Hoje é meu último dia no acampamento meio-sangue antes da missão. Não sei por que o sonho ainda continua martelando na minha cabeça. E se os acampamentos realmente estiverem em perigo? E se minha família estiver em perigo? Minha família... Isso soa tão esquisito. Quando cheguei aqui eu era apenas uma garotinha solitária cuidada pelo tio. Agora tenho amigos, meus pais...

Pego o livro sibilino em minhas mãos. Octavian seria capaz de tudo para ter o livro. Ele seria capaz de tudo por poder. Essa é sua maior fraqueza, eu tenho que usar isso contra ele, como eu não sei, mas tenho que arranjar um jeito de descobrir. E rápido.

E quem é seu chefe? Eris está do lado de Octavian, se deuses menores estão apoiando os Menelaus... Sinto um calafrio ao pensar que isso pode se tornar uma repetição da 2ª guerra contra os titãs.

Abro o livro Sibilino. Paro na profecia dos sete

“Sete meio sangues responderão ao chamado.

Em tempestade ou fogo o mundo terá acabado.

Um juramento manter como um alento final

E inimigos com armas ás Portas da Morte afinal”

Eu sabia que profecias podiam ser assustadoras, mas essa simplesmente superou minhas expectativas. Passei para a página seguinte. Era um tratado de Sócrates muito interessante sobre o relativismo e o poder que eles poderiam ter em uma profecia. “Nenhuma profecia pode ser levada ao pé da letra. Isso pode acarretar sérios problemas para os heróis. Tentar se desviar do seu destino é a maneira mais fácil de encontrá-lo. Muitos heróis sabem disso, mas ficam tão assustados que acabam tentando a todo custo evitar o suposto mal prenunciado. Vide o caso de Édipo”

Ele conta a história de Édipo, um homem que matou o próprio pai e depois se casou com a mãe. Passo para a página seguinte, onde há uma nova profecia. Assim que começo a ler sinto meu estômago dar vários nós. Foi como se alguém tivesse diminuído a temperatura uns 100 graus.

Dois povos novamente lutam

Um antigo legado em perigo

Uma antiga maldição reacende

Da descendência dos heróis um último suspiro

Com o sangue dos inimigos a paz final

Ouvi o barulho de algo caindo. Demorou alguns segundos para eu perceber que tinha deixado o livro cair e que estava olhando para ele apavorada, tremendo como se pequenas correntes elétricas estivessem trespassando meu corpo pouco a pouco. Agora eu entendia o que Sócrates queria dizer sobre os heróis que se deixavam abalar pelas profecias, se pudesse eu estaria correndo e me atirando do primeiro penhasco.

– Penny, Penny. Não leia demais você pode acabar ficando louca.

Virei para trás e dei de cara com Petúnia. Ela estava com a camiseta roxa do acampamento Júpiter e seus cabelos como de costume, isso já estava me deixando muito irritada, estavam caindo perfeitamente sobre seu colo.

– O que você quer Petúnia? Estou meio ocupada sabe? Se você está procurando companhia para a sua hora de salão, sinto muito.

–Ah não, isso eu posso perceber- diz ela me olhando criticamente.

Sempre odiei como as garotas faziam isso, como se eu nunca estivesse perfeita, como se sempre faltasse algo em mim. O pior é que eu sempre acreditava nelas. Sustentei o olhar. Fazia muito tempo que garotas como ela não me importunavam mais.

–Então desembucha!

–Parece que querem falar com você na casa grande.

–Ok, muito obrigada. Pode voltar para seu sono de beleza.

–Ah Penny, sinceramente, não sei o que Alex viu em você.

–Provavelmente ele não viu muita coisa mesmo. Perto do que você mostrou para ele na última festa.

Faço menção de sair, antes que a garota aja como aquelas lideres de torcida loucas e diga que o namorado é dela. Sinceramente, ela que faça bom proveito. Antes que eu saia ela pega meu pulso.

–Sabe grega, nós romanas gostamos de preservar o que é nosso. E podemos ser realmente perigosas caso alguém atravesse nosso caminho.

Não disse?!

–Ah é mesmo? Sinceramente Petúnia, você não me parece muito perigosa. Só se falsidade crônica e perfume barato tenham se tornado armas mortais.

–Estou lhe avisando garota, Alexandre Grace é meu.

– Sabe Petúnia, se ele realmente fosse seu, acha que precisaria estar tendo essa conversa comigo? Faça bom proveito do seu principezinho loiro. Agora se me dá licença, eu realmente tenho coisas mais importantes para fazer do que ficar ouvindo você falar do seu namorado.

Saio do Chalé onde estava fazendo minha mochila para sair em missão e me encaminho direto para a casa grande. Alguns dos campistas me lançavam olhares enquanto eu passava. Apesar de eu já considerar o acampamento um lar, eu ainda me sentia fora de ritmo aqui. Todos os campistas me olhavam como se dissessem “Aquela é a filha de Percy Jackson? Sério? Eu estava esperando alguém mais heroico”. Apressei o passo.

Assim que cheguei na Casa Grande sou envolvida em um abraço de urso que quase partiu minhas costelas.

–Tayson, assim você vai machucar Penny.

–Olá estranho, quem é você? Alguém que faz parte daquele grupo chamado Free Hughs?

–Penny é bonita Percy- diz o estranho sorrindo para mim. Sem saber por que sorrio de volta. Até que algo finalmente me ocorre.

–Você é... pelos raios de Zeus, você é um Ciclope!- digo chocada.

– Huum Penny esse é Tyson, seu tio.

Eu olho o estranho.

–Você é meu tio?

–Sim- diz ele sorrindo.

–Cara, isso é....

–Confuso? Estranho? Embaraçoso? – pergunta meu pai.

–Não, isso é... Cara isso é o máximo. Ei, você já comeu um sátiro? Por que na boa, eles devem ter gosto ruim não? E tipo assim, você nunca comeu um meio sangue né?

– Eu não gosto de sátiros são assustadores. Eu gosto do menino bode, mas ele é diferente. Meio sangues são amigos.

–Ah se quer saber, também acho que sátiros podem ser assustadores. O treinador Hedge pode ser realmente malvado com aquele bastão- dou uma piscada para o grandão.

Gostei dele, e, além disso, não é toda a garota que pode dizer “Ei, não mexa comigo ou eu chamo meu tio Ciclope". Meus pais sorriem radiantes para mim. Dá para ver que eles adoram Tyson.

–Eu tenho que avisar dos outros sobre a reunião. Vejo vocês daqui a pouco- diz minha mãe me dando um abraço e um beijo na testa. É, acho que posso me acostumar com isso.

– Eu vou procurar Ella- diz Tayson.

–Ok, que tal você e eu darmos uma volta pela praia? –Meu pai olha para mim com um ar travesso.

Sorrio para ele.

–Seria perfeito

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O mar estava calmo. Eu podia quase sentir Poseidon sorrindo para mim. Percy parecia estar de bom humor também. Sentamos em frente ao oceano, era mais do que reconfortante ficar ali.

–Foi muito legal o jeito que você tratou Tyson.

–Por que eu trataria ele diferente? – pergunto sem saber aonde ele quer chegar.

–Algumas pessoas não tratam muito bem pessoas diferentes ou não ficariam muito felizes de ser parentes de um Ciclope.

–Está brincando? Tyson é o máximo. E aquela história dele ter medo dos sátiros é hilária.

– Eu sei- diz meu pai sorrindo- Só não o chame para ver os peixes pôneis. Ele pode ficar pior do que uma criança.

– Peixes pôneis?

–Cavalos marinhos.

–Ok, então tá. Tudo bem. Peixes pôneis... até que faz sentido.

–Você se acostuma.

– É acho que sim.

–Penny você tem lidado muito bem com tudo isso. Quer dizer as missões, até enfrentou os deuses. Não que eu aprove claro- disse meu pai com cara de quem aprovava sim – Mas acho bom de vez em quando.

–Sei. Claro que você não aprova.

Ele ri.

–Estou falando sério mocinha. Eu.... não suporto a ideia de você em perigo. Para falar a verdade, eu odeio o fato de você estar indo para o mundo inferior.

Dou um suspiro cansado.

–Você sabe que eu tenho que ir não é?

–Faz diferença?

Eu rio.

–Só espero que eu consiga resgatar Nico e Thalia. Sinceramente, não sei se sou boa o suficiente para isso.

–É claro que é, afinal você é minha filha.

Eu olho para ele divertida.

– Ok, você é a filha da Annabeth Chase. Pronto, acho que fica bem melhor assim.

Eu rio junto com ele.

–Agora Penny, eu quero que você saiba que você é uma heroína. Apesar da confusão que você sente. Eu quero que saiba que acredito em você. Eu jamais deixaria você ir para o mundo inferior se não acreditasse.

Eu sorrio. Tenho vontade de começar a chorar. Ao invés disso apenas consigo abraçá-lo.

–Vem temos que ir para a casa grande.

– Ás vezes eu odeio o fato de você ser parecida com sua mãe.

Eu rio. Juntos seguimos para casa grande.

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Assim que chegamos lá, me passa pela cabeça que esse dever ser um recorde. Duas reuniões em uma semana? Mal chegamos de uma missão e lá estamos nós novamente na mesa de pingue-pongue. Quiron, minha mãe, Frank e Reyna já estão lá. Tales e Alex também já estão apostos. Alex desvia o olhar quando me vê, mas, eu não sei como, tenho plena consciência que ele está prestando total atenção em mim.

–Onde estão os lideres dos chalés? Nós não tínhamos que convocar os pretores do acampamento Júpiter também?- Digo assim que me sento na mesa.

–Ah sim. É verdade. Eles já estão avisados. Vão chegar em breve creio eu- diz o Centauro.

Hazel aparece com uma Harpia.

– Desculpem pessoal, mas foi difícil fazer Ella sair do arsenal. Ela ficava repetindo fatos sobre armas. Vocês sabiam que armas brancas podem ser mais eficientes que as de fogo? Não é mesmo Ella?

Ella sorri para Hazel. A estranha Harpia vai para o lado de Tyson e começa a dar bicadinhas carinhosas na sua mão. Eles pareciam...

–Ei espera ai... Você é... namorada do meu tio? Então você é... Oh Deuses isso fica cada vez melhor!!-Digo sorrindo e me aproximando da Harpia.

Ela sorri para mim começo a fazer carinho em suas asas. Mas então ela me olha nos olhos. E começa a gritar. Antes que possa se controlar ela está recitando uma das profecias que eu tinha visto no livro sibilino

Três meio sangues caminham para a casa da morte

A voz do anjo os guia através do rio sagrado

Para resgatar as almas perdidas

Cinco tarefas os herdeiros da guerra e do mar deverão cumprir

E ao retornar uma traição pode desfazer um lar

A Harpia agora está tremendo. Murmurando coisas. Consigo entender apenas um “Ella má” Tyson está tentando acalmá-la. Todo mundo está pálido, olhando para mim. O resto do pessoal está chegando bem na hora.

–Ei o que está acontecendo? Ouvi que nós íamos ter uma reunião sobre a invasão do acampamento. Mas por que vocês estão com essas caras? – Pergunta Tio Leo observando atentamente todo mundo.

– Ella acaba de recitar uma profecia- diz Minha mãe se segurando no meu pai e tremendo.

–Que profecia? Espera, não pode ser...- Diz Piper olhando para Alex.

– Sim, é sobre nossa missão- digo ainda olhando para a Harpia.

– E eu que já estava achando que tudo ia ser tranquilo- diz Frank.

Quiron olha para mim. Acho que ele não está apenas pensando nessa nova profecia. Ele de algum modo sabe que eu já estou ciente sobre a nova grande profecia.

–Penny, tem algo que você precise contar para nós?- Pergunta Quiron me encarando- Você já estudou o livro sibilino?

Eles estão me olhando curiosos. O que eu vou dizer “Sim é claro. Descobri coisas interessantíssimas sabe? Há profecias terríveis, os escritos de Sócrates e a propósito, uma delas fala sobre uma guerra entre gregos e romanos e um dos filhos de vocês pode morrer”

–Claro. Mas eu ainda não descobri muita coisa para falar a verdade.

Quiron me olha interrogativamente. Lhe dou um olhar sugestivo que significa “depois”

– Huum, ok. Ótimo- diz Quiron- Acredito que tenha conseguido a carona ideal para o mundo inferior para vocês. Alguns cães infernais estão juntos com os cavalos. Eles vão levar vocês em segurança

–Cães infernais? Sem chance- diz Alex

Dessa vez tenho que concordar com ele.

–É Quiron, acho que Alex e eu temos experiência demais com cães infernais. E seguro não é uma palavra que eu usaria para descrevê-los-digo.

–Ah, não se preocupem, esses são amigos.

Eu e Alex olhamos para ele com cara de dúvida.

–Penny, eu tenho um cão infernal de estimação. Eles podem ser bem dóceis e uteis- diz meu pai sorrindo como se estivesse dizendo “Tenho uma gatinho siamês super fofo lá em casa, quer brincar com ele?"

–Ah ok, você tem um irmão ciclope e um cão infernal de estimação, por que isso não me impressiona? – digo olhando para o meu pai que apenas sorri para mim.

Ouvimos uma explosão forte vindo da entrada do acampamento.

O líder do chalé de Apolo entra correndo.

–Quiron, estamos sendo atacados. Monstros e semideuses.... nada bom, nada bom

Em segundos todos nós já estávamos correndo em direção ao ataque. Posso ver que grande parte do acampamento já está a postos lutando. Estamos sendo invadidos por todos os lados. E eu tenho certeza que os Menelaus estão por trás disso. Se eu encontrar Octavian, juro pelos deuses que ele vai virar panqueca loura.

Nós entramos na luta. Estraçalho uma Dracaenae antes que ela possa dizer ai. Mirna e Lara estão lutando. Assim que me veem elas sorriem para mim.

–As coisas por aqui são bem divertidas né?- Diz Mirna dando um pontapé em um dos meio-sangues traidores.

–Meninos- grita Jason- vocês precisam ir.

–O que? Não podemos deixar o acampamento assim- diz Tales

–Vocês precisam. Vocês tem uma missão. Está na hora- diz Annabeth do meu lado.

– Mas...

–Vá Penélope!-grita minha mãe acertando um golpe de adaga em um monstro inimigo.

Tales agarra minha mão e me puxa. Alex está bem atrás de nós. Temos que evitar alguns semideuses invasores no caminho, mas eles não pareciam muito interessados em nós, Apenas queriam destruir o acampamento. Entro no chalé de Hermes correndo e pego minha mochila.

Nina está lá.

– O que está acontecendo Penny?

–Estamos sendo atacados. Você tem que se esconder. Se esconda no banheiro, rápido. Assim que tudo ficar em silêncio de novo procure Jason ou Hazel está bem?

– Está bem. Mas Penny... onde você vai?

–Trazer seus pais de volta- digo abraçando a garotinha.

–Você vai Penny?

–Vou sim. Eu prometo lindinha.

–Você também vai voltar né?

Sorrio para ela.

–É claro que sim. Mas se esconda. Me prometa que só vai sair de lá quando estiver tudo em silêncio.

–Eu prometo.

Ele vai correndo para o banheiro, sorrindo para mim como se estivesse apenas brincando de esconde-esconde. Saí correndo do Chalé. Não demora muito e encontro os garotos na frente do estábulo. Antes que eu possa chegar até lá sinto um corte no braço esquerdo. Me viro e dou de cara Petúnia.

–Olá Penny. Eu disse que era perigosa.

–Sua...- antes de terminar a frase já estou dando um soco na garota. Ela tenta agarrar meu pulso, mas eu sou mais rápida e agarro o dela. Assim que faço isso percebo uma tatuagem de pomo. A fúria começa a tomar conta de mim.

–Você preza tanto Alex que é capaz de se aliar com as pessoas que mais odeiam alguém como ele não é Petúnia?

–Poder querida. Algo que você nunca vai ter. Assim que essa guerra tiver terminada ele vai ser meu. Tifão vai se encarregar disso.

Tifão. Deuses! Por que Tifão? Ela me empurra, se aproveitando da minha confusão, fazendo com que eu largue o pulso dela. Ela corre em direção à floresta conseguindo fugir. Não corro atrás dela. Vai haver muito tempo para isso. Ao invés disso, corro para o estábulo onde Alex e Tales já estão me esperando.

Blackwind está lá e relincha ao me ver.

–Não posso deixar ele aqui.

–Não se preocupe, eles vão ficar bem- diz Alex.

Ele olha assustado para um dos cães, respira fundo e sobe.

Subo em um nas costas de Tales.

–Eu me pergunto por que é que você sempre diz isso- digo olhando para ele com raiva.

–Força do hábito?

Tales dá um grito e os cães obedecem. Eles viajavam com uma rapidez incrível. Mas eu ainda consegui dar uma última olhada para o acampamento. Rezando para todos os deuses, pedindo que Alex tivesse razão e, esperando acima de tudo, que eu pudesse voltar para ver o acampamento outra vez.

– Voltem vivos meninos. Estaremos aqui esperando por vocês.

A voz de Hazel está distante. Mas ainda conseguimos ouvir. Apressamos o passo e começamos a viagem para o mundo inferior.