Musica

Harry’s P.O.V

Liverpool, Inglaterra.

Era mais uma sexta –feira  comum e fria em Liverpool, coloquei minhas mãos no bolso de meu casaco e continuei fitando os paralelepípedos cinzas e sujos da velha vila industrial, inspirei o ar frio e expirei- o de volta, fechando os olhos e lembrando que amanhã seria um novo dia, em uma nova terra. Eu estava de partida essa seria a minha ultima noite nesse inferno. Amo a minha Inglaterra, porém aqui só é bom para quem tem dinheiro. Muito dinheiro...ainda mais agora nesse período de guerras.  Estava a poucos metros de casa, em uma pequena vila industrial, casas de tijolos e idênticas umas a outras em uma rua de pedras.

- Mãe...- eu pedi novamente me sentando na cama e fechando os olhos –por favor, eu preciso conhecer o meu pai. – eu pedi novamente, e eu escutei um murmuro.

-Não, Harry. Eu já disse. – minha mãe respondeu mais uma vez com a voz embargada e mirando o espelho velho e desgastado.

-Mãe, isso é injusto. – eu protestei abrindo os olhos – e a senhora sabe disso. Eu já tenho 18 anos, eu sei o que é certo e o que é errado. Eu sei me virar sozinho, a senhora não pode impedir isso de mim. – eu falei convicto, e eu escutei ela desabar. Fechei os olhos e me arrependi de todas as palavras ditas naquele momento, não me importa se eram certas ou erradas, eu não queria ver minha mãe naquele estado. – Mãe...- eu disse com cautela me aproximando e colocando as mãos em seus ombros debruçados na velha penteadeira de madeira. – me desculpe...eu não queria...- ela me interrompeu:

-Não,querido! Você esta certo, eu que estou errada. Eu não posso impedi-lo de conhecer seu pai. – ela disse levantando a cabeça e enxugando as lágrimas com o peito da mão. – você tem 18 anos, é o seu direito. É que eu só tenho medo que você se decepcione... – ela disse me olhando nos olhos, os seus olhos que eram verdes brilhantes agora adquiriram um tom cinza-mescla, suspirei e sorri de canto.

-Não se preocupe, mamãe. – eu finalizei beijando sua testa.

Lembranças da ultima conversa com a minha mãe rondavam a minha cabeça, abri a porta que dava para a casa e não encontrei ninguém. Talvez Gemma e mamãe ainda não tivessem voltado do trabalho, tirei meu casaco e guardei no armário, e logo subi as escadas indo em direção ao quarto de minha mãe, abri a segunda gaveta do criado-mudo com cuidado e de lá retirei uma pequena caixa floral e velha, abri-a com cuidado e retirei da li duas fotos de minha mãe e meu pai. Ambos na frente de um navio e ele vestido com a roupa do exercito. “Meu pai morreu na guerra!” lembro – me o que dizia continuamente toda vez que era perguntado sobre meu pai. Cresci acreditando em uma mentira, mas agora...eu quero  saber a verdade toda a verdade.

                                                           [...]

Fiquei 5 horas naquela fila enorme e no frio, para pegar o meu pagamento de 500 libras, guardei o envelope no bolso do meu casaco de couro e cruzei as ruas de Liverpool, frias e úmidas. Uma umidade que fazia seu nariz implorar por algo seco, e um frio que fazia seu corpo implorar por um abraço quente. Ah..o abraço de Loretta...minha namorada, minha querida namorada. Que vou ter que deixar para trás, vou cruzar os oceanos e chegar na América.Sei que não é um período propicio para um imigrante ilegal, em plena Guerra do Vietnã, mas eu não posso mais adiar isso.

-Harry. – escutei a doce voz soar entre as ruas gélidas de Liverpool, e olhei para trás. E vi Loretta com o corpo encostado em uma das paredes de tijolos vermelhos e desgastados. Ela usava um sobretudo vermelho, e os cabelos curtos,pretos e armados preso com uma fita preta que quase sumia no mar negro de seus cabelos.

- Loretta. – eu disse sorrindo fraco e me aproximando. Foi ai que vi que ela estava chorando. Apressei o passo e abracei, a abracei como nunca. Como se nunca mais quisesse solta-la. Como se o mundo estivesse parado naquele momento.

-Não vá. – ela pediu docilmente com os lábios vermelhos e carnudos sob a pela branca. Encarei a bruma em seus olhos, e logo mirei meus olhos ao chão.

-Eu não posso. – eu falei baixo – eu preciso conhecer meu pai, Loretta. – eu entrelacei nossos dedos, e beijei sua boca vermelha levemente ela correspondeu. Logo depois fui descendo os beijos para o pescoço até chegar em seu ouvido lá cantarolei baixinho - Close your eyes and I'll kiss you tomorrow I'll miss you remember I'll always be true....

-Ah conta outra. – ela disse debochada e eu apenas ri e continuei cantando:

-And then while I'm away I'll write home every day and I'll send all my loving to you – eu finalizei beijando seus lábios e ela sorriu entre o beijo:

-Espero que sim. – ela disse depois de dar um leve tapa em meus ombros. – Vou sentir sua falta, Harry. – ela finalizou colando nossas  testas.

-Adeus, Liverpool. – disse para mim mesmo enquanto via o farol sumir em meio as águas azuis e violentas.  Fechei os olhos e desejei que tudo desse certo, por que agora é o inicio de uma nova vida, em um novo país.