le velo pour deux. escrita por Luisa Nunes


Capítulo 4
Capítulo 4




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Passaram-se alguns dias de pura estiagem mental. Nada de letras, só melodias. Spencer me ligou dizendo que tinha feito vários arranjos, sem nem mesmo saber as músicas ou as ideias que eu tinha. Ok, toda ajuda é bem vinda.

É valido mencionar que hoje é 31 de Dezembro e eu não tenho nem lugar pra passar a virada do ano. Como se eu me importasse. Provavelmente, ficarei debaixo das cobertas, acordarei a meia noite, assoprarei uma língua de sogra e voltarei a dormir. Não existe esse espírito de fraternidade e a boa vibe que rodeia a todos pra mim. Pra mim, é só mais um dia dos que compõe o ano. Mas pra Brendon...

-BOOOOOOOOOOOOOOOOOOM DIAAAAAAA! ÚLTIMA VEZ QUE EU TE DOU BOM DIA ESSE ANO! – Ok, esqueci que as piadinhas também ajudam no meu desgosto ao ano novo.

-Bom dia, piadeiro. Algo novo? Eu não consigo pensar em nada.

-Não pensei em nada, nadinha. Me ocupei pensando no ANO NOOOOOOOOVO! –disse, cantarolando.

-Qual o seu problema? São 11 da manhã e você tá cantando aos ventos.

-Meu problema é felicidade em excesso. Acho que eu devia te passar um pouco.

-Não, obrigado. Alguém deixou algum recado pra mim?

-Ah é, o Spencer deixou. Disse pra você passar lá.

Saí o mais rápido possível, o espírito de fim de ano de Brendon tava começando a me irritar. Sabendo que Spencer não é muito festeiro em fim de ano também, pensei em passar o dia lá, com a família dele e compondo coisas com ele. E foi exatamente o que ocorreu.

Chegando lá, entrei sem avisar, como sempre.

- Olá, George – só me chamam de George na casa de Spencer. Porque? Outra boa pergunta. – Spencer está no  sótão.

-Obrigada, senhora Smith.

Desci as escadas e o encontrei empolgado, escrevendo num caderno. Provavelmente, os arranjos.

-“Querido diário, hoje montei arranjos para as novas músicas da banda que ficaram um AR-RA-SO!” – disse, brincando com Spencer.

- Isso tá mais pro seu diário, não pro meu, mocinha. Me mostra de novo a melodia de Lying, compus algo que pode encaixar.

Depois de horas praticando e encaixando a melodia, chegamos em algo que decidimos ser a versão final.

-Me dá um papel. Rápido! Tive um lampejo.

Escrevi o último pedaço que faltava na música. Sentei com Spencer pra ajustar as cifras pra guitarra. A parte do baixo era simples, Brendon já tinha escrito para Brent. Depois de 2 horas, finalizamos nossa música.

-Uau, já são  4 da tarde. Melhor eu ir, sua família daqui a pouco vai começar a se arrumar e eu não quero atrapalhar.

-Que besteira, Ryan. Você sabe que poderia muito bem passar a noite comigo hoje, você que não quer.

-Fui.

Vim andando pela rua recordando o ano que eu tive. 2004 foi uma merda, tirando essa última quinzena. Decidi que 2005 ia ser o ano da minha vida. Pra isso, estabeleci algumas metas. Encontrar uma gravadora, vender o conceito do nosso disco. Se tudo der certo, entrar em turnê. Encontrar o verdadeiro amor, se é que ele já não tinha sido encontrado.

A verdade é que eu já tinha fechado o conceito do álbum. O estilo cabaré, a corrente emocore. Eu via muito vermelho e muito preto. Tinha tido ideias para todas as músicas, só não tinha sentado para escrevê-las. Muita gente me chamou de apressado por isso, mas não, não. Eu só queria que fosse perfeito.

Passei muitas noites em claro pensando em como fazer nossa ideia ser vendida enquanto Brendon dormia no quarto ao lado. Aquela era mais uma noite que eu provavelmente passaria pensando, forçando minha mente com ideias, bebendo. Eu precisava escrever mais letras. Algo me dizia que meu bloco de notas na mesa estava com teias de aranha. O foda era a inspiração. Não podia depender de ficar bêbado para escrever. Eu não sou assim, eu nunca fui, não é agora, que a minha vida vai realmente começar, que eu vou me tornar esse tipo de pessoa.

Meu telefone tocou.

                -Que é?

                -Nossa. É... o que você vai fazer hoje a noite?

                -Porra nenhuma. Você sabe disso.

                -Ótimo. Minha tia tem uma boate, eu vou virar a noite lá. Acho qu você devia vir comigo. O segundo andar é aberto, tem uma vista sensacional da cidade, podemos ver a queima de fogos de lá e...

                -Você sabe que eu não comemoro ano novo.

                -Por favor!

                -Não.

                -Por favorzinho!

                -Porra, eu já disse não!

                -Mas vai ser importante pra mim se você for.

Aquilo mexeu comigo. Eu relutava comigo, eu não aceitava amar Brendon. Mas minha boca foi mais rápida que meus pensamentos.

                -Ok, eu vou.  Mas não espere nada de mim.

                -Oba! Tô na casa da minha mãe, passo as 9 aí.

                -Tá.

Afundei meu rosto no travesseiro. O amor é o sentimento mais escroto que pode existir, cheguei a conclusão. Não sei por que aceitei. Vou ter que ver Brendon beijando alguém a meia noite, e suportar a imagem. Mas é ok. Depois de tudo que eu já passei, esse é o menor dos meus problemas.

O relógio na minha parede marcava 6 horas. Armei meu despertador pra 20h e deixei o cansaço vir fechar meus olhos.

Acordei com meu despertador e logo levantei pra começar a me arrumar para o que seria, tecnicamente, meu primeiro encontro com Brendon. Escolhi minha melhor camisa e calça, e fui tomar banho.

Girei a torneira, vi a água descer e soltar vapor. Perfeito pra escaldar os males que percorriam o meu corpo. Botei minha roupa e alisei meu cabelo bem rápido. Olho pro relógio, ainda são 20h30. Tinha meia hora até Brendon aparecer. Puro ócio.

Meu bloco de notas me gritava. Eu tinha ideias na cabeça, mas não se encaixavam com o que eu queria. Fui pra sala, ver um pouco de TV.

Escuto o barulho das chaves no corredor, é Brendon chegando.

                -Vamos?

                -Aham. – tentei demonstrar meu desânimo, em vão.

Fomos andando. Pelas ruas, pessoas já bêbadas, vomitando, caindo no chão. Um belo espírito de ano novo. Aproveitei pra apreciar a noite, que estava bonita, apesar do frio que fazia. O céu estrelado me fazia ter uma daquelas viagens inexplicáveis no meu pensamento.

Chegamos na boate depois de uma boa caminhada silenciosa. Pra um estabelecimento novo, estava bem cheio. Brendon olhava em volta dele, como se estivesse procurando por alguém, provavelmente sua tia.

                -Procurando sua tia?

                -Não, ela não está aqui hoje.

                -Ah. Então tá procurando quem? – disse, com ciúmes.

                -Ninguém em especial. Tô vendo as pessoas.

O fato dele não estar me dando atenção me deixou furioso. Enquanto ele andava em círculos pela boate, eu me sentei em um banco. Muita gente passava olhando torto pra mim, porque, digamos que não sou o estereótipo normal de um cara de 17 anos. Vi Brendon passar por mim uma, duas, três vezes. Uma dessas vezes, tinha uma mulher agarrando o braço dele, mas ele estava tentando se desvencilhar dela. Não sei porquê, ela realmente era bonita. Alguns minutos depois, ele passou pela quarta vez.

                -Onde você estava esse tempo todo?

                -Aqui.

                -Vem, vamos subir. São 11 e meia já.

                -Não começa tudo só daqui a meia hora? Vai curtir mais a boate.

                -Cutir? Ryan, isso tudo aqui é detestável. Só vim pela vista lá de cima e...

                -E...?

                -E porque eu estaria com você.

Fiquei sem palavras naquela hora. Realmente, era real. E Brendon sabia disso. Mas eu continuava remando contra essa possibilidade. Eu não podia me apaixonar. Não aquela altura do campeonato. Não por ele. Não. Não. Simplesmente, não.

                Quando acordei dos meus pensamentos, eu já estava lá em cima, no segundo andar. Atentei para a vista. De fato, era linda. Fiquei boquiaberto com aquilo. Todas as luzes, todo o movimento. Era impossível pensar que Las Vegas era bela assim quando você vive o inferno que ela é. Mas naquele momento, eu percebi que eu tinha sorte em morar em um lugar bonito daqueles. Eu poderia passar horas olhando pra vista e viajando.

                -Ry? –

                -Ahn? Oi. – Brendon me fez acordar dos meus pensamentos depois de um bom tempo sem falar nada.

                -Faltam 15 minutos. Quer beber algo?

                -Tudo é válido pra ver o tempo passar agora, então sim.

Alguns minutos depois, ele volta com as bebidas.

                -Eu te disse que era lindo.

                -Sim, é. Não imaginava que a cidade podia ser tão bonita assim – disse, com os olhos perdidos na vista. Nesse momento, Brendon se posiciona atrás de mim e põe sua cabeça no meu ombro.  

                -Não duvide mais de mim. Se eu disser que é lindo, há um motivo. Se eu disser que é ruim, há um motivo. Se eu disser que eu concordo, há um motivo. Se eu disser que eu te amo, além de ter motivos... é a mais pura verdade.

                Não. Não. Não. Ele tinha dito mesmo aquilo? Minha cabeça tava viajando tanto ultimamente que eu não sabia distinguir mais o real dos frutos da minha imaginação.

                -Me desculpe, o quê?

                -10.

                -Brendon, não, iss..

                -9.

                -Me escu...

                -8.

                -Bren...

                -7.

                -Que merd

                -6

                -Por fav...

                -Dá pra você calar a boca?

                -Não.

                -Então eu vou ter que fazer um sacrifício.

E ele me beijou. Senti seus lábios macios por alguns segundos.

                -Feliz Ano Novo.

Seus olhos brilhavam, como se ele tivesse acabado que conquistar um troféu que desejara por muito tempo. Ao som dos fogos de artifício, me rendi. Não tinha mais jeito, eu era dele e ele era meu, se quiséssemos ou não.


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Notas finais do capítulo

reviews? obrigada por lerem. :)



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