Sinfonia Dos Cheiros escrita por kaori-senpai


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá, a imagem não tem muito a ver com a história e eu me inspirei em uma música chamada "trilho do diabo" versão violino. Agradeço a Mayumi Sato, que me incentivou a continuar e postar essa fic. E ofereço ela a Lirium-chan, acredite se quiser, Lili, esse era pra ser seu presente de aniversário -q
Boa leitura~



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Era deprimente. Sim, o estado que Roderich se encontrava não podia ser melhor explicado com outra palavra. Suas olheiras eram profundas, sua barriga tinha se cansado de reclamar de fome. Agora a dor aguda era companheira nas horas de treino. Sentia seus dedos inchados, provocando uma dor tão miserável e lancinante que sentia vontade de arrancá-los, só não o fazia porque tinha que tê-los grudados ao corpo para continuar sua luta com o violino.

Há menos de uma semana, o seu professor particular de música tinha o elogiado fervorosamente pelo seu avanço anormal com um instrumento que não estava acostumando, então logo passou trabalhos mais difíceis para ver se seu aprendiz conseguia. Com toda sua força de vontade, aprendeu as duas em três dias, negando o seu direito ao sono. Surpreso com a perfeição e exatidão do aluno, entregou nas mãos dele, um dos maiores desafios que um violinista pode tocar. Trilho do Diabo.

Roderich encantou-se à primeira vista com as partituras, logicamente achando um desafio enorme, mas com certeza iria fazer do mesmo modo que as outras. Entretanto não aconteceu como esperava. Aquela música era enlouquecedora, impossível e, tal como seu nome, demoníaca. Um ser humano normal não poderia tocá-la sem ao menos perder a sanidade. E o austríaco estava prestes a perdê-la, faria isso de bom grado se garantissem que tocaria igual como nos CDs que ouvira.

Mais uma vez, mais outra, outra... Essa rotina se repetiu exaustivamente durante toda a semana, sem obter algum avanço significativo. Pegou mais uma vez em seu violino, com a leveza de uma pluma, apesar de querer jogá-lo no chão. Então começou mais uma vez a música insana e delirante, que já estava consumindo sua alma.

O primeiro erro surgiu. Deixou passar. O segundo. Ainda era admissível. No terceiro seus dedos travaram a afundaram nas cordas enquanto tentava não chorar diante a tanta desgraça. Foi quando os fios do precioso instrumento cortaram a pele de seus dedos já fina e frágil pelo excesso de esforço, sujando tanto as mãos de seu dono quanto seu espelho¹. Roderich gritou, pois tinha pavor a sangue, ainda mais quando era seu.

O mais rápido possível tratou de estancar o ferimento com um pano qualquer que conseguiu encontrar, mas o sangue não parou, apenas continuava como se fosse uma maldição por tocar uma música com o nome de um ser das trevas. O cheiro de sangue já enchia suas narinas e lhe causava enjoo, todavia se desmaiasse naquelas circunstâncias poderia acontecer algo mais grave.

Então milagrosamente a companhia tocou, e de novo, e repetidas vezes impacientemente, até o austríaco conseguir chegar a porta e a abrir para quem deveria ser seu salvador. Quando viu quem de fato era, sua expressão voltou para a mais pura desgraça, pois sentia que o destino estava realmente a lhe perseguir por divertimento próprio. Gilbert no começo estava sorrindo, ou pelo menos ele dizia ser um sorriso, porque Roderich tinha a impressão que era apenas algo que ele fazia para lhe incomodar. E tinha provas para isso, porque o albino só agia daquela forma quando estava com ele, então certamente era algo para lhe gerar desconforto, pois nada mais vinha de Gilbert.

Mas o albino desfez seu semblante animado ao ver o sangue na mão do outro, ficando seriamente perturbado com o ferimento que nem doía nele.

— Rod! O que houve?! Sai, não deve estancar dessa forma, vai pegar uma infecção assim! – Gritou puxando o pano que o moreno pressionava de qualquer jeito contra os dedos.

— Não é nada que deva se importar. Por favor, se me deixar sozinho serei perfeitamente capaz...

— Não. Cale a boca e deixe minha incrível pessoa dar um jeito nessa situação! Kesesesese! Devia estar apavorado, jovem mestre! Sua sorte foi que passava por perto para ouvir seu grito! Kesesese!

Em outras circunstâncias Gilbert sairia do apartamento a gritos, mas excepcionalmente naquela ocasião, deixaria ele lhe ajudar. Sentou no sofá de sua sala, sentindo toda a pressão deixar sua coluna e finalmente, depois de muito tempo, relaxar. Apenas abriu os olhos uma ou duas vezes quando seu visitante fazia demasiado barulho, que não podia deixar de se preocupar, já que se tratava de Gilbert, uma pessoa irresponsável por natureza.

— Rod, acorde. – Disse a voz conhecida ao pé de seu ouvido. Roderich sentiu o cheiro do cabelo de seu visitante por conta da proximidade, e de um modo peculiar aquele cheiro o acalmou consideravelmente. – Sua mão precisa de cuidados e não durma nesse estado.

— Eu sei. – Disse abrindo os olhos e vendo que o albino se distanciou rápido quando Roderich fez um sutil movimento, o qual quase encostou seus lábios.

— Ah! Que bom que não dormiu! Há quanto tempo não come? – Perguntou analisando a pálida face do colega de classe e suas olheiras imensas. – Por que não tem ido à escola?

— Eu... Faz algum tempo não é? Que eu não como... – Sua voz estava distante, tal como sua mente. Parecia estar mergulhado em uma piscina e Gilbert falava algo, mas não conseguia entender com clareza. – Qual terá sido a última vez?...

— Jovem mestre? ...ROD!

O cheiro dos fios de Gilbert era maravilhoso. De alguma forma, lembrava o primeiro movimento da música que tentava dominar. Gentil e calma. Ao mesmo tempo melancólica. Uma perfeita contradição, mas belíssima. Seria tão bom, conseguir tocar como tocava em seus sonhos. Seus dedos deslizariam pelas cordas, o som produzido seria algo mais sublime que a música, e seus gestos ainda seriam suaves como os de uma serpente.

Os devaneios do austríaco não duraram mais que meia hora. Quando despertou, estava em seu quarto, com as luzes apagadas e as cortinas devidamente fechadas. Tinha a certeza que deveria dormir mais, porém seu corpo tinha se acostumado a poucas horas de sono, então simplesmente apreciou a sonolência deixada por seu breve descanso. Notou que sua mão não sangrava mais, estava coberta por curativos adesivos. Logo viu que tudo foi obra do albino, que tinha sido útil para alguma coisa.

— Jovem mestre! Vejo que não consegue dormir com a barriga vazia! – Falou o de olhos vermelhos com uma bandeja com pães e queijos. – Coma aqui mesmo, se não vai desmaiar de novo. – Falou sério enquanto colocava a bandeja do lado do moreno.

— Obrigado, mas eu ainda acho que conseguiria contornar a situação sozinho. – Mentiu. Mesmo estando grato, não podia deixar isso com muita clareza, afinal considerando quem estava a sua frente, poderia ser atacado caso dissesse uma palavra errada.

De fato a fome do moreno se mostrou enorme. Comeu até as migalhas agradecendo do fundo de sua alma a presença daquele vizinho inconveniente. Gilbert achou graça quando viu a boca do colega suja, pois seria a primeira vez que o aristocrata deixava as boas maneiras de lado. Aproximou a mão da face do moreno e a alisou gentilmente para tirar os restos de sua refeição. Então Rod sentiu o perfume forte que o outro usava, másculo e cheiroso. Elegante. Igual a segunda parte do soneto. Nessa parte, as notas começam a ficar mais elaboradas e desafiadoras, consequentemente, Rod nunca tinha passado do segundo ato.

— Eu soube que está tentando tocar Trilho do diabo. Eu e metade do prédio. –Disse fazendo uma pausa, se arrependendo simultaneamente em ter tocado naquele assunto. – Minha incrível pessoa não entende sua busca incessante pela perfeição, não vê que estou na sua frente?

— Sim, estou tentando domar aquele monstro. E não faça insinuações dessa natureza enquanto estamos sozinhos em uma cama. Isso gera uma situação extremamente desconfortável.

Aquele comentário foi pior que todas as indiretas que Gilbert poderia dar. Pois foi com ele que o moreno percebeu o que estava acontecendo. Eles estavam sozinhos. No seu quarto. Sentados em sua cama. Estava a sós com Gilbert, o pervertido que costumava levar todas as noites, mulheres e rapazes variados para pernoitar em sua casa.

— Não precisa se preocupar, não farei nada se não for recíproco. – Fez uma pausa dramática onde os olhares vermelho e violeta se encontraram, fazendo uma combinação perigosa e explosiva. – Então, mesmo se você, jovem mestre, estiver morrendo de amores pelo incrível eu, só avançarei o sinal se eu também sentir algo por você, aristocrata! Kesesese!

Aquela risada, diferente das outras, pareceu sincera, apenas um pouco insegura. Charme. Essa era a outra palavra que resumia a segunda parte do soneto. Parecia até que violinos tocavam na cabeça de Roderich quando viu o sorriso e o associou a música. Gilbert estava o ensinando mais que as horas de treino que só lhe renderam cortes e dores na mão.

— Obrigado pelos cuidados e pela preocupação. Mas agora já me sinto bem melhor, então pode ir tranquilo.

— O que?! Você não me engana, aristocrata! Quer se ver livre de mim para voltar a se atracar feito um louco com aquele violino!

— Não! Quero dizer... Vou continuar treinando, mas vou ser mais cauteloso para não me machucar.

— Você não entende? Será que minha incrível pessoa tem que te explicar tudo? Você já está machucado. Ao menos espere seus dedos melhorarem! – Gilbert implorou. Realmente Roderich não estava em condições a nada, mas a teimosia ainda era maior e ele queria aprender a música a todo custo.

— Não entendo essa preocupação comigo. Não se preocupe, tenho certeza que se eu enlouquecer, não irão colocar a culpa em nenhum dos meus vizinhos.

— Ora, até parece que o único motivo do incrível eu estar aqui é por ser seu vizinho. Rod, a minha presença é preciosa demais para eu agraciar qualquer um com ela! Kesesesese!

— Então suponho que estás apaixonado por mim. – Riu das próprias palavras. Gilbert nunca se interessaria por ele, afinal, não tinha nenhum atrativo que despertasse interesse em um homem.

— Talvez esteja. – O rosto do austríaco se tingiu de vermelho, quase tão vermelho quanto os olhos que o fitavam. Não conseguiu dizer uma palavra sequer, pois todas foram engolidas pelo silêncio. – Kesesesese! Ora essa! Que expressão mais graciosa, aristocrata! Parece que seu coração se abriu para o amor! Certamente você não se arrependerá, pois amar minha incrível pessoa traz vantagens enormes!

— Quem disse que te amo?! O único a se apaixonar aqui, foi você!

Roderich estava com os nervos exaltados, entretanto não queria ter dito palavras tão grosseiras. Todavia nada podia fazer se nunca tinha lidado com sentimentos, por isso sempre acabava ferindo as pessoas. Gilbert se levantou dando um sorriso amarelo e bagunçando os próprios cabelos.

— Bom, jovem mestre, tenho que alimentar o Gilbird com sua incrível comida! Não vá definhar com aquele violino nos braços! Ou perturbará meu incrível sono!

Tão rápido quanto chegou ele saiu correndo e o moreno ouviu a porta batendo, indicando que mais uma vez estava só. Foi se encolhendo nos lençóis tentando esquecer-se da própria existência, sentindo que era o ser mais detestável que havia pisado na Terra. E pensou como tinha feito errado gritando algo tão egoísta quando acabará de receber uma declaração de amor. Maldito orgulho que não o deixava ser mais simpático. Maldita música que foi até os ouvidos de Gilbert e o trouxe para sua cama

— Não precisava se esforçar tanto para sorrir, seu tolo...

Caos. Todo o terceiro movimento se definia a essa sensação angustiante. O mais puro caos que alguém pode sentir. Lembrando-se daquela parte, parecia que a música gritava o que estava sentindo. Era a hora de voltar ao violino.

Foi até a sala, e novamente deitou o instrumento sobre seu ombro, pondo-se elegantemente a tocá-lo com maestria. Inicialmente lembrou-se do cheiro que tinha o cabelo do seu vizinho, um cheiro bom. Gentil e melancólico cheiro, que voltava para as lembranças do moreno apenas para dar um sentido às notas, mas que na verdade, tentava gritar uma reprimida declaração, que era esquecida em meio ao orgulho do moreno. A melancolia estava lá, ela era o arrependimento que sentiu, quando o de olhos vermelhos se distanciou quando tomou a iniciativa naquele movimento quase imperceptível. Se seus rostos estivessem um pouco mais próximos, os lábios teriam se encontrado, e Roderich ainda poderia colocar a culpa em Gilbert. Ah, mas o que prevalecia eram os atos gentis que pela primeira vez, o albino mostrou. Aquilo valeu mais que todas as palavras, afinal, ele se preocupou e não ouviu os pedidos para ir embora. Ainda bem que não ouviu.

O segundo movimento foi o que exigiu maior maestria por parte do austríaco. Mas foi só lembrar-se do perfume do vizinho, que seus dedos voaram nas cordas, produzindo um som que ele achava que não era capaz. E aquele sorriso... Charmoso e repleto de inocência. Nunca tinha visto algo tão belo e espontâneo, adoraria que as pessoas ouvissem suas músicas dessa forma, do mesmo jeito que ele queria ver mais vezes o belo sorriso.

Então seus pensamentos deram um nó. Ah, tinha chegado à parte mais perturbadora do ato. O caos. Mas era exatamente isto que o austríaco sentia, a confusão em seu coração e em sua cabeça, fazendo seus atos contradizerem seus sentimentos. Afinal, por que gritou com Gilbert? Por que não disse que estava apaixonado? E à medida que tocava as notas iam piorando seu estado, não o deixando raciocinar. Pois o caos é isso.

Quando ele terminou a música, estava suado, seus dedos tinham voltado a sangrar e tinha certa dificuldade em respirar, mas tudo isso não era nada se comparado a satisfação que estava sentindo por finalmente ter conseguido domar aquela coisa insana. Olhou para os lados, querendo dividir sua façanha com alguém, mas lembrou-se que estava só. Era realmente deprimente essa sensação... Queria poder mostrar para Gilbert o quanto ele estava errado por duvidar de suas capacidades. Foi ai que lhe ocorreu a ideia de ir a casa dele para anunciar sua vitória, e logicamente não haveria maldade nisso. Seria apenas para mostrar sua superioridade.

Assim tratou de deixar sua casa e ir em direção a segunda porta depois da sua, esperava ter mais coragem, porém ficou parado, com a mão a poucos centímetros da porta, criando um diálogo na sua cabeça. O que não adiantaria de nada, porque Gilbert era uma pessoa extremamente imprevisível. Nem todo o preparo do mundo iria ajudar para o que o aguardava depois da porta.

Mas não foi preciso muito mais tempo para a presença do austríaco ser notada, ou melhor dizendo, ele foi descoberto quando um loiro abriu a porta e se deparou com a imagem de Roderich paralisada e vermelha pela vergonha.

— Oh, Gil! Temos uma coisa muito boa aqui! Que gracinha... E eu vi primeiro! – Disse em um inglês mal falado e com um sotaque francês

Logo o albino surgiu por trás dele apenas de bermuda, o que fez Roderich virar a cabeça e ficar ainda mais envergonhado.

— Rod? Já acabou sua loucura e veio se desculpar com o incrível eu? – Perguntou sorrindo e se apoiando no loiro, enquanto ambos apreciavam a bela visão que tinham dali.

— Sim! Ou melhor... Queria me desculpar pela minha postura mais cedo. – Fez uma sutil reverência e deu meia volta, preparado para voltar a seu apartamento.

— Espere, Rod! – Gritou Gilbert empurrando o francês que analisava minuciosamente o corpo do moreno enquanto ele caminhava. – Eu não aceito suas desculpas! Para obter meu estimado perdão, terá que almoçar conosco hoje!

— Sinto muito, terei que recusar, pois... – Era obvio que ele não tinha nenhum motivo para não juntar-se a eles, a não ser pelo fato de que não queria fazê-lo. Mas dizer isso seria rude demais. – Bom... Creio que não há mal nenhum em um simples almoço.

— Ai que você se engana! Não é um simples almoço, ele foi feito pelo Francis! – Deu uns tapas no ombro do loiro, fazendo o austríaco sentir uma pontada de ciúmes.

Assim todos entraram no apartamento do de cabelos brancos, que por algum motivo estava arrumado. Roderich viu uma mesa posta majestosamente e logo notou que só podia ser por obra e graça do francês. Gilbert sentou e pediu para que o moreno sentasse junto a ele, enquanto isso, o loiro foi terminar a refeição, então o clima ficou muito pesado na sala. Roderich arrumava o cabelo constantemente e fazia o mesmo com os óculos na esperança de aliviar um pouco da tensão.

— Rod, eu percebi que você está nervoso... Mas você está certíssimo, é muito difícil estar no mesmo ambiente que eu e não sentir um calor no peito ou um formigamento entre as pernas.

— O que? Como se atreve? O fato de eu estar nervoso é por conta da música que ainda tenho que aperfeiçoar!

O alemão ficou sério, na verdade, sua expressão demonstrava mais raiva que tudo, deixando o austríaco assustado. Ele se aproximou do rosto do moreno, deixando-o completamente vermelho e sem atitude.

— Por-

— Como você ainda tem coragem de pensar naquela música? Não acha que está passando dos limites? – Esperou uma resposta, mas Roderich ainda não estava em condições para responder. – Você está cansado, quase não come e dorme. Desse jeito vai acabar morrendo!

— Hum... Você fala como se isso te importasse.

— Rod, é obvio que você menospreza a atenção que minha incrível pessoa te dá... Se eu, em toda minha onipotência, não ligasse pra você, nem me daria ao trabalho de ter ido a sua casa quando notei que há três dias você não parava de tocar.

— Então o seu motivo principal não foi minha loucura ter atrapalhado seu sono? – O austríaco percebeu uma pequena chama em seu peito, a qual lhe proporcionava uma sensação estranha e desconhecida.

— Errado, jovem mestre! Esse foi o motivo primordial! Não há como alguém da minha magnitude ficar sem suas preciosas noites de sono! Kesesesese! – Aquilo foi como um balde de água, acabando com chama ou qualquer outra coisa nascendo em Roderich.

— Obrigado por ser tão claro. – Disse mesclando a irritação com o desapontamento.

— De nada! Finalmente você está conseguindo entender meu ponto de vista! – Estranhamente, ele parecia estar feliz com o comentário do moreno. A felicidade dele causou o oposto ao outro rapaz, o qual se sentia insultado pela alegria do albino.

— Senhor Gilbert, eu desconheço o motivo de sua alegria, mas, por favor, me poupe de suas manifestações sem sentido.

— Como pode ser insensível a esse ponto, Rod?! Estou comemorando sua evolução! Antes, você nem sabia falar “obrigado” e reconhecer meus incríveis feitos ao mesmo tempo!

Apesar de se aborrecer com as palavras dele, não deixava de notar que era a verdade, pois quando se conheceram, o de cabelos brancos não passava de um idiota arrogante para ele. Nada do que Gilbert fazia era certo aos seus olhos. Se bem que seu comentário era irônico, mas o mais velho parecia ter certa inabilidade com ironias.

— Desconheço tal progresso, mas gostaria de pedir que me chame de um jeito mais apropriado, dessa forma, você mostra uma relação que não temos.

— Kesesesese! Desculpe, mesmo com minha inteligência acima do normal, não posso compreender os desejos de todos que me cercam! Mal tinha notado que você queria ser chamado de acordo com nossa relação.

— Obrigado por me entender, acho que estamos conseguindo ter...

— “Senhora Beilschmidt” é do seu agrado?

— Ora, seu tolo! Não quero ser chamado assim! – Todo o reconhecimento pelo possível amadurecimento do vizinho desapareceu e viu que não era algo que aconteceria ainda naquela vida.

— Minha dama?

— Lógico que não!

— Senhorita?

— Cale-se!

— Meu amor?

— ...

— Kesesese! Parece que adivinhei a sua preferência! Nada mas que o esperado para alguém como eu!

— O que?! Eu estava te ignorando, pois já tinha lhe mandado calar a boca! – Roderich já estava completamente vermelho, e a pequena chama tinha voltado a queimar seu peito.

— Hum... Você só explicou o silêncio, certo? Não ouvi reclamações sobre o “meu amor”.

— Você não ouviu porque já está subentendido na minha frase! Para de distorcer tudo o que digo!

A discussão deles acabou com a chegada do almoço, que, como o alemão disse, não era um simples almoço. Se tratava da mais deliciosa refeição que um mortal poderia fazer. Roderich tentava se conter ao máximo para não perder os bons modos diante daquela maravilha, por um instante pensou em se ajoelhar e agradecer pelo seu vizinho tão idiota e inconveniente ser seu vizinho, pois de que outra forma conseguiria provar daquela comida? Descobriu que Francis, o amigo loiro, trabalhava em um restaurante famoso, consequentemente, sua comida era tão cara quanto o ouro e nenhum estudante de faculdade conseguiria pagar uma reserva, quanto mais uma refeição feita pelas mãos do chef.

— Parece que vou perder o “meu amor” para você, Francis! Kesesesese!

— Não se preocupe, Gil, vou cuidar dele com muito carinho!

— Com licença, senhores... Devo intervir em alguns pontos de sua conversa. Eu não sou “seu amor”, senhor Gilbert e não lhe pertenço. Logo, você, senhor Francis, não poderá me roubar de uma pessoa a qual eu não pertenço. E não gostei do seu tom quando falou “carinho”.

— Ora, como ele é estressadinho... Diga para mim, Gil, ele na cama também é dominador assim?

— Como se atreve a falar isso de mim?! – Roderich não estava habituado a lidar com pessoas tão depravadas, só estava se acostumando com Gilbert, mas o loiro parecia estar em um nível maior da perversão.

— Na verdade, ele tem mais cara de quem fica todo vermelho e não consegue falar nada... – O albino olhava para o vizinho com olhos de crítico, com certeza o imaginando em situações pouco prováveis.

— Não admito que falem assim de mim! Senhores, tenham mais compostura a mesa!

O clima ficou pesado, ou melhor, Roderich fechou a cara o resto do almoço, enquanto Gilbert e Francis se entreolhavam e riam baixo, despertando ainda mais a fúria do austríaco. Mas isso não durou muito, porque a vida de um chef famoso é muito corrida para ele se dar ao luxo de passar a hora do almoço longe do trabalho, aliás, ele nem ao menos deveria estar ali. Se despediu brevemente do amigo e soltou um beijo para o moreno que o olhou incrédulo. “Pessoas depravadas não têm o menor senso de educação” pensou Roderich.

Depois de ajudar com a louça que sujou, o moreno estava pronto para ir embora, apenas esperava o seu vizinho chegar para poder se despedir apropriadamente. O que o pegou de surpresa, foi o loiro platinado aparecer por trás, lhe abraçando carinhosamente. Sentiu o cheiro que ele emanava, não era do seu cabelo ou do perfume, era a fragrância que adornava seu corpo naturalmente. Esse cheiro fazia a cabeça do austríaco dar voltas.

— O que pensa que esta fazendo?! – Gritou Roderich confuso com a situação.

— Você vai voltar pro violino, certo? – O mais novo abaixou a cabeça, não tendo condições de mentir para o loiro naquele momento. – Ta vendo? Se eu te soltar você vai voltar pro estado de antes! Não posso fazer isso!

Ele estava muito atencioso, o abraço que impedia o austríaco de sair correndo, não estava apertado, apenas fazia uma leve pressão em sua cintura e o rosto do mais velho estava encostado no ombro do moreno, fazendo este ficar aliviado, pois assim, Gilbert não veria sua expressão submissa.

— Por que você acha que eu voltaria a ficar daquele jeito? Não sou irresponsável como você.

— Eu tenho certeza absoluta que você vai voltar! Como você consegue, hein? – Roderich se perguntou o que ele conseguia, mas não demorou muito para Gilbert responder sua própria pergunta. – Ninguém é tão difícil quanto você, e quando eu vejo que não vou ganhar nada, parto pra outra. Só você consegue me prender.

O de olhos lilás ficou sem fala, sem reação e sem ar. Tudo parecia ter sumido com a singela declaração de Gilbert. Seu caos só foi pior quando os lábios do mais velhos se uniram aos dele em um breve momento, mas foi tempo suficiente para desconcertar o aristocrata. O loiro saiu do recinto sem se despedir e anunciou que a porta estava aberta caso o moreno ainda desejasse ir para casa. Não houve outra, Roderich se viu correndo até sua casa, para então, desabar no sofá.

Aquilo sim era deprimente. Um homem adulto abraçando as pernas tentando esquecer um mero beijo nos lábios. Mas aquele beijo o deixou tão confuso, que mal lembrava qual era o motivo dele ter saído correndo. Não fazia sentido. O caos não tem sentido algum, não tem forma ou proporção. Tudo que se pode dizer sobre ele, é que é a sensação mais conhecida quando se ama alguém. E quando mais pensava naquela situação, mais se lembrava do cheiro da pele de Gilbert.

Não voltou ao violino naquele dia. O fez apenas na manhã seguinte, e para seu desapontamento, não conseguia tocar mais o “Trilho do diabo”, porque ainda estava vivendo no caos. E viveu naquela sensação durante muitos anos, provavelmente, aquela confusão sem fim foi com ele ao seu túmulo, juntamente com o amor pelo seu vizinho.


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Notas finais do capítulo

Agradeço a todos que gostaram e que vieram até aqui e peço desculpas a Mayumi-san, porque eu tenho certeza que o final acabou com a história toda --'
Bom... Reviews me deixam feliz e adoro respondê-los :3
~Kissus~



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