O estrondo do último golpe de Elbio trouxe preocupações para os combatentes de ambos os lados. Aqueles que estavam nas proximidades do confronto entre ele e Inferno sabia o que estava acontecendo, mas os demais, espalhados ao redor do monte, não esperavam por algo assim. Tanto soldados quanto bruxas desconfiavam que pudesse se tratar de uma arma secreta do inimigo e se sentiam impelidos a correr até o local do impacto. Alguns poucos o fizeram, enquanto a maioria continuou engajada no conflito, sendo que Fernand, Karin e Luna faziam parte da minoria.
–Então eles trouxeram mesmo a Ordem da Rosa Branca! Espero que não seja aquele fresco do Sol... – Exclamou o soldado da terra, correndo o mais rápido que podia juntamente com suas aliadas.
–Já eu espero que não sejam mais que dois, senão estaremos com grandes problemas. – Ponderou a sacerdotisa.
–Não se preocupe, Luna. Com meu novo cajado eu dou um jeito neles sozinha! – Gabou-se a mais jovem.
–Admiro a sua animação, Karin, mas seja cuidadosa. Dessa vez não temos apenas que destruiu um pilar e depois fugir, precisamos derrotar o inimigo para proteger este lugar. – Disse Fernand, com surpreendente seriedade.
–Eu, Luna e Yasmin já fazíamos isso antes de nos juntar a vocês, esqueceu? – A menina respondeu numa reprimenda.
–É, e vocês foram vencidas todas as vezes. Então trate de levar isso a sério!
–Na próxima vez que Samantha disser que quer matá-lo eu vou apoiar a ideia... – Pensou Luna em voz alta.
Agora eles já conseguiam ver os danos causados durante a luta entre o bruxo e o líder da ordem. Inferno, que ainda retomava o próprio fôlego, reconheceu imediatamente aqueles três e gritou.
–Soldados de Chesord, recuar!
Seus subordinados não conseguiam acreditar naquelas palavras, principalmente depois de vê-lo superar um inimigo tão espetacular. Mas Fabius estava resoluto e gritou novamente a palavra “Recuar”, dando cobertura aos soldados que finalmente obedeciam a ordem, usando seus poderes para manter as bruxas afastadas. Logo o aviso se espalhou para os outros grupos e as lutas cessavam rapidamente.
–Parece que eles lembram do poderoso Fernand!
–Que até hoje só conseguiu vencer um membro da ordem e com ajuda de duas garotas. –Agora era a vez de Luna alfinetar o orgulho do empericiano, que fez uma careta, mas permaneceu quieto.
–Ei, aquele lá não é o Elbio? – Perguntou a manipuladora da luz, mais atenta à situação do que seus amigos, enquanto apontava morro abaixo para um corpo amarrotado no chão.
–Nossa, eu acho que é ele sim. Mas o coitado já teve dias melhores, deve ter apanhado feio! – Comentou Fernand.

Sem forças para correr, Inferno era auxiliado por um oficial de baixa patente, que o ajudava a caminhar servindo como apoio para seu braço. Já estavam longe o bastante para avançar num ritmo mais calmo e o homem não pode deixar de fazer uma pergunta.
–Senhor, eu não entendo porque tivemos de nos retirar. Pensei que estávamos em vantagem.
–Longe disso, tenente. A minha luta chamou a atenção de inimigos que eu não teria condições de derrotar exausto.
–Mas quem são esses inimigos poderosos que se aliaram às bruxas?
–Os manipuladores que derrubaram os pilares de nosso reino. E como eles estão envolvidos nisso, terei que rever todo o nosso plano.
Os dois continuaram avançando sem dizer mais nada, mas aquele tenente jamais saberia toda a verdade. Se Fabius realmente estivesse convicto ele enfrentaria os manipuladores da água, da terra e da luz, mesmo que isso pudesse resultar em sua morte. Ele os havia usado como desculpa.
–“Combinamos que o vencedor teria o direito de afirmar qual é a verdade justiça. Mas depois de enfrentar Lumarc a minha opinião já não é mais a mesma. Por hora, deixarei em paz as bruxas que ele se arriscou tanto para proteger.”

William tinha um motivo muito claro quando escolheu Samantha para acompanhá-lo na missão de assassinato do rei, e não era apenas pelo fato de que a bruxa era quem mais compartilhava seus pensamentos de que os fins exigiam certos meios escusos. Os poderes para manipular vento e sombra eram de excelente ajuda, pois assim eles conseguiam criar ruídos e movimentar objetos, enganando os soldados vigilantes com facilidade.
Yasmin, como manipuladora do fogo, não tinha esse dom, mas sua presença lá estava longe de ser desnecessária. Como ela mesma havia deixado claro, os outros dois nada conheciam a respeito do interior do castelo de David Follet. Assim, o trio atravessou corredores e salões sem despertar suspeitas, seguindo para os andares mais altos.
O castelo era uma construção de base retangular, com comprimento de cerca de cem metros e a largura de aproximadamente trinta. Três andares possuíam estas mesmas medidas, mas acima disto havia uma construção menor, com mais três andares, cuja base quadrada tinha medidas de trinta metros de ambos os lados. O restante era um belo terraço com grades azuladas e ocupado por um enorme jardim.
Entre a parte superior do castelo e o jardim havia um pátio de mármore por uma extensão de dez metros. A decoração consistia unicamente de roseiras, e todas as flores eram da cor branca. Ao redor de toda essa extensão havia uma calçada, que também atravessa o interior do jardim em ambas as direções, construída para que o ponto de encontro fosse exatamente no centro. Por fim, em tal ponto havia uma estátua também de mármore representando uma bela dama de cabelos longos e vestido de gala. Espinhos se enroscavam ao redor da escultura, juntamente com rosas que davam o toque final à decoração.
–Estamos quase lá. Basta atravessar o jardim e chegaremos aos aposentos reais. – Disse Yasmin.
–Pensei que o quartel general da Ordem da Rosa Branca fosse separado do castelo. – Comentou Samantha.
–Este é o jardim de Nathalia. Mas eu imagino que você não conheça a história, já que sempre teve de viver isolada. – A ex-capitã começou a explicar enquanto o grupo atravessava a longa calçada. – Ele foi construído em homenagem à então princesa Nathalia, há cerca de duzentos e setenta anos atrás, que era popularmente conhecida como “Rosa Branca”. Dizem que ela foi a primeira Aurora e também líder da ordem.
–Então o nome da ordem era uma homenagem à primeira líder esse tempo todo? – Questionou retoricamente o manipulador do vento.
–Exatamente. Ela era uma pessoa muito querida pela população, por isso é uma grande honra receber a permissão para vir a este jardim.
Nesse momento eles já haviam alcançado o pátio e a manipuladora das chamas continuaria a falar sobre o assunto, mas se silenciou quando viu que um homem caía de dentro de um portal diante dos três.
–Uma honra que eu não creio que tenha sido dada a vocês. – Disse Vortex. Surpreendentemente, sua expressão era cheia de serenidade.
–Você! – Vociferou William.
–Certamente não esperavam chegar até o rei sem que fossem notados, não é? Manipulando vento e trevas a esmo no castelo, justamente os elementos que eu controlo.
–Yasmin, Samantha, vocês sigam adiante sem mim! Eu vou segurá-lo aqui por tempo suficiente. – Disse o rapaz e as garotas acataram. Ele estava pronto para iniciar o confronto, mas novamente se viu surpreso, dessa vez com o fato de que o inimigo não fez nenhum esforço para detê-las.
–Para falar a verdade, eu preferiria não lutar contra vocês. – Disse o controlador dos portais, sempre calmo.
–Não me venha com essa conversa! Não pretendo colocar tudo a perder agora que chegamos tão longe.
–Pelo visto o seu caso é o contrário do meu. Está sedento por uma chance de lutar novamente comigo, não é?
–Hmpf!
–Muito bem, então eu vou derrotá-lo mais uma vez e depois você me escutará.