Eu simplismente não sabia oque fazer. Eu estava descobrindo que era completamente apaixonada pelo meu melhor amigo. Si eu me apaixonei por ele depois que a Pamela me falou aquilo, isso iria passar, não é? Seria tipo, alguma coisa de fase. Eu estaria somente confundindo amizade com amor. Mas e si eu sempre fui apaixonada por ele e não sabia desse fato curioso mas ao mesmo tempo doloroso? Estaria tudo perdido, não é? Digo, não poderia perder ele. Como amigo, principalmente.

Mas mesmo antes de começar qualquer coisa, mesmo antes de falar pra ele que eu estava completamente, perdidamente, loucamente, apaixonada por ele - que no caso, era meu melhor amigo, e isso tornava as coisas muito mais dificeis - eu já sabia que aquilo não passaria de um amor proibido. Nós não combinavamos, nem um pouco. Ele curtia sair para a balada e curtir a vida - o curtir dele era sair e pegar todas, e eu odiava isso nele. Mas nunca fiquei com ciumes delas, pois sabia que não era nada sério - e eu curtia ficar em casa assistindo um bom filme de terror ou ler um bom livro de romance - eu odiava filmes romanticos, chorava. Tudo bem que com livro eu também chorava, e muito, mas mesmo assim eu ainda o preferia - Ele prefere cerveja e vodka, e eu prefiro o meu toddynho de sempre. Ele curte funk - mais uma prova de que ele é completamente sem cultura - e eu curto rock ou qualquer outro estilo, que não seja funk ou jazz - nada contra o jazz, mas eu durmo ouvindo.

Nós eramos tipo, fogo e água, não nos completavamos de jeito algum. E acho que era isso que fazia eu o amar tanto. Não o amar dessa forma, mas o amar como amigo. Eu sempre fui apaixonada por esse jeito dele - só pelo jeito - de não querer saber do amanhã, e eu curtir o hoje, o agora. Dar foda-se para as regras, e fazer as proprias regras. Isso me encantava, principalmente quando ele fazia merda e me ligava as 3 hrs da manhã pedindo para que eu pegasse o carro da minha mãe escondido e fosse pegar ele aonde ele estava, sinão ele estaria ferrado. E eu, cumprindo o papel de uma ótima amiga, sempre o fiz. Mesmo tendo apenas 15 anos e não sabendo dirigir direito. Bom, pelo menos eu sabia trocar as marchas, e direcionar o carro. Pelo menos, eu nunca tinha batido o carro da minha mãe em uma dessas tentativas de salvar o Guilherme. Agora, eu fico pensando: eu e a Pamela, somos do mesmo jeito. Ela é praticamente igual a mim. Nós crescemos juntas, temos o mesmo jeito. Si ele se apaixonou por ela, pode muito bem, se apaixonar por mim também, não é? Acho que estou me iludindo um pouco demais. Ele nunca me olharia de outra forma, a não ser a mãe mais nova dele, - eu tinha 15 anos e ele iria fazer 17 mês que vem - a melhor amiga, a protetora.

[...]

Meu celular não costuma tocar as 3 hrs da manhã de uma quinta-feira. Ele tocava geralmente a esse horario, nos finais de semana ou feriados - que o Guilherme saia e fazia merda - bom, mas dessa vez, não era o Guilherme.

– Jessica dos Reis!!!

– Oi? - pela minha voz, dava para perceber que eu estava surpresa de receber uma ligação dessa pessoa, pelo menos a essa hora da madrugada.

– Pelo amor de Deus, eu preciso muito falar com você!! Mas que merda! – E isso não poderia esperar até o sol nascer? - eu sento na cama e ligo o abajur. – Não, você tinha que ser a primeira pessoa a saber.

– Ta, ta. Quanto mais cedo você falar, mais cedo eu volto a dormir.

– Ele me pediu em namoro... E eu aceitei.

Vocês sabem aquela cena de filme em que a personagem esta sentada na cama dela, e no telefone, ai a pessoa do outro lado da linha fala uma coisa que tu não simplesmente não acredita, e o telefone cai da tua mão? Então, eu estava daquele jeito ali. O celular caiu da minha mão e eu não conseguia nem tirar a mão do lado do meu ouvido. Eu estava paralisada - existe paralisação por causa da tristeza? Si não existe, acho que eu acabei de inventar.

– Ei, tu ta ai ainda? Jessica? - demorei um pouco para me recuperar do choque, mas finalmente consegui pegar o celular de volta.

– Oi... Eu to... Eu to aqui ainda.

– Tu tinha que ser a primeira pessoa a saber disso. Tu foi a primeira a saber que eu era apaixonada por ele, e foi a primeira a saber que agora eu estou namorando com ele.

– É.... - eu não sabia oque falar, minha vontade era de desligar o celular e chorar, só isso, mas iria dar muito na pinta

- Obrigado pela consideração, eu acho.

– O que você tem Jessica?? Tu deveria estar feliz! Feliz porra!

– Eu to feliz! É que você me pegou desprevinida, eu só não sei o que responder. E eu também to morrendo de sono - acho que nunca falei tantas mentiras em uma frase só. Nunca fui de mentir, só para mim mesma.

– Claro... Mas enfim, obrigada por me ouvir as 3 hrs da manhã, ow. – Si eu não ouvir tu não vem para cá me ver, e não, isso não é legal.

– Mas agora eu vou para ai sempre! Vou ver o Guilherme né?

– Ah! Sua vadia! Quando era só para me ver, vinha só de vez em quando né? Legal saber que eu faço muita diferença na tua vida. - eu dou uma risada irônica, para ela perceber que eu estava brincando.

– Ei! Você sabe que é diferente. Você é... Você! Ele é... Ele! Ué!

– Ahhhh! Não me diga Pamela! Eu sou o Guilherme e ele sou eu, meu Deus, trocamos de corpos.

– Acho que você acordou.

– Pois é - solto uma gargalhada tão forçada que até doeu minha garganta.

– Enfim, vou deixar você dormir, amanhã eu te ligo. Beijos.

– Beijo, e tomara que você tenha muitos pesadelos e não consiga dormir.

– Vou sonhar com o Guilherme - deu pra perceber que ela estava sorrindo do outro lado da linha, somente pelo tom da sua voz - tu acha que eu vou conseguir ter pesadelo?

– Qualquer um terá um pesadelo si sonhar com o Guilherme, quem dirá vocês dois juntos, cruz credo quero nem pensar, hahaha.

– Sem graça, beijo.

– Beijo.