conseguia entender como elas mantinham-se sobre aquelas plataformas.

            Dirigi-me em direção ao banheiro, em busca de algo para prender os cabelos. Não achara nenhum tipo de grampo, que eu poderia usar para fazer meu habitual coque apertado no alto da cabeça. Remexendo em uma das gavetas encontrei uma chuquinha, que parecia-me suficiente. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo apertado e abri a porta. Ou melhor, tentei.

            Girei a maçaneta várias e várias vezes, mexi na trava para certificar-me de que não havia trancado, então percebi. Um pequeno e grosso pino de metal unindo a porta ao batente. Com certeza uma obra da Capital, afinal, eu não tinha jogado conforme as regras deles, criticando-os à plenos pulmões. Comecei à bater na porta, buscando por ajuda. Nada. Então comecei à gritar, logo capturando a atenção de todos à bordo.

            -- O que houve? – perguntou Zen do outro lado.

            -- Estou trancada! – falei tentando me acalmar, minha voz já falhava, o oxigênio começando à rarear. Ou era apenas minha impressão? Eu estava entrando em pânico, e a Capital devia estar adorando isto, então concentrei-me em manter-me calma,

            -- Destranque a porta então. – zombou Dawn.

            -- E você acha que se eu conseguisse já não o teria feito? – retruquei seca.

            Então, a porta se abriu, Jose com as duas mãos na maçaneta. Ele me olhava com um semblante confuso, porque o ato não exigira esforço. Eles haviam me trancado dentro, mas não haviam trancado a porta por fora. Realmente fazia sentido, afinal, eu era a ameaça, a única que os criticara.

            Todos me olharam preocupados, então baixei a cabeça e caminhei até o vagão onde a mesa se encontrava. Nunca vira tanta comida junta em toda a minha vida! Pilhas e pilhas de asas de frango, cremes e molhos dos mais variados, um enorme peru assado bem no centro da mesa e ervas em pequenos potinhos coloridos, dispostas ao redor do banquete. Ao lado, encontrava-se um pequeno carrinho, com várias garrafas de bebidas, de água e sucos à drinques dos mais refinados, e por sua vez, ao lado deste, dois adolescentes vestidos iguais, como garçons.

            A garota tinha grandes olhos pretos penetrantes e cabelos mel cheio de ondulações. Ela portava-se ereta e imóvel, quase como se não estivesse ao menos respirando. O garoto ao seu lado não devia ser tão mais velho que ela. Tinha olhos de um lindo castanho claro e cabelos pretos e encaracolados, postado rígido igual à garota.

            Já ouvira falar sobre eles. Avoxes. Não sabia muito sobre eles, apenas o que todos sabiam. Eram pessoas que desafiavam a Capital, e quando apanhados – se tivessem a sorte de não serem mortos – tinham suas línguas mutiladas, de modo que não pudessem mais falar. Um Avox é um servo, basicamente. Eles servem os tributos nos Jogos. Adoraria saber o que eles haviam feito para estares ali, mas obviamente não me arriscaria perguntando, ainda mais sabendo que não obteria resposta alguma.

            -- Sente-se April, coma à vontade, só não se entupa de comida, por favor. – disse Dawn delicadamente, ou melhor dizendo, tentando ser delicado.

            -- Obrigada. – fiz um aceno com a cabeça, mais como uma reverência, o que não o agradou muito, pois ele sabia que eu estava sendo irônica.

            Sentei-me à mesa, a cadeira era confortável, estofada e macia. Servi meu prato, repetindo-o mais duas vezes, até sentir a barriga enchendo, bebendo um delicioso suco de laranja. Então vieram as sobremesas. Um dos Avox trouxe um carrinho cheio de doces e confeitos, biscoitos coloridos, quadradinhos de chocolate e uma torta que parecia deliciosa, de morangos e chocolate. Ataquei a torta sem piedade, porém com educação, usando corretamente meus talheres e limpando a sujeira de meu queixo com um dos paninhos que eram deixados na mesa para nosso uso.

            Jose terminou antes de mim, logo levantando-se e caminhando até um dos enormes sofás localizados de frente para uma televisão gigantesca, deixando-me sozinha à mesa. Quando por fim terminei todos já me olhavam irritados, exceto Jose, que brincava com o veludo de uma das almofadas, completamente distraído. Eu havia demorado muito na refeição, mas ninguém falou nada. Quando por fim me sentei ao sofá, Dawn apertou um botão no controle, fazendo a tela piscar e acender, então começou.

            No Distrito 1 uma garotinha de aproximadamente treze anos foi chamada, mas por mais que fosse pequena e delicada podia-se ver em seus olhos a maldade já crescente, Dana. O garoto era enorme, provavelmente com seus dezoito anos, pois se voluntariara, o nome me passou despercebido, pois Jose jogou uma almofada em minha direção.

            No Distrito 2 uma garota alta e esbelta se voluntariou, os cabelos negros e extremamente lisos batiam em suas costas enquanto ela caminhava em direção ao palco montado na praça de seu distrito, os olhos verdes escuros penetrantes e perversos. Provavelmente com dezessete anos, Zoe. O garoto fora sorteado, mas ninguém se voluntariou em seu lugar, ele era pequeno, provavelmente com doze anos, seu nome era Beckiind¹, mas o chamaram por Beck.  Todos odeiam quando crianças entre doze e treze anos vão para a arena.

            No Distrito 3 uma garota de aproximadamente quinze anos teve de ser arrastada até o palco, seus olhos azuis estavam inchados e molhados, as lágrimas escapando descontroladamente, Kate. O garoto era loiro e atarracado, com braços enormes, mas fora sorteado.

            No Distrito 4 ambos tributos pareciam irmãos, loiros e de olhos verdes penetrantes, com aproximadamente quinze anos ambos. Carreiristas com absoluta certeza, por seu porte firme e a frieza com qual subiram ao palco. Ao meu lado, Jose bocejou alto, encostando a cabeça em meu ombro.

            No Distrito 5 a garota tinha cabelos avermelhados e sardas por todo o rosto, o garoto tinha cabelos laranja fogo e olhos pretos, Cann. No Distrito 6 ambos tributos tinham doze anos. A população estava prestes à começar um tumulto quando cortaram rapidamente para o Distrito 7, que por sua vez teve uma garota e um garoto de dezoito anos, com aparência monstruosa e alta estatura. No Distrito 8 ambos tributos tinham cabelos castanhos e olhos negros, provavelmente com idades próximas.

            -- Já está acabando, certo? – perguntei baixinho.

            -- Por que a curiosidade? – perguntou Zen olhando-me com uma ruga na testa.

            -- Porque um de nós dormiu. – comentei apontando para Jose, que instantaneamente abriu os olhos e sentou-se reto.

            -- Podem seguir, eu estou acordado. – falou com a voz embargada, com certeza havia cochilado durante a reprise das Colheitas.

            No Distrito 9 os tributos já estavam receosos quanto à ir para a arena, e isso era mais que visível, pois o garotinho de cabelos encaracolados estava esperneando nos braços de um dos Pacificadores, que o levou à força até o palco. Dois tributos forte e mais velhos no Distrito 10, mal consegui captar as características deles, pois meus olhos já começavam à pesar.

            -- Agora são vocês. – ouvi ao longe a voz de Dawn comentar, mas já era tarde para retornar à realidade.

            ²Eu estava mergulhando em um poço fundo e escuro, sem fim, caindo e caindo cada vez mais. Ao longe, o som da água pingando. Na realidade, não era água, e o som começou à ficar mais pesado e constante, como se houvessem aberto uma torneira. Eu estava na arena, mas não a distinguia, era apenas um borrão. Ao fundo a Cornucópia, e quanto à isto eu estava certa. Era o banho de sangue.

            A maioria dos tributos mais novos já estava estirada no chão, alguns de olhos ainda abertos, bocas ainda abertas, carregando gritos agonizantes que foram cruelmente silenciados. Olhei ao redor, os maiores tributos já se apossavam da Cornucópia, matando friamente todos aqueles que tentavam se aproximar. Um barulho de galho se quebrando me fez girar o corpo de forma brusca. Era Jose.

            Em minha mão eu carregava uma adaga em forma triangular, a ponta tão afiada que a luz do sol só se concentrava ali. A lâmina ainda limpa, tão limpa que meu reflexo era visível, meus olhos selvagens, os cabelos bagunçados e desgrenhados, e da altura do lábio superior esquerdo até o queixo um sangrento corte apresentava-se em meu rosto.

            Ergui a lâmina sem piedade, enfiando-a no ponto do peito onde eu sabia que estaria o coração de Jose, que logo cedeu, desabando aos meus pés, então uma flecha atingiu minhas costas, minha visão se embaçou e cai sobre o corpo de Jose. Tudo ficou escuro, e eu soube que eu havia morrido.

            -- AAAAAAAAAAAAAAH! – acordei gritando em minha cama, suando frio e tremendo, então notei Jose sentada à cama, segurando meus ombros em suas mãos. – O que aconteceu?

            -- Você adormeceu no sofá, então eu te trouxe até o quarto, e quando eu estava te colocando em sua cama... bem, você começou à gritar desesperadamente, então fiquei aqui por alguns instantes, te segurando para ver se você acordaria e pararia de gritar. – ele ainda me segurava pelos ombros, mas agora suas mãos desciam até minha cintura, envolvendo-me em um abraço.

            -- Obrigada. – murmurei sentindo as bochechas arderem em fogo. Estava grata por estar escuro no quarto. – Pode ir dormir agora, já estou bem.

            -- Se quiser eu posso ficar. – ele sussurrou em meu ouvido, fazendo-me cosquinhas.

            Balancei a cabeça em afirmativa e deite-me de um lado da cama, ele cobriu meu corpo com os lençóis e cobertas, e para meu espanto não se deitou junto à mim do outro lado da cama, ele ficou sentado, segurando minha mão e acariciando meus cabelos, até que adormeci em um sono sem sonhos, algo que eu nunca fora tão grata por poder ter.


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Notas finais do capítulo

¹ - meldeeeels, os nomes tão péssimos, eu sei, mas fazer o que né?
² - aquilo lá é um sonho/pesadelo tá galera, mas eu também uso itálico pra lembranças, então quando tiver itálico eu explico aqui tá?
bem, eu queria pedir pra que vocês comentassem, é claro e quero agradecer à todas as lindas que estão lendo, muito obrigada mesmo :3
ah, eu tô querendo começar uma fic da Glimmer, eu sei que a maioria das pessoas odeia ela, mas me deem um desconto né pessoal! digam o que acham disso nos reviews, por favor ~le pisca~
e eu também tô querendo escrever uma Clato - porque eu tô xonada em Clato, tudo culpa da Clove Flor e da Luísa Rios, poisé! - e eu até já fiz capa pra ela (pras duas fics na verdade '-') mas eu não achei ela muito legal, e eu tava com sono, então aqui tá o link caso vocês queiram ver : http://tinypic.com/view.php?pic=315lwd1&s=6
ah, e não me matem porque ficou um cocozinho tá?
mas digam ai o que acham disso tudo!
falei demais aqui né? mas enfim, é isso, talvez eu poste outro capítulo mais tarde ainda hoje! beijo muchachas :3



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