Ent pertencia à geração anterior da Ordem da Rosa Branca e, naturalmente, havia conhecido todos os antecessores dos atuais integrantes. Sentia-se contente pela oportunidade de aconselhar seus companheiros e vê-los se desenvolver, mas com isso vinha a nostalgia das lembranças da juventude. A maior tristeza do controlador das plantas era o fato de não poder compartilhar a alegria de ver o futuro da ordem com seus falecidos amigos.
Quando a Rosa Branca finalmente estava completa outra vez, Ent fez uma promessa silenciosa para si mesmo. Não desejava que ninguém mais assumisse um posto no grupo antes que houvesse um substituto para si. Contudo, por se tratar de um guerreiro, evidentemente isto só aconteceria com sua morte ou invalidez. Em outras palavras, sua promessa era de proteger todos os seus aliados com sua própria vida.
Lamentavelmente, o velho não foi capaz de fazê-lo, pois dois anos atrás o jovem Martin, predecessor de Roger Pyrath como Quartzo, foi morto em condições misteriosas. Assim, o mero pensamento de arriscar a vida de Electron, mesmo que fosse pelo bem de toda a Ordem, era inaceitável. Porém, Ent se esquecia que não era o único que desejava de todo o coração proteger seus companheiros.
–Você tem razão, Electron, alguém precisa chamar os outros. Vá você, eu darei um jeito de segurar William aqui!
–Quem está louco é você, pelo visto. Acabado desse jeito acha mesmo que vai aguentar tempo o suficiente? – Protestou Leonard.
–Você não entende que... – Ent calou-se com um sinal de seu amigo.
–Eu não sei quem esse tal de William é, mas eu não vou perdoar ninguém que tente matar meus companheiros da Ordem da Rosa Branca. E também não vou deixar que morra num lugar como esse, vovô, pois ainda temos muito a aprender com você!
O manipulador do vento atacou com a violência e velocidade de um raio, mas Electron reagiu igualmente rápido e defendeu o golpe com o cabo de sua lança. Faíscas escuras e claras infestaram o ar no momento do impacto e então o velho atirou o inimigo para trás com um chute.
–O que você está querendo dizer com isso, rapaz? – Perguntou Ent.
–Você é um dos membros mais importantes da ordem, Peter. Precisamos mais do que nunca da sua sabedoria nestes tempos difíceis! Então nem ao menos pense em se matar só porque viveu um pouco mais que nós! – Disse o controlador do relâmpago, decidido.
A felicidade em saber que os outros guerreiros da ordem o valorizavam tanto era enorme. O velho decidiu que confiaria em Electron e deixaria de desperdiçar tempo precioso. Aquilo não seria um adeus, apenas um até logo.
–Eu vou buscar os outros e volto logo, trate de ficar vivo até lá, garoto!
–Pode contar comigo. Aliás, quem sabe eu não dou um jeito sozinho nesse desgraçado?
Um relâmpago cruzou o espaço que separava William e Leonard num instante, desfazendo-se diante da lança carregada de eletricidade que este último girava em alta velocidade.
–“Para colocar até mesmo o Ent contra a parede, certamente a força dele é descomunal. Preciso tomar cuidado se pretendo manter minha promessa.”
O loiro então estendeu sua lança e disparou diversos pulsos elétricos, sempre mirando no inimigo, mas sem conseguir atingi-lo, pois sua velocidade de esquiva era surpreendente. Agora face a face com William, Electron teve de desviar um soco relampejante e contra-atacou com o cabo de sua arma.
Os golpes em rápida sucessão eram rápidos demais e os combatentes apenas se detiveram quando a lança escapou das mãos de seu portador e girou no ar, caindo a quatro metros de distância, sobre um arbusto. Porém, no instante seguinte eles estavam novamente trocando socos e chutes, e cada esquiva aparentava ser insanamente impossível. Por fim, foi Leonard o primeiro a receber um ataque, erguendo-se no ar devido um gancho, mas não caiu antes de atingir o rosto do manipulador do vento com um chute.
William cambaleou, mas recuperou-se de imediato e lançou um novo golpe contra o adversário que ainda estava se levantando. Mesmo ajoelhado, Electron concentrou toda sua energia no punho esquerdo e o lançou de encontro ao punho direito de William. Os relâmpagos dançavam furiosamente ao redor de ambos e por um momento o mundo pareceu ser preto e branco.
Quando abriu os olhos, o loiro percebeu que estava caído, assim como seu adversário. Nenhum perdeu tempo em se levantar, mas um deles não desejava retomar a batalha de imediato. Leonard queria entender as motivações do manipulador do vento e saber o que o impulsionava a lutar.
–Você é empericiano?
William nada respondeu, mas também não atacou. Mantinha sua cabeça baixa e Leonard era incapaz de enxergar seus olhos, mas tinha a impressão de que o rapaz pensava em algo.
–Por está atacando a Ordem da Rosa Branca?
Parecia que esta seria mais uma pergunta não respondida, mas depois de alguns segundos, Storde começou a resmungar, tão baixo que era necessário prestar muita atenção para entender.
–Na minha cabeça... dizendo para matar...
–Na sua cabeça? Não me diga que...! – Electron foi interrompido e forçado a dar um passo para o lado, a fim de escapar de um relâmpago negro.
–Você será o primeiro. Depois vou matar todos os outros! Vou matar todos da Ordem da Rosa Branca! – William falava com uma voz sinistra, irreconhecível para quem ouvisse pela primeira vez.
–Que diabos aconteceu com você?
Leonard fez sua lança reaparecer em suas mãos bem a tempo de se preparar para uma nova investida. A batalha feroz e intensa estava prestes a recomeçar, sendo acompanhada de perto pela figura misteriosa.
–“Francamente, William, eu esperava mais de você. Nem ao menos consegue matar um fracote como esses? Não me deixa escolha senão tomar controle total da sua mente.”
Tornava-se evidente que os ataques do manipulador do vento eram mais precisos e cuidadosos. Electron via cada vez menos oportunidades de contra-atacar, praticamente obrigado a tomar uma postura defensiva. Com sua concentração completamente focada nos punhos e chutes que deixavam trilhas de energia pelo caminho, o controlador do relâmpago foi surpreendido quando o vento o ergueu ao alto.
–“Mas que droga! Parece que quanto mais eu luto, mais forte ele fica!”
Seu corpo suspenso perdeu o ímpeto e começou a cair. Virado para cima e observando o céu onde estrelas já brilhavam, Leonard rapidamente girou para enxergar seu inimigo, mas William não estava no chão.
–Onde ele...?
Um raio atingiu suas costas e o lançou violentamente de encontro ao solo. Com seus músculos formigando, ele mal tinha forças para erguer a cabeça e ver o inimigo se aproximando com um sorriso no rosto.
–No fim das contas eu lhe devo agradecimentos. Não preciso mais caçar o resto da ordem, basta esperar pacientemente que eles venham até mim.
–Quem... é você?
–E de que isso importa para alguém que já estará morto antes do raiar do próximo dia?

Ignorar o cansaço do corpo era uma atitude perigosa e Ent sabia disso, mas não podia se dar ao luxo de parar. Tinha que retornar ao acampamento a todo custo, mesmo que tivesse de se arrastar. Não podia falhar com Electron, mas o desespero bateu à sua porta quando um galho no qual se apoiou por um momento foi destroçado. Fragmentos se elevaram e então o velho caiu, percebendo que não havia sido um acidente, mas sim algo intencional.
–Vocês... mas como...?