Terça feira. Se tiver algo pior que segunda feira, com certeza é a terça. Minhas piores aulas estavam nesse dia: matemática, física e história. Será que tia Susana não poderia ligar para a escola e inventar alguma desculpa para me fazer sair daqui? Honestamente, escutar uma aula com a senhora Murphyme fazia desejar uma cama. Revolução Industrial não era um assunto gostoso de estudar. Como eu queria minha casa agora... Pensei suspirando calmamente. Olhei para a idosa que estava dando a aula de História. Enquanto eu fazia a aparência de aluna que estava prestando atenção em cada palavra que ela falava, minha mente voava alto.

Faltava quatro dias para o casamento de minha tia e as coisas estavam estressantes. Para começar, Mel estava deixando todo mundo louco, minha quase prima queria que tudo saísse perfeito e desde segunda, ela estava com o celular e uma prancheta que não desgrudava. Segundo ela era para que ela pudesse se lembrar de checar tudo e ver se está tudo ocorrendo do jeito que ela quer. Luce nem se fala, raramente está ficando em casa por conta do estresse, sempre vai para o apartamento do namorado – e eu não quero nem saber o que eles fazem lá. Tia Susana e Steve estavam se divertindo com a atitude de Mel e estavam bastantes despreocupados.

Só eu que não estava curtindo isso tudo. Deixa-me explicar melhor: eu estava bem nervosa por ser uma das daminhas e estava rezando para que eu não tropeçasse e pagasse mico na frente dos convidados. Estava até um pouco animada para o casamento, mas é que... Harry me pediu uma resposta. Uma resposta que até agora eu não tinha. Uma vez, Mel me aconselhou que eu deveria escutar meu coração. Da última vez que eu fiz isso, não foi tão difícil como estava sendo agora. Suspirei calmamente e percebi que eu estava escrevendo algo no meu caderno. Na verdade, eu estava escrevendo um nome.

- John? – Indaguei baixinho.

O nome do russo preenchia toda a minha folha. Antes que eu pudesse pensar alguma coisa sobre, escutei a senhora Murphy dispensar os alunos, mas antes, pediu para que fizéssemos as atividades dos capítulos 26 e 27. Ótimo, agora eu não só teria que aguentar Mel falar sobre os preparativos o resto da tarde como eu teria que fazer as atividades chatas. Arrumei minhas coisas e sai da sala um pouco pensativa. Como era a última aula, eu já poderia ir para casa. Não esperei Mel e nem Luce, se eu não teria tempo para por meus pensamentos em ordem pela tarde, eu poderia organizá-los enquanto eu ia para casa.

Deixei a grande estrutura que era minha escola e me dirigi aos portões. Uma grande frequência de alunos estava saindo. Alguns adolescentes saíam com seus namorados e suas respectivas namoradas; outros iam rindo com os amigos, ouvindo música e outros como eu. Caminhando sozinhos para qualquer canto. Assim que eu cheguei perto do portão eu escutei um grito e um pessoal dando risada alto. Aproximei-me para o que parecia um circulo de “amigos” e notei Ashley pedindo para que algum menino não rumasse alguma coisa.

- Alef, por favor, para! Isso não tem graça!

- Claro que tem Ash! É seu aniversário, é tradição que a gente jogue ovo na pessoa.

- Concordo. Vamos. Você sabe, é a tradição. – Um garoto alto falou.

Na hora que eu vi aquilo eu não acreditei. Lembrei imediatamente da noite do meu aniversário. Era como se tudo voltasse e eu me via aquele meio novamente. As sensações que eu senti naquele dia pareciam ter voltado e por um momento eu fiquei paralisada por recordar daquilo. Mas então, eu fiquei com raiva. Sem ao menos pensar o que eu estava fazendo, me dirigi ao grupo de garotos que estavam provocando todo aquele alvoroço e me postei em frente de Ashley.

- O que você pensa que está fazendo? – Perguntei irritada olhando furiosa para ele.

- Ei, sai daí. A gente não quer se sujar.

- É, não queremos. Apenas a Ash pode ficar sujinha, não concordam meninos? – O que parecia o “líder” começou a rir.

- Não acho engraçada essa atitude ridícula de vocês. Deixem-na em paz!

- Qual é, garota? Ninguém te chamou aqui.

- Vai brincar de bonequinha vai, deixa os homens cuidarem disso aqui. – Um baixinho falou.

- Homens? Não vejo nenhum homem, eu só vejo um bando de garotos idiotas. – Não desviei o olhar do líder do grupo.

- É o que? Tá chamando a gente de que, garota?

- Se querem serem chamados de homens comessem a se comportarem como tal. E deixa-me dar uma dica para vocês: jogar ovo em uma garota com certeza não é um comportamento de um homem de verdade.

- Ora... AGORA NÓS VAMOS JOGAR EM VOCÊ TAMBÉM!

- Não irá jogar ovo em ninguém, Alef.

Steve, como diretor da escola pareceu bem a tempo. Senti o garoto ficar assustado ao ver a figura do diretor tão próximo a ele. Os outros meninos pareciam terem ficado com medo já que não se mexiam e também não falavam nada.

- Você e sua turma irão me acompanhar agora. – Steve falou severamente, mas quando se virou para mim, sua voz estava normal, porém firme. – Nina e Ashley, acho melhor as duas irem para suas casas.

Escutei os meninos reclamarem sobre ter que escutar sermão do diretor e no fundo eu gostei daquilo. Sorri para Steve e notei ele dar um sorriso discreto para mim. Na escola, ele havia dito para mim, Luce e Mel que ele era o diretor e não teríamos tratamento especial por sermos da sua família. Então, eu já estava acostumada a encarar uma postura de Steve mais severa e determinada. Aos poucos o grupo de amigos se dispersaram, deixando eu e Ashley sozinhas.

- Porque você fez isso? – Ashley me perguntou surpresa.

- Isso o que?

- Você me defendeu! Você sabe que eu te odeio e mesmo assim me ajudou.

- Ashley, você não me odeia. Você odeia o fato de eu ter namorado o Harry. – Suspirei cansada. – Olha, eu passei pela mesma situação que você agora. Só que infelizmente, não tinha ninguém para impedir. O que eles queriam fazer com você era uma coisa errada.

- M-mas... Como você pode ser tão legal com alguém que foi tão ruim para você?

- Honestamente eu não sei. De alguma forma, eu não desejaria nem para o meu pior inimigo o que eu passei.

- Foi por isso que você terminou com ele? – A voz de Ashley estava estranha como se estivesse escondendo alguma coisa.

- É pessoal, desculpe. Hãm... Ashley... Eu preciso ir para minha casa agora. Até mais. Ah! É seu aniversário?

- Sim. É meu aniversário. – Ela parecia confusa.

- Bom, parabéns. Tome cuidado.

Sai antes de responde escutar a resposta dela. Em todo o percurso para ir a minha casa eu só conseguia pensar no porque eu ter feito aquilo. Ashley definitivamente não merecia nenhuma boa ação, contudo, me pareceu o certo a se fazer. Não demorou muito para eu chegar a casa, afinal, eu estava andando um pouco apressada. Como se quisesse deixar o que aconteceu há poucos instantes para trás. Felizmente fui a primeira a chegar em minha casa, o que foi bom, já que eu não escutaria tão cedo Mel falando nervosa no telefone, Luce suspirando e falando que iria dar uma “volta” por aí e tia Susana reclamando com ela.

Ignorando minha agenda de atividades escolares, fui direto para meu quarto e olhei meu notebook. Antes de ter saindo para escola hoje de manhã, eu havia deixado baixar o episódio 22 da série The Vampire Diaries, eu havia voltado a assistir a terceira temporada e agora eu já estava no último episódio. Apesar de todas as Bloodlines que eu conhecia querer que Elena ficasse com Stefan, eu queria que ela escolhesse o Damon. O cara se sacrificou tanto por ela e parece que a protagonista nem liga para isso. Nesse último episódio eu torcia para que ela finalmente entendesse que Damon era o melhor para ela.

Após um banho rápido e uma ida a cozinha, eu finalmente consegui voltar ao quarto e me acomodar em minha cama de modo que eu ficasse confortável ao assistir o episódio. Apertei o play e comecei a assistir. Aposto que se alguém estivesse vendo eu assistir aquilo, falariam que eu era louca. Porque eu interagia com os personagens mesmo sabendo que não tinha como eles me escutarem. Era mais ou menos assim: “Jeremy e Matt parem com isso, vocês vão estragar tudo!”, “MEU DEUS! CHAMA DAMON E STEFAN!” ou então “Bonnie ajuda, não tá vendo que Alaric está louco?!” Na última cena, meu coração se apertou e senti que eu iria chorar.

Elena tinha sido sequestrada por Matt – para seu próprio “bem” – quando ela recebeu a ligação sobre Klaus. Alguém havia matado o hibrido, e segundo a série, como ele era um vampiro Original, matava todos os vampiros o descendia. O que incluía Damon e Stefan, assim como Caroline e Tyler. Eles estavam na estrada, fugindo de Mystic Falls. Elena tinha que fazer uma grande decisão. Era agora que descobriríamos se ela ficaria com Damon ou Stefan e particularmente eu estava rezando para ela escolher o Damon. Ela precisava ficar com ele. Eram perfeitos um para o outro. Todo mundo via isso, menos ela.

“Damon está a 100 milhas da cidade”, Matt disse. “Eu posso continuar dirigindo até ele ou eu posso dar meia volta e voltar para o Stefan. É sua escolha”.

No mesmo momento ela ligou para Damon. E então eu descobri o que ela escolheu. Elena continuava conversando com Damon enquanto voltava para a cidade – para ver Stefan, Caroline e Tyler.

“Se estivesse apenas entre eu e ele e você tivesse que escolher para quem dizer adeus, quem seria?” Damon perguntou.
“Eu amo ele, Damon”, ela disse. “Ele apareceu na minha vida em um momento em que eu precisava de alguém e eu me apaixonei por ele instantaneamente. Não importa o que eu sinta por você, eu nunca deixei de amá-lo”.
“Sim, eu entendo. Stefan. Sempre vai ser o Stefan”.

Como ela pode ter escolhido ele? Sério, eu queria entender isso! Damon havia feito tudo por ela e... Ela escolheu Stefan? Por um momento eu me identifiquei com Elena. Ela assim como eu, teria que escolher entre um dos. E igual a mim, ela também iria magoar um dos lados. Com certeza enganar um dos dois, iria ser pior. Se eu gostasse mesmo deles, eu tinha que deixar um livre para que este pudesse ser feliz com alguém que realmente o merecesse. Talvez, eu já soubesse o que era melhor para mim.