POV: Zayn

                A viagem até o acampamento no ônibus da escola tinha sido extremamente estranha. Primeiro que desde a separação dos grupos, nós tínhamos ficado estranhos uns com os outros. Mesmo que eu sempre tivesse tido uma afeição maior por Harry, ele agora era a pessoa que eu passava mais tempo junto, enquanto Louis e Niall ficavam juntos. Liam estava um tanto quanto apático a essa situação e não parecia se importar muito com o que estava acontecendo, ainda tentava falar com os dois “subgrupos”, mas passava a maior parte de seu tempo sozinho na parte superior do quarto, lendo.

                Além dessa separação, pude notar que uma certa estranheza surgia entre a gente. Parecia o primeiro dia novamente, onde não nos conhecíamos. Mesmo eu, que era o mais antissocial do dormitório, estava incomodado com essa situação.

                O pior era ver Harry tão longe de Louis depois de tudo que ele me contou. Por estarmos tão próximos, Harry me adotou como um confidente particular e me falou sobre todas as dúvidas que tinha na cabeça. Pelo visto, eu e Niall não éramos os únicos a ter dúvidas sobre a sexualidade naquele dormitório.

                Louis tinha se distanciado pouco a pouco de Harry depois do beijo e era notável o quanto o garoto de cabelos cacheados estava sofrendo. Não por não ter seu amor correspondido, ele estava triste por ter perdido seu melhor amigo.

                Tentei falar para que ele não se preocupasse e que não era culpa dele, mas não consegui tirar de sua cabeça que o beijo tinha o feito perder Louis.

                - Garotos, chegamos – A voz irritante daquela vaca soava na frente do ônibus. – Peguem suas mochilas e me sigam, não podemos perder muito tempo.

                Todos começaram a se arrumar, muitos ainda estava acordando graças ao tempo em que tínhamos passado dentro do ônibus após acordar 6 horas da manhã para chegarmos cedo. Eu estava bem disposto e não queria deixar que nada aparentasse que aquela vaca estava me fazendo me sentir mal. Ela tinha que perceber que não tinha nenhuma influência sobre mim.

                - Vamo Hazz, a gente tem que ir rápido pra pegar bons lugares pra dormir. – Harry estava com a cabeça apoiada em meu ombro, com fones no ouvido e olhos fechados, mas eu sabia que ele estava acordado. Só estava pensando.

                - Ok, já pegou minha mochila? – Ele respondeu cochichando.

                - Pegue você, não sou seu empregado – brinquei, levantando-me rapidamente e tirando o apoio da cabeça dele, fazendo-o se levantar de susto.

                Pegamos as mochilas e seguimos o grupo de estudantes. Pude notar que Niall e Louis estavam lá na frente, mas não consegui achar Liam e Josh. Eu procurava Josh por ele fazer parte do nosso grupo e Liam pelo simples fato dele ser Liam.

                - Procurando alguém ? – A voz do próprio Liam veio das minhas costas.

                Virei-me e vi um Liam sonolento abraçando Harry pelas costas e descansando a cabeça em seu ombro. Eu não tinha ciúmes de Liam com Harry, pois sabia que não ia rolar nada, mas mesmo assim sempre sentia uma certa inveja do modo como eles trocavam carinhos sem o menor motivo.

                - Aqui está você! – falei despreocupado, não podia parecer ansioso. – A gente estava se perguntando se você ia dormir perto da gente ou perto dos garotos...

                - Por que não dormimos todos juntos? – Liam perguntou sincero. Troquei olhares com Harry, pude ver que Harry também pareceu distante por alguns segundos.

                No fundo, todos desejávamos que pudéssemos ficar todos juntos.

                - Não sei se eles vão querer ficar perto da gente – quem interrompeu o silêncio constrangedor foi Harry.

                - Bom, você ainda vai ter que me explicar o que tá acontecendo entre você e Louis, então eu vou dormir com vocês sim – Liam sorriu e apressou o passo para ir falar com Niall e Louis.

                Segui caminho com Harry até o pequeno dormitório de madeira que estava instalado lá com a função de dar conforto aos estudantes da escola. Pena que a definição de conforto deles não era muito sofisticada, pois era apenas um cômodo vazio com espaço para armar os colchonetes que tínhamos trago do colégio.

                Encontramos uma quina para nos acomodarmos e chamarmos de “quarto” e colocamos nossas mochilas lá. Liam passou rapidamente para juntar sua mochila a nossa e confirmou, com um rosto extremamente preocupado, que iria dormir com a gente mesmo.

                Provavelmente tinham dito algo a ele.

                Josh só foi aparecer quando já estávamos a caminho da aula. Ele não era um sujeito desagradável, embora tentasse realmente parecer um. Claro que ele não gostava de mim, tinha deixado isso bem claro logo da primeira vez que nos vimos e ainda não parecia estar gostando muito da ideia de estar no mesmo grupo que eu.

                Harry e Josh conversavam sobre assuntos estúpidos, enquanto eu observava o restante dos alunos se agruparem na frente da senhora Duvall e de um professor que eu não conhecia e, provavelmente, ia ser nosso instrutor de aula de campo. Liam, Niall e Louis estavam juntos alguns metros atrás da gente, Niall estava cabisbaixo e Louis fitava o local em que estávamos.

                Por um momento pensei que seus olhos estavam fixos aos meus, porém ele desviou o olhar em seguida. Só restava esperar saber como aquela situação ia ficar, porque ninguém mais estava aguentando essa divisão.

                Até mesmo eu queria os garotos de volta.

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POV: Harry

                Enfim a aula de biologia tinha terminado. Eu não conseguia mais aguentar colher folhas naquele acampamento cheio de mosquitos. Meus cabelos estavam completamente assanhados e eu podia apostar que tinha muitas folhas e gravetos presos nele.

                Minhas pernas doíam de cansaço e meu peito arfava buscando ar. Eu queria apenas minha cama. E foi aí que notei que nem mesmo minha cama eu teria essa noite. Eu teria que dormir naquele saco de dormir horrível que tínhamos sido obrigados a trazer.

                Deve ser por isso que a tal Duvall feio nos fiscalizar, ela só queria nos ver sofrendo um pouco.

                Fui até o local onde estavam nossas mochilas e vi que Josh já estava lá, sem sapatos, esfregando os pés enquanto sentava em seu colchonete. Cumprimentei-o e fui até minha mochila tirar o colchonete. Eu precisava dormir de verdade.

                - Com licença.

                A voz que veio de trás de mim me fez perder o foco. O rosto contorcido de raiva de Josh provava que era exatamente que eu pensava que fosse. Aquela voz doce de Louis era inconfundível. Me virei, tentando parecer calmo e olhei-o. Eu estava de joelhos perto da minha mochila, por isso, a visão que eu tive foi de baixo pra cima de um Louis parado estático perto da gente.

                - Precisa de alguma coisa? – Josh foi mais rápido que eu para responder. Eu podia sentir o veneno em suas palavras.

                - Sim, preciso conversar com o Harry, se você nos dá licença. – Louis pareceu brutalmente educado, o que me fez perceber que ele também estava desafiando Josh. E eu estava no meio dessa confusão toda.

                - Josh, não quero te atrapalhar – comecei a falar com a voz fraca – então eu vou lá pra fora com ele, tá?

                Josh não falou nada, apenas ficou calado nos seguindo com o olhar até que estivéssemos fora do pequeno quarto. Passamos por Zayn na entrada, ele não parecia muito feliz, mas tinha feito uma cara de surpresa quando viu que eu e Louis saíamos juntos. Ao passarmos por ele, olhei para trás e sinalizei que estava tudo ok. Ele continuou parado por uns instantes, mas resolveu entrar em seguida.

                Louis parou há uns cinco metros da entrada do dormitório, não tinham muitas pessoas nas proximidades, pois, por ser um acampamento, a única energia vinha da cabana dos alunos e da dos professores. A maioria ainda estava no lago, olhando para a lua e as estrelas ou já tinha entrado para se preparar para dormir.

                - Bom – comecei tímido – pode falar.

                - Harry, quero falar com você sobre aquele dia – Louis parecia desconfortável ao falar comigo, mas eu não consegui falar nada para que ele se sentisse melhor.

                - Bom, eu só quero me desculpar. Sei que foi egoísmo meu agir daquele jeito. Não quero que você pense mal sobre mim e estou muito triste em te ver tão distante. – Louis apenas olhava-me atônito. – Você é meu melhor amigo, Louis, eu não queria que você se afastasse de mim.

                Louis continuou calado por algo que me pareceu minutos ou horas. Ele apenas olhava para os próprios pés enquanto assimilava tudo que eu tinha dito. Finalmente, olhou novamente em meus olhos e eu pude ver que algumas lágrimas começavam a escorrer por sua face. As maçãs de seu rosto ficaram rosadas e eu pude sentir que uma crise de choro estava por vir, mas mesmo assim ele respirou fundo e falou.

                - Harry – respirou novamente – Eu não sei o que aquilo significou para você e nem mesmo o que significou para mim, mas queria falar com você sobre isso. Eu sei que tenho agido como um idiota com você e isso é tudo porque eu não sei o que fazer. Eu nunca tinha pensado em você daquela forma. – Ele parou novamente para respirar. Pude ver que as lágrimas desciam com mais intensidade em sua face. – Eu nunca tinha pensado em homem nenhum daquela forma, mas agora não consigo mais tirar aquele beijo da minha cabeça.

                A resposta dele tinha sido surpreendente. Eu não sabia o que responder. Eu nem sabia o que ele estava tentando dizer. Pude sentir meus olhos encherem de lágrimas tão rapidamente quanto elas começavam a escorrer por meu rosto.

                - Boo... – eu tentei falar, mas não tinha tanto controle quanto ele. Meu choro impediu que eu continuasse.

                Louis avançou em minha direção e me abraçou apertado. Eu pude sentir aquele perfume que eu sentia tanta falta e tocar aquele cabelo que eu tanto gostava. Ao abraça-lo eu pude sentir que ele era meu novamente, mesmo que não fosse da forma que eu quisesse, naquele momento ele era meu e exclusivamente meu Boo Bear.

                - O que nós vamos fazer? – me forcei a pronunciar aquelas palavras. Enquanto meus soluços eram ininterruptos.

                - É isso que eu pretendo descobrir.