O clima entre mim e Ian ficou tenso. Ele não falava comigo, fazia questão de dormir o mais afastado de mim. Eu realmente não conseguia entender como aquilo o afetava daquela forma, já que a única que deveria se importar era eu, e acredite, eu me importo. No meu antigo hospedeiro, a Mel, as emoções eram um pouco menos intensas, mas com o antigo corpo da Pet a coisa ficava mais delicada. Ela ainda era uma adolescente, então ficava animada demais, ou triste demais. E no momento, eu tenho chorado mais do que uma mulher grávida. Ninguém tinha coragem de vir diretamente me perguntar o que era. Eu parei de fazer minhas atividades, ficava o dia inteiro no quarto, comia ás vezes. Jamie ia me ver, eu não podia dizer a ele o que estava acontecendo, a ele não, mas a Melanie sabia que ela poderia matar a charada.

- Tudo bem Peregrina, ou você me diz o que está acontecendo, ou eu vou te forçar a dormir com o Jeb. –Ela entrou no quarto falando alto, e eu tinha quase certeza que ela tinha uma plateia atrás de si, ouvindo tudo atentamente.

-Ok, vou começar a arrumar as minhas coisas. – Tentei adicionar algum sarcasmo na minha voz, mas ela saiu derrotada e fraca. Mel parou enquanto fechava o biombo.

-O que aconteceu Peg? –Sua voz era mais baixa e delicada agora. Uma coisa bem incomum para a Melanie, que era sempre zangada e mandona. –Me deixe te ajudar. – Sua voz era suplicante agora. Eu enterrei meu rosto no travesseiro, já chorando.  Eu não queria falar, só de pensar meu rosto já queimava suavemente. Eu sabia que ela não iria desistir, mas podia contar com a sorte uma vez, não podia? É claro que não podia, eu era uma alma sem sorte, eu já tinha demais, Melanie sentou na cama, esperando uma reação da minha parte.

-Vá embora. – Minha voz saiu abafada, não era meu real desejo, mas eu não estava preparada para falar sobre sexo com a Mel, não mesmo.

-Peg, você e o Ian fizeram sexo, foi isso? –Eu ri baixo, foi um riso nervoso sem dúvida e ela percebeu. Levantei o rosto, já vermelho.

-Não foi isso. Nós não fizemos nada. –Ela bufou.

-Você poderia ser mais clara? Não tenho o dia inteiro, e você tem que tomar um banho, está fedendo.

-Eu não fui a primeira dele. –Ela cruzou as pernas e riu olhando para o chão.

-Foi esse o motivo? –Eu assenti, eu estava sendo estúpida, novamente. –Também não fui à primeira do Jared, Peg. Todos tínhamos uma vida antes dessa guerra, você não esperava que o Ian fosse se guardar por que em seu íntimo sabia que iria se apaixonar por sua maior inimiga. Não deixe isso acabar com o que vocês têm, não vale a pena. –A voz da Melanie estava séria, isso era uma coisa inusitada. Ela afagou minhas costas e levantou, olhou para mim por cima do ombro e gritou. –E eu pensando que você estava grávida. –Eu ri baixo. Talvez eu não fosse a primeira do Ian, mas ele, com toda a certeza, seria o meu primeiro. Sozinha, fui até a sala de banhos, não estava cheia, então logo me banhei, me sentindo segura ali no escuro. Depois de todas as minhas incursões, comida não era a única coisa boa que eu conseguia. Roupas, remédios e até sabonetes que não ardiam eu consegui. Ao sair do banho, eu tinha cheiro de rosas. Era o cheiro favorito de Ian. Eu suspirei vestindo um minha lingerie, e depois minha ex calça jeans do tempo da Melanie, quando eu a vesti pela primeira vez, ela ficou extremamente grande, fazendo com que eu me sentisse como uma boneca, Ian me ajudou a cortar a mesma, ela acabou se tornando um short, eu deveria ser a única que usava um short em toda a comunidade, mas Ian realmente gostava dele, então eu continuava a usar. Eu vesti uma camiseta vermelha, e sai da sala de banho na direção do meu quarto. Guardei meus pertences e me dirigi à cozinha, ela já estava cheia, vi meu grupo numa mesa mais afastada, Ian estava com uma expressão, enquanto Mel estava resmungando algo no ouvido de Jared, o mesmo estava envolvendo ela, como se estivesse contendo-a. Eu suspirei antes mesmo de chegar na mesa.

-O que aconteceu? –Falei cruzando os braços sabia que Mel tinha alguma coisa haver com a história, tentei ser rápida, já que Jamie ainda não estava lá.

-Ian é um covarde, apenas isso. – Eu revirei os olhos e olhei para Ian que se encolheu.

-Eu não sou um covarde. – Ian falou baixo, envergonhado.

-Sim você é, se não fosse não deixaria a Peg. –Eu, assim como todos na cozinha estavam chocados, Ian ia me deixar? Quando ele decidirá isso?

-Você v-vai me deixar? –Ian me olhou assustado e levantou, ele se ajoelhou, tirando um pequeno embrulho do bolso. Todos na cozinha prenderam a respiração, será que eu era a única que não entendia aquele gesto?

-Eu, Ian O’Shea, nunca vou te abandonar, nem que tiver de te esperar você ir e voltar de todos os planetas, eu vou te amar quando você mesma estiver desistindo, eu vou te ajudar a fazer pão, e vou sempre estar aqui, por você, com você. Peregrina, você quer se tornar Peregrina O’Shea? –Eu arfei ao perceber que estava recebendo um pedido de casamento.

-S-sim. -Ele pegou minha mão esquerda entre as suas e encaixou um delicado anel no meu dedo médio, sorrindo, satisfeito.

-Então Mel, quem é o covarde mesmo? –Jared riu, Mel estava com raiva, mas eu conseguia perceber que Ian não era o culpado, ela estava com ciúmes, por que eu fui pedida em casamento antes dela. Ian me puxou para seu peito, e sentir o seu cheiro novamente me fez sorrir. Ele não me deixaria, nunca mais, e eu seria a primeira alma que casaria com um humano, a primeira alma com um sobrenome humano, e eu me sentia realmente feliz em saber que esse sobrenome seria O'Shea.