Atolados! Essa era a palavra que definia a situação de Josh e Elena. A neve nas avenidas estava alta devido as constantes nevascas que abalavam a cidade. Ao notar que levariam muito tempo para chegar ao hospital onde Damon estava internado, Elena sentiu um aperto dentro do estômago.

Sua ideia genial era aliviar os pneus. O frio estava insuportável e a morena fazia um grande esforço para tirar a neve que a impedia de ir ao encontro do namorado. A cada investida, Elena sentia o coração doer. O desespero tomava conta de seu corpo ao perceber que nenhum esforço investido estava adiantando.

Maldita hora que fizeram essa ligação, pensou Elena enquanto removia as luvas das mãos e sentia o corpo tremer mais uma vez ao cravar as unhas na neve. Sua respiração ficava ofegante a cada movimento e o ar saia cortante dos pulmões. Enquanto ela tentava desatolar o carro de Josh, Damon estava no hospital e só Deus sabia o que estaria acontecendo.

Josh tentava ajudar Elena do outro lado do carro. Por mais que tentasse tirar a neve dos pneus, ele não deixava de observar a raiva da jovem contra aquele bloco que atrapalhou todos os seus possíveis planos. Não sabia ao certo o que estava acontecendo e, para não receber uma bronca, preferiu fazer sua parte em silêncio.

Perder Elena para Damon ainda doía. Josh não conseguia separar seus sentimentos com relação à garota que havia mudado desde que voltara para NY. Ela estava mais triste, longe do brilho que sempre o animava e que fazia qualquer pessoa perto dela se sentir a vontade. Parecia que o novo namorado era uma tempestade ininterrupta, que a impedia de ser Elena Gilbert, a garota que todos gostavam e matariam para ser.

Ao fazer uma pausa para respirar, foi sobressaltado com a atitude repentina de Elena. Ela havia se erguido rapidamente e virado as costas para o local onde estavam. O máximo que conseguiu ouvir foi o som da garganta forçada expelindo algo que ele deduziu ser o café da manhã da jovem.

Sem pensar duas vezes, ele caminhou até ela e passou um braço sobre seus ombros. Ela queria voltar ao trabalho, mas Josh a segurou contra seu meio abraço, fazendo-a encará-lo. Ela sabia que ele a seguraria o tempo que fosse preciso. Era um mal dele, ser muito protetor.

– Não podemos perder tempo, Josh. - disse ela sentindo o ar sair com dificuldade. - Preciso chegar ao hospital para saber como Damon está.

– E você não consegue ligar para o hospital e perguntar ao Tyler como ele está? - indagou Josh com a testa enrugada. - Eu posso pedir um guincho, Elena, basta você deixar de ser teimosa e me permitir que faça isso.

– O guincho vai demorar muito. Vamos continuar cavando.

Quando ela fizera menção em voltar, sentiu seu estômago embrulhar mais vez. Afastou-se rapidamente de Josh e deixou o que restava dentro de seu estômago ser despejado na neve.

– Elena você está bem? - perguntou Josh preocupado.

Já fazia uma semana que ela se encontrava naquele estado. Tudo que batia no seu estômago era jogado para fora horas depois. Elena colocava a culpa no estresse devido não só ao estado de Damon, mas também com relação ao seu trabalho e ao seu futuro.

– Estou bem! - respondeu ela limpando a boca. - Só estou enjoada. Acho que o café não me fez bem.

Josh a encarou com a mesma expressão. Poderia ser enganado algumas vezes, mas não com tanta frequência. Sabendo os riscos que correria ao colocar certas cartas na mesa, ele arriscou:

– Posso fazer uma pergunta ridícula?

– Espero que esteja ciente dos riscos. Se você for falar mal de Damon, esqueça, pois não vou querer ouvir.

– Não é sobre Damon. - afirmou Josh, pousando as duas mãos nos ombros de Elena. Notou que ela estava pálida e com o olhar desnorteado.

– Então é sobre o quê? - perguntou ela, colocando as luvas de volta.

– Você está... Bem... Atrasada?

Elena arregalou os olhos e tentou acertar um tapa em Josh que logo foi contido pelos bons reflexos do rapaz, adquiridos nos jogos da escola. Elena estava horrorizada, sentindo sua privacidade ser invadida.

– Isso não é pergunta que se faça Josh. - retrucou ela indo em direção ao carro.

– Desculpe ser intrometido, mas sou um quase médico e vômitos, às vezes, podem estar relacionados a outros assuntos que não são nada comparados a distúrbios alimentares.

Ela não queria dar ouvidos. Voltou a tirar a neve dos pneus com a mente longe. Queria ir embora. Queria ver Damon.

– Elena, desculpe, não queria ofendê-la.

Um suspiro fora ouvido. Josh voltou ao outro extremo do carro e passou a cavar. O silêncio era incômodo, como se a garota que estivesse ao seu lado fosse uma tremenda desconhecida.

Elena sabia aonde Josh queria chegar, mas a cogitação de estar grávida não veio a sua mente até aquele momento. Sua primeira relação íntima com Damon não poderia ter sido tão catastrófica a ponto de fazê-la gerar um filho que não teria condições de cuidar.

Um aperto sufocante tomou conta de seu peito. Suas mãos estavam dormentes e seus olhos se encheram de lágrimas quentes que segurava com esforço para que elas não caíssem em seu rosto. Não queria se mostrar fraca perante Josh. Ele sabia muito bem como ela sempre foi uma pessoa forte e supercentrada em lidar com situações difíceis.

Mas a situação de Damon estava no limite. Eles começaram a namorar e tudo estava bem. Depois descobriu a doença e sentiu suas preocupações pessoais se desviarem totalmente para ele. Não dormia, não trabalhava direito e em qualquer lugar em que se apoiava se debulhava em lágrimas.

Ela estava com medo do que poderia acontecer como-garoto-que-sempre-odiou. Os pais de Damon não a suportavam o que fazia tudo ficar mais complicado, pois não tinha para onde fugir. Se ao menos pudesse contar com Meredith, tudo seria mais reconfortante. Não queria preocupar seus tios com o assunto, pois eles tomariam suas dores e não a deixariam viver como ela queria. Sua única saída era Bonnie e agora, contra sua vontade, Josh.

Seus ombros estavam cansados e ela percebeu que não teria jeito a não ser chamar o guincho. Saiu da posição de cócoras e sentou-se sobre a neve. Sentiu as bochechas quentes e o corpo ceder à fadiga. Josh a observou mantendo o silêncio, vendo-a ranger os dentes discretamente.

– Eu estou atrasada há uma semana se quer saber. - disse Elena repentinamente. Seu cérebro estava lento o que a impedia de raciocinar.

– Elena... - Josh parou de cavar e foi até ela. Sentou-se ao seu lado e pegou uma de suas mãos. -... Eu não queria ser intruso na sua vida, desculpe, mas você tem um namorado e com certeza teve relações com ele. - Josh sentiu o olhar acusador de Elena em sua direção e apressou-se a se corrigir: - Não que isso me importe!

– Eu fiz aqueles testes ridículos de farmácia, mas deram negativo. Acho que estou assim devido ao estado de Damon.

– Você pode me odiar, mas você precisa se focar em outras coisas além de Damon.

– Você tenta me reconfortar, mas não consegue, sabia?

Elena se levantou e tirou a neve dojeans. Josh fizera o mesmo, parando diante dela com os lábios contraídos.

– Não vou retirar nada do que eu disser, principalmente quando afirmo que Damon não é o cara para você. - disse Josh com veemência. - Eu gosto de você, Elena e não quero vê-la sofrer à toa.

– Damon estar em uma cama de hospital é sofrimento à toa? - perguntou ela com rispidez.

– Eu entendo o caso do Damon, mas acho que ele gostaria que você vivesse um pouco e o ajudasse quando fosse oportuno.

– Josh, você não sabe nada do que está falando.

Ela lhe dera as costas e tirou o celular do bolso. Estava sem sinal. Ambos estavam no meio do nada com um celular sem sinal. Como sairiam dali?

– Eu não sei metade do que acontece porque você não me conta. - disse Josh, seguindo-a. - Antes de ser seu namorado eu fui seu amigo.

– Meu melhor amigo se chama Tyler, obrigada!

– Acho que essa resposta me põe no lugar que mereço.

Elena ouvir os passos de Josh retroceder e sentiu a culpa tomar conta do seu corpo. Não podia maltratá-lo. Ele a estava ajudando de uma maneira muito significativa e não era qualquer um que emprestaria uma fortuna para pagar o tratamento de uma pessoa que nem ao menos gostava.

Caminhou atrás de Josh que estava dentro do carro. Era nítido o estresse estampado na sua face e percebeu que ele estava no celular. Ao contrário do seu aparelho já antigo, parecia que ele havia conseguido o guincho que os tiraria de onde estavam.

Ao entrar no carro, Josh não a encarou. Ficou mudo, tamborilando os dedos no volante como se ela não estivesse ali.

– Pare! - pediu ela apoiando uma de suas mãos sobre a dele. Sem explicação, pôde sentir uma eletricidade mútua perpassando de seus dedos até seu corpo. - Desculpe ter te tratado daquela maneira. Estava fora de mim.

Ele respirou fundo. Não queria começar uma briga com Elena.

– Quando disse que gosto de você é a mais pura verdade. Eu gosto muito de você, Elena. - ele virou o rosto e, pela primeira vez, ela notou que deveria estar sendo uma tortura ele estar ali, sabendo que ela pertencia ao eterno rival. - Não quero te machucar ou te ver ferida. Sei que essa situação está fora do seu alcance, mas você não pode esquecer-se de quem você é e do que quer para si mesma. Imagino o quanto Damon seja importante, mas ele não pode te apagar. Sinto falta do que você costumava ser não só comigo, mas com as outras pessoas. Agora te vejo como uma garota desesperada a ponto de ficar depressiva. Se isolar e só pensar no Damon não vai te fazer se sentir melhor. Só irá acabar com você.

Elena ouviu o discurso de Josh com muita atenção. Em certos pontos, ela reconhecia que ele tinha razão, mas não podia abrir mão dos seus desejos e abandonar Damon naquele estado. Ele não estava com uma crise de resfriado, estava com leucemia. Só de pensar nessa palavra sua garganta ficou tão seca que foi tomada por um acesso de tosse.

– Hei! Calma! - Josh segurou a mão de Elena tentando acalmá-la.

– Tudo bem! - ela se abanou, pigarreando. Lentamente, se recompôs e manteve os olhos firmes nos de Josh. - Eu sei que você está preocupado e eu não sei lidar com esse tipo de atitude muito menos com esse tipo de situação. Você, melhor do que ninguém sabe que eu jamais imaginaria que algum dia eu namoraria Damon Salvatore. Ele sempre foi imaturo, uma criança no corpo de um adulto. Mas, no fundo, eu sempre senti que alguma coisa nos unia. Algo inexplicável. Nunca senti falta dele e agradeci muito por ele ter saído de NY na primeira oportunidade. - ela retomou o fôlego, segurando a mão de Josh com mais força. - Eu sinto saudades do que eu era, mas não consigo voltar. Aquela Elena não existe mais.

– É claro que ela existe, Elena, você só a camuflou com a sua dor.

As lágrimas voltaram a tomar conta de seus olhos. Sentia-se pequena e insegura. O medo que sempre lhe afligia veio à tona fazendo-a sentir um frio na espinha.

– Mesmo que eu seja mais velho que você, te conheço desde que éramos crianças. Sei das suas capacidades e também sei que você não se entregaria de corpo e alma para uma pessoa que você não gostasse de verdade.

– Josh, eu gostei de você. Gostei muito!

– Mas nunca te vi me olhar como você olha para o Damon. - disse Josh, dando de ombros. Era difícil admitir aquilo, mas era a realidade. Elena jamais foi sua por inteiro. - Você nunca gostou de mim como gosta do Damon, mas isso é irrelevante agora. Acho que, de todas as pessoas além de Bonnie, sou uma das que lhe restam para conversar e, no que for possível, eu quero estar ao seu lado para te ajudar.

Ela deixou as lágrimas caírem. Não estava aguentando segurar tantos sentimentos dentro de si. Queria xingar todo mundo, socar as pessoas para encontrar respostas que explicassem os motivos dela estar naquele drama. Se soubesse que ficar com Damon seria tão complicado, talvez, teria recuado na primeira oportunidade.

– Eu não sou digna de ter uma pessoa como você ao meu lado, Josh. - ela levou as mãos ao rosto, enxugando as lágrimas com as costas das mãos. - Eu não mereço você.

– Merece sim! - o confirmou com um aceno de cabeça. - E não quero que meus sentimentos por você interfira em qualquer decisão sua. Se você não me quiser por perto, eu vou entender. Independente do dinheiro que te emprestei, eu não ligo.

Elena sentia que cada palavra de Josh agia como um soco em seu rosto. Ele não poderia estar falando sério, poderia? Ela o conhecia bem para saber que ele não mentiria, mas só uma pessoa com sangue de cobra poderia agir daquela maneira.

– Mas eu ligo! - ela disse, encarando-o com firmeza. - Eu me importo com seus sentimentos, Josh. Não quero que ache que estou te usando ou qualquer coisa parecida.

– Sei que você não está me usando, Elena. Você não é assim.

– Então, está querendo dizer que você colocaria suas mãos no fogo por mim?

– Sem pensar duas vezes!

Ela continuou a encará-lo. A declaração dele foi um baque certeiro. Questionou por alguns segundos, aproveitando o silêncio sem resposta, para se perguntar se havia feito à escolha certa em ter terminado com Josh.

– Josh, como já disse, eu não mereço você. - disse ela, largando a mão do rapaz e voltando a fitar a neve que parecia diminuir.

– Pare de dizer bobagens, Elena. Companhia melhor que a minha não existe.

Ela dera um riso abafado e o fitou mais uma vez. Dessa vez, ela parecia mais alarmada do que antes.

– O que eu vou fazer se estiver grávida, Josh? - ela perguntou, controlando uma ponta de desespero na voz. - Os pais de Damon me odeiam e ele não está em condições de me sustentar. Não que eu precise, pois tenho emprego, mas cuidar de um bebê não é tarefa fácil.

– Quando chegarmos ao hospital eu dou um jeito de fazer exame de sangue em você. Pode ser de urina também, se preferir.

– Tanto faz! - ela voltou a fitar o lado de fora e viu a luz de dois faróis na direção deles. - Só não conte para ninguém, por favor, nem menos a Bonnie.

– Seu segredo está salvo comigo.

Ela meneou a cabeça positivamente. Abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas desistiu ao ver Josh sair do carro para ir de encontro dos responsáveis pelo guincho. O observou pelo vidro e sentiu um solavanco dentro do estômago e temeu que fosse vomitar mais uma vez. A morena não podia negar que o ex-namorado continuava dono de qualidades que a fizeram se apaixonar por ele sem pestanejar.

April estava desesperada. Assim que havia chegado ao hospital para visitar Damon, vou pega de surpresa com a notícia de que ele estava em uma cirurgia. A noite começava a cair aumentando ainda mais o desespero da loira que perambulava de um lado para o outro, aflita.

Não havia encontrado Tyler e se espantou em não dar de cara com Elena. Internamente, sentia-se feliz por ela não estar presente, pois isso significaria que Damon não iria lhe dar atenção e se renderia apenas à namorada.

A mente de April trabalhava a mil por hora naquele momento. Não entendia porque se sentia daquela forma. Queria ver Damon antes que pudesse explodir. Por mais que estivesse ali desde o começo da operação, parecia que nenhum médico estava disposto a te deixar atualizada por não ter nenhum grau de parentesco com ele ou, claro, ser a garota com quem ele estava comprometido.

Toda vez que pensava no termonamorar, ela não conseguia tirar Elena de seus pensamentos. Estava de bem com a garota, mas toda essa história cheia de reviravoltas a incomodava. Agora, para piorar tudo, estava brigada com Stefan, o único que ainda lhe dava um pouco de atenção desde que voltara para a cidade.

Ela sentia tudo diferente. Nenhuns dos garotos agiam como se fossem amigos e Elena se limitava apenas a Bonnie. Não podia contar com Katherine, pois ela parecia ter se desvinculado de uma vez do grupo e não dava notícias. Por sempre se dar melhor com os garotos para conversar, April se sentia sozinha. Damon e Stefan eram duas ilusões distantes já que um não olharia mais para sua cara e o outro só gastava o tempo com a garota que sempre sonhou namorar.

Ao pensar nisso, sentiu uma injúria. O seu "rolo" com Damon não fora um relacionamento e aquilo a deixava muito mais confusa com relação a maneira como vinha agindo. Damon estava doente e, pelo que parecia, Elena não se importava. Pelo que andou ouvindo, os pais do rapaz a boicotaram por completo o que poderia tê-la desanimado de namorá-lo. Refletir dessa maneira fez com que April se sentisse esperançosa.

Acreditar na própria mentira vinha sendo uma das melhores soluções que April escolheu para se reconfortar. Os dias estavam estranhos e difíceis, como se todos estivessem com uma arma apontada na cabeça e com uma grande decisão que resolveria sua vida para sempre.

Seu coração começou a bater a mil quando vira a silhueta de Tyler no corredor. Por mais que ele não fosse médico formado, ele estava envolvido no caso do amigo e ninguém melhor do que ele para lhe dar informações. Seus pés logo a levaram ao encalce do rapaz que parecia cansado e ao mesmo tempo mal humorado.

– Tyler!

Ele se virou na direção da voz e ficou surpreso ao ver April e não Elena. Confuso, lhe ofereceu seu melhor sorriso e esperou que ela o alcançasse.

– April!

– Como está Damon?

– Como sabe do Damon?

– Eu cheguei aqui e ele já havia entrado na sala de cirurgia. Fiquei desesperada!

– Você avisou Elena?

A amargura de April transpareceu em seu olhar ao ouvir o nome da amiga.

– Pensei que alguém daqui tivesse avisado, afinal, ela é namorada dele.

Tyler a observou por alguns minutos em silêncio. Mais disse:

– Ele está em cirurgia ainda. Damon teve uma séria recaída e a quimio não estava respondendo como o esperado. - Tyler explicou, superficialmente. Se abrisse mais o jogo, brigar com Elena mais tarde era uma aposta certeira.

– E ele vai ficar bem?

– Acredito que sim!

– Onde estão os pais dele, Tyler?

– Vá devagar com todas essas perguntas, April.

– Como devagar, Tyler? Damon pode estar morrendo lá dentro e não há sinal nem de Elena e nem dos pais dele.

– Damon não está falando com os pais há algum tempo. Eles não virão.

April ficou surpresa. Damon sempre tivera uma boa relação com os pais. Era um susto muito grande saber que eles não falavam com o filho entregue a uma doença completamente incerta.

– Você precisa informá-los, Tyler. Não importa se eles não se falam. É no Damon que precisamos pensar.

– Eu sei, mas não há nada que se possa fazer.

Ela se calou ao ver uma silhueta vindo pelo mesmo caminho do qual Tyler havia surgido segundos atrás. Um deles, um senhor de idade, chamou o rapaz de canto. Alívio foi o que April vira nos olhos dos dois homens.

– Damon está bem! Está indo para o quarto agora. - avisou Tyler assim que se postou ao lado da ruiva mais uma vez.

– Que maravilha! - exclamou April, colocando a mão no peito. Poderia ver Damon e fazer companhia como havia traçado para aquele dia. - Poderei vê-lo?

– Acho que sim! - Tyler não estava gostando da ideia de ter April ali. Gostava dela, mas sabia que ela e Elena tinham um desentendimento. Por entender pouco de mulheres, sabia que a morena ficaria cheia de ciúmes ao ver a ruiva no quarto do namorado recém-saído de um procedimento operatório. - Irei falar com o doutor, espere aqui.

O coração de April batia forte. Parecia que ia sair pela garganta. Mal podia conter o sorriso. Estava torcendo para que conseguisse ver Damon para fazer com que seu dia fechasse com chave de ouro.

– Você pode vê-lo, mas ele está anestesiado. Irá demorar a acordar. - avisou Tyler com as duas mãos dentro do jaleco.

– Não tem problema! Logo irei embora mesmo. Só quero saber se ele está bem.

– Então venha comigo!

April sabia que Tyler a estava tratando daquela maneira por ser amigo de Elena. Sabia que sua presença ali seria motivo de briga, mas ela não estava ligando. Queria ver Damon e ponto final. Elena poderia ficar vermelha, azul ou laranja, mas dali ela não sairia até estar perto do garoto.

Ao entrar no quarto sentiu uma tristeza repentina ao dar de cara com a situação de Damon. Ele estava mais branco do que de costume e muito mais magro. Ocorreu em sua mente que ele parecia ter morrido. Os aparelhos funcionavam silenciosamente e uma enfermeira fazia notas do estado dele antes de deixá-los.

– Vou ficar lá fora. Qualquer coisa me chame! - disse Tyler, dando-lhe as costas e fechando a porta atrás de si.

– Ok! - concordou ela.

April esperou até ouvir oclickda porta para se aproximar de Damon. As batidas do seu coração estavam mais fortes e tudo só ficou pior quando segurou uma das mãos dele. Não queria ir embora. Naquele momento, se perguntou o que ele fazia com Elena. Os pais dele não gostavam dela e ela não era garota para ele. Vagamente, lembrou-se da pergunta que havia feito para Stefan antes de sair de casa e a resposta era mais clara que cristal: todos preferiam Elena. Ela sempre foi a mais inteligente, a mais simpática e a garota que mais atraia o número de garotos apaixonados sem esforço.

Lembrou-se de Josh e sua obsessão pela morena Quando os dois começaram a namorar ela não pôde negar que sentiu uma ponta de inveja já que ele era o garoto mais velho mais bonito da escola. April sempre tentou entender o que Elena tinha de tão grandioso para conquistar tanta gente.

E agora ela tinha Damon. Como as garotas o chamavam, opreciosoDamon. Ele sempre foi apaixonado por ela e April tinha consciência de que eles só haviam dormido juntos no baile de formatura porque ele não tinha outra opção. Uma raiva instantânea começou a tomar conta de seu ser e recolheu a mão que segurava a de Damon.

Ele respirava lentamente. Parecia até um anjo. Ela, então, levou sua mão até os cabelos negros do rapaz e começou a acariciá-los. Queria que ele estivesse acordado naquele momento para que pudessem conversar bobagens como sempre acontecia quando aparecia para visitá-lo.

Sua mente estava muito longe dali. Imaginou-se até como namorada dele. Ela sorria sozinha quando ouviu mais uma vez oclickda porta. Pensou que fosse Tyler ou a enfermeira, mas sentiu o corpo enrijecer ao ver que Elena cruzara a porta com Josh nos calcanhares.

– O que você está fazendo aqui?

Foi a única coisa que Elena conseguiu pronunciar. Tyler apareceu logo atrás a segurando pelo braço com medo de que ela avançasse na direção de April.

– Vim visitar Damon, apenas isso. - explicou-se April, tirando a mãos dos cabelos de Damon.

– E, para visitá-lo, precisa fazer carinho também?

– Elena, eu não quero discutir com você.

– Muito menos eu. Ainda mais porque parece que a conversa que tivemos não valeu de nada. - Elena se desvencilhou de Tyler e cruzou os braços. - Saia daqui! Agora!

– Você não é ninguém para pedir que eu saia.

– Você não é da família dele muito menos sua namorada.

April afastou-se da cama de Damon e caminhou até onde os três estavam.

– Você também não é da família, pois os pais de Damon não gostam de você. Esqueceu-se desse detalhe?

– Não, não esqueci! - respondeu Elena, tentando manter a calma. Sabia que April usaria golpes baixos para desmoroná-la. - Mas ao menos eu sou a namorada, então, peço por gentileza que saia.

– Com prazer!

O sapato de April ecoou pelo soalho duramente. Esbarrou em Elena antes de sair, encarando-a com extrema fúria. Quando a porta se fechou mais uma vez, a morena sentiu que finalmente poderia respirar.

– Desculpe Elena. Pela April. - disse Tyler receoso.

– Tudo bem! Não é culpa sua. - disse Elena virando-se para ele. - Como ele está?

– Está tudo bem com ele... Não há com o que se preocupar. Não por enquanto.

– Certo! - Elena abriu a bolsa e a vasculhou à procura da carteira. Quando a encontrou, pegou um pequeno papel dobrado ao meio e o entregou para Tyler. - Esse é o dinheiro para cobrir o tratamento de Damon. Pelo menos por enquanto até eu pensar em alguma outra coisa.

Tyler abriu o papel e ficou horrorizado. A quantia manteria Damon em seu tratamento por pelo menos mais seis meses.

– Elena, como você...

– Eu emprestei! - cortou-o Josh, calmamente. - Não conte ao Damon de onde veio esse dinheiro, ok? Diga que todo mundo se comoveu e resolveu juntar uma grana. Acho que dá para enganá-lo por enquanto.

– Se Damon souber que pedi dinheiro para Josh ele vai ficar furioso.

– Entendi! - Tyler dobrou o papel mais uma vez e o colocou no bolso. - Manterei em segredo, não se preocupem. Só não deixem mais ninguém saber.

– Ninguém saberá! - disse Elena respirando fundo. - Nem mesmo Stefan pode saber.

– Não sairá daqui. - prometeu Tyler dando um meio sorriso. - Bem... Acho que Josh e eu devemos te deixar sozinha com Damon.

– Sim, irei ficar um pouco com ele antes de ir para casa. - Elena virou o rosto por alguns segundos na direção de Damon e depois se voltou para Josh. - Se quiser ir embora, não tem problema.

– Irei te esperar. Temos outra coisa para resolvermos ainda.

Um clarão, como um raio, atingiu o cérebro de Elena fazendo suas pernas ceder. Lembrou-se de que faria um teste de gravidez e que Josh seria seu cúmplice.

– Verdade, havia esquecido. - ela tocou a própria testa com uma expressão cansada. - Prometo não demorar.

– Leve o tempo que precisar. - disse Josh, lhe dando um beijo na testa por impulso. Tyler observou a cena calado. - Vamos, Tyler!

Elena esperou os dois saírem do quarto. Deixou à ira que sentia por April se esvair e ocupou o sofá que estava próximo da cama de Damon e aguardou. Mais do que nunca queria que ele acordasse, para dizer o quanto o amava e que não o deixaria sozinho por nada no mundo.

Continua...