Minutos são dias

Eu não durmo à noite

Minhas asas são mentiras

Eu não posso voar

[...]

Nunca vi este homem.

Viver uma vida normal

com esposa e filho

Judge - Black Bomb Ä

O anjo da morte estava exatamente na frente de Dylan, mas era Boyd quem ele encarava. Seus olhos de cores diferentes — um dourado e um prateado — encaravam o Ceifeiro atrás de Dylan.

— Desculpe, mas na verdade meu pai morreu há dois anos. E você não parece com ele.

O anjo olhou para Dylan e, controlando sua respiração, pareceu tentar se acalmar. Ele era alto, pouco mais baixo que Boyd; seu rosto era razoavelmente jovem, não parecendo ter mais que quarenta anos, emoldurado por uma barba que parecia cortada no formato de espinhos e pelo cabelo razoavelmente longo.

Vestia uma espécie de sobretudo, que lembrava as vestes de um juiz. Era preto, com detalhes em dourado e prateado nas mangas e nas golas. Os fechos eram asas, uma de cada lado, com correntes finas que mantinham as vestes fechadas.

— Seu padrasto, você quer dizer.

Dylan deu de ombros.

— Meu pai sumiu quando eu tinha três anos. Steven era mais meu pai que ele.

— Então eu lhe devo muitas desculpas... Não... Não esperava que você lembrasse; ainda era muito pequeno. E também não deveria ter morrido ainda. Mas eu sou seu pai. De verdade. Olhe. — ele disse, erguendo a manga do casaco, expondo o braço, marcado com as mesmas “listras” de tigre que havia no braço de Dylan, que apenas levantou uma sobrancelha.

— Há. Isso não me convence. — disse, balançando a cabeça para os lados. Como se uma tatuagem em comum fosse prova de que um desconhecido era seu pai.

— Licença, Azrael. O garoto vai ou não ser julgado? — um dos anjos que estavam presentes no camarote tomou a palavra. O anjo, como que desconsertado com a interrupção apenas piscou, balançou a cabeça e olhou para Dylan.

— Não, Auriel. — respondeu-lhe, já mais calmo. Ele respirou fundo, tentando se acalmar.

— Não, realmente, er... Você, seja lá quem for, não é meu pai. Eu saberia se fosse o filho da Morte.

— Azrael... A história é longa; e o local não é o mais adequado. — A mulher que antes estava com o anjo no púlpito desceu para ficar ao seu lado. Ela encostou-se ao ombro dele e ele a olhou com dor na expressão. Ela o olhou com compreensão.

— Obrigado Atropos. Vamos, Dylan — o anjo o chamou — Se não acredita em mim, talvez acredite em sua mãe.

— Como?! Minha mãe? — Dylan repetiu um tanto aflito. Não queria encontrar sua mãe. Ela lhe diria que ele fora fraco ao se suicidar. Ela se decepcionaria.

— Venha — Azrael insistiu. — Mathias! — ele virou-se para o Falcem que estava distraído com a discussão. — Cuide do tribunal. Vou levar meu filho para passear. Venha junto, Boyd.

E Azrael, seguido por Dylan, Boyd e Atropos, seguiram para longas portas que ficavam na lateral daquele recinto.

— Bem vindo, filho, ao Éden — Azrael disse abriu as portas.