A água batia inclemente nas pedras. A chuva caia fina e cortante, o céu cinza era da cor dos olhos da mulher que estava parada na amurada que dividia a praia da cidade perto do marido. Felizmente, a praia estava vazia. Poseidon e Zeus tinham cuidado para que tudo saísse como o planejado.

Annabeth sabia muito bem porque, afinal de contas, para eles era de uma importância vital que as crianças fossem afastadas de tudo o que dissesse respeito ao mundo deles. Ela olhou o marido de relance. Percy parecia simplesmente arrasado.

–Percy, querido. Ela vai ficar bem.

–Eu sei. Eu só... queria que as coisas não fossem assim sabe. Eu lutei contra o minotauro, matei a medusa, salvei o olimpo duas vezes, três vezes, mas isso...

–Eu sei, eu sei. Mas temos que protegê-la. Não podemos correr esse risco. Se ela ficasse aqui, você sabe que não poderíamos evitar que fosse atacada por monstros, seria impossível escondê-la por muito tempo.

Percy apenas se limitou a dar um suspiro cansado. Por que, e ele se perguntava isso desde os doze anos, a vida de um semideus tem que ser tão difícil? Ele já havia suportado tudo, mas aquilo ia além de qualquer expectativa.

Os pensamentos de Percy foram interrompidos pela chegada de dois amigos antigos. Os dois também tinham a mesa expressão de dor que ele e Annabeth.

–Então- disse Jason- Quando eles vão estar aqui?

–Em questão de segundos. O senhor do Olimpo não gosta muito de perder tempo com assuntos mortais.

O semideuses evitaram se entreolhar. Por que, se caso o fizessem, perceberiam a raiva que estavam sentindo. Eles sabiam que era o melhor a ser feito, mas mesmo assim, não podiam evitar o ressentimento e o ódio que estavam sentindo pelos deuses.

Os quatro, Jason, Piper, Annabeth e Percy eram amigos de longa data. Desde que tinham finalmente conseguido deter a vingança de Gaia e acabado com uma antiga rivalidade entre o acampamento Grego e Romano. Era de se esperar que eles tivessem um tempo de paz e alegria logo depois que se casaram e tiveram seus filhos.

Piper apertava bem o pequeno embrulho azul contra o peito. Apesar de tudo, o menino de um ano estava bem quietinho, como se soubesse que algo grande estava para acontecer. Já a menina de apenas cinco meses que estava no colo de Percy se remexia desconfortável. Quando Percy olhava para ela sempre lembrava das palavras de Poseidon. “O mar não pode ser contido”.

Primeiro eles sentiram a maré mudando. Depois o vento começou a ficar mais forte. E sem que se desse conta os quatro já estavam na frente dos pais.

–Olá querida- saudou Atena

Annabeth tentou forçar um sorriso, mas nem ela conseguiu cumprimentar a mãe.

–Então vamos logo com isso- Disse Zeus com a costumeira praticidade. – Vocês sabem por que estão aqui. São os semideuses mais poderosos do século e se ficarem com essas crianças as consequências podem ser trágicas.

–Não se preocupem nos encarregamos de levar as crianças para um lugar seguro- Disse Poseidon. Ele tinha um olhar triste. Quase como se tivesse pena dos semideuses ali presentes.

–O lugar deles é ao nosso lado. Somos os pais - disse Percy com raiva. Por mais que entendesse a situação, seria insuportável se separar da pequena garotinha.

–Ah querido, não adianta. Eu já tentei falar com eles -Disse tristemente Afrodite lançando um olhar irado para os outros três deuses- Mas não se preocupe ela terá um lindo futuro amoroso.

–Afrodite, cale-se! Pais às vezes tem que fazer sacrifícios Percy- Disse Atena friamente- Garanto que o mais importante para vocês é manter a segurança deles não?

Os quatro assentiram fracamente.

–Ok, então não tornem isso mais difícil do que já é- disse ela assumindo uma postura derrotada.

Então sem dizer nenhuma palavra os deuses pegaram as crianças do colo dos pais. Os bebes começaram a chorar imediatamente. Foi quase impossível conter as lágrimas, mas os quatro fizeram isso, por que sabiam que nada ia adiantar. E Percy ficou lá parado. Como nunca odiando ser um semideus. Odiando o fato de se afastar daqueles olhos verdes que eram tão iguais aos seus, da sua garotinha. E jurando nunca mais lutar pelo Olimpo. Nunca mais se deixar levar pelas vontades dos deuses.