Eiji permaneceu calado a manhã inteira, e ele sequer olhava para Aika. Ficou imóvel, tentando fingir para si mesmo, mais que para os outros e para Aika, que ele não estava magoado, que estava apenas prestando atenção na aula. A garota, que sentara propositalmente atrás do amigo e se preocupava se este estaria mesmo bem, assim que Eiji sequer lhe direcionou um olhar depois do acontecido no corredor.

            Aika tentava fingir que estava tudo bem, já que Eiji tinha esses ataques de vez-em-quando. Mas ela simplesmente não conseguia fingir que tudo estava bem. Desde que vira os olhos tristes de Eiji encontrarem os seus por um instante, antes dele empurrar-lhe pedindo passagem, Aika pode sentir uma sensação até então nunca esperimentada: Aquele antigo buraco no estômago abriu-se novamente, mas dessa vez ele não indicava adrenalina ou felicidade, mas sim uma angústia profunda e densa como um sentimento reprimido. No peito, ela sentiu uma dor aguda invadir de uma vez seu coração, como se ele fosse um vidro e houvesse se partido em milhões de pedacinhos.

            O sinal do intervalo tocou, tirando-a de seus devaneios. Eiji saiu, literalmente, correndo para fora da sala. E Aika continuou pasma, observando abobalhada as atitudes do amigo. O que ela não sabia é que Eiji sentia uma dor ainda mais absoluta que ela. Era como se ele estivesse muito machucado, e tivesse de carregar pedras em suas costas. Sua cabeça devagava sem rumo buscando uma coisa boa, sequer, enquanto sentia uma escuridão antes não conhecida invadir seu coração.

            Aika encontrou Hayato perto da quadra, e eles passaram o interalo juntos. Quando a garota viu o sorriso brilhante de Hayato, ela quase, que por 1 momento, se esqueceu de Eiji e todo o acontecimento de logo cedo. Ambos se sentaram, e começaram a conversar como se conhecessem á tempos. Foi então, quando a decepção veio.

- E então, no inverno passado, eu e minha família fomos para o Canadá esquiar nas montanhas geladas... – Hayato dizia, mas Aika estava decepcionada demais para sequer ouvir. O garoto, antes encarnação da perfeição, da gentileza e dos bons costumes, parecia mais um sapo, assim que só sabia gabar-se e comia como um porco. As mãos, sujas de arroz e shoio, o uniforme amarrotado por estar dormindo na sala de aula e o falar de boca cheia fizeram Aika ter a certeza de que ela havia se precipitado, e muito, em relação Hayato. “Ele nem sequer é inteligente, para compensar!” pensou a garota enquanto ouvia Hayato monologar consigo mesmo. Logo, a imagem de Eiji invaiu-lhe a mente, como aqueles deliciosos perfumes nos estandes de cosméticos do shopping. “Se Eiji estivesse aqui, ele concerteza diria que Hayato é o típico pimentão. Bonito e suculento por fora, mas completamente vazio por dentro, fora as sementes, para continuar sua família.” Ela ru sozinha da constaração, logo sentindo o tão famoso aperto no peito invadir-lhe. Eiji... Ele ainda não lhe contara o que havia acontecido, e ela sentiu-se abandonada por um momento, sem o garoto ao seu lado, quando então lembrou do sorriso do amigo e sentiu seu coração parar por alguns instantes. 

            Aquele sorriso capaz de parar o coração de uma garota por alguns segundos, e após o mesmo voltar a seu funcionamento normal, ela ter a certeza de que sua vida nunca mais será a mesma.