Jenipher Chaneel descansava junto com outras bruxas de seu grupo debaixo de uma frondosa árvore, que as protegia da garoa constante. Uma das integrantes estava ausente, e somente quando ela retornou suas companheiras se ergueram.
-E então? – Perguntou a bruxa do tridente, com um leve traço de ansiedade na voz.
-Não vi nenhuma de nossas irmãs, apenas dois manipuladores lutando. E aparentemente ambos são extremamente fortes. – Respondeu a recém-chegada.
-Eu imagino que sim, pudemos ouvir daqui o estrondo dos ataques! – Exclamou outra.
-Nesse caso não vamos nos envolver com este combate. Retornaremos para junto da mestra Anya imediatamente. – Disse a líder com firmeza.
-Você não consegue mesmo ver em que situação estão as nossas irmãs, Jen? Tem certeza que é impossível? – Praticamente implorou a quarta bruxa.
-Não é assim que minha clarividência funciona, você sabe disso. Eu não tenho controle nenhum sobre ela. – Comentou a ruiva, fazendo uma pausa. – Se for necessário, resgataremos nossas irmãs depois, com a ajuda dos soldados do Capitão Walters.
A incerteza sobre o paradeiro do outro grupo perturbava Jenipher, mas não se atreveria a arriscar a segurança das garotas que a acompanhavam. Afinal de contas, por ser uma peça essencial para o plano de Lince e Anya, ela sabia que suas companheiras se sacrificariam por sua segurança sem pestanejar, um pensamento que por si só já fazia co que se sentisse mal.

Sol estava diante de uma oportunidade de ouro. Ainda guardava rancor por ter sido ludibriado por William durante a batalha pelos pilares, e a chance de derrotá-lo em combate seria um enorme alívio para seu orgulho. A fúria no âmago do manipulador do vento, contudo, era direcionada a todos de igual maneira. Estava fora de si e nem sequer reconhecia o inimigo, mas mesmo sem recordações da batalha anterior, sua agilidade garantia que fosse capaz de evitar as explosões.
-Ent, é melhor você evitar a linha de frente nestas condições. Posso contar com você para proteger Electron? – Disse Spectra, assumindo o comando do grupo.
-Certamente, mas seja cuidadosa. Ele é um inimigo fora do comum. – Comentou o velho, preocupado.
-Eu sei muito bem disso, já esqueceu que quase fui morta por ele? – Respondeu a mulher com leve sarcasmo.
A controladora da névoa também tinha contas a acertar com William e tratou de dificultar sua capacidade de esquiva, aumentando de forma torrencial a água que caía sobre o rapaz, cujos pés agora afundavam no barro. Ele reagiu empurrando tudo ao seu redor para o lado com o mesmo vento que o elevou no ar.
-Aurora, Sol! Agora!
Em resposta ao brado de Camilla, seus aliados agiram da forma combinada. Maya cobriu o corpo do oponente com uma camada de gelo, restringindo seus movimentos, enquanto que o controlador das estrelas arremessava uma enorme esfera reluzente.
-Quero ver defender essa, idiota! – Exclamou o loiro, confiante.
O gelo espatifou enquanto relâmpagos corriam por toda a extensão da pele de Storde. Em seguida, ele disparou um contragolpe que, ao entrar em contato com a estrela que vinha em sua direção, causou sua explosão prematura. Mas a Ordem da Rosa Branca já contava com isso e o rapaz teve apenas um segundo para se desviar, novamente valendo-se do poder do vento, de uma torrente de magma que jorrava do solo.
-Agora pega ele de jeito! – Disse Sol com um sorriso.
Sorrateira como um fantasma, Spectra já estava atrás de William, pronta para atingi-lo com um golpe fatal de suas adagas. Porém, ela não sabia que o verdadeiro responsável pelas ações do manipulador do vento assistia a batalha de uma distância segura e notou a tempo a estratégia. Como resultado, relâmpagos negros se expandiram ao redor do rapaz de cabelos negros, ferindo Camilla e derrubando-a.
-Seus tolos, vocês não passam de ovelhas enviadas ao massacre! – Rugiu a voz grave que saía da boca de William.
Ao estender a mão, ele disparou três relâmpagos que alcançaram seus alvos numa velocidade insana. Vulcano e Sol foram ao chão, ao passo que Aurora conseguiu resistir cobrindo seu próprio corpo com uma proteção glacial.
-Eu prometi a Electron que mataria seus amigos na frente dele. É uma vergonha que ele não esteja consciente para assistir a isso.
-Você é um monstro! Vamos derrotá-lo, custe o que custar! – Criticou Aurora.
-Quanta petulância! Eu já derrotei metade dos seus aliados num instante. – Foi a resposta desdenhosa, que fez uma terceira voz se intrometer.
-Parece que você esqueceu que arrogância em excesso é uma desvantagem! Sendo assim eu vou te colocar no seu devido lugar, O CHÃO!
A corrente da maça de Sol se enrolou na perna esquerda do manipulador do vento, ainda flutuando, e este foi puxado com violência para o chão. Ao cair, foi imediatamente atacado por Aurora e Vulcano, a primeira disparando enormes estacas de gelo e o segundo liberando um jato de pedras derretidas enquanto canalizava a terra ao seu redor. Contudo, apesar dos esforços, tais ataques foram detidos no limiar de um furacão que isolou William.
-Meu poder é imensurável, vocês jamais conseguirão vencer!
Duas adagas atravessaram em alta velocidade os ventos uivantes que rodopiavam ao redor do garoto de cabelos negros, desviadas de seu rumo original pela força do choque,  mas ainda assim uma delas deixou um leve corto no rosto do manipulador. O instinto o levou a recorrer a uma proteção mais próxima de seu corpo, mas ao fazer isto caiu na isca de Spectra. No mesmo momento em que o furacão se dissipou, a controladora da névoa tomou o domínio do vento para si e o usou para arremessar William na direção de Ent.
-Não se contenha nesse golpe! – Gritou a mulher.
-Sinto muito, rapaz, mas você não pode sair impune disso!
Para se proteger, o velho enrolou grossas raízes no próprio braço e atingiu o abdômen de William, fazendo-o erguer lama e água enquanto rolava pelo chão em sentido contrário ao anterior.
-O verdadeiro poder imensurável é aquele que surge quando a Ordem da Rosa Branca junta suas forças. Enquanto nossos corações estiverem unidos numa única causa, somos capazes de vencer até mesmo as forças diabólicas de Empericia. – Disse Ent, em tom de reprimenda.
-“Maldição, eu subestimei a força deles. Aquele maldito Electron esgotou as energias de William, não há condições de continuar lutando.” – Pensava o homem obscuro, furioso com o desenrolar dos acontecimentos. – “Por hora deixarei que vivam.”
O manipulador do vento deu as costas para os inimigos e bateu em retirada. Sol e Aurora já estavam prontos para persegui-lo, mas a voz de Aurora os deteve.
-Não o persigam! Na situação atual esse é um risco grande demais, sem contar que Electron precisa ser tratado com urgência.
-Isso não é bom. Teremos que ser mais cuidadosos do que nunca de agora em diante. – Comentou Vulcano.
-É verdade, mas creio que podemos considerar isto uma vitória, já que nenhum de nós morreu. – Falou o controlador das plantas, mal acreditando nas próprias palavras.
-Hah! Que covarde, fugiu com o rabo entre as pernas porque sabia que não tinha chances contra o grande e poderoso Sol! – Gabou-se o belo homem.
-Aposto que ele te matava em metade do tempo que levou para derrubar Electron. – Retrucou Thomas.
-Droga, Vulcano, de que lado você está?!
-“Graças a Adriel deu tudo certo, mas do jeito que as coisas vão pode ser que um de nós realmente acabe morrendo.” – Divagou Aurora, um tanto assustada com as perspectivas obscuras que aguardavam no futuro próximo. Mais do que nunca, sentia a necessidade de animar os seus amigos. – Não se preocupem, da próxima vez estaremos preparados. Vamos vencer aquele demônio, com toda a certeza!