POV: Harry

                E as aulas já tinham recomeçado.

                Eu não posso negar que sentia falta daquela escola, do conforto que ela proporcionava e, é claro, dos meus quatro melhores amigos, mas confesso que não sentia a mínima saudade das manhãs e tardes de estudo. O nível rigoroso era completamente diferente do que eu era acostumado na minha antiga escola. Eu nunca tinha tido que estudar para um prova por semanas, eu sempre pegava o livro na véspera e dava uma lida rápida.

                Atualmente, eu não tinha mais essa mordomia. Eu precisava passar o dia inteiro prestando atenção naquelas aulas (nem sempre agradáveis) e ainda tinha que virar noites estudando a matéria atrasada.

                Graças a Deus, nosso dormitório tinha Liam. Ele sempre estava disposto a ajudar e conseguia assimilar a matéria com uma facilidade impressionante. Normalmente, estava ensinando Niall ou Louis que eram os que sentiam mais dificuldade.

                Agora, eu estava na sala de aula, pensando nisso tudo, e por pensar em Louis pude sentir que meu coração tinha sido fisgado e eu sentia um peso enorme afundar em meu estômago.

                Desde aquele beijo, Louis tinha parecido distante.

                Claro que a culpa tinha sido minha e eu não podia culpa-lo de nenhum jeito. Eu estava assustado demais para tentar procurar conversar com ele, pois só pelo fato de ele não me ignorar eu já me sentia a pessoa mais sortuda do mundo. Louis era um bom amigo e eu me arrependia amargamente por ter feito isso a ele. Eu não tinha nenhum direito de beija-lo e esperar que ele retribuísse aquele sentimento tosco. Eu nem mesmo compreendia o porquê de ter me apaixonado por um homem.

                - Hazz? – A voz de Josh me chamava, ele estava sentado na cadeira ao lado. – Você ainda tá aqui? – brincou – O professor acabou de sair da sala, tá tudo bem?

                Josh tinha se reaproximado de mim da forma como éramos antes de entrar no Right Direction. Nas aulas em que o dormitório D e o A ficavam juntos, eu sempre saia um pouco de perto dos meninos para ir conversar com ele, fora que quando eu precisava estudar na biblioteca, ele sempre ia comigo e ficávamos conversando até tarde da noite antes de voltarmos para nosso dormitório (claro que tudo isso escondido, pois se algum fiscal nos visse fora da cama após o toque de recolher, estaríamos encrencados).

                - Tô aqui sim – falei com a voz lenta. – Eu só tava pensando um pouco sobre a vida e tal.

              - Pois é bom você começar a acordar pra vida real. – pude notar que mesmo que ele falasse com tom de brincadeira, ele tentava transmitir uma mensagem séria – desde que você voltou do natal, anda completamente disperso. Qualquer coisinha é motivo para você deixar de prestar atenção na aula...

                Eu sabia que aquilo era verdade, mas não pude evitar de me sentir um pouco ofendido. Eu sabia que precisava focar mais, porém, eu não conseguia. Eu tinha coisas mais importantes para pensar do que em como administra um possível negócio imaginário.

                Fora que minha empresa de sorvete imaginária que eu criara na aula estava a beira da falência.

                - Eu estou fazendo meu máximo. – bufei – Só estou cansado.

                - Pois se lembre de dormir sempre. – Ele continuava olhando para mim com desconfiança. Não parecia acreditar na minha teoria de estar cansado.

                - Qualquer coisa eu peço ajuda ao Liam depois e ele me passa a matéria completa e resumida, além de... – parei o assunto imediatamente. Eu tinha esquecido que ele não gostava muito que eu falasse dos garotos do meu quarto (eu só podia falar de Niall, pois ambos eram amigos).

                - Bom, se você quer saber o que eu penso...

                Porém, não pude saber o que ele pensava. A sala de aula ficou silenciosa imediatamente e tivemos que virar pra frente para entender o que tinha feito com que as conversa parasse de forma tão inesperada.

                Bom, o motivo não poderia ser outro. A belíssima (da forma mais irônica possível) senhora Duvall tinha acabado de entrar na sala. Não era comum vê-la na escola, afinal, ela administrava tudo do prédio dos professores e funcionários. As poucas vezes que ela aparecia, alguma coisa terrível tinha acontecido.

                - Boa tarde. – Sua voz rouca e arranhada era assustadora. Não ouve nenhuma resposta, mas ela não pareceu se impressionar. – Bem, tenho alguns avisos para vocês.

                Avisos sempre vinham dos fiscais de corredor, normalmente eram inutilidades ou coisas relacionadas aos conteúdos que estávamos estudando. Para ela ter entrado na sala com o intuito de dar um aviso, com certeza viria coisa ruim.

                - Bom, primeiramente, tenho que anunciar que iniciou-se o pagamento da festa de formatura e quem quiser participar da comissão organizadora, por favor, procure Craig Armstrong – pude notar que aquele não era o aviso, pois ela parecia frustrada ao falar sobre aquilo e ao mesmo tempo impaciente, como se não esperasse a hora de nos ver sofrer.

                A sala parecia em silêncio total. Só pude ouvir Louis sussurrando para Craig sobre sua vontade de participar da comissão, recebendo uma resposta positiva e animada do outro, mas com um pequeno olhar da bruxa velha, ambos se calaram e voltaram a fita-la com atenção.

                - Deixando as interrupções de lado – ela fez questão de olhar para Louis ao falar isso – vamos ao aviso importante.

                Um momento de tensão se estabeleceu na sala, pelo visto eu não era o único que temia pelo pior. Se a notícia vinha dela, até a destruição mundial era algo previsível.

                - Uma nova atividade foi aceita pelo conselho escolar. – Ela iniciou seu discurso. – Tenho certeza que essa nova atividade não irá agradar muitos dos nossos alunos, porém, é extremamente necessária.

                Iniciaram-se novamente sussurros, mas pude notar que Louis estava quieto e mordia os lábios, nervoso. Ele nos tinha contado sobre sua pegadinha do ano anterior e devia estar preocupado que ela tentasse novamente descontar suas raivas nele.

                - A partir da próxima semana, os alunos do último ano, no caso vocês, terão um pequeno projeto a ser realizado. Nesse projeto, vocês se dividirão em trios e farão um relatório no final de fevereiro falando sobre a experiência de vocês no projeto.

                - Mas e o que nós iremos fazer nesse projeto? – Um garoto na cadeira atrás de mim protestou. Confesso que me assustei ao ouvir outra voz que não fosse dela, mas ela parecia bem mais transtornada.

                - Se você aprender a escutar, provavelmente saberá do que se trata o projeto. – Ela falou ríspida, e o garoto se encolheu na cadeira. – Cada grupo passará uma semana de treinamento num acampamento da escola e terá que relatar questões históricas e biológicas da região.

                Bom, não era um mal projeto, era apenas uma excursão. Não entendi aonde ela queria chegar com tudo aquilo, mas ela também não se fez de desentendida. Ao perceber o alívio dos alunos, retornou a falar.

                - Todos os grupos estarão sobre minha responsabilidade durante todo o acampamento e eu irei com vocês para monitorá-los. – finalmente ela atingiu o objetivo esperado. A turma inteira estava em choque. – Professores especializados nos encontrarão lá para que vocês não percam conteúdo na sua ausência.

                Passar uma semana com aquela mulher desprezível em um acampamento isolado, estudando e tendo um relatório para fazer não me parecia uma imagem de positividade. Mais me parecia uma tortura.

                - Gostaria que entregassem os formulários com os trios na minha sala com urgência. – ela retomou sua fala ao perceber que ninguém da sala se atreveu a reponde-la. – Aqueles que não entregarem o relatório, não poderão ir.

              Após falar isso, sem sequer se despedir, ela se retirou da sala, deixando inúmeros alunos atônitos em suas cadeiras. Foram precisos vinte segundos para que a barulheira começasse novamente.

                Pelo menos ela nos deixaria escolher o grupo.

                 Pude ver Liam e Louis conversando, provavelmente sobre isso. Louis parecia preocupado, mas Liam sorria e acenava positivamente a cabeça. Da fila da frente, Niall já tinha se levantado e estava indo até a mesa de Liam.

                Senti uma mão em meu ombro e olhei para trás. Zayn me olhava com um pequeno sorriso nos lábios. Ele parecia animado, mas ao mesmo tempo cansado ou preocupado.

                - Então, Hazza, quer formar grupo comigo? – ele me perguntou tentando parecer indiferente, mas pude sentir uma certa tristeza em sua voz. – parece que os outros já conseguiram seus grupos.

                - Claro, Zayn, claro – Minha mente estava em Louis, há um ou dois meses atrás, ele ficaria no meu grupo com certeza, mas agora... eu não sabia. - Josh, vamos com a gente?

                Mesmo que Josh parecesse constrangido com a presença de Zayn, ele acenou positivamente a cabeça.

                Parecia que algo estava prestes a mudar.