P.O.V Justin

Era hoje, hoje era o dia em que a Rafa vai operar. Eu estava andando de um lado pro outro dentro do meu quarto, e se eu aparecesse lá? Talvez ela ficaria zangada. Não, é melhor eu ir só depois, depois que ela está no quarto, é, eu vou fazer isso. Pensei.

Deitei na minha cama pensando nela, ultimamente eu não parava de pensar na Rafa, e o quão eu fui idiota quando aceitei aquela aposta ridícula.

_E aí cara? Como você ta mano? –Ryan entrou no quarto me despertando de meus devaneios, fizemos nosso toque e ele se sentou ao meu lado.

_ Ah... to indo cara. –Abaixei a cabeça.

_Deixa eu adivinhar, ta pensando na nerd? –Assenti, da nossa turma Ryan era o único que realmente me entendia, mas ele ainda queria continuar com a aposta, o que me irritava.

_Pois é. –Falei por fim. _Hoje ela está fazendo uma cirurgia.

_Cirurgia? Ela ta doente? –Assenti.

_Câncer. –Ryan fez um “wou” quase sussurrando.

_Poxa, e onde... –O interrompi.

_Na cabeça, os médicos não tem muitas esperanças. –Ryan pegou em meu ombro.

_Agora eu entendi o porquê de você não querer continuar com a aposta.

_Não... –Eu me levantei e passei as mãos pelo cabelo. _Não é só por isso, eu estou gostando mesmo dela cara, e parece que eu só vim perceber isso, quando ela me contou que está com câncer. –Coloquei a mão na boca. Ryan não falou nada, apenas ficava me encarando. Voltei a me sentar ao lado dele. Inúmeras lembranças vieram em minha mente como um flash back.

_Eu acho melhor te deixar um pouco só.

_Valeu cara, só não... não conta pra ninguém.

_Tá... fica bem cata. –Fizemos nosso toque e ele logo saiu do quarto.

_EU PRECISO ME EXPLICAR COM VOCÊ RAFA, POR FAVOR. –Eu disse desesperado tentando convencê-la de que eu estava arrependido. _Por que você é tão calma assim?

_E pensar que eu ainda sou apaixonada por você.

_Filho? –Minha mãe entrou no quarto, limpei algumas lágrimas que havia caído. _Está chorando? –Ela entrou e se sentou ao meu lado.

_Não, foi um cisco.

_Que desculpa mais antiga, me diz o que aconteceu? –Suspirei e olhei pra ela que me olhava atentamente.

_É a Rafa.

_Aquela garota que veio fazer o trabalho com você? –Assenti. _Está gostando dela e ela tem outro rapaz? –A olhei e sorri pelo nariz de como ela falou.

_Antes fosse.

_Então o que é? –Mamãe acariciou meus cabelos.

_Eu sou um idiota. –Mamãe não falou nada, então continuei. _Eu e meus amigos apostamos a virgindade dela.

_JUSTIN. –Ela me deu um tapa.

_Au, posso terminar mãe? Deixa os tapas pra depois por favor!?

_Tudo bem, continue.

_Obrigado, então... eu aceitei a fazer essa aposta então eu tive que me aproximar dela. Só que... a cada dia que eu passava ao lado dela ia percebendo que... que ela é uma pessoa diferente, não é como as outras que se atiram pra cima de mim. Não... ela é... tão carinhosa, tão... meiga, e... eu acabei me apaixonando, eu acho. Só que eu só vim perceber isso quando... quando –Suspirei.

_Quando...? –Mamãe me incentivou a falar.

_Quando ela me disse que estava com câncer cerebral. –Dona Pattie ficou estática olhando pra mim.

_Sinto muito filho. –Ela me abraçou, eu retribui o abraço e não sei o que me deu que eu comecei a chorar. Sei que foi gay, mas nem me importei, eu estava mesmo triste.

_Você... você precisava conhecer ela mãe, mesmo as pessoas pisando nela, ela sempre se levantava e... continuava, não importava quem fosse, ela sempre perdoava.

_Filho... você fala como se ela já morreu. –Abaixei a cabeça.

_Eu espero que não. –A abracei.

P.O.V Vênus

Depois que eu sai do quarto da Rafa naquele dia, me senti mal e então fui pra casa, e não pude mais voltar lá. Mas fiquei sabendo hoje através de uns amigos que ela já fez a cirurgia, porque o médico havia antecipado por causa do tumor que estava se desenvolvendo mais rápido. Agora eu estava de cama e sem poder me levantar, tudo isso por causa de uma gripe.

_Toma suas vitaminas filha. –Mamãe me entregou alguns comprimidos, os tomei com água logo em seguida. _Como está se sentindo? –Ela pegou na minha testa. _Você ainda ta com febre.

_Só to com um pouco de dor. –Passei a mão por a minha barriga que estava com um pouquinho de volume já.

_Acho que vou ligar pro seu médico. –Mamãe se levantou da cama indo em direção ao meu telefone.

_Não mãe, não precisa, eu vou ficar bem, me da aqui esse telefone que eu preciso fazer uma outra coisa. –Estendi a mão pra ela e a mesma me entregou o telefone.

_Vou preparar um suco pra você então. –Falou e saiu do quarto.

Eu precisava saber noticias da Rafa, precisava saber como ela estava. Disquei o número do seu celular, demorou pra atender mas atendeu.

*Tel*

_Vênus? –Uma voz familiar atendeu.

_Senhora Wilson? Como está a Rafa? Desculpe não poder ligar antes, mas...

_A Rafa não sobreviveu querida, os médicos fizeram de tudo... mas não conseguiram. –Meu chão faltou, então era isso, minha única e verdadeira amiga se foi?

_C-como a- assim? Está dizendo que... –Eu já estava em prantos, e soluçava. _Meu Deus, eu não acredito, não pode ser. –Pus a mão na minha boca e desliguei o telefone.

*Tel*

Mordi o travesseiro abafando um grito. Não podia acreditar que a Rafa tinha morrido, não acredito nisso.

_Filha, filha o que aconteceu? Se acalma Vê. –Mamãe se sentou na cama, eu não consegui responder, só a abracei o mais forte que eu conseguia. _Vênus, filha, se acalma, e me conta o que aconteceu? –De repente tudo ficou preto, e eu não consegui mais ver nada.

...

Sentia um cheiro forte, parecia álcool, alguma coisa, sei lá. Com dificuldades consegui abri meus olhos, vi tudo embaçado, minha mãe e um cara de branco que parecia meu médico estavam parados me olhando.

_Filha, está tudo bem? Você desmaiou. –Olhei para o médico que me encarava e atentamente, olhei de volta pra minha que estava me olhando com uma expressão preocupada nos olhos. De repente senti uma angustia dentro de mim, uma coisa ruim, como se tivesse acontecido algo com alguém muito próximo a mim. E então me lembrei do que a avó da Rafa me disse:

“_A Rafa não sobreviveu querida, os médicos fizeram de tudo... mas não conseguiram.”

_Não. –Tentei afastar a minha mãe pra longe, porque ela estava muito perto e isso me deixava mais agoniada. Senti logo meus olhos marejarem e então quando se dei por mim já estava aos prantos, e a minha mãe junto com o médico estavam tentando me segurar. _ME SOLTEM, ME SOLTEM. –Tentei sair das mãos daquele médico que segurava muito forte nos meus pulsos.

_Vamos aplicar um calmante nela, ela está muito alterada. –Ele disse alguma coisa olhando pra trás e vi duas enfermeiras se aproximarem da cama.

_NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAO. –Gritei quando senti uma agulhada no meu braço. E logo todo meu corpo estava amolecendo. Mamãe me abraçou e se sentou ao meu lado.

_Pronto meu bem, pronto, só estamos tentando cuidar da saúde do seu bebê, não pode se alterar dessa forma meu anjo, se acalma... vai ficar tudo bem. –Ela beijou o topo da minha cabeça e acariciava a minha cabeça. Olhei de soslaio para o médico que preparava um soro.

_O que é isso? –Perguntei observando o que ele estava fazendo.

_Vamos apenas te aplicar um soro, você ficou muito fraca. –Ele se aproximou da cama com uma bandeja com o soro dentro.

_Não, por favor não. –Abracei mais a minha mãe.

_É pro seu bem amor, calma. –Mamãe me olhou e eu me rendi, sentindo a agulhada no meu braço.

_Pronto, agora é só esperar, uma enfermeira irá ficar enquanto o soro acaba. –Mamãe assentiu e o médico saiu do quarto junto com as enfermeiras.

_Vai me contar agora o porquê de você ter se alterado assim? –Comecei a chorar novamente.

_Ai mãe. –A abracei mais forte. _Minha melhor amiga morreu mãe, ela não conseguiu sobreviver a cirurgia.

_Sinto muito filha. –Mamãe me abraçou e me deu um beijo.