No capítulo anterior

Minha mente girava enquanto as palavras de Rosalie se afundavam nela. Eram coincidências demais, vivemos no mesmo lugar, ela teve uma filha. Não. Balancei minha cabeça negando. Rosalie amava sua filha, ela mesma disse que cometeu erros e se arrependeu. Minha mãe jamais se arrependeria por me odiar, era natural para ela. Eu podia sentir uma dor de cabeça rastejando para mim, eu me sentia tão estranha, tão confusa. Algo, como uma voz em minha cabeça me dizia que eu conhecia essa história, decidi ignorá-la. Eu não precisava de mais coisas em minha cabeça agora.

De repente uma vontade louca de estar com Edward me bateu. Aquilo me assustou um pouco, porque de alguma forma eu senti que nosso tempo juntos estava contado.

Rosalie POV

Apertei o volante resistindo à vontade de olhar para Bella a cada segundo. Se eu não podia contar a ela que era sua mãe talvez pudesse fazê-la ligar os pontos. Eu só precisava que ela descobrisse a verdade por conta própria. Talvez assim fosse até mais fácil para ela aceitar toda essa situação. Eu sabia que seria difícil para ela de qualquer forma. Caramba! Era difícil para mim também, mas o que eu poderia fazer a respeito? O destino estava brincando conosco. Separando-nos e juntando... Eu só esperava que ele não nos pregasse mais nenhuma peça.

Estacionei em frente a minha casa. Eu podia ouvir todos os sons de dentro da casa perfeitamente. Apenas Esme e Edward estavam em casa. Esme no segundo andar cantarolando uma melodia e Edward ao piano, tocando a melodia no tom que Esme cantava.

Vi Bella pular para fora do carro, lançando-me um sorriso brilhante enquanto corria para dentro da mansão. Suspirei pesadamente. Eu odiava ter que disputar sua atenção com Edward.

Entrei na casa e segui o som. Bella já estava sentada ao piano do lado de Edward, sorrindo enquanto observava os dedos ágeis de meu irmão mover-se sobre as teclas. Ela apoiou sua cabeça no ombro dele. Eles estavam em uma bolha e eu do lado de fora, apenas como uma espectadora enquanto eles se perdiam no mundinho deles. Naquele momento eu soube que mesmo se Bella me aceitar como sua mãe, eu nunca seria uma parte tão importante de sua vida quanto Edward.

A melodia de Edward mudou para uma um pouco mais triste. Suspirei pesadamente.

“É a trilha sonora de meus pensamentos, por acaso?”

Ele riu ganhando um olhar questionador de Bella. Ele apenas balançou a cabeça e continuou tocando. Quando a musica acabou, eles trocaram um beijo apaixonado. Desviei o olhar. Acho que nunca me acostumaria com as demonstrações de afeto entre eles dois.

Edward acariciou o rosto de Bella como se ela fosse à coisa mais preciosa do mundo e ele estava certo. Fiz uma careta. Eu odiava admitir isso, mas eu estava feliz que Edward era o companheiro de Bella. Ele foi criado para ser um cavalheiro e jamais a machucaria. Pelo menos sobre isso eu estava tranquila.

Edward virou-se para mim e sorriu. Não era um sorriso debochado, era carinhoso. Queria dizer que eu estava certa, ele jamais seria capaz de fazer algo que a magoasse. De qualquer forma, fiz uma cara feia para ele, apenas para não perder o costume.

– Quer ir a um lugar comigo? – ele perguntou para Bella.

– Eu iria a qualquer lugar com você. – a voz de sinos de Bella cantarolou enquanto ela sorria para ele.

Então eles correram juntos para a floresta e eu fiquei sozinha na sala. Sentei-me ao piano, no mesmo lugar onde Edward e Bella estavam segundos atrás. Dedilhei as telhas formando uma musica simples. Não tive muito tempo para pensar, pois logo um furacão com cabelos espetados entrou furiosamente pela porta.

– O que você está pensando? – gritei, irritada com Alice. Ela tinha acabado de espatifar um vazo de cristal caríssimo.

– O que eu estou pensando? Oh, faça-me o favor Rosalie. Se pensa que vai me excluir desse jeito de novo está muito enganada! – a pequena vampira a minha frente nunca me pareceu tão ameaçadora. Não a deixei ver que eu estava intimidada.

– Não tenho ideia do que está falando. – resmunguei, dando as costas para ela.

Senti uma pequena, porém forte, mão em meu ombro. Logo eu estava sendo prensada contra a parede.

– Não se faça de boba. Você sabe muito bem do que estou falando. Achou que eu não ia descobrir que você saiu com Bella e nem teve a decência de me convidar para ir junto? – ela gritou em meu rosto.

Empurrei-a, fazendo-a cair no chão. Ela levantou-se e estava me encarando a centímetros de meu rosto um segundo depois.

– Eu não dou à mínima se você descobriria ou não. Eu tenho todo o direito de passar um tempo sozinha com ela. Estou cansada de todos vocês cercando-a. – gritei de volta.

– O que está acontecendo aqui? – Esme exigiu correndo para nós duas. A ignoramos.

– É você quem fica cercando-a o tempo inteiro. Ninguém pode se aproximar dela que você já está lá, como se ela fosse uma posse sua. – Alice rosnou.

– Desculpe-me por querer passar pelo menos uma hora sozinha com minha filha, Alice! – debochei descaradamente. – Não é possível! Primeiro eu tenho que disputar a atenção dela com Edward e agora tenho que te dar satisfações quando saímos juntas.

– Parem com isso, vocês duas. – Esme repreendeu-nos. Nenhuma de nós a olhou. Estávamos travando uma batalha de encarar até que Alice explodiu.

– Quer saber? Eu estou cansada de você e Edward! Fiz de tudo para ajudar vocês dois a não perdê-la, fiquei mantendo o olho no futuro dela o tempo inteiro para prevenir que ela não nos deixasse se algo desse errado. E então é isso que eu recebo, nada! Edward é seu companheiro, você é mãe dela, até Emmett tem seu carinho. Eu pensei que seriamos melhores amigas, mas então esse tal de Thierry aparece! Eu estou cansada de ser a menos importante!

Todas nós ficamos em silêncio enquanto absorvíamos as palavras de Alice. Bella era tão cativante, era obvio que todos nós estávamos apaixonados por sua doçura. Mas saber que Alice, a agitada e borbulhante Alice, estava se sentindo inferior por não ter certeza de seu lugar no coração de Bella era um choque!

Eu poderia dizer algo para que ela se sentisse melhor, eu queria que ela se sentisse melhor, mas minha raiva ganhou aquela batalha e quando eu vi já estava cuspindo as palavras para ela.

– Sabe porquê ela não te paga nenhuma atenção? Porque você é uma chata! Sempre irritante, pulando o tempo inteiro. Todo mundo te acha chata aqui, apenas não tiveram a coragem de dizer isso na sua cara! – minhas palavras soaram infantis até mesmo a meus ouvidos, mas não consegui evitar sentir-me vitoriosa ao ver o olhar desolado no rosto de Alice.

Ela correu para seu quarto batendo a porta atrás dela. Meu sorrisinho irônico caiu assim que vi o olhar de decepção no rosto de Esme.

– Que vergonha, Rosalie. Eu esperava mais de vocês duas. Mas principalmente de você!

– Mas foi ela... – minhas palavras se perderam no ar.

– Ela só estava chateada por ser excluída, você sabe como Alice é. – Esme tentou justificar. Minha raiva agora estava transbordando.

– Vocês sempre estão contra mim. Sempre! – gritei. Esme disse alguma coisa para me repreender, mas disparei para a floresta sem escutar.

Eu estava cansada deles, de todos eles. Pensam que podem controlar minha vida, eles não sabem de nada. Eles não podem me restringir de interagir com minha própria filha. Nem Edward. Se não fosse por mim ele nunca teria conhecido-a.

O vento gelado da floresta batendo contra meu rosto enquanto eu corria a toda velocidade me acalmou o suficiente para eu me sentir mal pelas coisas que eu disse a Alice.

Já havia escurecido quando voltei para casa. Alice ainda estava trancada no quarto. Emmett e Jasper ainda estavam caçando, provavelmente só voltariam ao amanhecer. Carlisle e Esme estavam sentados juntos na poltrona. Eles me lançaram um olhar estranho quando entrei, revirei os olhos bufando.

Fui para meu quarto trocar as roupas molhadas. Chutei-as para um canto do quarto e abri uma gaveta para pegar uma nova. Não havia nenhuma roupa naquela gaveta. Apenas um porta-retrato.

Arfei de admiração. Passei meus dedos por toda moldura, mas meus olhos estavam na fotografia antiga bem no centro. O vidro do porta-retrato estava quebrado, mas isso não diminuía sua beleza. A última vez que vi essa foto foi há 40 anos, era doloroso demais olhar para ela, então pedi para Esme guardá-la. Ela deve ter colocado na minha gaveta quando saí.

Era uma fotografia de Bella, Royce e eu. Bella estava olhando diretamente para a câmera assim como eu, mas ela sorria e seus olhos brilhavam, diferente de mim. Eu tinha uma aparência entediada, quase raivosa. Royce olhava para Bella, seus olhos também brilhavam, mesmo através de uma fotografia dava para sentir toda admiração que Royce sentia pela filha.

Quem visse o modo como Royce tratava Bella, como seus olhos brilhavam quando ele a olhava, como ele sempre saía cabisbaixo por não poder levá-la com ele, jamais saberia o tipo de monstro que ele era. Quando me lembro dessas coisas é até difícil acreditar no que ele fez comigo. É como se aquele dia terrível tivesse sido apenas uma ilusão, apenas um pesadelo. Mas não era. Royce era um monstro com todos, menos com Bella.

Às vezes eu me pergunto o que teria acontecido se ela não tivesse desaparecido. Ela teria sofrido depois que eu matasse Royce? Eu teria ido atrás dela se soubesse que ela estava segura?

Provavelmente não. Talvez eu espreitasse para seu quarto à noite e a olharia dormir, mas jamais a traria para esse mundo.

Afinal, como ela foi transformada? Essa era uma das perguntas que atormentavam minha mente. O que aconteceu com ela quando a levaram? Ela era tão jovem, deve ter ficado tão assustada. Será que ela chamou por Royce ou por mim? Claro que não chamou por mim, ela tinha medo de mim.

Fechei meus olhos com força, apertando o porta-retrato contra meu peito. Eu havia quebrado-o da última vez que vi Bella. Ela tinha rasgado meu vestido favorito e joguei-o contra parede enquanto gritava com ela. Era terrível pensar que eu era a única a estragar minha vida perfeita. Estava tudo em minhas mãos e eu escolhi amassá-lo e jogar fora.

Suspirei olhando para a foto outra vez. Por mais tentador que fosse rasgar Royce dali, não fiz isso. Eu gostava de ver seu rosto confiante, crente que nada poderia derrubá-lo e saber que eu fui a única a fazer isso. Nunca me arrependi de matá-lo e nunca me arrependerei. Quem sabe quantas pessoas eu salvei de sofrer o mesmo destino que eu? Elas não teriam alguém como Carlisle para salvá-las. Uma delas poderia ter sido Bella.

Balancei a cabeça, tentando me livrar do pensamento de Bella estuprada, mas era tarde demais. As imagens já estavam gravadas em minha cabeça, minha memória perfeita não me deixaria esquecer. Doía-me imaginar isso. Era uma dor terrível, lancinante, insuportável. Não! Bella jamais passaria por isso. Nunca!

Acho que eu sabia porque Esme tinha me devolvido isso logo agora. Ela queria que eu me lembrasse que ser egoísta e orgulhosa não era uma opção agora. Eu tinha que conquistar Bella e como eu conseguiria isso se não conseguia manter a paz nem com minha própria irmã?

Devolvi o porta retrato para a gaveta e caminhei até o quarto de Alice. Tive de insistir muito para ela abrir a porta e quando fez, tive que engolir meu orgulho e pedir desculpas. Acho que nunca fui tão sincera em um pedido de desculpas quanto agora. Bom, eu não era do tipo que pedia desculpas. No fim, ela me abraçou. Abracei-a de volta, bem apertado.

– Rose, você me acha chata de verdade? – tive que rir com sua pergunta.

– É claro que não. Irritante? Talvez. Mas isso só me faz te amar mais ainda.

Sua risada de sinos soou pelo quarto. Eu amava Alice, ela era como uma irmã de verdade para mim e não queria que brigássemos pelo amor de Bella. Bella não era egoísta como eu, ela era doce e altruísta. Ela poderia amar nós duas.

Naquele momento eu fiz uma promessa a mim mesma de tentar ser uma pessoa melhor. Menos egoísta e mais generosa. Eu tentaria mudar. Por Bella.