“Como você pode pedir
Pra eu falar do nosso amor
Que foi tão forte e ainda é
Mas cada um se foi”

Milton Nascimento

Belle odiava ter que sair da cama em manhãs chuvosas, principalmente quando ao seu lado ele não estava a caçoar dela:

-Você não é a bela adormecida...

Era bobo isso, mas funcionava sempre.

Como já estava atrasada, não tomou café com seu pai, como foi nos últimos dias. E assim, como ela imaginava, ele estava a sua espera em frente ao estúdio de dança....Seu semblante estava mais sério do que o habitual e ela tentava disfarçar as pernas trêmulas, o coração disparado, a vontade de voltar.

- Estou atrasada...

- Sua aula foi suspensa.

-Até para conversar com alguém você usa do seu poder?

-Se for necessário. -ele respondeu com sua calma de sempre que irrita a todos.

-Pois bem não, não era necessário. Ia conversar com você mais tarde. Quando soubesse o que deveria dizer.

-Respostas, isso que você deve dizer.

-Só as que você merece ter...

-Por que fugiu? Nem o direito do adeus você me deu.

-Não fugi, eu segui minha vontade sem despedidas dolorosas.

-Algum príncipe?

-não seja leviano. Você sabe que não é o único amaldiçoado de nós dois.

- Essa é nova- o tom da voz dele já não tinha a mesma calma- Agora o temos se chama maldição, não mais amor.

-Todo amor é maldição que não se consegue evitar ou quebrar. Algo além da minha compreensão fez com que eu só pertencesse a você, porém posso lidar para que isso seja menos penoso para nós dois. Não quero estar no meio da briga sua e da Regina. Não quero ser uma moeda de troca

-Belle, você alvo dela. Porque você estando ou não morando comigo, nada muda em meus sentimentos.

E ela emocionada e não mais ligando para quem poderia estar ouvindo aquela conversa:

- Nem os meus, Gold. Mas isso muda minha paciência e minha vontade de continuar com você. O que preciso deixar claro é que não é um ponto final, são reticências apenas.

E ao terminar a frase, ele abandona a bengala e o guarda-chuva e a agarra pelos quadris, fazendo com ela também abandonasse tudo estava nas mãos também...

E ao pé do ouvido, ele diz:

- Eu te amo tanto, te desejo tanto... nenhuma magia desse e em outros mundos podem explicar ou fazer parar

-e assim para mim também. Fiquei anos e anos sonhando com você, achando que a sensação de afeto e proteção que esses sonhos traziam eram delírios meus. - E as lágrimas caíram de seus belos olhos azuis.

- Então fique comigo!!___ a calma já o tinha abandonado

-Não posso. Quero ver mudanças em você e quando isso acontecer, você me encontrar em sua cama lhe esperando. Não pense nem por segundo que não sinto saudades, isso sempre será mentira. Sentirei falta de nossas noites acordados, de você me contando suas histórias, até mesmo do chá de flores que você sempre fazia para meu café da manhã.

Então ele a beija com ardor e ela se entrega... porém depois ela se desencilha...Pega a bengala dele no chão e o devolve.

-Até logo, não tanto logo como eu desejo, mas... até logo.

E entra na escola de dança com o coração nas mãos, mais frágil do que nunca.