Bella POV – Atualmente – França

As estrelas brilhavam no céu como eu nunca vi antes. Talvez seja pelo fato de que eu nunca gastei mais de dois minutos admirando a beleza da noite. Sorri enquanto fazia desenhos imaginários com meus dedos no ar.

Thierry estava ao meu lado com a expressão triste após insistir mais uma vez que eu não vá embora.

Thierry era como um irmão. Carinhoso, possessivo e preocupado, até demais. Mas eu não estava reclamando. Eu não gostava de muito contato com vampiros e me apegar tanto a Thierry foi mais do que uma surpresa.

Conhecemos-nos há três anos quando fui para a Itália conhecer o clã Volturi. Thierry era parte da guarda há pouco tempo, e quando soube que existia um modo de se alimentar que não envolvia matar humanos, se ofereceu há passar um tempo comigo para aprender meu estilo de vida. Depois de meses juntos sobre o mesmo teto, descobrimos que tínhamos mais em comum do que o respeito pelos humanos.

Thierry me olhou quando ouviu meu suspiro pesado. Sorri para ele, mostrando que eu estava bem. Mas eu não estava, e não tinha certeza se ele podia ver isso.

Eu sentiria falta daqui. Falta da França, do sol, e do meu amigo excêntrico e carinhoso. Por mais que eu quisesse ficar aqui em Paris, eu não conseguiria. Eu não sabia viver com mais alguém, e gostava da liberdade de fazer qualquer coisa sem ninguém me observando.

– Você não precisa ir Bella! – e lá vai ele, mais uma vez tentando mudar minha mente. – Fique comigo, eu não quero que fique sozinha. Tenho medo de que algo aconteça com você!

– Nada acontecerá! Não se preocupe. Eu sou uma vampira, afinal de contas!

Tentei persuadi-lo a aceitar minha ida, mesmo em vão.

– Bem, você pode até ser uma, mais não se parece em nada com uma vampira! – riu levemente.

Era verdade, eu não me parecia uma vampira graças a meu poder de camuflagem.

Apesar de extremamente pálida, minha pele tem um leve rubor, diferente dos outros vampiros. Meus olhos ainda eram castanhos, e eu podia dormir se quisesse. Eu podia até mesmo disfarçar meu próprio cheiro, mas isso não enganava os vampiros totalmente, já que não havia sangue em minhas veias, por tanto eu não cheirava como um humano.

– Nada do que disser me fará mudar de idéia. – disse a meu amigo na intenção de fazê-lo parar de tentar me convencer. Novamente.

– Não custava tentar. – suspirou desviando o olhar.

Estávamos deitados em um lugar bem afastado de onde os humanos ficavam, mas aqui tinha uma linda vista da Torre Eiffel. Estávamos aqui o dia inteiro, admirando a cidade em um sinal de despedida.

– O que fará quando chegar a Forks? – perguntou depois de alguns minutos em silêncios. Pensei um pouco antes de responder, por que na verdade eu não sabia. Eu só arrumei uma casa, um carro, me matriculei na escola e o resto será como Deus quiser.

– Eu vou para escola. – disse baixinho. Escutei sua risada irônica e virei meu corpo para olhá-lo.

– Posso saber qual é a graça? – perguntei lhe lançando um olhar, fingindo estar irritada.

– É que eu já devia imaginar que você faria algo assim. Você adora os humanos. – ele fez uma careta desgostosa.

– Eu nunca tive muito contato com eles quando era humana e sempre quis saber se todas as pessoas eram iguais as que eu conheci. – murmurei voltando a olhar o céu e me perdi em pensamentos.

Foi inevitável lembrar tudo o que aconteceu quando eu era humana.

As lembranças mais vividas eram de quando fui seqüestrada. Seqüestrada pelo sádico vampiro. James.

Eu me lembrava perfeitamente das seções de tortura que ele infligia a mim.

Fechei os olhos por um momento, e como uma torrente as lembranças vieram, mais dolorosas do que nunca.

James me levando para a cabana imunda. James me batendo, quebrando meus braços, minhas pernas. E a mais dolorosa de todas: James me violentando.

Abri os olhos abruptamente e balancei a cabeça tentando me livrar das lembranças. Isso foi em vão, é claro. Minha memória era perfeita. Eu nunca esqueceria!

Eu nunca soube exatamente por qual motivo James me seqüestrou. No começo eu pensava que ele era muito sozinho, e só queria uma companhia, mesmo a torturando. Mas com o tempo percebi que não era isso. Ele simplesmente sentia prazer em torturar. Sorria a cada lágrima que eu derramava.

“Acabou, já acabou, ele jamais chegará perto de você novamente!” eu repetia como um mantra vez ou outra para afastar essa angustia de meu peito.

Eu não sei por que ele me deixou viva. Ele já havia avisado que me mataria. Mas depois que acordei de minha transformação, eu estava sozinha na cabana que passei a fase mais miserável de minha vida. E nunca mais o vi.

– Eu não conseguiria ficar tão próximo a humanos. – Thierry murmurou ao meu lado, me tirando de meus devaneios. – Não é só pela sede de sangue, é que... Eu não conseguiria me apegar a alguém sabendo que eu viverei para sempre e humanos estão mais perto da morte a cada segundo.

Ele suspirou ainda sem me olhar.

– Acho que é por isso que prefiro humanos a vampiros. Vampiros não vivem, só existem. A eternidade se resume a beber sangue. – seus olhos estavam em mim, talvez tentando entender o que eu queria dizer pela minha expressão.

– Humanos não são como vampiros. Eles vivem. Eles contam as horas para cada dia acabar, sem perceber que a vida vai passando. Eles têm propósitos, tem sonhos. Eles têm vida! A morte a meu ver é como uma missão cumprida.

Eu não desejava ser humana. Mas não podia deixar de invejar a facilidade de ser um. Casar, ter filhos, ter uma vida... Isso era tudo o que eu queria. E eu teria se não fosse o James.

Eu não me lembrava de minha família humana. Depois de alguns anos com James as lembranças deles simplesmente sumiram. Não me lembrava nem o nome de meus pais. Só o que lembrava era que minha mãe simplesmente me odiava. E eu nunca soube nem mesmo o motivo.

– O que vai fazer depois que eu for embora? – questionei abandonando os pensamentos que só me traziam dor.

– Ficarei mais um tempo aqui em Paris. Foi onde nasci e senti muita falta disso! – sorriu. – E depois voltarei para os Volturi. Tenho alguns assuntos não resolvidos na Itália.

– Esse assunto tem algo a ver com Jane? – perguntei divertida vendo-o ficar desconfortável com minha pergunta.

– Pode ser! – respondeu dando um sorriso amarelo. – Isso é tão estranho Bella. Estranho e maravilhoso ao mesmo tempo. Em um minuto eu era simplesmente eu, e no outro eu era dela. E eu nem sei se ela sente o mesmo por mim.

Suspirou derrotado, abaixando a cabeça.

– Ela sente! – afirmei.

– Como sabe disso? – perguntou com um brilho de esperança no olhar.

– Não é obvio? Você não reparou o jeito que ela te olhava? E como ela parecia querer me matar quando Aro disse que você sairia da guarda para viver comigo? – ri de seu semblante surpreso.

– E... Eu... Eu não... – ele gaguejava incapaz de pronunciar uma frase coerente.

– Não se preocupe! Quando voltar a Itália você resolverá isso!

Eu nunca pensei em encontrar o amor, nem mesmo acreditava que havia alguém no mundo para mim. Mas ver o amor que meu amigo sentia pela vampira psicopata, me deu um pouco de esperança.

– Claro! – sentou-se. – Mas agora acho que devemos ir. Já está quase na hora de ir para o aeroporto. Promete que vai ligar todos os dias? E que vai me visitar na Itália?

– Prometo! Não se preocupe com isso. – assegurei. – É claro que você terá que me visitar também!

– É claro que irei. – em um pulo se levantou e corremos o mais rápido que nossa velocidade vampiresca permitia, e em instantes estávamos em nossa casa.

*~~~~*

E aqui estava eu, em meu novo carro indo para a chuvosa cidade de Forks, que de agora em diante será meu novo lar.

Era uma cidade pequena, então eu teria que ser bem discreta. Ri levemente. Eu não era uma pessoa muito discreta, minhas roupas diziam isso. Eu não era o tipo de pessoa que implorava por atenção, mas também não me importava se ganhasse.

Eu não via a hora de ir para a escola.

Pode parecer estranho alguém empolgado sobre ir para escola, mas eu nunca freqüentei uma antes. Não que eu precisasse. Depois de ser transformada eu vivi pelo mundo. Aprendendo línguas, culturas, e tudo mais. Eu com toda certeza sabia muito mais do que todos os professores dessa escola.

Estacionei em frente à casa que Thierry comprou. Ela se localizava no meio da floresta, por tanto sem humanos por perto, e eu não precisaria ir muito longe pra caçar.

Entrei na casa, encontrando-a toda mobiliada e decorada lindamente.

Levei todas as malas para o andar de cima e abri a porta de todos os quartos procurando o meu. Quando o encontrei fiquei maravilhada era muito parecido com o que eu tinha na França.

Comecei a arrumar minhas roupas no closet, acabei rapidamente, graças a minha super velocidade.

Joguei-me na cama e fiquei pensando no por que escolher Forks. Eu geralmente escolhia cidades ensolaradas. Eu não gostava muito da chuva. Era por isso que eu amava tanto meu poder de camuflagem, eu não brilhava no sol como os outros vampiros. Mas eu não podia negar que algo estranhamente me atraia a essa cidade.

Às seis horas da manhã, levantei-me da cama, e troquei-me. Era hora de ir à escola.