Querido diário, não sei o que aconteceu com meu coração, todas as vezes que o vejo meu coração despara. Isso se chama paixão? Não, é impossível, ele me maltrata, me magoa, me faz derramar rios de lágrimas. Será que meu coração se enganou? Porque que sinto seu perfume de longe? Será que eu não podia simplesmente odiá-lo? Minhas bochechas fervem ao vê-lo, minhas pernas tremem junto com todo meu corpo. Ele é o grandão, o foda da escola, e eu? Sou apenas o pequeno pontinho branco diluído na imensidão de falsidade. Não sou ninguém, apenas a nerd imbecil e idiota cheia de vergonhas e timidez.

Amanhã será minha décima segunda semana que vou para a escola. Estou nervosa como sempre, mas... Fazer o que?

As portas da minha janela batiam por causa do vento, as cortinas eram como nuvens balançando suavemente no ritmo do vento. Me assustei com as batidas. Fechei meu diário e corri até a varanda fechando as janelas e as cortinas em seguida. Respirei fundo ajeitando meus óculos, voltei até minha cama, segurei o diário contra meu peito e soltei um longo suspiro. Guardei-o no criado mudo e caminhei até minha mochila arrumando os materiais do dia seguinte. Livros de matemática e fisíca preparados, cadernos e agenda também, xequei meu estojo e estava tudo arrumado, lápis borrachas e canetas prontas. É, não falta nada. Assenti confirmando que tudo estava em seu devido lugar. 

Caminhei em direção a minha cama, mas parei no meio do caminho quando ouvi um barulho alto, como se uma coisa tivesse quebrado, um vaso. Logo vários gritos ecoaram por toda a casa. 

Mamãe estava gritando, falando coisas que eu não conseguia entender. Fui para fora do quarto e pude entender o que ela falava.

_Essa vida horrível, você não presta, me largou com dois filhos pra criar, você e um incompetente. -Ela estava falando no telefone, parecia ser o papai do outro lado da linha. E o pior era que mamãe estava bêbada, pois não se segurava em pé, e estava com um rosto horrível. E estava chorando.

_Lafinha. -Ouvi uma vozinha meiga e quue aparentava sono.

Olhei para o lado e vi Daniel esfregando seu olhinho esquerdo segurando seu super homem de pelúcia. Daniel era meu irmãozinho, tinha três aninhos apenas.

_Oi. -Fui até ele e o peguei no colo. Logo o mesmo deitou sua cabeça em meu ombro.

_A mamãe está blava? -Perguntou. O levei para meu quarto e fechei a porta na esperança de abafar os gritos da mamãe. 

_Não meu amor, ela só está um pouco triste, mas já vai passar. -Falei deitando ele na minha cama, deitei ao seu lado e alisei seu cabelinho cacheado preto. Ele dormiu fácil com seu dedo na boca. Eu ainda ouvia a mamãe xingar e gritar o papai. Mas uma hora tudo se silenciou. 

Com cautela, saí da cama e fui até a escada, observei minha mãe sentada na poltrona com a cabeça apoiada nas mãos, desci rapidamente as escadas e lhe dei um abraço forte.

_Te acordei querida? -Sua voz era chorosa ainda.

_Não. Quer conversar? -Disse assim que nos separamos do abraço, mamãe limpou os olhos e negou.

_Não amor, vá deitar, amanhã você tem aula. -Ajudei ela a se levantar, guiei-a até seu quarto, tirei sua roupa, e coloquei uma camisola, depois ajudei-a a se deitar.

_Precisa de alguma coisa mãe? Quer que eu faça um leite quente? 

_Não Rafaela, apenas me dê meus calmantes. -Assenti e peguei seus remédios, entreguei duas capsulas pra ela com um copo de água. Mamãe bebeu tudo em um único gole. _Obrigada filha. -Ela disse e fechou os olhos, lhe depositei um beijo na testa e saí do quarto com cuidado. Suspirei e entrei no meu quarto, deitei novamente com cuidado ao lado de Daniel e dormir.

...

No dia seguinte me levantei com o despertador, coloquei uma roupa comum, desci até a cozinha e me sentei a mesa e tomei meu café. Olhei mamãe e ela estava mechendo uma colher na xícara, Daniel estava comendo como se estivesse preso a dias. Calmamente comi em silêncio e no final ajudei Daniel a se limpar. Depositei um beijo na minha mãe e fui para o ponto de ônibus.

Hoje será um dia muito longo, como sempre.

Suspirei com esse pensamento, logo o ônibus chegou e eu entrei, me sentei no lugar de sempre e fiquei quieta, abri o livro em uma página que marquei e comecei a estudar.

_Olha só a nerdsinha. -Justin, o garoto mais insuportável de todos começou.

_Me deixa em paz. -A turma deles todas sorriram.

_Ui, ela está bravinha. -Ele continuou, mas agora ele me impurrou fazendo com que meu óculos saíssem do lugar. Arrumei-os rapidamente.

_Será que você enxerga sem esses óculos? -Senti meus óculos sendo tirados a força do meu rosto. Meus olhos na mesma hora ficaram embaçados.

_Para, me devolve Justin. -Ele riu alto.

_Para, me devolve Justin. -Me repetiu.

Eles continuaram rindo, e me acertaram os óculos. Me assustei e o peguei colocando-o no rosto em seguida.

_Você é ridicula garota. -Falou e saiu junto com sua turma. 

Abaixei a cabeça e voltei a estudar, sem querer uma lágrima pingou borrando uma palavra do livro. Soltei um suspiro grande, mas baixo.