Premonição 4: Noites de Terror escrita por Lerd


Capítulo 3
A Noite das Brincadeiras Mortais


Notas iniciais do capítulo

Terceiro capítulo! Esse com alguma ação e descoberta de segredos! :B E aparição de dois personagens beeeeeeeeeeeeeem importantes, um conhecido de vocês e outro novo!
E ah! Gente, eu tenho um blog em que coloco fotos dos personagens das fanfictions de Premonição. Eu também, além das fotos deles, escalo um "elenco" pra caso as fanfics virassem filmes. Pra quem quiser ver, aqui estão os links:
Fotos dos personagens de "Noites de Terror": http://premonicaofanficsource.blogspot.com.br/2012/08/cast-premonicao-noites-de-terror.html
Atores que interpretariam os personagens: http://premonicaofanficsource.blogspot.com.br/2012/08/wish-list-cast-noites-de-terror.html



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Debruçada sobre os livros da biblioteca pública, Pam sentia um início de dor de cabeça. Ela havia dormido mal nas duas últimas noites. O motivo era claro: o acidente no Baja Junkie. Ela chegara em casa bem depois das três horas da madrugada, quando seus avós já haviam ido dormir. Isso não os impediu de acordarem ela às sete da manhã. Na noite seguinte foram os pesadelos que tomaram conta de seus pensamentos, e ela imaginava-se dentro do clube quando ele desmoronou. Podia sentir sua pele queimando lentamente...

E isso poderia ter sido verdade se ela não tivesse acreditado em Adrian e saído antes do acidente acontecer.

Ainda se perguntava o motivo de ter feito aquilo. Acreditava no que ele dizia? Talvez. De algum modo ela sentia que sua presença ali era errada, de várias maneiras. O alerta de Adrian apenas serviu pra que ela percebesse que jamais deveria ter ido àquela festa.

O livro à sua frente era um romance qualquer. Pam já nem se lembrava de seu nome, menos ainda do capítulo que estava lendo. O olhar vagueava pelas palavras, mas elas não faziam sentido. E ficou assim por vários minutos, até perceber que tinha lido quatro páginas e entendido absolutamente nada. Adrian era o motivo, e a garota sabia bem disso.

No momento que se seguiu ao acidente, quando todos começaram a interrogá-lo a respeito do que ele tinha visto, o rapaz pareceu desaparecer para o mundo. Sissy praguejava contra ele, Charlene o chacoalhava, mas Adrian não reagia. E ali, naquele exato segundo, Pam sentiu-se próxima de Adrian como jamais havia se sentido próxima de qualquer outra pessoa em sua vida.

Ele mantinha o olhar fixo nela. Ou era em um ponto qualquer que, por coincidência, estava situado na mesma direção? Não, ele estava olhando para mim. Nos meus olhos. O coração de Pam parou naquele exato segundo, e durante algum tempo houve só ela e Adrian no mundo. A garota sentiu um carinho e ternura indescritíveis, como se finalmente o entendesse. Queria gritar que o perdoava pelos insultos, pelos anos em que a tratara como invisível, por tudo. Mas não podia. Não com Sissy por perto. Não... Não podia.

O que podia era tentar ajudá-lo. Se eu ao menos tivesse como descobrir o que aconteceu com Adrian... Mas claro! Ela estava em uma biblioteca, deveria haver qualquer coisa ali que pudesse ajudá-la.

— Ginger, você sabe onde ficam os livros de parapsicologia?

A bibliotecária tinha a mesma idade dela, e usava diversos brincos e piercings. Tinha os cabelos loiros tingidos de cor de rosa em diversos pontos, e usava roupas pretas.

— Segundo andar. Se não me engano é na fileira dezoito ou dezenove...

Pam agradeceu e subiu. A biblioteca era enorme, e estava pouco movimentada, com cerca de dez ou doze pessoas por ali. O local tinha três andares apinhados de livros, e um teto em forma de abóbada. Não sei o que diabos eu estou procurando, mas sei que não quero e não vou ficar sem fazer nada...

A bibliotecária acertara em seu primeiro palpite, e os livros de parapsicologia ficavam na fileira 18-O. Pam sentou-se no chão de madeira escura e pôs-se a vasculhar os livros. Havia dezenas deles, e a garota concentrava-se nos menos científicos e com maior teor de paranormalidade. Gostou do sétimo livro que encontrou, intitulado “O Poder da Precognição e Suas Consequências”. O livro fora escrito por uma tal de Juliet Collins. Logo no prefácio, se lia:

Este livro não é um romance de ficção, mas também tem pouco uso para fins científicos e de estudo. A parapsicologia trata dos assuntos relacionados à precognição de maneira vaga e subversiva. Pretendi, através desta obra, expor uma visão livre de julgamentos e convenções acerca de estranhos eventos relacionados a premonições. Se você é cético, provavelmente nada do que eu diga ou escreva lhe convencerá. Mas se você veio em busca de respostas, cuidado: pode acabar não gostando do que vai descobrir.

Respostas! Era isso que Pam queria. Aquele era o livro ideal.

Nas horas que se seguiram, a caipira viu-se presa às palavras de Juliet. O livro tratava de eventos do início do século, e se passava na Inglaterra da Era Vitoriana.

O mais surpreendente para Pam, foi que Juliet era uma visionária.

Não, não é isso. O mais surpreendente é a que Juliet previu, assim como o Adrian, um acidente.

Não, ainda não é isso. O mais surpreendente é que todas as pessoas que a Juliet salvou com sua visão, estão mortas. E não era pela idade (dada à data em que o livro fora escrito), mas sim por acidentes. Juliet narrava em detalhes a morte de cada uma das pessoas que ela conseguira salvar com a sua premonição.

As páginas seguiam-se sendo lidas com furor, com Pam as devorando. Nesse momento ela já estava apoiada em outra das estantes, ainda sentada no chão. Quando a garota esticou as pernas para devolver a circulação a elas, um homem prostrou-se à sua frente. Pam olhou para o alto para vê-lo. Ele era negro e muito, muito alto. Parecia ter pouco mais de vinte anos.

— Precognição? Leituras pesadas, pequena Pam.

— Como você sabe o meu nome? – A garota indagou de maneira surpresa.

O homem sorriu de canto de rosto.

— Você deixou a sua carteirinha no primeiro andar. Aqui. — E entregou a identificação a ela. Pam aceitou e agradeceu:

— Obrigada, senhor...?

— Bludworth. William Bludworth.

— Obrigada senhor Bludworth.

Ele consentiu e, ao invés de sair dali, sentou-se ao lado dela. Disse:

— Não é curiosidade que te trás a esses livros. — Não era uma pergunta.

Pam não era mulher de evitar qualquer assunto que fosse.

— Não, não é.

Bludworth bufou.

— E algo me diz que não foi você quem teve a visão. Estarei errado?

Não, não está.

— Foi um... Amigo. Você sabe algo sobre isso? Digo... Sabe sobre a origem dessas visões? Das consequências?

— Quantas perguntas! Quanto à origem não, não sei. Mas quanto às consequências...

Pam estava a ponto de implorar para que o homem lhe contasse alguma coisa. Quem era ele? De onde ele aparecera? Pouco importava, Pam queria respostas, e William Bludworth parecia tê-las, apesar de tudo. A garota tremeu e virou-se para ouvir o que ele tinha a dizer.

x-x-x-x-x

— O nome dele era Jesse, eu acho. — Charlene disse, incerta.

— Que morte horrível, sofrer um acidente dentro de um pet shop...

— O negócio foi bem bizarro mesmo. A van que atropelou ele era uma van que vendia Hot Dogs...

O cão chamuscado, Adrian pensou. Eu vi aquela van minutos antes dela atropelar Jesse. E um pet shop... Eu salvei o cachorro da Tiffany e da Trish, também minutos antes. Que ironia...

— E tudo isso depois dele ter sobrevivido ao desastre no Baja... — Tommy começou, mas logo interrompeu sua frase, com medo da reação de Adrian. Apesar da cordialidade entre ambos, eles ainda não estavam nem próximos de serem amigos.

É realmente muito estranho. Um arrepio, uma onda de eletricidade, voltou a percorrer todo o corpo de Adrian. Ainda não acabou. De novo. Eu senti que não estava acabado, e aconteceu de novo. E eu sinto que ainda não é o fim...

x-x-x-x-x

Trish ajeitou a cabeça do irmão em cima do travesseiro e encarou o quarto escuro.

— Confortável Cole? — Ela disse.

— Sim. – Ele sibilou. — Mas não quero que você vá ainda.

A garota surpreendeu-se com a resposta dele.

— E por quê?

— Quero uma canção de ninar antes. — Cole disse, com os olhinhos vermelhos. Ele era um menino de seis anos pequeno e magricela.

— Tudo bem. Mas só uma. — Trish disse.

E cantou. Quando terminou ele já dormia. Trish saiu do quarto fazendo o mínimo de barulho possível. Tiffany a esperava do lado de fora.

— Ele já dormiu? Não são nem seis da tarde. — A outra loira disse.

Trish deu com os ombros.

— O Cole dorme muito. Ele não vai acordar até de manhã, confia em mim. Além disso, a mamãe vai ficar em casa caso ele precise de alguma coisa...

— Sua mãe é uma bêbada, Trish! Se algo acontecer ao Cole enquanto estivermos fora e ele aqui com essa pinguça desgraçada, eu... Eu vou me sentir culpada.

Tiffany realmente parecia abatida. Ela e Trish iriam sair naquela noite, uma diversão só de meninas com Sissy, mas ela não queria que fosse daquela forma. Trish tinha seu irmão mais novo, Cole, que era deficiente físico. O rapazinho não conseguia andar, e a loira cuidava dele praticamente sozinha. Morava com o menino e a mãe, essa última uma alcoólatra. Cole podia contar apenas com Trish, e Tiffany sabia disso.

— Aquela vagabunda vai fazer tudo certo. Se ela deixar algo acontecer ao Cole sabe que eu vou embora. Ele é a única coisa que me prende ao lado dela. E ela precisa de mim. Sou eu quem trago o dinheiro pra essa casa, já que o dela fica todo no bar...

E era a verdade. Trish trabalhava como garçonete num restaurante country durante a noite, quando não estava na escola. Tiffany também trabalhava lá, embora, ao contrário da amiga, não por necessidade. Trish precisava do dinheiro do emprego, Tiffany não. Enquanto a primeira sustentava a casa, a segunda vivia com os tios, ricos e distantes. Podia ser tão carente de afeição quanto a amiga, mas dinheiro não era um de seus problemas.

— Então vamos nos trocar. A Sissy vai nos pegar às oito horas na minha casa.

Trish concordou e desceu as escadas de mãos dadas com a amiga.

x-x-x-x-x

Adrian chegou ao fliperama apreensivo. Já passava das sete da noite, e o local fervia. Todos os adolescentes geeks da cidade estavam ali, e o rapaz sentia-se coagido. Na escola, no meio dos caras do time, eu sou um rei. Aqui é a terra dos geeks, e se eu não me cuidar, posso acabar me ferrando.

Ele não sabia direito porque estava ali, mas estava. A revista se abrira na página do Fliperama Smash!, e Adrian viera visitá-lo. Quando a van com a inscrição “Hot Dog” passou ao seu lado, aquilo significou a morte de Jesse, e o rapaz não podia deixar de pensar que talvez pudesse ter impedido. Talvez algo mais vá acontecer aqui, e eu não quero pecar por omissão mais uma vez.

Além disso, fazia anos que ele não jogava em um fliperama. Sem falar no fato de que Sissy estava o ignorando desde o incidente no Baja Junkie. Não o recebia quando ele a visitava, e evitava atender as ligações dele. O rapaz tentara de todas as maneiras entrar em contato com a namorada, mas ela não dava brecha. Ela deve estar com medo de mim. Todos estão, embora não digam. Até a Charlene. E Adrian não os culpava. O que havia acontecido com ele, o que ele havia previsto, tinha sido estranho. Realmente assustador.

Um fliperama podia realmente lhe fazer bem. Sabia que se seus amigos do time o vissem ali, ele estaria ferrado. Mas eles não verão. Se vierem aqui só provarão que são tão geeks quanto eu.

Pediu algumas fichas à atendente e viu que as moedas lhe pareciam estranhas. Bizarras, na verdade. Dentro do latão estava cunhada a imagem de um túnel e um lago passando embaixo dele. Havia também a inscrição “Smash!”, que era o nome do fliperama. Adrian deu com os ombros e pôs-se a observar o local onde estava.

O fliperama era bem grande, largo, e amplo. Não viu qualquer garota ali, apenas meninos. Todos cheios de espinha, magrelos e de óculos. Adrian realmente chamava a atenção, até porque havia vindo com a jaqueta do time de futebol de sua escola, com o “VM” bordado no canto esquerdo. Além disso, o local era bem escuro, e viam-se luzes dos aparelhos de jogos vindos de várias direções e sentidos. Havia barulho de tiros e gritos felizes ou aflitos. Bom, vamos lá.

Adrian encontrou uma máquina, essa de tiro. Colocou a ficha e começou a jogar, atirando nos zumbis que apareciam na tela. Já havia matado seis deles quando alguém tocou seu ombro. O rapaz virou-se.

— Posso jogar também? – Disse a pessoa que havia o tocado.

— Manda bala, cara. – Adrian respondeu. Ele então reparou em quem havia dito aquilo. Era um rapaz comum, talvez da mesma idade que ele, talvez um pouco mais novo. Tinha os traços delicados, com cabelos curtos e castanhos claros, e olhos castanhos esverdeados. Ele tinha o nariz empinado, as orelhas pontudas, e cheirava à maconha.

— Meu nome é Martin, aliás. Mas pode me chamar de Petit.

— Petit? Que apelido mais fodido, cara.

— É, eu sei. — Petit confirmou, e sorriu, embora Adrian não tivesse percebido. O cheiro de erva do rapaz estava lhe incomodando um pouco, embora fosse agradável ver que havia outra pessoa que não era geek por ali.

Os dois jogaram algum tempo, até que Petit parou. Ele largou a arma e ficou olhando um ponto fixo durante vários segundos. Adrian o cutucou, dizendo:

— Cara, você tá legal?

Petit não respondeu. Mas então, do nada, soltou num rompante:

— Um acidente. Vai tudo explodir! Eu vi! Aconteceu na minha cabeça, eu... — E subitamente tapou a boca, como se não quisesse ter dito aquelas palavras. Como se a fala tivesse sido involuntária.

Adrian conhecia cada uma daquelas palavras, já que ele mesmo havia proferido-as no dia do desastre no Baja Junkie. A pergunta era: como Petit sabia?

O rapaz olhou Adrian com surpresa e olhos assustados. Disse:

— Por favor, me diz que você sabe explicar essa porra que me aconteceu...

x-x-x-x-x

Sissy estacionou seu carro na porta da casa de Tiffany e pôs-se a apertar a buzina como se não houvesse amanhã. Ela apertava em movimentos ritmados, conseguindo extrair uma estranha e irritante melodia.

— Rápido, suas vadias! Eu quero ficar bêbada hoje ainda! — E buzinou ainda mais alto.

Tiffany saiu rapidamente, se despedindo de uma prima. Trish veio atrás, segurando uma garrafa de vinho barato. As duas vestiam roupas curtas e riam descontroladamente.

— Sorte a sua que meus tios não estão em casa, Sissy. Se eles estivessem aí você teria acabado de destruir a minha fraude de que vamos estudar. — Tiffany disse, rindo. Ela sentou-se ao lado de Sissy, no banco do carona, enquanto Trish sentou-se atrás.

— Dane-se você e suas mentiras de garota certinha. — Sissy disse, bufando. Arrancou o vinho das mãos de Trish e bebeu um grande gole. Então gritou e deu a partida no carro.

x-x-x-x-x

Àquela hora não havia mais ninguém no colégio, à exceção de Ricky e Wade. O primeiro não sabia da presença do segundo, nem mesmo da armadilha que ele bolara para o encontro casual acontecer. Já passava da meia-noite, e Wade ficara responsável por trancar o colégio, tarefa que geralmente era do zelador Willy, seu mais novo amigo. Ricky estava ali treinando, dando pancadas nos sacos de areia, sem noção da passagem do tempo. Wade preferiu não avisá-lo, já que sua intenção era realmente a de pegar o rapaz desprevenido.

Quando Ricky saiu do ginásio, suado e completamente vermelho, Wade ainda estava nos chuveiros do vestiário.

— Nossa, ainda tem alguém aqui? Eu perdi a noção de tempo. — Ricky disse, retirando sua camiseta.

Wade colocou a cabeça pra fora do chuveiro e disse:

— Já é bem tarde. Também fiquei treinando, e estou com as chaves do colégio. Até o zelador Willy já foi embora.

Ricky bufou e entrou em outro dos chuveiros, ao lado de Wade. Ali, tão próximo dele, o elfo não tinha dúvidas de que Ricky era diferente de todos os outros. Ricky fazia-o sentir-se da mesma maneira que ele se sentia quando estava com as outras garotas, talvez de uma maneira ainda mais forte. Não sabia dizer se era uma atração sexual, mas era algo que ele definitivamente não estava acostumado a sentir.

— Não tem mais ninguém aqui. – Wade disse.

Ricky não respondeu.

— Todos já foram.

— É, eu já entendi. E logo eu também vou, não devia ter ficado até tão tarde.

Wade não teve dúvidas de que não haveria momento mais apropriado. Antes que Ricky pudesse fazer qualquer movimento, puxou-o para si e deu-lhe um beijo. Forçado, molhado, com a água dos chuveiros escorrendo ao redor dos rostos deles.

— Ei, que merda você tá fazendo, cara? – Ricky disse, empurrando Wade com força. — Eu não sou gay! Mas que... Porra!

O outro rapaz estava desconcertado. Nunca ninguém havia o repelido antes. O comum era acontecer o contrário, eleviver distribuindo negativas, jamais acontecera dele ser o que era recusado. Um medo súbito percorreu todo seu corpo como uma onda, enrubescendo seu rosto de elfo.

— Nem eu! Foi aquela erva que a Felice vendeu, é...

Ricky olhou pra ele, incrédulo, e então disse:

— Olha, na boa. Não. Nunca mais tente fazer isso. Você pode ser grande e forte, mas não é dois.

Um pânico tomou conta de Wade, de súbito:

— Você não vai...

— Contar? Não. Eu não sou filho da puta. Só me deixa em paz. É só isso que eu te peço.

Parecia um preço justo e baixo a se pagar pela sua reputação. Wade cuspiu no piso molhado e saiu do chuveiro, sem nem ao menos desligá-lo, sentindo a umidade embaixo dos pés diminuindo à medida que se afastava.

x-x-x-x-x

O latido esganiçado do cachorro fazia os ouvidos de Sissy arderem.

— Por que você trouxe esse vira-lata, Tiffany?

— Ele também estava precisando se divertir. Quase morreu atropelado.

— É sério? Como? — Sissy tentou fingir interesse na história.

— Pois é. Ele escapou de mim e quase foi esmagado por um furgão. E sabe quem salvou ele? — A outra não teve tempo de responder, pois Tiffany foi mais rápida: — O Adrian!

— O Adrian?

— Ele apareceu do nada e tirou o John Travolta da frente do carro no último segundo. Ele é realmente um herói.

Sissy bufou.

— A porcaria de um herói... Sabe, eu estou de saco cheio desse dramalhão com o Adrian. Antigamente era divertido ficar com ele, mas agora não vale mais a pena. Ele tá perdendo a moral com a galera do time, passa mais tempo com a banda do que comigo...

— Passava. — Trish corrigiu. — A banda toda morreu no Baja Junkie, né amiga?

— E ainda tem isso. O drama todo dele, dizendo que teve uma visão... Eu não tenho paciência. Eu tenho meus próprios problemas pra lidar, não vou ter um namorado mais dramático do que eu. Nem fodendo. Se ele quiser ter as malditas visões, que tenha. Mas longe de mim.

Trish concordou, e bebeu a esse fato, dizendo:

— Aos namorados malucos. — E continuou: — Ele tinha que ter algum defeito. Era perfeito demais.

Sissy riu.

— Ah, mas ele tem outro defeito. E está no meio das pernas, se é que vocês me entendem...

Tiffany e Trish caíram na gargalhada. Sissy dirigia por ruas vazias, próximas da saída da cidade. Ali havia um túnel e uma ponte que levava até a cidade vizinha. A ponte estava em estado precário, e não havia qualquer apoio nas laterais, o que significava que os motoristas deveriam ter muito cuidado, pois qualquer desvio poderia fazer o carro despencar de uma altura de mais de cinquenta metros. Mas não chegava a ser um problema, pois poucos carros utilizavam aquela estrada. Especialmente de madrugada, Sissy pensou.

E o túnel que vinha antes era baixo, impedindo a entrada de caminhões. Um carro que passasse ali não poderia ter nada amarrado em cima, já que não havia espaço suficiente para isso.

Sissy então abriu o teto do veículo e Trish pôs metade de seu corpo pra fora, gritando com o toque do vento em seus cabelos. Ela estava completamente bêbada, e retirou a camisa, ficando com os seios de fora. Não havia ninguém para vê-la ali naquela estrada abandonada.

— Trish, entra. O túnel. – Tiffany disse, em um tom brincalhão.

A outra loira pareceu não ouvir, ou ignorou o aviso.

— Trish, a porra do túnel! Entra! – Sissy gritou ainda mais alto. Dessa vez havia certa tensão no aviso.

O carro aproximava-se cada vez mais da entrada do túnel, e a garota mantinha metade do seu corpo pra fora.

— Entra logo porra! – Sissy berrou. Tiffany pulou para o banco traseiro e tentou puxar o corpo da amiga para baixo. Foi em vão, não houve tempo. Trish reclamou qualquer coisa e repeliu a amiga. Sissy tentou frear, mas o carro não a obedeceu, e seguiu em alta velocidade.

Sissy passou pelo túnel quando Trish ainda estava de olhos fechados. Ela teve tempo de abri-los somente para ver o concreto vindo em sua direção, e então metade do seu corpo foi cortado, caindo na estrada. A outra metade caiu no banco traseiro do carro de Sissy.

A garota fora dividida ao meio pelo túnel.

A escuridão tomou conta do carro enquanto elas passavam pelo buraco nas rochas, e ouviam-se apenas os gritos histéricos de Tiffany, e os latidos ensurdecedores de John Travolta.

— Para o carro, Sissy! – Tiffany gritou.

— Eu não consigo, o freio...

— Para, agora!

— Não dá!

O carro então saiu do túnel. Tiffany abriu a porta do carona e pulou, diante das negativas de Sissy. Seu plano era cair no acostamento, e forçar a amiga a parar o carro, já que acreditava que Sissy estava blefando. Funcionou parcialmente. Sissy parou subitamente. Mas Tiffany não caiu no acostamento.

Ali não havia acostamento. Elas estavam na ponte que se seguia ao túnel. Tiffany abriu a porta do carro e caiu no abismo de cinquenta metros, gritando. Sissy ouviu o barulho abafado do grito dela, e então o “smash”, quando o seu corpo chocou-se contra a água. Sissy não viu, mas o corpo de Tiffany ainda bateu contra uma estrutura de concreto, sendo completamente esmagado.

E então, lentamente, escorregou para dentro da água.

John Travolta pulou junto com a dona, apenas para ter o mesmo destino. Outro “smash”, e outra massa disforme escorregou para a água.

Sissy continuava dentro do carro parado. O freio tinha voltado a funcionar.

Ela respirou fundo e então gritou o mais alto que pôde.


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Notas finais do capítulo

A tal "Juliet Collins" do livro que Pam encontra, é uma personagem dos livros de Final Destination, e ela viveu na Inglaterra na Era Vitoriana. No livro "Final Destination: Destination Zero", Juliet é a única sobrevivente do desastre que prevê e tal... E a bibliotecária, Ginger, é a mãe da Lily da minha primeira fanfic, só que como essa se passa em 1983, ela está novinha! XD Idem com o Bludworth, que aí tem vinte e poucos anos apenas.
Espero que comentem e gostem do capítulo, o quatro sai em breve!



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