A Espada Elemental escrita por Bernardo Dias


Capítulo 5
Revelações


Notas iniciais do capítulo

Capítulo grande e melhor compensa a demora u.u



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Capítulo 5

Novamente em meu quarto, penso no quanto Ethan deve estar sentindo-se realizado. Conseguiu finalmente se declarar a Jane e ainda por cima descobriu que seus sentimentos eram mútuos. Sinto-me realmente feliz por ele, provavelmente tanto quanto Allison, que deitada, estava com um grande sorriso no rosto.

– Será que agora... Eles serão como aqueles casaizinhos apaixonados? – ela pergunta, com um risinho.

– Com certeza – sorrio. No fundo, sinto um pouco de inveja, pois nunca tive uma namorada. Porém, no momento atual, não era possível, pois coisas muito mais importantes, e talvez até perigosas, ocorriam na minha vida. Sinto-me culpado por deixar isso de lado nesse momento, e tento achar uma maneira de encontrar meu pai. Mas isso seria impossível. Onde ele estaria a essa hora? Talvez em uma rua, sujo, mendigando e gastando todos os seus trocados em bebidas? Minha cabeça dói ao pensar nisso.

Algum tempo depois Ethan e Jane entram no quarto, sem se olharem ou sequer falarem, como se nada tivesse acontecido entre eles. Esforço-me para observá-los discretamente, porém tudo é estragado por Allison.

– Quer dizer que estavam sozinhos lá fora, não é?! – ela grita e começa a gargalhar. Jane arregala os olhos e fica vermelha.

– O... O que... Está insinuando? Eu... Eu estava só... Tomando ar... Com o Ethan! Ele... Ele queria mais suco de caju!

– Exatamente – diz Ethan – ela foi me dizer onde estava o suco.

– É... E beberam bastante suco, hein... – diz Allison, segurando-se para não rir.

Jane e Allison passam muito tempo discutindo até que Ethan simplesmente observa Jane. Entediado, o puxo pelo braço e pergunto sobre Jane.

– Você não vai acreditar – ele sussurra – eu me declarei à Jane e nós...

– Vocês se beijaram, eu sei.

– Como você... Ah, você e Allison espiaram... Malditos.

– Mesmo assim... Boa sorte. Vocês já são praticamente um casal. Só tem de chamá-la para “tomar um suco de caju” mais vezes, entende?

– Com certeza. Não esquecerei – Ethan sorri.

Ficamos todos em silêncio por um longo tempo, até decidirmos assistir a um filme. Então, enfim todos vão para casa, quando o sol já se punha. Após jantar e tomar banho deito-me sobre a minha cama, e pela janela, observo o céu noturno. Fecho meus olhos e penso no quanto minha vida ainda poderia piorar. Por algum motivo, sinto que Price e o meu pai estão escondendo algo realmente perigoso. Por mais que meus amigos estejam empenhados em me ajudar, temo que possam ser envolvidos nisso. Principalmente Ethan e Jane, que estão vivendo Algo tão bom. Não posso estragar isso. Talvez eu esteja sendo paranóico, já que depende de mim falar com meu pai e consequentemente não iria colocá-los em perigo. Por hora, resolvo dormir.

No dia seguinte, me levanto cedo, espantando minha mãe, mas deixando-a feliz por acompanhá-la no café da manhã antes que saia para o trabalho, me deixando sozinho. Saio para a varanda e contemplo o céu, gosto de fazer isso, ver as nuvens se movendo. O toque de meu celular tira-me de meus devaneios. Vejo que é Ethan, e são 09:30 da manhã, o que talvez seja ainda mais impressionante do que eu próprio me levantar cedo. Atendo.

– Alô, Ethan? Como assim você acordou cedo?

– A Jane acabou de me ligar – ele me responde com uma voz extremamente sonolenta – e eu a convidei para tomar um suco de caju na lanchonete do Jackson. Do jeito que você falou.

– Ethan... Eu estava brincando. Meu Deus... Ao menos ela aceitou?

– Bem, então não entendi o que quis dizer, mas de qualquer forma, ela aceitou. Passarei na casa dela daqui a pouco.

– Boa, cara, assim você vai longe. Acho.

– Vou passar aí depois, você vem, não vem?

– Como assim?

– Eu chamei a Allison também, então vamos todos, certo?

– Ethan... Você não aprende.

– Enfim, estou quase chegando, arrume-se logo.

– Tudo bem, até mais.

A ingenuidade de Ethan me impressiona. Agora que Allison já havia sido convidada, não teria motivo para não ir. Eu gosto de suco. Tento simplesmente esquecer de tudo para que eu consiga me divertir com meus amigos. Após me arrumar, a campainha da minha casa toca. Termino de pentear meu cabelo e abro a porta.

– Oi! – Ethan me cumprimenta com um sorriso bobo no rosto.

– Oi Ethan – respondo – Onde estão Jane e...

– Aqui! – as duas dizem juntas, atrás de Ethan.

–...Então... – continuo, estranhando o que estava vendo – vocês vieram juntos? À pé?

– Exatamente – diz Allison - vamos “segurar vela” – ela sussurra para mim, quase rindo.

Levo minhas mãos ao rosto e penso no quão desesperador esse dia será. Saímos de casa e andamos por um longo caminho. Enquanto Ethan e Jane sussurravam palavras incompreensíveis apaixonadamente, Allison ria dos dois – por sua teoria de que eles de tornariam um casal apaixonado ter sido comprovada – e eu apenas ficava quieto, extremamente entediado. Após andar cada vez mais, o sol ficava cada vez mais quente, e eu, já suando, não aguentava mais andar.

– Por acaso nós vamos beber suco no Afeganistão? – pergunto frustrado.

– Hm? – balbucia Ethan, agarrado a Jane. Allison ri:

– Ai, ai... Olhe, a lanchonete é na próxima rua, onde aquele carro amarelo está estacionado.

– Muito obrigado – respondo – alguém fala o meu idioma aqui...

Andamos mais um pouco e finalmente chegamos à lanchonete. Porém Ethan e Jane não parecem ter percebido isso, já que estavam apenas se olhando, abraçados.

– Ei, sem querer estragar o clima... Mas nós chegamos, perceberam? – digo.

Os dois olham para frente e percebem a lanchonete, assustados.

– Caramba, já chegamos? – diz Ethan.

– Foi tão rápido... Achei que fosse mais longe – completa Jane.

– Ah, claro, muito rápido... – respondo.

– Na velocidade da luz... – diz Allison.

Nós quatro nos sentamos nos bancos em frente ao balcão e aguardamos o atendimento de um dos funcionários. Finalmente, um homem magro com o uniforme da lanchonete vem nos atender.

– Quatro sucos de caju, por favor – pede Ethan, sem desviar os olhos de Jane.

– Certo senhor – responde o homem, e se afasta para começar a preparar as bebidas.

Ethan e Jane sussurram algo enquanto eu e Allison os observamos, entediados.

– Allison, Jaden... Temos algo a contar. – diz Ethan

– O que? – perguntamos eu e Allison, ainda entediados.

– Bem, é que... – continua Jane – nós estamos namorando.

Eu e Allison continuamos sem esboçar reação alguma.

– E aí? Não vão dizer nada? – Ethan questiona frustrado.

– Hã? Ah, quer dizer... – gagueja Allison – Fiquei tão surpresa que estava em estado de choque!

– É isso mesmo, eu também – respondo.

Jane dá uma risadinha e abraça Ethan.

– Tudo bem, já perdeu a graça – sussurra Allison me olhando com uma cara de enjoo.

O mesmo atendente da lanchonete retorna e traz nossos sucos. Eu e Allison terminamos de beber, enquanto Jane e Ethan bebiam lentamente, se olhando. Realmente não entendo o porquê de tanta enrolação para simplesmente beber um suco. Após terminarem, dois homens encapuzados entram no estabelecimento. Os dois usavam casacos pretos que pareciam realmente caros, com grandes capuzes que cobriam parte de seus rostos, como se não quisessem ser identificados por alguém. Todos ali presentes os encaram. “Porque alguém usaria um casacão preto em pleno verão?”. O atendente lança um olhar confuso para eles, que percebem de imediato, fazendo o homem se sentir nervoso.

– Ah. Hm... Desculpem-me, é... – ele gagueja - O que vão querer, senhores?

– Apenas um café – diz o homem mais baixo, em um tom extremamente grave, claramente forçado.

– Um café seria bom – diz o homem mais alto, em um tom de voz semelhante.

– Tudo bem, senhores. Seus cafés já sairão. – responde o atendente.

Nesse tempo todo, os dois homens sequer trocaram olhares ou palavras, e isso me deixava extremamente intrigado. Meus amigos parecem perturbados com a presença deles, e rapidamente se levantam dos bancos, restando apenas eu sentado.

– Jaden, no que está pensando? – Ethan sussurra.

– Podem ir à vontade – respondo – eu quero ficar aqui.

Eles parecem extremamente confusos com a minha decisão, porém fazem o que eu digo. Saem andando e me deixam sozinho com os dois estranhos. Nem mesmo eu me sentia seguro ali, mas certamente eles não eram pessoas comuns, e eu realmente queria saber o que eles estavam fazendo ali. Segundos depois, o atendente da lanchonete retorna com os cafés e se retira novamente. Os dois homens bebem seus cafés rapidamente e parecem verificar se o atendente não estava mesmo por perto. Sem desviar os olhos da parede, o homem mais alto começa a falar.

– Eu sabia que você faria a escolha certa... Jaden.

Assim que meu nome é pronunciado um calafrio percorre o meu corpo. Realmente havia um motivo para eles estarem ali. Além disso, a voz desse homem me parecia familiar. Os dois dão um risinho e se viram para a minha direção.

– Finalmente poderemos conversar de verdade – diz o mais alto, e os dois começam a tirar seus capuzes.

Professor Price. Certamente não é apenas um professor de História, é o homem mais estranho que já conheci.

Thomas Stevens. Meu pai, o homem que abandonou a mim e à minha mãe e que atualmente não passa de um drogado.

– O que vocês... Por que... Por que estão novamente atrás de mim? – indago.

– Porque, infelizmente, precisamos que acredite nas “loucuras” do Tom. – diz Price.

– Isso mesmo – diz meu pai – venha, melhor irmos para um local menos movimentado.

– Eu não vou a lugar algum com vocês! – rebato.

– Não é hora pra isso! – meu pai exclama, me puxando pelo braço - É fundamental que você nos ouça.

Sem mais escolha, eu aceito acompanhá-los. Eles tiram seus casacos e começam a andar. Acompanho-os ao passo que uma lacinante dor de cabeça afeta meus pensamentos. Andamos por algumas ruas, e finalmente, os dois param em frente a uma pequena casa de madeira.

– É aqui onde eu moro. – diz Price, e abre o portão da simples casa – Entre, por favor.

Atravessamos um pequeno quintal gramado e entramos na casinha. A parte de dentro parece igualmente simples. Apenas uma sala com uma geladeira, um fogão, uma pia, uma mesa e um sofá. Ao lado, um corredor que levava para dois quartos e um banheiro. Nós três sentamo-nos à mesa de jantar para que finalmente meu pai contasse o que queria.

– Então, filho. Antes de tudo quero contar a minha versão sobre tudo o que aconteceu entre mim e a sua mãe. Porque eu quero que você realmente confie em mim quando eu chegar aonde quero.

– Tudo bem, pai... – suspiro – Vá em frente.

– Tudo começou há quase 30 anos atrás, por causa de uma música. – posso ver em seus olhos que está entrando em “modo flashback

– Uma música? Como assim? – pergunto

– Sim, uma música que estava fazendo muito sucesso na época. “Livin’ On A Prayer”, da banda Bon Jovi – eu conheço essa música, e gosto muito da banda, mas me pergunto qual é o sentido disso.

– Eu conheço, mas o que... Ah, sim. “Tommy e Gina”.

– Exatamente. A música falava sobre um casal chamado Tommy e Gina, nossos nomes. Todos na nossa classe nos perturbavam por isso, até que um dia, quando éramos adolescentes, nós fomos escolhidos pelo professor de Química para fazermos um trabalho em dupla. Eu fui à casa dela e assim nós nos conhecemos direito. E, bem... Descobrimos que nós dois éramos órfãos de pai. Ambos nossos pais haviam morrido recentemente e ainda estávamos muito tristes, e conforme fomos nos conhecendo, nos apaixonamos e superamos essa dor. Era como dizia a música. “Nós temos um ao outro e isso é o bastante”.

– Uau... Aí está mais um motivo para eu gostar de Bon Jovi. Tudo bem, eu acho que você realmente gosta da minha mãe. Mas essa história de você ter nos deixado ainda está muito mal explicada.

– É aí onde eu quero chegar. Bom, é agora que as coisas começam a complicar. Price... Bem... Price era meu professor de História. – Isso dá um nó na minha cabeça.

– Hã? O que? Price? Mas vocês tem mais ou menos a mesma idade! Eu sei que existem estagiários, mas...

– Price um dia foi à minha casa e disse que ele e a minha mãe. A minha mãe certamente já sabia o que ele estava prestes a falar, já que envolvia o motivo da morte do meu pai.

– Eu não estou entendendo nada, será que pode explicar direito?

– O meu pai me abandonou quando eu era criança, assim como aconteceu com você. Ele precisou lutar em uma espécie de guerra... – quando meu pai fala essa palavra, seus olhos se enchem d’água.

– Que tipo de guerra ocorreu nos anos 80? A Guerra Fria? Isso não faz sentido algum, porque não houve conflito na Guerra Fria, e se você também fez o mesmo, faz menos sentido ainda, já que ela acabou há mais de 20 anos...

– Não tem nada a ver com a Guerra Fria – finalmente Price diz alguma coisa – É algo ainda pior, além do que as pessoas normais podem ver, é extremamente perigoso.

– E que tipo de guerra é essa? – finalmente pergunto

– A eterna sede de vingança do meu irmão. Ele quer me matar, e assim, possuir o que eu tenho de mais precioso.

– E o que minha família tem a ver com isso, sem querer ser rude?

– Acontece que toda a minha família foi morta, então não havia mais nenhum familiar para lutar, então eu a confiei essa preciosidade a um grande amigo meu, casado, com um filho pequeno. Infelizmente, ele não sobreviveu. E após sua morte, seu filho continuou seu legado. E após muitas gerações, chegou a hora do seu pai, por isso teve de abandonar sua própria família, ele precisava proteger quem ele amava. E agora... É a sua vez.

– O que? Como assim? Quantos anos você tem?

Price gagueja, mas não chega a completar uma palavra – Tudo bem, não me importa, o que eu tenho de fazer por você?

Price se afasta da mesa e pede para que eu e meu pai o sigamos. Ele nos leva ao porão da casa, onde se encontravam muitos frascos com substâncias estranhas, provavelmente um tipo de laboratório de química. No fundo, havia uma parede com escritas coloridas e confusas, que pareciam estar mesmo em inglês, porém algumas palavras eram incompreensíveis.

– Jaden, peço que a proteja como sua vida, e mantenha-a escondida da melhor forma possível – diz Price, com os olhos fechados.

– Tudo bem, tudo bem... Mas do que está falando?

Price estende as duas mãos sobre as escrituras paredes.

– Faça o mesmo que eu, ao meu lado – Hesitante, faço o que ele pede.

De repente, as escrituras começam a brilhar. Uma luz ofuscante, que me deixa temporariamente cego. Tento espiar, abrindo levemente meu olho direito e posso ver claramente o formato de uma espada. Sim, agora havia uma espada luminosa presa à parede. As escrituras, de repente, já não estavam mais lá. Minha cabeça dói e eu não entendo mais nada do que está acontecendo. É como se fosse um sonho louco, mas não. Era real.

– Vamos, Jaden. Saque a Espada – meu pai e Price ordenam.

Sem saber o que fazer, desprendo a espada da parede. Assim que minhas mãos a tocam, ela começa a brilhar, e muitas coisas ainda mais confusas passam pela minha cabeça. Posso ver um homem muito parecido com Price, provavelmente seu irmão, matando inúmeras pessoas. Meus ancestrais. Estes que lutaram bravamente usando essa mesma espada, que não é apenas uma espada qualquer, essa é a Espada Elemental, cujo imenso poder destrutivo poderia aniquilar todos os frágeis humanos ao cair em mãos erradas. Mesmo confuso, e não tendo entendido boa parte dessa história maluca, eu jamais deixaria isso acontecer mesmo que minha vida fosse posta em risco. Eu estava disposto a lutar. Podia sentir não só um poder inimaginável em minhas mãos, mas também um imenso caos a minha espera.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo...
Jaden agora não está mais seguro em lugar algum. Será ele capaz de dominar todo o poder da Espada Elemental e eliminar a ameaça que se aproxima cada vez mais?
"Agora a porra ficou séria..."
Se alguém aí gostar de Bon Jovi, por obséquio, venha tomar suco de caju comigo, e até o capítulo 6. o/