le velo pour deux. escrita por Luisa Nunes


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

sem mais delongas, senhoras e senhores.



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Como eu já imaginava, a chuva veio. E com ela, uma série de mudanças quais eu não tinha certeza se suportaria. Eu estava sendo forçado a sair de casa, não sabia aonde iria morar. Pensei logo em Spencer, mas sua família está hospedada na casa pro fim do ano. Que merda de orgulho que eu tenho.

Ao terminar de arrumar minhas malas, deitei pela última vez em minha cama e relaxei. Senti o peso que estava nas minhas costas. Mesmo deitado, conseguia ver Brendon escorado na porta com um semblante de animação. “Animação? Sério? Que babaca.”, pensei.

                -Olha... Não sei se você vai gostar da ideia, mas... Que tal se você for morar lá em casa? Tem um quarto sobrando e minha mãe ia parar de me perturbar pra eu achar um colega de quarto.

Ok, eu esperava qualquer coisa, menos isso.

                -Cara... eu não quero perturbar você, nem te atrapalhar com os meus problemas. Sabe, você tá no último ano em Palo Verde, e viver comigo, com essa pessoa problemática , vai te atrapalhar muito. Não quero isso pra você.

Para minha surpresa, Brendon se senta na cama onde eu estava deitado e se debruça em cima de mim.

                -Você jamais vai me atrapalhar em nada. Só iria me dar problemas se você sumisse da minha vida.

Ok, outra coisa que eu não esperava. Eu procurava outra coisa para olhar a não ser aqueles imensos olhos pretos, procurei pensar em algo que não fosse aquela respiração cada vez mais perto, mas era impossível. Eu tentei imaginar algo inteligente pra dizer, e em um insight, algo me disse que aquilo não era bom. Me deu um estalo e eu me desvencilhei de Brendon.

                - Sendo assim, – disse, tendo a certeza que eu estava com as bochechas coradas – vai ser ótimo morar com você. Vamos andando.

Ao descer as escadas, não vi minha mãe. Aquela era a última chance que eu tinha de vê-la.   

Saí com minha guitarra nas costas e sacolas de roupas na mão. Brendon me ajudou, carregando meu violão. Os primeiros minutos da caminhada foram silenciosos, um provável reflexo do que ocorreu no meu quarto. Decidi quebrar o gelo.

                -Er, sobre o que aconteceu no meu quarto, eu...

                -Me desculpa. Me desculpa mesmo. Aonde eu estava com a cabeça... Fui um idiota em fazer aquilo.

                - Ei, não, não é isso. Eu só acho que – disse, passando o braço por seus ombros – isso pode nos atrapalhar se quisermos nos tornar grandes.

                - Eu espero todo o tempo do mundo por você. – e com isso, sorri.

Chegamos na minha nova casa alguns minutos depois, e joguei minhas malas na cama. Escutei um som bem familiar – era o meu violão. Brendon estava tocando uma melodia que provavelmente tinha sido invenção dele, sentado no sofá. Andei até a sala e fiquei-o admirando. Ele, de costas pra mim, não tinha nem percebi minha presença. Quando terminou, eu o aplaudi, recebendo risadas como resposta.

                - Olha, eu estou indo deitar. Tô morrendo de cansaço. – disse, dando um sorriso meio de lado. Não, eu não estava cansado. Só não queria perturbar mais o pobre menino. Aproveitei pra escrever alguma coisa, minha cabeça estava fervilhando de ideias. Tirei um papel amassado do bolso e rabisquei algumas linhas que me deixaram satisfeito. Virei pro lado, vi que ainda eram 6 da tarde.

Quando abri os olhos, eram pouco mais de 9 horas da noite. Brendon estava me cutucando.

                - Ei, acorda! Estamos atrasados pro primeiro encontro da banda. Vamos, vamos, vamos!

Realmente, eu tinha me esquecido. Tive certeza de colocar o que eu tinha escrito mais cedo no bolso, peguei meu violão e fui, sonolento, atrás de Brendon pelos corredores do prédio.

                -Me espera, cara. Não sei andar sozinho por aqui.

                -Vem logo, estamos atrasados! - E corri como nunca na vida. Chegamos ao térreos suados e ofegantes. Passamos pela portaria do prédio com um olhar de desaprovação do porteiro. Fazer o quê.

Andando a passos apertados na rua, chegamos na casa de Spencer em 15 minutos. Ao entrarmos na casa, toda a família pareceu surpresa em me ver. Fiz questão de ser simpático, pois a família de Spencer é mais minha família do que a minha própria.

Saí correndo pelo corredor, imaginando que Spencer e Brent estariam nos esperando no escritório do pai de Spencer e Brendon veio atrás de mim. Como eu já esperava, Brent estava atrasado. Nada fora do normal, conhecendo ele.

                - Brent disse que vai se atrasar mais uns 20 minutos. Parou no Mc Donalds pra lanchar.

                - Ele não consegue cumprir um horário sequer, puta merda. Ele vai acabar dando problema pra nós. – disse, me jogando na cadeira do lado de Spen.

Olhei pra Brendon, que se sentou ao meu lado. Ele se mostrava tímido, um lado da personalidade dele que eu não conhecia.

                - Imagino que você seja o Brendon. Prazer, sou o Spencer. Eu toco bateria, e você toca...

                - De tudo um pouco, na verdade. Faço o que for necessário.

                - Bom, muito bom. Não precisa ficar acanhado. Se sinta a vontade, a partir de hoje, você é de casa.

Nisso, meu celular tocou. Olhei o visor, era Brent. Dei para Spencer atender, pois se eu escutasse a voz daquele irresponsável, eu o xingaria mais do que torcida de futebol quando juiz não marca um pênalti. Joguei minha cabeça na mesa, arrancando um sorriso de Brendon.

                -Ele não vem. Brent não vem.

                -COMO ASSIM? Aquele viado me paga. Filho da puta!

                -Er, calma Ryan. – disse Spencer.

                -Calma? É só a porra do primeiro encontro, e ele não vem?

                -A gente pode adiar, não tem... – Brendon tentou intervir.

                -Adiar? ADIAR É O CARALHO! Vamos começar isso logo. Spen, pega lá o violão pra mim, quero mostrar algo que eu compus ontem.

Tirei o papel amassado do bolso, e li as linhas mais uma vez. Spencer chegou com o violão, e me prontifiquei a tocar alguns acordes. Logo, estava entoando versos.

Let’s get these teen hearts beating faster! Testosterone boys and harlequin girls, will you dance to this beat and hold a love close? Testosterone boys and harlequin girls, will you dance to this beat and hold a lover close? I guess we’re back to us, camera man swing the focus, in case I lost my train of thought where was it that we last left off?

Brendon ficou maravilhado. Parece que a ficha dele caiu. Ele tinha realmente percebido que estava numa banda, que era de verdade. Passei os acordes da melodia pra ele, e praticamos a melodia inteira. Spencer estava pensativo. Tinha adorado a parte da letra que eu escrevi, e empolgado pra montar o arranjo logo. Com o tempo, fomos juntando ideias e frases.

- Afinal, sobre o que é a música?

-Sobre dormir com pessoas que você não conhece. Essa música vai ser a primeira parte de uma trilogia de musicas que eu quero fazer no nosso disco. Essa fala sobre a promiscuidade de uma mulher em relação a seu namorado.  A segunda, sobre o namorado ir se consolar com a traição em cabarés e encontrar sua ex nele, mas acabar reatando com ela. A terceira, sobre o casamento deles.

Tentei deixar não muito claro que tudo isso se referia ao Brendon. A ideia de ele estar comendo meninas na parede ao meu lado não me é muito bem vista. Tenho medo de que isso se torne algo contínuo. Daí minha inspiração pra primeira música. As outras? Minha mente tem viagens que minha parte racional é incapaz de explicar.

-Você já pensou nisso tudo pro álbum? Nossa. Isso é demais. Olha, tenho uma ideia pro começo da música.

E começou a cantar, olhando nos meus olhos, com uma voz profunda, que não é habitual.

Is still me that makes you sweat? Am I who you think about in bed when the lights are dim and you’re hand are shaking as you’re sliding off your dress? Think of what you did, and how I hope to God it was worth it.

Minha sorte era que eu estava de mangas compridas e calça, pois só elas conseguiram disfarçar o quanto estava arrepiado. Spencer olhava fixamente pra mim, com um olhar cúmplice. Ele sabia o que estava se passando por ali e foi dar ‘uma volta’.

                -Você achou que eu não ia entender?

                -O que? – me fiz de bobo.

                -Toda a história da promiscuidade. Ryan... eu não sou assim. Não entrou na sua cabeça ainda? Sou timido demais pra essas coisas. Não sei nem como estou aqui. Você viu, eu mal consegui falar com o Spencer.

                - Você vai ser o vocalista mais tímido da face da Terra, é isso então? – falei, rindo.

                -O que? Eu vou ser o vocalista?

                -Sim senhor. Essa reunião era basicamente pra eu mostrar a musica e falar disso.

                -Então quer dizer que temos um novo vocalista? Você deve ser o Brendon. – disse Brent, ao entrar na sala. – me desculpem pelo atraso. A fome sempre fala mais alto.

                -O-oi... É, eu sou o Brendon. Prazer. – Ele tímido era a coisa mais fofa do mundo.

                -Canta um pouco aí, cara.

                -Eu não sei se...

                -Deixa de ser bobo, Brendon. Toma, eu já até escrevi um pouco mais. Essa parte é logo depois do que você tinha cantado.

I got more wit, a better kiss, a hotter touch, a better fuck that any boy you’ll ever meet, sweetie, you have me.

Brent fez a cara de tanto faz tão famosa dele. Spencer veio correndo, e também o assistiu. A família de Spencer toda parou pra ouvir. Nunca tive tanta atenção em cima de mim, e provavelmente o mesmo ocorria com Brendon.

Aquilo era sensacional. Naquele instante, vi que tinhamos potencial. Nós íamos conseguir.

                - Pensem num nome pra banda pro próximo encontro.

                -Nada de muito normal, hein. – disse Brendon.

                -Isso aí. Precisamos ser diferentes. – disse Spencer, com pizza em sua boca.

                -Vocês quem sabem. Qualquer coisa tá bom pra mim. – disse Brent. Porque ele era sempre assim? Boa pergunta.

                -Ok, mocinhos, bem engraçadinhos vocês. Bem, eu vou pra casa, e acho bom você vir comigo, Brendon.

                -Sim, senhor. Até outro dia, galera.

No caminho de casa, vim calado, pensando em melodias e em letras. Na minha cabeça, a segunda parte da trilogia veio. Parei no meio da rua e apoiei o papel na parede para escrever minhas ideias, que não eram poucas. Brendon não entendeu nada, apenas ficou me observando.

30 minutos depois, eu tinha praticamente a música inteira escrita. Brendon aprovou. Liguei pra Spencer e Brendon cantou pra ele. Minha cabeça estava a mil. Spencer estava no sótão, criando os arranjos de bateria. Estava perfeito. Brendon se dispos a escrever a parte do baixo junto com Brent, que se auto define “uma pessoa com menos criatividade que uma porta”.

                -Não tô afim de fazer nada hoje. – disse, abrindo a porte do apartamento e automaticamente me jogando no sofá da sala.

                -Podemos ver um filme,  que tal?

                -Ótimo. Escolhe um filme aí.

                -Ok. Vamos ver Closer. Tô querendo ver há tempos mas não consigo.

Aquela noite mudou os cursos do meu pensamento. Aquele filme jamais ia sair da minha cabeça. Dele, tirei ideias para o disco. As duas músicas já compostas iam se chamar Lying Is The Most Fun a Girl Can Have Without Taking Her Clothes Off e But It’s Better If You Do. Essas frases juntas formam uma frase do filme, uma frase que ficou presa na minha cabeça e tem a ver com a história.

No final do filme, vi que Brendon tinha adormecido. Também, pudera, eram quase 3 da manhã já. Decidi dormir ali mesmo no chão, ao lado dele. Fiquei admirando o seu rosto até o sono aparecer pra mim também. Naquele momento, eu percebi que era impossível eu estar com uma sorte melhor que aquela. Eu tinha dado o pontapé inicial no meu sonho, e estava apaixonado por alguém que estava ali, deitado na minha frente, dormindo como um anjo. E o melhor, estava apaixonado por alguém que também estava apaixonado por mim. 


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