Dois dias se passaram após o conflito entre os exércitos de Chesord e Empericia. No começo da noite, Inferno finalmente soube das más notícias e não perdeu tempo em chamar seus companheiros. Uma reunião de emergência se fazia necessária.
-Agradeço por terem vindo tão rápido. Acabo de receber um pássaro arcano de Agas com as novidades do conflito perto da fronteira. – Começou o líder da ordem.
-Se você está com essa cara então quer dizer que finalmente vamos ver um pouco de ação. – Provocou Viper, ciente de que não deveria brincar com assuntos tão sérios, mas impaciente demais para se conter.
De fato, a expressão de Inferno deixava bem claro que a situação dos chesordianos não era das melhores, logo não havia necessidade de rodeios. Ele foi direto ao assunto.
-Nem mesmo a ajuda de metade dos nossos integrantes foi o bastante, isso significa que nosso inimigo é realmente muito perigoso.
-Então nós vamos mesmo partir também? – Questionou Scythe, com leve receio.
-Parece a única decisão plausível, mas não todos nós. Afinal de contas, imagino que a possibilidade de um ataque surpresa no coração do nosso reino não tenha sido descartada. – Ponderou Vincent.
-Suas palavras possuem mérito, Carbon, portanto eu sugiro que somente três de nós sejam enviados imediatamente ao campo de batalha. – Complementou Vortex.
-Então eu me candidato a ir, já estou cansado de perambular pela cidade sem fazer nada. Além disso, tenho contas a acertar com uma certa traidora. – Resmungou Quartzo.
O controlador dos portais dirigiu um olhar de repreensão ao dos cristais, mas este fingiu que não percebeu. Após ouvir a opinião dos outros integrantes, Inferno já havia tomado uma decisão.
-Sendo assim Viper, Scythe e Quartzo, vocês devem se preparar para partir.
-Tem certeza disso, Inferno? Talvez Carbon ou Vortex sejam mais eficientes do que eu... – Sabrina sentia temor ao imaginar os acidentes que sua presença poderia causar num lugar com tantos aliados.
-Eu entendo sua preocupação, mas parece que o rei sente-se mais seguro com nós três por perto e faz questão da nossa presença. – Foi a justificativa do líder.
-Por sinal, onde está o exército de Agas no momento? – Questionou Vortex.
-Eles estão a caminho do lugar seguro mais próximo...

As tropas chesordianas avançavam tão rápido quanto possível em direção ao norte. A maioria dos feridos no combate já tinha condições de viajar novamente e apenas alguns poucos necessitavam de ajuda no transporte. Os seis integrantes da Rosa Branca caminhavam juntos, um tanto desanimados com os resultados recentes.
-O Forte Brokefront. – Disse Ent.
-E quanto tempo vamos demorar até chegar lá? – Perguntou Sol, claramente o mais impaciente do grupo.
-Toda essa afobação vai fazer mal para a sua pele, beldade ambulante. Não se preocupe que devemos chegar dentro das próximas quarenta e oito horas. – Electron se pronunciou com uma cara tão séria que até seus amigos não sabiam dizer se ele falava sério ou se era apenas um deboche.
-Além disso, nossa prioridade é estabelecer uma defesa sólida. Sem contar que Empericia ainda não deve estar em condições de lançar um ataque decisivo, apesar da recente vitória. – Disse Vulcano, sabiamente.
-Felizmente isto já está sendo providenciado. Agas é um homem precavido e deu ordens a um de seus subordinados para que o Forte Brokeback estivesse pronto para se tornar uma nova linha de defesa caso perdêssemos terreno.
Após o comentário do controlador de plantas todos permaneceram em silêncio por um tempo, acompanhando o ritmo da marcha. Depois de alguns poucos minutos de comentários isolados, Aurora percebeu a perturbação de uma aliada.
-Spectra, você parece meio pálida. Você não deveria fazer tanto esforço.
-Ela já nasceu pálida, Aurora. Apesar que agora que você mencionou ela está até pior do que a Scythe. – Brincou o controlador das estrelas, mas Camilla não deu bola.
-Eu estou bem, mas preciso saber algo que ninguém ainda me explicou. O que aconteceu durante a batalha, depois que fui nocauteada?
Os guerreiros da ordem, sabendo do orgulho da companheira, não estavam muito à vontade para conversar sobre aquele assunto ainda, mas era evidente que não podiam evadi-lo para sempre. Assim, Vulcano respondeu.
-Nós recuperamos nossos poderes elementais por um curto período de tempo, mas logo depois os perdemos novamente. É claro que os soldados perceberam isso e a moral dos empericianos cresceu de tal forma que não tivemos mais chances de revidar. Fomos obrigados a bater em retirada.
-E o Electron pirou e começou a gritar que estava morrendo de preocupação e precisava achar você. Pude ouvir do outro lado do campo de batalha.
Depois de mais um comentário importuno, Sol tinha certeza de que seria agredido, mas não desta vez. Ao invés disso, Spectra simplesmente voltou seu olhar para Leonard e lhe dirigiu uma única palavra humilde.
-Obrigada...

O local em que antes se localizava o acampamento de Agas agora havia sido tomado por Lince Walters e seus guerreiros. Porém, eles não pretendiam permanecer muito mais tempo lá e já estavam concluindo os preparativos para partir. A animação era visível, um sentimento que antes parecia muito distante.
-Parece que finalmente vamos correr atrás daqueles chesordianos desgraçados que fugiram com o rabo entre as pernas! – Exclamou Erika.
-Ofensas não deveriam sair da boca de uma princesa assim tão facilmente. Nem todos os nossos inimigos são covardes, sabia?
A crítica de Jenipher deixou a filha de Secrett aturdida e até um pouco indignada, mas ela não podia deixar de reconhecer que havia razão em tais palavras. Certamente o fato de ter sido feita prisioneira ainda a deixava um tanto exaltada.
-O que importa é que todas fizemos um bom trabalho, especialmente a Gabrielle. Deveria ter visto ela lutando, colocava medo nos adversários.
-Naturalmente. Eu sei muito bem que ela é muito dedicada quando a situação exige seriedade. – Retrucou a canalizadora da Ordem Natural.
A própria Gabrielle, embora estivesse presente, não parecia sequer prestar atenção na conversa. Ao invés disso, estava muito silenciosa, sorrindo para si mesma, um comportamento que as outras duas estranharam.
-Tudo bem com você, Gabrielle? – Perguntou a princesa.
-Sim, eu só estou aliviada porque conseguimos resgatar as bruxas que se arriscaram para que eu pudesse escapar. Graças a Argenta ainda estavam vivas e bem.
-Falando em se arriscar, quanto tempo você terá que ficar em repouso até que seus braços se recuperem, Jenipher? – Indagou Erika.
-Por sorte não será muito. Graças às misturas da nossa mestra estou me recuperando muito rápido.
Não muito longe dali, os dois principais líderes dos empericianos conversavam a sós sobre os rumos que tomariam. Anya, muito mais sábia, não deixava que a vitória a afetasse a ponto de cometer algum deslize e essa atitude ajudava Walters a fazer o mesmo.
-Não posso negar que foi uma vitória milagrosa, mas infelizmente perdemos mais soldados e bruxas do que eu imaginei. Dessa forma, se Chesord receber reforços não teremos chances de derrotá-los. – Revelou o capitão.
-Então o que faremos? Recuar?
-Infelizmente esta não é uma opção. Por hora vamos apenas garantir nossa posição e fortalecer nossas defesas. Eu pretendo despachar uma mensagem ao rei em breve, solicitando que ele envie mais guerreiros.
-É um plano inteligente. Espero que o Rei Secrett também perceba isso e aceite o seu pedido, senão nossa campanha estará fadada a um fim desastroso.
-Depois de receber essa segunda chance não posso me dar ao luxo de falhar.
Anya virou o rosto na direção de uma tenda e a observou por alguns momentos antes de responder.
-Falando em segundas chances, creio que você não seja o único a receber uma.