Alguns minutos se passavam depois das seis e, como eu não tinha o que fazer, eu me levantei e fui até a cozinha, enchi uma taça de vinho e me preparava para dar o primeiro gole quando a maldita campainha tocou.

Eu repousei a taça na grande e majestosa bancada de mármore do “bar” e corri até a porta, na esperança de que Leticia estivesse parada ali.

MALDITAS ESPECTATIVAS!

–Oi, meu anjo! –Lou disse e selou um leve beijo em minha têmpora.

–Olá! –cantarolei, ainda alegre, apesar de não ser quem eu esperava. –Oi, Niall! –eu disse e abri espaço para que eles entrassem.

–Oi! –Niall respondeu e me deu um beijinho no rosto.

–Podem sentar, a comida está quase pronta e Lettys deve estar para chegar.

Leticia  estava muito atrasada e eu já estava com o celular na mão para ligar para ela, quando ele tocou.

–Onde você está, sua vaca? –eu disse irritada pelo atraso.

–Já estou chegando! –respondeu. –É que depois da aula de Irlandês, a professora pediu pra conversar comigo e eu preciso falar com você sobre isso! –ela explicou, alegre.

–Sendo assim não tem problema, mas sobre o que quer falar?

–Sobre o meu sonho! –ela cantarolou e desligou.

Eu coloquei o celular na bancada e voltei a pegar minha taça.

–Alguém quer alguma coisa? Vinho, água, whisky, vodka? Qualquer coisa?

–Eu não quero nada! –Lou disse.

–Eu acho que vou aceitar só um pouco de água.

–Vocês querem... –eu comecei, mas a campainha tocou, me interrompendo.

–Luh, abre logo! –Leticia gritou, batendo na porta.

–To indo! –respondi. –Niall, você se importa de não estar aqui quando ela entrar? –eu perguntei.

–Não, mas porque?

–Quando ela entrar você vai ver.

Lou sentou no sofá e eu abri a porta.

–O que é isso tu... –ela começou, mas parou no instante em que viu Louis sentado no sofá.

–Olá, Lettys! –ele disse, simpático, como se já a conhecesse a anos.

–Oh, my Josh! –ela exclamou, tentando se conter.

–Er... Surpresa! –eu disse.

–Oi, eu sou a Leticia... –ela disse, mas percebeu que ele já sabia quem ela era. –Você já sabe quem eu sou né? –disse.

–A Luh falou muito de você! –ele respondeu.

Eu fechei os olhos por um curto período de tempo e quando abri não estava mais na sala. Ela havia me puxado até a entrada da cozinha.

–NÃO ENTRA AÍ! –eu soltei, sem querer.

–Por quê? –ela disse, assustada.

– Por quê?  Por que... Porque eu não quero que você entre...

–O que você tá escondendo? –ela perguntou, não convencida da minha resposta.

–Pode sair Niall! –eu murmurei e ele se levantou. Eu pude fitar o olhar surpreso de Leticia e o sorriso reluzentes de Niall.

–Olá! –ele disse.

Eu pude perceber que ela estava prestes a ter um ataque.

–Eu sou...

–Niall James Horan, 13 de Setembro de 1993. –ela completou.

–Directioner! –eu esclareço.

–Ah, imaginei... –suspirou.

–Meu nome é Leticia. –ela disse.

–Nome tão bonito quanto a dona dele. –ele sussurrou e começou a corar. Leticia, parecendo ter ouvido corou também e eu soltei uma gargalhada diante da situação. Ela me olhou incrédula e eu dei se ombro e a olhei com um olhar que dizia ‘Eu não sabia o que fazer’.

–Então... Vamos pra sala? –eu pergunto puxando os dois até a mesma.

–Vejo que eles já se conheceram. –Louis disse se levantando e vindo me beijar, mas tudo o que deixei fazer foi me abraçar.

–Não vamos deixar os dois de vela, né? –eu sussurrei em seu ouvido e ele riu. –Então... Estão com fome? Eu mesma cozinhei e ainda comprei vinho! –eu disse, animada, ainda abraçada com Louis.

–Claro, eu to morrendo de fome! –Niall murmurou.

–O que foi? –eu perguntei, sem entender seu tom de voz.

–É que vocês ficam se abraçando e eu me sinto deslocado. –ele murmurou.

–Foi por isso que a Leticia veio. –eu murmurei em resposta.

–Ei! Eu vim aqui pra não deixar ele de vela e ficar junto? –ela disse fingindo estar aborrecida.

–Não, você veio conhecer o seu par para o baile. –eu sorri.

–Sobre isso... –ela sussurrou. -... Eu não sei se vou estar aqui para o baile. –continuou.

–Como assim não vai estar? –eu estava surpresa e furiosa. Eu só iria a esse baile por causa dela.

–Era sobre isso que eu queria conversar com você. –ela disse agora um pouco mais animada. –Lembra que o meu sonho sempre foi fazer intercâmbio na Royal School? –ela perguntou e eu assenti. –Então, eles abriram vagas para alguns dançarinos brasileiros e, sem que eu soubesse, a professora do irlandês me inscreveu na vaga.

–E?

–Eu ganhei a vaga! –ela completou alegre, com um sorriso que ia de orelha a orelha.

–Quando você vai? –eu disse, contagiada pela sua emoção. Louis pigarreou e só então eu percebi que nós estávamos falando em português e eles não estavam entendendo nada. –Me desculpa, Lou, eu me empolguei! –eu disse, voltando a falar em inglês.

–Sobre o que estavam falando? Eu só entendi algo sobre a Royal.

–Não era nada. –eu disse sorrindo.

Nós fomos até a mesa e, enquanto eles se sentavam, eu levava a majestosa e deliciosa lasanha até a mesa.

Eu a pus no descanso, por conta da mesa de vidro e me sentei ao lado de Louis, de frente para Leticia e ao seu lado, estava Niall, boquiaberto, enquanto encarada a lasanha.

–Eu já disse o quanto eu amo massas? –eu ouvi Niall dizer.

–Não, mas aquela dali –eu apontei para Leticia. –Sempre dizia que quando se casasse com você, faria muitas massas para você, então imaginei que gostasse. –ela me fitou incrédula e mais corada ainda.

–Luh! –ela exclamou.

–Que foi? –eu respondi no tom mais inocente que pude e comecei a rir da cara dela. –Foi mal, mas eu amo ver você passar vergonha.

–Vaca! –ela murmurou e todos riram.

Eu servi todos e por último pus o meu prato. Servi também o vinho da garrafa que eu abri antes de Louis e Niall chegarem.

–Então, você faz faculdade de dança? –Louis perguntou a Leticia.

–Como você sabe? –ela perguntou.

–É que eu ouvi vocês falando algo sobre a Royal... Foi a única coisa que eu entendi, mas me veio a cabeça que você dançava...

–É, eu faço... A dança é minha vida, sabe? –ela respondeu, com um brilho diferente no olhar e pôs mais uma pequena porção da lasanha na boca.

–Que tipo de dança você faz? –Niall perguntou, interessado.

–Qualquer uma... Não tenho muita dificuldade em aprender. –Mas minha preferida é o irlandês... –ela sorriu.

–Sério? –ele perguntou entusiasmado.

–Uhum! –ela respondeu.

É, parece que a operação cupido está indo super bem...

Nós terminamos de comer e eu botei umas músicas para tocar.

–Luh, você tem a música daquela apresentação? –Lettys perguntou, se aproximando enquanto eu lavava as louças.

–Qual delas? Você foi escalada para a maior parte das apresentações da escola... ­–eu disse passando um dos pratos para que Louis enxugasse.

–Para com isso! –ela disse. –Para de se gabar de mim!

–Você quer dizer te elogiar? É por isso que você é dançarina e não professora de português! –eu a zoei e gargalhei, enquanto ela lançava para mim um olhar mortal. –Parei...  –eu sussurrei.

–Que bom! –ela cruzou os braços sob o peito.

–Mas para que você quer a música?

–Vou mostrar alguns passos para Niall.

–Ta vendo, eu não disse que você ia gostar de quem eu tinha trago?

–Eu sei, você sempre me surpreende. –ela sorriu.

Eu terminei de lavar a louça e fui guardar as que Louis havia enxugado. Logo estava de volta à sala procurando pelo CD com as músicas que Leticia queria.

 –Eu acho que só tenho no MacBook... –eu conclui. –Eu não lembro onde eu deixei...

–Ta de brincadeira que você perdeu o MacBook?

–Não perdi, deve estar no atelier ou no quarto, idiota! –murmurei.

–Então vai procurar!

Eu comecei pelo quarto, onde tudo estava uma bagunça e meu rosto queimou ao encontrar a roupa que eu usei na noite anterior toda espalhada pelo quarto. Como eu não havia dormido em casa, minha cama estava desarrumada, minhas roupas íntimas estavam espalhadas pelo quarto de acordo com o modo como ele se desfez delas.

–Pervertido... –murmurei com um sorriso no rosto.

–Luh, você ainda vai... O que diabos aconteceu aqui? –Leticia gritou ao se deparar com a bagunça no quarto e eu comecei a corar.

–Ér... –eu gaguejei.

–Luiza Gonçalves, o que você aprontou?

–Nada de importante. –eu disse e finalmente avistei o MacBook no criado mudo.

–Luh, o que aconteceu? –ela perguntou e eu ignorei. Quando eu passava por ela, me segurou pelo braço, fazendo o computador quase cair.

–No nosso primeiro encontro a gente teve uma... briga. –fiz aspas com os dedos. –Ontem ele veio me pedir desculpas e... Rolou umas... Ahn... Coisas...

EU ESTOU ME ENGASGANDO COM MINHAS PRÓPRIAS PALAVRAS... QUE LINDO, LUIZA! VÊ SE FALA DIREITO, IDIOTA, OU VOCÊ QUER QUE ELA PENSE COISAS ERRADAS? MAS SE BEM QUE... SE ELA PENSASSE NÃO SERIA MINTIRA... EU TRANSEI COM LOUIS TOMLINSON!

–Rolou umas ahn coisas? –ela repetiu.

–Não foi nada de mais!

–Vocês transaram, não é? –ela disse, num tom malicioso e eu assenti. –Ah, meu Deus, você transou com Louis... –ela disse e eu a acertei com uma tapa.

–FALA BAIXO, IDIOTA! –eu disse.

–Você utilizou a Tommoconda na Rosinha!             

–Leticia! Que isso garota? –eu exclamei. Já estava acustumada com a mente maliciosa de Leticia, mas dessa vez...

–Você ta vermelhinha! –ela caçoou.

–Eu te odeio!

–Eu também te amo, sua linda! –ela disse, bateu na minha bunda e saiu, pulando e cantarolando.

–Namoral, você não é normal! –eu disse, virando os olhos e a segui, andando normalmente.

–Você demorou, amor! –Lou disse, me puxando contra seu corpo e respirando no meu pescoço, como se fizesse de propósito. Eu estremeci e lamentei. O maldito descobriu meu ponto fraco.