Embaixo do Salgueiro Lutador escrita por Aluada


Capítulo 7
De madrugada - parte I


Notas iniciais do capítulo

Baseado no universo da J.K., aquela que eu espero que seja misericordiosa... ;__;~~

Eu também quero fazer um AGRADECIMENTO ESPECIAL à _lirista, comentadora assídua dessa minha fic, e que certamente me deu estímulos para continuá-la ^^ Obrigada por todos ois reviews e pedidos, viu?



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            Quando Peter atingiu as gigantescas portas que fechavam as entradas do castelo, teve um sobressalto. Tinha se esquecido de quão lotado estava o salão. Os alunos, embalados pelo ritmo da festa, empurravam-no e pisoteavam-no sem perceber. Gemia. Ah, como odiava ser baixinho!

            Com um esforço descomunal, conseguiu esticar o pescoço e enxergar Minerva McGonagall e Albus Dumbledore, ambos do outro lado recinto, próximo a seus lugares na mesa dos professores. Enfiou-se numa fresta entre a multidão e se dirigiu até eles.

            O diretor falava com o líder do quarteto de cordas. Pettigrew conseguiu alcançar primeiro a professora.

            — Com licença, professora — ela estava de costas para ele —, eu preciso falar com a senhora.

            — Qualquer dúvida que tiver sobre Transfiguração, senhor Pettigrew, eu tirarei amanhã pela manhã — ela balançou a cabeça impacientemente, sem se virar, tentando acompanhar a conversa de Dumbledore com o músico.

            — N-não é isso professora. James, Sirius, Snape e Eva —

            — De novo?! Ah, meu Merlim, deixe-me não saber o que eles aprontaram agora. Não estou para detenções.

            — Não, não, professora —

            Subitamente, a música cessou. Levantando um pouco os olhos, Peter pôde ver Dumbledore erguendo-se e tilintando uma taça de vinho tinto com uma fina colher de prata.

              — Fico muito feliz de vê-los todos juntos! — ele começou seu discurso, sorrindo.

            Peter não desistiu.

            — Professora, acontece que —

            — Sssssh! — ela sussurrou — Respeite o direitor!

            — Mas —

            — Eu não vou repetir — seu tom de voz era perigoso, e ele se intimidou.

            Afastou-se, encolhendo-se num canto perto da parede e longe das pessoas, onde pudesse contar em silêncio, aflito, o tempo que seus amigos levariam para morrer...

            — E eu lhes digo, não desejo a nenhum de vocês que abandonem a juventude e enfrentem a minha idade...

  



  

           

            James adiantou-se na frente de seus dois acompanhantes e apontou a varinha pelo buraco da passagem:

            — Accio galho!

            A vara longa veio rasgando o ar e pousou em suas mãos. Com certa dificuldade, ele prendeu seu corpo no túnel, apoiando os quatro membros nas paredes de terra da passagem. Seus movimentos eram vagarosos. Esperou chegar próximo à saída para estender o galho até o nó no tronco da árvore e finalmente paralisa-la. Somente assim pôde se sentir seguro e sair. Antes de tomar qualquer atitude, certificou-se de que a vara estava bem posicionada e não sairia de seu lugar, mantendo o Salgueiro Lutador estático.

            A primeira pessoa a surgir foi Lily, arfante por trás da bagunça de seus cabelos ondulados. James estendeu-lhe a mão e ela a segurou com firmeza, se apoiando no garoto para alcançar a superfície e, por fim, conseguir pôr os pés no chão. Ainda com a cabeça baixa, ela murmurou um “obrigada” sem emoção e foi caminhando sem rumo até digerir em sua cabeça tudo o que lhe havia acontecido nos últimos minutos.

James sentiu uma pontada no peito ao notar as vestes da garota. Estavam sujas e rasgadas em vários lugares, revelando os cortes e os machucados que ela havia sofrido naquela noite. Engoliu em seco seu peso na consciência.

Ao voltar com a cabeça, se deparou com um Severus Snape reclamando e gemendo, tentando com todas suas forças escalar as paredes de terra que, de tão frágeis, se desfaziam. Seu joelho cheio de sangue não parecia ajudar. James, ainda que contra a sua vontade, ajudou-o: puxou-o pelos dois braços, trazendo-o deitado até o chão de grama. Severus não disse nada. Levantou-se calado e afastou-se de James, mancando.

James também não teve tempo de se importar. Estava preocupado com os outros que não estiveram na Casa dos Gritos. Ao correr os olhos pelo cenário, só pôde encontrar Sophie Snape, que ainda permanecia caída, inconsciente, agora cercada pelo irmão e pela amiga. Não encontrou Peter; esperava que ele tivesse ido ao castelo para buscar ajuda...

Seu estômago novamente se revirou ao imaginar as feições nervosas do diretor. O que aconteceria quando Dumbledore soubesse que eles estiveram na companhia de um lobisomem adulto, supostamente mantido em segredo de todos..? O que aconteceria quando ele descobrisse que Sirius tinha plane —

Sirius. Ele ainda lutava com Lupin embaixo do Salgueiro Lutador, em forma de cão. O que aconteceria se Dumbledore descobrisse que eles eram animagos..?

— Sirius... volte logo...

  




  

Peter assistiu impaciente todo o discurso do diretor, o “Parabéns a você”, o soprar das velhinhas, o show de luzes no teto mágico do salão... quando o último pedaço do bolo de sete andares foi magicamente cortado e distribuído, ele deixou seu lugar – não para comer, o que para seus amigos seria surpreendente, mas para tentar abordar o professor antes que McGonagall o impedisse.

— Professor Dumbledore — ele chegou por trás, puxando suas vestes —, eu tenho que falar com você.

  — Senhor Pettigrew, vá curtir a festa, por favor! — a voz da professora de Transfiguração soava irritada do outro lado do diretor.

Dumbledore sorriu gentilmente.

— Acho que algo está o incomodando, Minerva, e por isso ele não consegue participar da festa como deveria... pode me contar, Peter, por favor.

— É-é que James, Sirius, Snape e Evans estão com Remus, professor... perto do Salgueiro Lutador... não o Remus-Remus, o Remus.. ahn...

Peter não sabia como se expressar num lugar tão aberto. Normalmente, sempre que o fazia, fosse no café-da-manhã ou dentro do dormitório, seus amigos censuravam-no. Podem descobrir, Lupin sempre se desesperava.

 Os professores pareciam compartilhar da idéia. McGonagall levou as duas mãos à boca, como se não acreditasse no que ouvia; as feições de Dumbledore repentinamente mudaram, a calma se transformando em preocupação nas linhas que se formavam em sua testa. Peter achou melhor não continuar, poderia falar demais. Além disso, eles já tinham entendido.

Estavam em apuros.

— Não vamos fazer alarde — o diretor finalmente disse —, isso pode atrair uma atenção indesejada. Vamos ser discretos. Minerva, por favor, acompanhe Peter até o local, analise a situação, veja o que pode fazer. Se eu sair daqui, vão notar minha ausência. Vou pedir para Papoula já ir preparando a Ala Hospitalar, e depois dou um jeito de deixar a festa — ele franziu ainda mais a testa, se isso era possível —. Por favor, não desça.

   




 

James ouviu passou rápidos abaixo do Salgueiro Lutador. A sombra negra de um cão de repente surgiu pelo buraco da passagem, escalando as paredes de terra sem dificuldades. No momento seguinte, a figura que alcançava o nível do chão era a de um Sirius Black exausto, sujo e ferido, que quase não podia se manter em pé.

O amigo apoiou o outro pelo ombro.

— Relaxa — James disse —. Acabou.

— Não, Prongs, hoje eu aprendi uma valiosa lição. As coisas podem sempre piorar — ele forçou uma risada —, acredite.

— Quer ver Sophie?

— Ela ainda não acordou?

— Acho que não.

James fez a volta para que eles fossem até ela.

— E a Lily? Tá bem?

— Tá. Obrigado, Padfoot. Você nos salvou essa noite.

 — Eu não, você, cara. É bom que ninguém saiba que eu sou um cachorro preto metido a herói. Pode dizer pra todo mundo que foi você, eu não fico com ciúmes.

Ele riu.

— Além do mais, não quero ficar com a fama de ter salvado Snivellus...

Os garotos andavam devagar, por causa de Sirius, e não tiveram tempo de chegarem até o lugar onde Sophie Snape estava caída. James parou ao sentir o toque firme de uma mão segurando seu ombro.

Era Peter, logo seguido por Minerva mais atrás.

— Estão todos aqui? — seu tom de voz era preocupado — Estão todos bem? Estão — ai, meu Merlim.

Seus olhos iam dos ferimentos de Sirius até a inconsciência de Sophie, arregalados. Não precisou dizer mais nada. Conjurou duas macas e, com um aceno da varinha, posicionou-os em cima delas; com outro, tirou a vara do nó do tronco, permitindo que a árvore voltasse a seus movimentos normais.

— Vamos até a Ala Hospitalar.

A caminhada foi tensa e calada. O grupo não foi pela entrada principal, logicamente, mas sim seguiram um caminho pelos fundos de Hogwarts. A volta fora enorme, mas valeria a pena para evitar os olhares dos curiosos. Depois de muitos minutos eles finalmente entraram no castelo, encontrando uma Madame Pomfrey aflita dentro de suas vestes de curandeira.

— Ai, ai, ai, ai, ai! Olhe só o estado deles, justo hoje!

— Albus lhe deu alguma orientação, Papoula? —perguntou Minerva enquanto ela tirava os mais machucados das macas e os deitava em novas camas.

— Ele pediu pra que eles os esperassem na sua sala — sua voz sumia entre os muitos remédios dos armários — Suponho que ele não tenha visto —

— Então lhes dê o seu tônico mais forte. Esses meninos vão precisar ficar acordados por mais tempo.

— Minerva! — ela voltou, com as mãos na cintura — Eles precisam de tratamento!

— Albus pediu, Papoula.

— Ele certamente não os viu! Por Merlim, ela está inconsciente!

— Você sabe que os pedidos de Albus são inquestionáveis, Papoula...

Ela abriu a boca para argumentar novamente, e desistiu; tornou a abri-la, voltou atrás. Tudo o que pôde fazer foi conformar-se. Girou em seus calcanhares de volta a seus armários.

— Meu Merlim, ah, meu Merlim..!

Os cinco jovens ficaram observando enquanto ela trazia garrafas e colheres para mais perto, posteriormente misturando-os e dando-lhes para tomar. A junção de líquidos tinha resultado em um estranho xarope azul e azedo, que eles inevitavelmente fizeram careta para tomar. O efeito fora instantâneo: suas vistas clarearam e as dores musculares acabaram; o mal-estar deu lugar a um novo vigor, como se eles tivessem acabado de acordar de uma noite de catorze horas de sono.

— O efeito é passageiro e trará todo o cansaço de novo, então não achem que estão curados — ela brigou — E como você foi ficar assim?! — ela se dirigiu a Sirius, apertando-o em todos os lugares possíveis.

— Aquela árvore maldita — foi tudo o que pôde responder no meio de um gemido antes de engasgar com as duas colheres de xarope que a enfermeira lhe forçou garganta abaixo.

Ao se aproximar de Sophie Snape, ela deu um gemido. Misturou mais alguns frascos ao xarope azul, até que ele adquirisse uma tonalidade lilás; pegou um funil e, ainda resmungando baixinho, despejou todo o novo conteúdo da garrafa em sua boca.

Segundos depois, o quarto se encheu com o grito assustado da garota que voltava à consciência, num pulo.

— Minerva, eu não recomendo...

— Depois puxe a orelha de Albus — ela disse o que parecia uma piada sem a entonação de uma. Seu rosto continuava impassível, insensível. Nenhum dos seis teve coragem de questioná-la quando ela fez um movimento com a mão e os guiou até o escritório de Dumbledore.






   

Fawkes pendia sonolenta em seu pedestal. Os muitos objetos estranhos da sala de Albus Dumbledore tilintavam e rangiam notavelmente em cima das prateleiras. Aqueles retratos dos antigos diretores de Hogwarts que ainda estavam acordados viajavam de moldura a moldura, fofocando entre cochichos. Tudo era audível em baixo volume. Entre os garotos, era silêncio.

 Peter se mexeu ruidosamente na cadeira que a professora McGonagall tinha lhe conjurado.

— O que... aconteceu... lá embaixo..?

Sua pergunta tímida repercutiu pesada no ar.

— Lá embaixo? Como assim?! Vocês desceram?! — Sophie exclamou trêmula e rouca.

— Nós encontramos Remus lá —  Lily disse, com urgência na voz — Ele... ele...

— Eu sei.

— Como —?!

— E deixou que aquele monstro ficasse na escola por tanto tempo? — Severus falou entre os dentes — Dumbledore jamais permitirá —

— Não o chame assim — James falou sério por detrás das lentes riscadas.

— Ele sabe. Os professores sabem.

— E aquela – aquela aberração continua em Hogwarts, ele quase nos matou, ele —

— Ele é tão meio-sangue quanto você, quanto nós! — Lily exclamou de repente, segurando as lágrimas de nervoso que pendiam no canto de seus olhos — Não é culpa dele, pare com isso!

James permaneceu estático, boquiaberto com a reação da garota. Ao mesmo tempo em que queria repartir Snape aos pedaços, sentia seu coração derreter-se de alívio. Talvez eu tenha tido a impressão errada. Talvez... talvez ela não goste dele...

Não acompanhou Sirius quando este se levantou de supetão, a varinha em punho apontada diretamente para o rosto de seu rival.

— Vai ficar pior que eu — alertou.

— Impossível ser pior do que a escória, Black.

Severus mal teve tempo de fazer qualquer coisa, quanto mais Sirius: Sophie arrancara-lhe a varinha das mãos, numa expressão contida e impassível.

— Vai tentar mata-lo pela segunda vez na mesma noite?

— O quê..?

— Você queria matá-lo, Sirius, admita! Você sabia que era perigoso, sabia que Remus estaria lá, você arquitetou todo esse plano para pegá-lo, não se importou com mais ninguém, se James não tivesse feito nada provavelmente Severus estaria morto a uma hora dessas..!

— E não seria perda nenhuma para a humanidade — ele respondeu sem expressão.

— O sentimento é recíproco — rebateu Snape simplesmente, enquanto observava a irmã sumir por trás dos cabelos. Deixou a varinha segura em seu bolso. Não se atreveria a receber uma expulsão por atacar um aluno na sala do diretor. Não – ele era mais inteligência do que impulsos.

— Quer dizer — uma aflita voz masculina surgiu no meio da discussão, vinda das paredes —, que meu tatara-tatara-neto, o último dos Black, é um assassino..?

Phineas Nigellus parecia impaciente preso às molduras do próprio quadro.

— Eu não vejo nenhuma vítima capaz de afirmar isso, Phineas — a segunda voz, vinda da porta, era mais severa — e por isso eu agradeceria se não espalhasse falsos boatos por aí. No mais, não atrapalhe a nossa conversa.

O retrato do antigo diretor pareceu entender perfeitamente bem as palavras do atual. No segundo seguinte, sumia de vista, deixando apenas a ponta da orelha visível perto da madeira que o cercava.

Albus Dumbledore entrou vagarosamente em sua sala, como se quisesse marcar sua forte presença a cada passo. Os jovens realmente se sentiram intimidados. Para eles, passaram-se anos até que ele finalmente se sentasse em sua cadeira e cruzasse os braços, fitando-os através dos óculos de meia-lua.

— Eu quero saber exatamente o que aconteceu.

   

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