Falcem Thanatos escrita por Vince


Capítulo 2
Vítimas


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente!
Esse cap vai ser bem mais longo comparado ao outro; espero que não se incomodem.
O final ficou meia-boca, mas era porque eu já estava com sono D:
Enfim, esse capítulo é dedicado à Lotus, à Georgie, ao Wercton e à Elizabeth Turner, que deram review antes.
Espero que gostem!



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Capítulo 02

Vítimas

Colagem de palavras quebradas, e histórias cheias de lágrimas

Lembrando de sua vida, porque desejamos que você estivesse aqui

Nada é mais difícil que acordar totalmente sozinho

Perceber que não está bem, é o fim de tudo que você conhecia

Victim, Avenged Sevenfold.

Uma semana antes.

Sexta-feira, 29 de junho de 2012

Dylan arrumou os materiais dentro da mochila antes de fechar o armário. Ele a jogou sobre o ombro e caminhou para sua salvação, que era ver-se livre da escola pelos três meses das férias de verão. Ajeitou os óculos e suspirou; ainda muito triste pelo que acontecer à sua namorada, Victoria.

Era difícil aceitar que a garota que ele amava havia morrido. Principalmente para ele, que sentia seus olhos arderem, só de pensar na perda dela. Tanto que seus olhos começaram a arder novamente, com lágrimas que ele não permitiria que caíssem. Pelo menos não ali, na escola, onde as pessoas só lhe olhariam com pesar, pena e falsa compaixão, mas viriam sequer lhe dar os pêsames.

Dylan tateou o bolso da calça, em busca das chaves do carro. Mês nem mesmo sua “nova” Montana 2009 podia lhe animar. Ele pegou as chaves, junto com o celular, que vibrara segundos antes. “Ei, vamo sair??”, ele leu. Era de Jennifer, uma amiga dele, apresentada por Victoria... e lá estava ele pensando nela de novo. Dylan acelerou o passo pelos corredores da escola, chegando até a correr, sem se importar se esbarrava ou não em alguém. Ele só queria chegar em casa para chorar – sim, chorar – pela sua perda.

Já no carro, Dylan largou a mochila no banco do carona, e, com as mãos apertando o volante, ele encostou a cabeça no painel do carro. Não era a mesma coisa sem Victoria. Era tão, mas tão injusto que ela tivesse sido morta por um incompetente; um vagabundo preguiçoso, que achava que roubar era mais fácil que trabalhar. E tudo por que Victoria era tão boa, que queria proteger aquela criança, indigna de sua piedade.

Ele riu um pouco.

Ela, com certeza, o censuraria por aquele comentário. Lhe diria que ninguém é indigno; que ninguém vale mais que ninguém e, principalmente, que todos tem o direito de aproveitar esse mundo. Uma criança morta seria muito pior que ela.

Isso por que ela não sabe como é. Perder a pessoa que você mais ama no mundo. Ele já havia perdido seus pais, dois anos antes, num acidente de carro. Com 16 anos, ele recebera a emancipação legal por parte do estado de Nova York. Mas a preço de que? Perder os pais...

E ainda perder o amor de sua vida...

Ele ligou o carro e saiu da escola. Quando parou em um sinal vermelho, ele estendeu a mão para pegar seu celular, que vibrara novamente.

“Sei q vc ainda tah trist... mas kero t animar, Dylan. Nao soh eu, mas a galera tb. Vem pro shopping, a gente ta meio preocupado cm vc D:”

Dylan respirou fundo e acabou sorrindo. Parou o carro num acostamento e digitou:

Tá, eu vou, mas pode ser amanhã? Hj eu to muito pra baixo e não quero deixar vcs assim tb :/

Cinco segundos depois de enviar, um “Promete??” apareceu e ele, sorrindo levemente, respondeu um “sim xD”. Alguns segundos depois, Jennifer respondeu “A gente tá no High Mall, se vc mudar de ideia”.

...‡...

Dylan largou as chaves do carro e a mochila em cima do sofá da sala do apartamento onde já morara com seus pais. Mas agora morava só.

O apartamento era grande e ocupava metade do 12º andar. O outro apartamento era ocupado por um modelo do Abercrombie. Ele sabia por que sempre, nos seus aniversários, esse vizinho fazia a gentileza de lhe presentear com roupas de lá. 

A justiça fizera um acordo com a imobiliária: reduziriam o preço original para 70%, que seriam retirados da grande quantia que seus pais deixaram-lhe de herança. “Como se dinheiro importasse...”, ele pensou, jogando-se no sofá, de frente para a smartTV, que também ficara na casa.

Na verdade o apartamento inteiro estava exatamente igual há dois anos. A mesma cor bege nas paredes; os mesmos móveis em estilo vitoriano que sua mãe herdara da família; a mesma bancada de granito preto na cozinha, os mesmos eletrodomésticos... até o quarto de seus pais continuava igual: Dylan não mudara nada. Exceto, talvez pelo seu próprio quarto; que agora tinha muitas fotos pregadas nas paredes: fotos com pessoas que ele perdera muito cedo.

Pôs os pés sobre a mesa de centro e pegou o controle da TV. Ele estava muito cansado e só queria um tempo para si. Ligou a TV no Cartoon Network e deixou que “Regular Show” passasse, sem, realmente, prestar atenção no desenho. Tinha um pássaro azul e alto, que, aparentemente, era o melhor amigo de um esquilo... ou castor, fosse o que fosse. Eles estavam reclamando com o chefe deles, que parecia uma daquelas máquinas de chiclete. Dylan deu uma risada quando eles fizeram uma piada.

Até que um som alto o assustou. Aquilo o deixou meio surpreso e ele foi em direção à janela. Pareceu muito com um trovão, mas pelas muitas janelas que o edifício tinha, ele pôde ver que não fazia sentido que fosse um trovão. Muito pelo contrário; o céu estava claro. Nenhuma nuvem de chuva parecia rondar a cidade naquele momento. Mas Manhattan era estranha em geral.

Dando de ombros, ele voltou-se para o sofá e para seu desenho, mas já havia acabado. Dylan, então, passou a mudar de canal. Disney, Nicklodeon... ele só queria fugir um pouco daquela vida triste; daquele poço em que entrara, e rir um pouco; descontrair assistindo desenhos animados.

Então uma memória de sete anos atrás voltou: World Trade Center. Quando as famosas “Torres gêmeas” caíram, ele ouviu um som muito similar. Um trovão, mesmo sendo um dia de sol. Inconscientemente, ele começou a chorar. Ele não queria mais mortes. Por que, ó Deus, tantas mortes ao redor dele?

Dylan trocou o canal para um canal de notícias, e viu o que não queria.

— ... A queda de um edifício. Temos imagens da hora em que o mesmo simplesmente ruiu. Nosso helicóptero sobrevoava o Upper east Side e gravou a queda do High Mall na Quinta avenida.

Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não.”. Não podia ser, podia? Mais mortes. E ainda apor cima... não! Ele puxou o celular de dentro do bolso com urgência e procurou pela última mensagem recebida.

A gente tá no High Mall, se vc mudar de ideia

Ele deixou o celular deslizar de sua mão.

— NÃO! Não! — ele urrou para o alto, caindo de joelhos no chão e com os braços abertos.

Dylan cobriu o rosto com uma das mãos, muito chocado com aquilo. Mas... já passara meia hora desde que Jennifer lhe mandara a mensagem... talvez eles... seus amigos... já tivessem ido embora. Ele pegou o celular novamente e, nervoso, abriu a agenda e procurou por Jennifer.

O número chamava, mas ninguém atendia. Tentou Chris. A mesma coisa. Talvez Jared... Mas o resultado continuava igual, não importasse para quantos de seus amigos ele ligasse. Sempre caía na caixa postal. Dylan pôs-se de pé e, pegando a chave do carro novamente, voltou para a garagem. Ele tinha de ter certeza.

...‡...

A Quinta avenida estava bloqueada, então Dylan simplesmente desceu do carro. O que lhe incomodou era que fora assustadoramente perto de sua casa; ele podia ter ido à pé. E foi o que fez. Deixou o carro parado numa esquina e correu até a área dos destroços. A polícia e os bombeiros ainda não haviam chegado, portanto ele pôde se aproximar dos destroços.

Ao redor das ruínas do que já fora um shopping, muitas pessoas estavam, encarando, tirando pedaços enormes de concreto, tentando ajudar alguém que tivesse sobrevivido.

Dylan pegou o celular e novamente ligou para Jennifer. Ele não sabia o que esperar, mas quando ouviu levemente o som de “Give Me Everything”, o toque do celular dela, ele suspirou aliviado. Era bem próximo, pelo que ele pode perceber encostando a cabeça em uma pedra próxima a ele. Dylan continuou com o celular no ouvido e, numa descarga de adrenalina, ele levantou um pedaço enorme de concreto. Depois outro e mais outro.

Até que viu uma mão. E era de uma mulher.

Dylan soltou o celular e, tirando mais uma pedra, viu ela. Jennifer.

— Jenny! — ele gritou ao vê-la. E, para seu alívio, a mão dela se moveu. Ele tirou, dessa vez com a ajuda de um homem enorme, uma pedra de cima das pernas dela. Ela estava muitíssimo machucada quando o homem que ajudou Dylan a carregou para a rua. — Jenny, você está bem?

— Os outros... — ela disse, um tanto enrolado, e apontou levemente para o lugar onde fora a entrada do High Mall.

...‡...

Sexta-feira, 06 de julho de 2012.

Dylan sentia-se vazio, como se não tivesse nada a perder.

E ele sabia que não tinha. Não tinha mais seus pais. Não tinha mais a garota que amava. Não tinha mais seus amigos. Todos haviam morrido, exceto por Jennifer, que entrara em coma induzido devido aos traumas que sofrera.

Ele olhou para a “paisagem” lá em baixo, sob o telhado de seu prédio. As luzes de Manhattan continuavam acesas, exceto por um bloco, onde antes se erguia o High Mall. Sem ninguém, ele sentiu-se sozinho novamente. Como quando seus pais morreram e ele ficou com medo de ser mandado para a adoção.

E ele sentiu que aquilo deveria ser com ele. Talvez fosse Deus, punindo-o por algo que fizera numa vida passada. Talvez ele fosse amaldiçoado, e teria de ver todos que ama morrerem.

Ele não queria mais ver aquilo. Dessa vez ele não queria continuar. Se ele continuasse e encontrasse mais uma pessoa, ele também teria de vê-la partir e só sofreria mais e mais... ele não queria aquilo.

Então, pegando distância, ele pulou.


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Notas finais do capítulo

Essa foi a explicação de por que ele pulou no prólogo; espero que tenha feito sentido :3
Reviews?