-Você corre como uma menina! - Lorene gargalhava gostosamente enquanto corria. Não parecia estar nem mesmo um pouco cansada.

-Eu sou asmático Lo. Esqueceu? - respondi tentando inutilmente alcançá-la. A garota pareceu ficar com peso na consciência por ter esquecido, porque parou repentinamente de correr e deu meia volta, correndo na minha direção. Veja bem, você nunca sabe o que se passa pela cabeça de Lorene. Ela jamais irá fazer qualquer coisa que você espere que ela faça. A garota corria alegremente, seus cabelos compridos voando no vento gelado e ela não parecia nem um pouco incomodada com a situação. Uma pessoa normal teria parado de correr ao chegar mais perto. Lorene veio como um búfalo desengonçado prestes a colidir comigo. E foi o que aconteceu. Fomos os dois ao chão e eu não duvidava nada que ela tivesse planejado aquilo. Ela tinha um jeito estranho de demonstrar carinho, com soquinhos ou caretas. E ainda ria da minha cara, mesmo caída por cima de mim, coberta de neve. -Eu não sei você, mas deitar no chão nevado do parque no dia mais frio do ano não me parece a coisa mais agradável pra se fazer - resmunguei e ela sorriu, aproximando seu rosto do meu.

-Eu gosto do frio. Faria a situação ficar melhor se eu te enchesse de beijos? - ela fez sua cara mais doce.

-Lorene... - eu a repreendi. Os últimos dias tinham sido realmente difíceis. Eu não queria magoá-la, tinha prometido que não a deixaria sozinha só porque terminamos, mas ela parecia obstinada em me reconquistar.

-Já sei, só amigos. - a garota parou de sorrir.

-Mas você pode me dar um grande abraço e ai saímos daqui pra tomar um chocolate quente. Que tal?

-Tanto faz, Leo - a garota respondeu, levantando-se e sacodindo a neve do casaco. Ela estava ainda mais bonita do que quando estávamos juntos. Mas eu não podia voltar atrás agora. Eu tinha uma namorada me esperando em Nova York e não sou desse tipo que trai. Veja bem, eu ainda amo muito Lorene, mas isso não muda o fato de que ela não é certa pra mim. Tão impulsiva, desajeitada e maluca. Eu não conseguiria apresentá-la para nenhum dos meus amigos em Nova York. Ela era apenas uma boa amiga agora. Com quem eu passava todas as férias de inverno, em Long Branch, Nova Jersey. Eu sou uma pessoa realmente confusa. Quando eu estava em Long Branch                                  , tudo o que eu queria era vê-la no dia seguinte. Mas quando eu voltava para casa ela era mais como alguém do meu passado. A loira saiu marchando a passos largos na minha frente, sem se importar em me esperar. Já mencionei que ela também é muito teimosa?

-Onde está indo? O café fica praquele lado - apontei na direção oposta.

-Eu não gosto de chocolate Leo. Eu vou pra casa. - respondeu, um pouco triste.

-Você quem sabe - dei de ombros, fingindo não ligar. Essa foi a minha reação externa, porque por dentro a minha vontade era de ir lá, beijá-la e aperta-la em um abraço que não terminaria nunca. Deixei-a ir com meu coração partido, mas eu não podia permitir que ela me envolvesse de novo daquele jeito. A amizade dela é tudo o que eu deveria querer agora. Voltei para casa devagar, tentando por as ideias no lugar. Quando estávamos longe era fácil demais me convencer de que ela não era a garota certa pra mim. Não tinha nada a ver comigo agora. Lorene gostava de pintar quadros malucos, de ter muitos cães, de escrever contos malucos, de cantar e gritar e rir no meio da rua. Ela tinha crises de choro e de drama em excesso e quase sempre discutíamos por coisas fúteis. Ela era o tipo de garota que poderia te ouvir falar por horas e sempre ter algo que prestasse a dizer. Que tinha uma risada estranha e gostava de dar abraços repentinos nas pessoas. Meus amigos de Nova York jamais entenderiam. A garota certa pra mim era Rachel, minha namorada. Uma menina doce, discreta, que não gostava de falar muito e não me faria passar vergonha em público. Que eu poderia apresentar facilmente aos meus colegas e amigos. Então porque eu ainda não conseguira convencer meu coração disso?