Lorene escrita por Caroline Lemos, Caco
O sol batia de um jeito estranho na janela do quarto de Lorene naquela manhã de inverno. Eu queria me desculpar pelo jeito como a tratei alguns dias antes e a melhor coisa que consegui pensar foi levá-la para passear na praia, como nos velhos tempos. Não queria admitir, mas também estava sentindo a falta dela. Peguei uma segunda pedra, um pouco maior do que a anterior e arremessei no vidro da janela, tentando chamar sua atenção. Ela tinha sono leve, geralmente acordava de primeira.
-O que você quer? - Lorene levantou a janela e pôs a cabeça para fora para espiar quem a acordara. Estava com o cabelo todo despenteado e creme para espinhas no rosto ainda. Mas, de alguma forma, ela ainda estava muito bonita. Eu nunca havia reparado direito nela enquanto namorávamos.
-Que você aceite minhas desculpas...? - tentei fazer a minha voz soar o mais arrependida possível.
-Espere ai em baixo - ela respondeu, inexpressiva. Eu ainda não sabia se estava salvo, mas bastava que ela aceitasse passar o dia comigo. Eu tinha de recompensá-la. Lorene não demorou mais do que dez minutos para se arrumar e descer. Fiquei pensando no dia em que esperara Rachel se arrumar por quase duas horas para ir ao cinema. Lorene estava com o cabelo preso agora e usava um colete para o frio por cima da camisa xadrez. Uma coisa que eu jamais veria vestida em Rachel.
-Não está com frio? - foi a primeira coisa que eu consegui pensar. A garota balançou a cabeça, negativamente, em resposta.
-Acostumada - disse por fim. O tempo havia mudado bastante, mas isto era comum por ali.
-Me desculpe, Lo. Não foi minha intenção te chatear naquele dia.
-Que dia? – a garota levantara uma sobrancelha.
-No último dia em que nos falamos – disse, por fim.
-Não foi nada. – ela respondeu, pouco convincente.
-De qualquer forma, eu queria compensar você. – eu sorri, o que a fez desviar o olhar para os pés. Por um instante pareceu que ela estava incomodada com a situação. Trançava os grossos cabelos, nervosamente.
-Você não precisa. – disse baixinho, mordendo os lábios e amarrando a ponta da trança com um elástico.
-Mas eu quero. – insisti, pondo minha mão sobre seu queixo e levantando o rosto de Lorene.
-Então, o que vamos fazer? – perguntou, esquivando-se.
-Eu pensei em caminharmos pela praia. Depois comer o Cheeseburger engordurado do velho Mike. O que acha? – tentei não encarar diretamente seus olhos para que não se sentisse constrangida outra vez.
-Tudo bem. Mas eu quero batatas fritas. – ela riu, brincalhona. Fiquei contente que seu humor tivesse voltado ao normal.
-Vamos ver se você tem a sorte do velho Mike não queimá-las dessa vez.
-Eu gosto delas. Até mesmo queimadas. – ela tentava equilibrar-se no chão escorregadio. A neve estava derretida, mas ainda havia um pouco de gelo nas calçadas. E Lorene era, digamos, um desastre em coisas que exigissem equilíbrio. Isso incluía andar na calçada no inverno. Ofereci meu braço para que ela enganchasse o dela, o que ela prontamente fez, sem mais protestos.
-Você ainda costuma ir até lá, digo, comer o Cheeseburger do Mike? – perguntei, mais para puxar assunto e quebrar aquele clima tenso.
-Hoje em dia não, pra ser sincera. – ela apoiou-se mais forte em mim, quase escorregando outra vez. – Mas eu costumava levar o Jordam lá.
-Jordam? – saiu mais ciumento do que eu planejara. Minha reação acabou me pegando de surpresa e tenho quase certeza de que ela notou. Mas não fez nenhum comentário sobre o meu tom.
-Ele passou as últimas férias de verão aqui com a família. Tinha uma labradora marrom maravilhosa. – Lorene ia tagarelando. Minha raiva, no entanto, só aumentava. Eu não deveria ter ciúmes da minha ex-namorada. –Ela e Meg se deram muito bem – sorriu.
-Só ela e Meg, não é? – perguntei, um pouco azedo. Bem, eu estava irritado, e bastante. Não conseguia dizer nada muito gentil quando estava irritado. Isso era um defeito que Lorene conhecia bem.
-Não acho que seja da sua conta. – Lorene respondeu, séria.
-Tem razão, não é – respondi, ainda seco.
-Eu acho melhor eu voltar, Leo – a garota parecia chateada.
-Não, espera. – eu segurei firme seu braço, ainda enganchado no meu. – Eu te trouxe aqui pra me redimir, me desculpe.
-Talvez eu não devesse... – ela tentou dizer.
-Por favor. – eu insisti. Lorene hesitou por um momento, mas em seguida suspirou e afrouxou o braço.
-Está bem. Mas sem mais gracinhas, está bem? – ela advertiu.
-Tem minha palavra – sorri, recomeçando a caminhada.
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