A Espada Elemental escrita por Bernardo Dias


Capítulo 1
Em meio ao fogo




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“Todo o poder que este mundo pode oferecer” , é o que diz a lenda. O fogo, e sua incrível capacidade de destruição; a água, fonte da vida humana e o único elemento capaz de parar o fogo; a terra, que abriga a vida humana com toda a sua resistência e fertilidade; o ar, existente em abundância pelo planeta e um dos combustíveis principais para a nossa vida.

O poder absoluto é o que muitos nesse mundo desejam. Criaturas conhecidas, assim como outras que passam despercebidas pelo olhar dos frágeis humanos. Se você quer poder, deve correr atrás, mesmo que o custo acabe sendo altíssimo.


A Espada Elemental



Sexta-feira, 11:40. Aula de história. As horas pareciam infinitas. Ouvia o professor falar, mas minha mente não captava as palavras. Não que eu seja um aluno ruim ou desinteressado - bem, talvez eu até seja, mas História é minha matéria predileta – mas enfim seriam as nossas férias. Poderia descansar um pouco das aulas e rever a minha família. Meu nome é Jaden, estou no nono ano da Academia Nables, um internato localizado em Seattle. O que até é algo legal, já que neste eu posso interagir com amigos e pessoas da minha idade o tempo inteiro. Algo bem difícil no local onde moro – já que vivo sozinho com minha mãe, pois meus pais se divorciaram quando tinha quatro anos.


Faltando segundos para o fim da aula, o professor de história, Sr. Price, termina de falar sobre a chamada Espada Elemental, uma estranha lenda sobre a qual ele falou muito nos últimos meses, e já chegou a ser matéria da nossa última prova. Nunca entendi o motivo disso, apenas uma lenda estúpida que jamais seria algo para lecionar em uma escola. Apesar disso, é uma história interessante e uma matéria fácil, por isso, minha preferida.

Finalmente, toca o sinal da saída. Vejo alunos vibrando e pulando por toda a sala, algo que, como um aluno, também não poderia deixar de fazer. Olho novamente para o professor à espera de uma bronca, mas consigo identificar uma expressão de alívio por trás de todo seu jeito sério e seu corpo musculoso. Pego minha mochila e saio correndo pelo campus com a incrível sensação da tão desejada liberdade.

– Finalmente, Jaden! – ouço alguém exclamar atrás de mim, até que sinto um corpo alto partir para cima de mim e me empurrar.

– Ethan, está querendo me matar? – pergunto com um tom de amargura. Ethan é meu melhor amigo desde que nós tínhamos 11 anos, época em que viemos estudar na academia Nables. Então, desde o primeiro dia de aula daquele ano, dividimos o mesmo quarto.

– Me desculpe, Jaden... Seu frangote! – e então, nós dois caímos na gargalhada.

Ethan tem 14 anos, assim como eu. É um garoto alto, de pele morena, e é bem humorado, porém muito tímido. Por isso, nesses quatro anos em que nos conhecemos, fui forçado a ajudá-lo com três garotas diferentes. Apenas uma vez deu certo. Com uma garota bonita chamada Samantha, que o beijou uma vez e depois saiu do nosso colégio. Hoje em dia acabo tendo que servir de ajudante para todas as paixões platônicas de Ethan e acabo não tendo muito tempo para mim mesmo em relação a esse tipo de coisa, até porque nenhuma garota me interessa no momento.

Entramos no salão do dormitório masculino e vemos vários garotos separando suas malas nos corredores. Nunca me lembro de ter visto tanta gente alegre nessa escola. No final do corredor, está a porta branca que leva ao nosso quarto. Com um rangido, abro a porta e começo arrumar todo o quarto junto a Ethan. O ambiente se silencia enquanto termino de guardar minhas roupas dentro da minha mala. Não conseguia acreditar que nesse dia, iria voltar para casa, depois de tanto tempo nessa escola, com meus amigos. Apesar de estar o tempo inteiro na escola, não foi nada ruim. Eu e Ethan passamos por diversas situações ao longo do ano, como quando comecei uma guerra de comida no refeitório e Ethan me ajudou a escapar da detenção. Ou ainda quando o videogame dele foi apreendido por jogar durante a aula e invadimos a sala dos professores à noite, pela janela, para pegá-lo de volta.

Por algum motivo, Ethan parecia aflito, então resolvo puxar algum assunto:

– Por acaso você vai ao baile de formatura hoje? – Pergunto, enfim – Acho que seria uma boa, já que acabamos de terminar o ensino fundamental hoje.

– Está se referindo a algo específico? – Ethan responde, e então, percebo o que quer dizer. Janice, a garota da qual ele gosta está reunindo diversos grupos de pessoas para o baile. Seria uma ótima oportunidade. Porém, Jane é uma das garotas mais populares do colégio. Linda, com grandes cabelos negros, e um corpo escultural de pele morena. Com toda a timidez de Ethan, seria algo extremamente difícil conquistar uma garota como ela.

– Boa sorte, amigo – digo, e dou uma piscadela. Tudo pronto para a saída, agora era apenas aguardar poucas horas para o baile. – E agora que arrumamos tudo, vamos pensar no que nós podemos fazer até que enfim chegue a hora do baile.

– Que tal estudarmos um pouco? O Sr. Price disse que é provável que a matéria atual, sobre a Espada Elementar ainda seja trabalhada no ano que vem.

Concordei com a cabeça, e então começamos a revisar a matéria de história por cerca de uma hora. Diz a lenda que a tal Espada foi uma arma forjada por uma equipe selecionada dos maiores ferreiros da época, desconhecendo-se a maioria. Seus poderes baseiam-se nos quatro elementos de nosso ecossistema: água, terra, fogo e ar. Não se sabe também como implantaram os poderes na lâmina, mas ao que parece, perdeu-se há muito tempo em alguma parte da atual Inglaterra. Teve uma linhagem de portadores que nasceram pessoas simples, começando com o ferreiro que comandava as forjas, prosseguindo para seus descendentes. Pergunto-me se o Sr. Price deveria estar nos ensinando essa matéria, por ser extremamente surreal, e aulas de história comuns do nono ano deveriam ser coisas como Grandes Guerras Mundiais e o passado do país.

– Gosta dessa matéria, Jaden? – Ethan questiona, surpreendendo-me com tal dúvida.

– Com certeza, acho de certa forma interessante, mas é como ler livros de ficção, fica óbvio que é uma lenda.

– Essa é a questão, adoro a história, mas não sei se ele deveria estar nos passando essa matéria – por fim, Ethan somente havia chegado à mesma conclusão que tive.

Depois de muito estudar, tivemos nosso último lanche na cantina da escola. Era algo muito estranho ver a escola naquele clima alegre. A rígida academia Nables, agora com alunos prontos para mais dois meses de férias. Juntamos vários garotos e jogamos cartas depois de comer, paramos para conversar sobre videogames e filmes, quadrinhos e o que faríamos nas férias. A maioria dos alunos da academia Nables são de uma classe alta, como Ethan, mas eu estudo com uma bolsa, são boas notas ou nada feito, a renda da minha mãe é de classe média-baixa, e meu pai deve ter algum dinheiro, mas não o vejo desde que se divorciou dela.

Assim, as horas foram passando rapidamente. Quando olho em meu relógio, já são 17 horas. Apenas duas horas para o baile.

– Jaden – Ethan me chama – Será que você poderia me ajudar... Você sabe, com a Jane. Poderia conversar um pouco com ela? Quem sabe, uma conversa de 4 pessoas: eu, você, Jane, e Allison

Allison é a amiga inseparável de Jane, também linda e popular. Cabelos castanhos encaracolados e lindos olhos azuis. Nunca falei com ela e também nunca tive grande interesse, parece ser muito metida.

– Tudo bem, Ethan. Uma conversa quádrupla. Já são quase cinco e meia, é melhor nós irmos nos arrumar para a festa.

– OK, vamos. Comprei um desodorante infalível... Cheiro de limão.

Tento evitar, mas acabo rindo. Sempre é hora para as piadas de Ethan. Depois disso, voltamos ao nosso quarto, tomamos outro banho e colocamos roupas novas. Seis e meia, a hora certa para partir para a festa. Será que o sonho de Ethan seria realizado essa noite? Seria uma boa festa? E se alguma coisa acontecesse...? Pensamentos estranhos como esse começam a passar pela minha cabeça, e tento simplesmente rejeitá-los. Andamos pelo campus do colégio a caminho do salão de festas e me deparo com o professor de História, o Sr. Price, parado ao lado de uma escada, apenas olhando para o céu.

– Olá, Jaden – o professor me cumprimenta, dando tapinhas nas minhas costas – Noite linda, não?

– Sim... Linda, linda noite. – respondo

– Todas essas estrelas no céu. Elas são um espetáculo, não acha? Algumas vezes essas estrelas parecem um pouco, digamos estranhas, não concorda?

– Desculpe senhor. Mas acho que não compreendi o que quer dizer.

– Não é de se estranhar. Eu sou um homem diferente, Jaden. Às vezes fico observando o céu, as pessoas, por simples prazer, admiração a toda essa beleza. Mas às vezes sinto coisas estranhas, acho que só de imaginar o que poderia estragar essa beleza, acabo me frustrando. – percebo algo estranho nos olhos dele, pareciam brilhantes, porém brilhantes até demais, um pouco avermelhados, como os reflexos nos olhos em algumas fotos. Talvez seja reflexo da luz, mas eu nunca tinha visto algo assim.

Olho para Ethan. Ele sim parece frustrado. Obviamente, não entendia uma palavra do que o professor queria dizer. Até que se irrita, e esbraveja:

– Não entendo aonde o senhor quer chegar, professor!

– Não quero chegar a lugar nenhum, Ethan. Estava apenas admirando. Adeus, temos uma festa a ir. – e o homem corpulento volta a andar em direção ao salão, sem dizer mais nada, após tudo isso. Seus olhos estavam normais, apesar de parecerem cansados – talvez até preocupados – mas é provável de que aquela cor estranha fosse apenas um reflexo.

Andando no meio de tantas pessoas, conseguimos, finalmente, chegar ao salão de festa. Vários estudantes e professores reunidos no lugar vestindo roupas chiques. O salão escuro, e bem enfeitado, com um globo de luz girando bem acima de nossas cabeças.

Um DJ entra no local, recebendo vivas da multidão. Músicas eletrônicas começam a tocar, e o globo de luz a girar, criando um lindo efeito ao som da música alta. Viro-me para a esquerda e vejo Ethan paralisado assistindo Jane dançar, junto a Allison. Tudo ocorrendo bem, perfeitamente bem. Aqueles pensamentos bizarros voltam à tona em minha mente, junto à imagem dos olhos brilhantes do professor. Começo a sentir uma tremenda dor de cabeça, e resolvo sair um pouco do local para refrescar a mente, quando me deparo, novamente, com o Sr. Price, sentado do lado de fora do salão.

– Refrescando a mente, Jaden? Eu também estou aqui para isso, era um tanto óbvio que músicas assim viriam a tocar, porém, esse globo, aquelas luzes... Tudo isso me dá dor de cabeça.

– A mim isso ocorreu, professor. Hoje é a primeira vez.

– Entendo. – Price se cala por alguns instantes, e em seguida continua, parecendo pressionado – Talvez seja pela tensão do último dia de aula.

–É provável, professor. – respondo, mesmo não achando uma ideia convincente. Ando alguns passos até o bebedouro, pego um copo descartável e encho com água gelada – Acho que... Já estou me sentindo melhor. Vou voltar lá para dentro, fiz uma promessa para Ethan, eu o ajudaria com algo...

– Uma garota?

– Sim. Até mais.

Entro novamente no salão e tenho dificuldades de achar Ethan no meio de tantas luzes e fumaça. Até que olho em um canto do salão e o vejo sentado ao lado de Jane, os dois conversando e rindo à beça. Talvez minha ajuda não fosse necessária naquele momento.

Estava muito confuso e com muita dor de cabeça para aproveitar qualquer festa, quanto mais para namorar. Há algo errado nisso tudo. Eu estava sentindo isso. Minha dor de cabeça, os olhos vermelhos... Tudo parecia ter alguma ligação. Minha dor volta, fecho os olhos e respiro fundo, porém não consigo tranquilizar-me, não consigo pensar em mais nada.

“É agora” – consigo vislumbrar um aviso na minha mente. É agora? O que? Algo de ruim iria acontecer. Teria isso algo a ver com tudo de estranho que aconteceu hoje? Abro imediatamente os olhos. Nesse exato momento, a música para, substituída por um estranho ruído. Posso ver faíscas voando por todo o salão de festa, provavelmente vindas de uma das caixas de som. Brilhantes e assustadoras aproximam-se de mim, começam a preencher todo o salão. Então essas faíscas em um instante se tornam fogo, que começa a se espalhar por todo o ambiente em alta velocidade. Alunos e professores correndo para todos os lados tentando escapar do fogo assassino. Saio de lá desesperadamente e posso ver o Sr. Price parado na minha frente. Seus olhos brilhantes idênticos ao fogo ardente.



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Notas finais do capítulo

Pessoal, espero que tenham gostado, estarei sempre tentando melhorar a história e tentarei postar os capítulos semanalmente. Se gostaram, por favor acompanhem a história, comentem, e divulguem para seus amigos. Até o segundo capítulo!