Back to Us escrita por The Sweet B


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Desde que comprei outro notebook, tenho tentando me acostumar com a falta do word. Exatamente, tenho que fazer tudo no wordpad e lá não tem correção. Por isso, qualquer erro, me avisem, já que escrevo depressa e as vezes deixo passar algo.



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Eu podia sentir algo diferente na segunda-feira. Aquele começo de semana, de uma forma inexplicável, estava marcando o começo de alguma coisa. Além da separação de Sam e Kevin, os meus nervos já estavam a flor da pele com a chegada da estréia da peça da escola. Minha avó havia viajado para Nova York quando recebeu uma ligação de uma médico amigo dela dizendo que queria proporciona-la o melhor tratamento do país. Eu tinha a impressão de que algo não daria certo.

"Quem é ela?", cochichavam pela escola olhando pela porta da entrada. Quando parei para prestar atenção, me assustei com o que vi. Era Sam saindo do carro no volume mais alto de Dead Or Alive de Bon Jovi, vestida de preto e maquiagem pesada. Todos olhavam enquanto ela passava, até que ela chegou do meu lado.

- Sam? - perguntei surpresa olhando ela de cima para baixo. - O que houve com você?

- Decidi mudar um pouco. - até o modo como ela falava estava diferente. - Depois que terminei com Kevin, percebi que eu estava perdida já havia algum tempo e que aquela não era eu. Então encontrei na rua esse grupo de garotas - ela me entregou um folheto de banda com quatro meninas vestidas mais ou menos da forma que ela estava: coturnos, estilo rock 'n' roll e olhos pretos. - Elas me ajudaram a entender que não fui eu quem deixei Kevin, foi ele quem me deixou ir... e que as minhas roupas eram cafonas.

- The Hex Girls?

- Elas me deixaram fazer parte da banda delas - ela sorriu como se fosse algo orgulhoso.

- Mas, Sam, você não toca nenhum instrumento.

Aquela era uma mecha roxa no cabelo ruivo perfeito e que eu tanto invejava de Sam?!

- Ali - ela me olhou como se eu fosse uma boba. - Quem precisa saber cantar pra ser cantor hoje em dia? Além do mais, eu só preciso ficar atrás fazendo "uhhs" e "aaahs" e tá tudo certo. Agora deixa eu ir que já estou atrasada.

Ela deu meia volta em direção a saída.

- Sam, as salas de aula são para lá.

Sam me olhou como daquela forma de novo.

- Eu sei. Não vou ficar para as aulas. As garotas estão me esperando no píer.

Eu gritei seu nome várias vezes antes dela voltar para o carro chamando tanta atenção da mesma forma como veio, mas ela me ignorou completamente. Corri para Kevin, mas não consegui encontrá-lo.

- Está procurando por Kevin? - Sarah James, a jornalista do jornal da escola, me perguntou. Eu balancei a cabeça.- Ele está na diretoria. Acho que se meteu em uma encrenca muito grande. Aí, se souber de alguma coisa, me conta!

Corri para a diretoria, dessa vez. Havia policiais, o que me deixou mais preocupada. Pela porta de vidro, pude ver Kevin, Luke e mais alguns meninos do time de basquete. Não tive duvidas de que se tratava sobre aquela noite em Lowell High School. Dean também estava lá dentro, tentando falar com o diretor, mas acho que o mandara para fora, já que ele saiu de lá sem uma expressão muito boa.

- O que houve? - perguntei a ele, notavelmente preocupada.

- Parece que pegaram pelo vídeo de segurança os garotos entrando e saindo da escola aquela noite. O diretor de lá deu queixa na polícia e eles seram suspensos.

- Ai meu Deus!

- Podia ser pior. Eles podiam ser presos por vandalismo.

Kevin olhou para mim pela porta de vidro. Ele estava triste, provavelmente envergonhado e esperando por algum sinal de desapontamento da minha parte.

------------x------------

Eu não conseguia falar com Sam. Eu não podia falar com Kevin, já que Joe havia tirado dele o celular e computador quando o colocou de castigo. Eu não conseguia me decidir se devia ligar para os pais da Sam e contar tudo, quando ela de repente apareceu na escola no dia seguinte.

- Vai assistir aula hoje?

- Só porque as garotas não vão poder se encontrar de novo esta manhã.

- Elas por acaso estão no ensino médio?

- Claro que estão, bobinha - Sam me fez senti um bebê. - Elas estudam aqui, nunca notou não?

Mas eu não conseguia me lembrar de nenhuma dessas garotas andando pela escola.

- Por que não fazemos o seguinte? Mais tarde teremos ensaio da banda. Você pode vir comigo e ver como é. Quem sabe não vira tiete?

Fiz uma careta e Sam riu.

- Vou nessa. Até mais. - E me deixou lá, parada, sozinha, como já estava virando costume. Balancei a cabeça para não pensar que queria Sam de volta.

Dean se sentou comigo na hora do almoço. Olhei irritada para ele.  O que ele estava fazendo? Se juntando a mim por pena? Porque eu queria ficar sozinha, caso contrário, teria me sentado com Jenna ou algum colega da peça. E ainda mais, ele apenas se sentou e não disse nada. Começou a comer suas ervilhas olhando para mim e, notando minha expressão de zangada, tentou segurar os risos, sem sucesso, e gargalhou por sobre seu prato.

- O que você quer? - estourei de raiva. Ele não parou de rir por mim.

- Você sabe como fazer careta quando está brava. Infelizmente, é sempre que me vê. Refresque a minha memória: eu alguma vez já lhe ofendi?

Lembrei o modo como ele falou comigo e o que ele disse naquela noite no meu carro, depois foi embora. Escureci de raiva.

- Só a sua presença já é considerado uma ofensa para mim.

- Ouch - ele se fingiu de ofendido. - Me diga uma coisa, você gosta de pasta italiana, suco de uva e jazz?

- O que?

- Responda logo.

- Não vou responder. - a cada segundo que se passava, minha raiva só aumentava.

- Não seja teimosa.

- Não sou teimosa. Só não entendo o motivo desse papo.

- Eu quero chamar você para sair. Não entendeu ainda?

- O que? - perguntei pertubada.

- Tem esse restaurante na Elli's Street; pequeno, mas muito, muito aconchegante que achei que...

- Não, não, para aí. - o interrompi. Ele me olhou confuso e talvez apreenssivo com seus olhos verdes. - Eu não vou sair em um encontro com você.

- Por que não?

- Porque eu não te suporto.

- Exatamente.

- O que? - perguntei confusa.

- Exatamente. Você não me suporta e eu também não. Eu não te suporto, Alicia.

Criei uma ruga entre a testa e, cruzando os braços, disse:

- Está vendo?

- Eu não suporto o jeito como você fala comigo e sempre arranja briga, eu não suporto o fato de que você acha que tudo é sobre você no mundo...

- Ei!

- ... e nós mau nos conhecemos, mas não suporto essa sua saia com pregas ridícula.

Abri a boca em um O perfeito, me sentindo extremamente ofendida.

- E é por isso que devemos sair.

Fiz beicinho.

- Ainda não encontrei o sentindo nisso.

- Você sente algo por mim - ele foi mais direto do que nunca.

- O que?!

- E além do mais, você está me devendo um encontro.

Me levantei tremendo de raiva.

- Eu não te devo nada e vai sonhando se algum dia nós vamos sair juntos em um encontro. Ouviu isso? Vai sonhando.

Marchei para fora do refeitório antes que o constrangimento de que todos estava olhando para mim batesse. Em minha cabeça, já havia perdido as contas de quantas palavras usei para xinga-lo. De inglês, a português e até um pouco em francês que aprendi nas minhas aulas. Quando achei que o dia não poderia ficar mais conturbado, no fim das aulas, Sam buzina e me manda entrar no carro.

- Vamos lá, vamos viver um pouco.

Não era tão rebelde quanto achei que fosse. O local de ensaio era nada mais, nada menos, que no porão de uma das garotas. Mesmo assim, quando entramos no porão, me assustei com a quantidade de fumaça exalando no ambiente.

- Não se preocupe, a casa é da Jane, ela mora com a avó, e a avó dela dorme o dia inteiro, sem falar que é meio surda também e nunca desce até aqui.- Sam explicou.

- Sammy! - uma garota de cabelos curtos escuros e com uma das laterais raspadas acenou. Ela tinha um piercing no canto da boca e mais uns 200 pelo resto do corpo. Ela e Sam fizeram um tipo de cumprimento personalizado, antes da garota me olhar desaprovando do pé a cabeça. - Quem é a engomadinha?

- Essa é Alicia, a minha melhor amiga. Ela é legal. Ali, essa é Thorn, Jane e Roxie - ela apontou para respectivamente a garota do cabelo curto, uma outra loira com carinha de criança e batom roxo e uma outra, de pele mais morena que as outras e cabelo também curto, cacheado e frizado. Todas elas me cumprimentaram com um "beleza?" e "e ai?" e eu, me sentindo a Martha Stewart, acenei com a cabeça forçando um sorriso.

- Só está faltando uma...

- Estou aqui. - uma garota de cabelos muito longos e quase laranjas desceu as escadas depressa e me olhou com os olhos arregalados, como se ela fosse um gato atraido por algum brilhante, o que me deixou desconfortavel.

- Ah, sim - Sam riu. - E essa é Luna.

- Oi - a garota Luna fez balançando os dedos na frente do meu rosto. Me perguntei se ela estava bem.

- Ela só está chapada.  - acho que ela se chamava Jane, disse.

Olha o lugar em que Sam foi se meter. Senti uma necessida enorme em puxa-la de lá e ir para o mais longe possível. Será que todas elas estavam fumando drogas agora, nesse exato momento. Será que Sam já havia experimentado? De repente, fomos assustada com um som estrondoso de bateria.

- Podemos começar? - a tal Thorn, que se não era muito introvertida, era lésbica, disse irritada com as baquetas na mão.

A cada minuto e música que se passou, mas desconfortável eu ficava. Além do fato de que estava sentada em um sofá que cheirava a álcool e do lado de um cinzeiro cheio, me sentia imensamente intimidada pelo grupo, apesar das música não serem ruins. Sam não fazia mesmo muito, como ela mesma disse. Ou fazia o vocal de trás ou tocava o triângulo, o que era simples. Em algumas música ela ficava de lado e ia se sentar no sofá comigo, sempre me olhando com um sorriso animado, como se estivesse se sentindo perigosa de mais por fazer parte de uma banda de rock.

No intervalo do ensaio, tentei contar quantos cigarros a Roxie já havia fumado. Thorn pareceu ter notado, porque ela me ofereceu um.

- Não, obrigada.

- Tem certeza?

- Sim - forcei outro sorriso, então ela passou para Sam.

Sam, apreenssiva, pegou o cigarro e pôs na boca. Quis gritar para ela parar. Thorn acendeu o cigarro.

- Então, meninas, a batalha de bandas está se aproximando.

Todas elas vibraram e, o som que isso fez, abafou o som de Sam se engasgando com o trago que deu no cigarro. Ela apagou ele imediatamente.

- E ainda não estamos preparadas para isso. Por isso proponho mais horas de ensaios em mais dias da semana. - As meninas concordaram. - Segundas, terças, sextas e sábados, das 10h as 17h da tarde? Tudo bem para vocês? Novamente corcodaram.

- Mas e a escola? - perguntei.

As Hex Girls olharam para mim como se eu tivesse dito algo muito idiota.

- As finais estão chegando. Vocês pretendem perder tudo isso de aula?

- Dane-se a escola! - gritou Roxie.

- É, o que tem de legal na escola? - sibilou Jane.

- Você é um pouco careta, não é, engomadinha? - Thorn disse para mim.

- A gente não precisa de aulas pra fazer música. Não é em um diploma que está nosso futuro, é nos 2 mil doláres e um contrato de um ano com uma gravadora de verdade que ganharemos se vencermos a batalha de bandas que está.

- E em um mês de rosquinhas grátis - acrescentou Luna.

- E nem precisa ficar preocupadinha em faltar a escola porque o ensaio é fechado.

Olhei para Sam.

- Você não está mesmo pensando em fazer isso, não é, Sam? - perguntei.

Sam, a antiga Sam com apenas roupas e cabelo diferente, olhou para mim em dúvida.

- Sam é da família agora - Thorn disse. - Ela vai ficar com as irmãs dela, não é mesmo, Sam?

Sam abriu e fechou a boca algumas, sem saber o que falar.

- Sam? - pedi por respostas.

- Vai, Sam, diz pra ela. - Thorn insistiu, mas Sam apenas se levantou do sofá e disse que iria me levar em casa.

Durante todo o caminho, fiquei calada e completamente chateada, para não dizer com raiva. Sam notou isso.

- Ali, vai, não faz assim. - mas não respondi. Ela tentou me animar, mas continuei distante. - Eu só não quero você me julgando, ok?

- E como não? - finalmente falei. - Com você andando com aquelas meninas, fumando, faltando aula e só Deus sabe mais o que. Talvez eu seja mesmo careta, Sam, mas é porque eu sei diferencia o certo e o errado. Se você quiser fazer parte de uma banda de rock, vá em frente, eu serei a primeira a comprar os ingressos do seu primeiro show, mas se você quer estragar a sua vida, não me peça para sentar lá e te apoiar porque eu não vou, entendeu? Poxa, eu sei o quanto você amava, Kevin. Eu sei o quanto está sendo difícil para você, mas não deixe que isso mude quem você é. E você não é aquilo, Sam.

Sam continuou calada, olhando para a estrada. Ela apertava o volante cada vez com mais força, até falar, com uma voz de quem está tentando não chorar:

- E quem é você para me dá conselhos depois de um fim de namoro? Isso o que estou fazendo - a banda, o visual, tudo - não é pior do que você fez. Você se isolou, Ali. Por dois meses, eu não consegui te tirar de casa. E, quando você finalmente voltou a agir como normal e parar de dá uma de Bella sem Edward, estava mais mudada do que nunca. Estava mais fria, mas mais madura, e eu não reclamei, reclamei? Todas as vezes que você foi grossa ou ignorante comigo ou com qualquer um porque isso fazia parte da sua nova eu, eu não disse uma palavra. Porque esse era o modo que você tinha aprendido a lidar com o fim do namoro, e eu não iria julgar.

Ela conseguiu me deixar calada. Diante do que ela disse, não conseguia pensar em nada para falar. E ela, ofegante, continuou:

- Então não me julgue também, porque a forma como eu estou lidando é melhor do que a sua. Eu pelo menos não deixei de viver.

Ela pegou pesado. Olhei pela janela, chateada.

- Jogo baixo, Samantha. - disse a ela.

Passamos o resto da viagem em silêncio. Quando finalmente chegamos na minha casa, saindo do carro, disse:

- Só para você saber, se não tem notado, Kevin não está indo para a escola ultimamente porque foi suspenso. E está de castigo. E graças a Deus que não foi preso por aquela noite.

Sai do carro dela antes que ela dissesse qualquer coisa. Era isso. Uma grande briga entre mim e Sam novamente. Mas dessa vez, ela não era a única com raiva e, se dependesse de mim, nesse exato momento, não voltariamos a nos falar por um bom tempo. Quis gritar, quando cheguei no meu quarto. Tranquei a porta, me joguei na cama e abafei o som com um travesseiro. Cinco minutos depois, o quarto escurece com o sol se pondo. Acho que dormir e acordei umas duas vezes, quando finalmente acordei de vez com o meu celular vibrando. Com os olhos embaçados de sono, não vi quem era.

- Tudo bem, talvez você não queira sair para jantar, mas que tal um filme?

- O que? - perguntei completamente confusa.

- Acabou de estreiar esse filme. É comédia, então supus que você gostasse. Todo mundo gosta de comédia. Talvez eu finalmente te veja rindo.

- Quem é?

- Quem? - a pessoa pareceu decepcionada. - Dean, lembra?

- Ah

- E então?

- E então o que?

- A que horas passo na sua casa?

- Já disse que não vou sair com você.

- Só me certificando de que não irá mudar de ideia.

- Bom, eu não vou.

- Tem certeza?

Sentei-me na cama.

- Eu não vou mudar de ideia, nunca, nunquinha!

Uma hora depois, eu estava produzida com um vestido preto que sempre aposto quando tenho medo de errar, saltos que me permitir usar esta noite e uma carteira igualmente preta, usando também uma jaqueta caso esfriasse mais a noite. Deixei a saia que ele disse que odiava de lado e agora tento entender o porquê. Também cacheei os cabelos e passei maquiagem, mas bem simples porque não queria assustá-lo. Agora, aqui fora, parada, estou me odiando por me importar tanto com o que ele pensa e ter cedido ao encontro.

Dean havia marcado as 19h, mas já eram 19:09h e, considerando o fato de o jardim da frente era grande e os meus saltos altos de mais para enfrentar a viagem mais duas vezes, permaneci na frente do portão. Quando deu 19:10h, me perguntei se ele estava pertido ou se eu tinha dado o endereço errado. As 19:11h bati o pé no chão e disse a mim mesma que só esperaria mais cinco minutos. As 19:12h, ele chegou. Era um carro antigo, acho, cara dos anos 80. Não entendo muito de carros, mas com certeza não era um que Justin compraria. Dean saiu do carro e foi até mim. Ele me olhou dos pés a cabeça e soltou:

- Você está linda. Quem diria, não?

- Como? - perguntei a ponto de explodir.

Ele riu e balançou a cabeça, gostando do jeito que estava me deixando irritada. 

- Podemos? - ele abriu a porta, mas eu não me movi um centímetro. Ele começou a ficar confuso.

- O que, sem flores?

- perguntei. Ele coçou a nuca.

- Não achei que fosse o tipo de garotas que gosta de receber flores.

- E por que não?

- Ah você parece tão... feminista - ele disse cauteloso.

Se eu não estivesse com tanta fome, dava meia volta e ia embora, mas no entanto, entrei no carro.

- Você está atrasado - reclamei. 

- Vingança, princesa. - ele fechou a porta do carro para mim e se abaixou para me olhar pela janela. - Por aquela noite.

Cerrei o dentes. Já estava odiando tudo. Por que aceitou o convite, sua idiota? Ele ligou o rádio e reconheci a música de cara. Back in Black, ACDC. Tenho até o CD. Mas da forma como estava impaciente com ele e do jeito que ele parecia aproveitar a música, mudei a estação. Por uma incrível coincidência, era Justin na rádio. Eu pensei, você apareceu em boa hora, Bieber, enquanto começava a batucar com os dedos e a cantar o refrão de All Around The World.

- Ah não, não, não, não. - Dean mudou a estação de volta. - Meu carro, minhas músicas.

- Você é um chato, sabia?

- Faço o que eu posso - ele deu de ombros. Mudei novamente a estação e ele me olhou com um olhar desafiador. - É guerra?

Eu sorri. Ele colocou em ACDC de novo e aumentou o som. Quando tentei mudar, ele deu um tapinha na minha mão.

- Ei! - protestei.

Bati na mão dele de volta. Dean não ligou e continuou protegendo o rádio com as mãos. Esperei por um tempo até ele achar que eu havia me rendido, mas assim que pude, troquei a estação de novo. Ri vitoriosa. Ele desligou o rádio.

- Não iremos ouvir o seu ex-namorado pop star enquanto estamos saindo em um encontro, Alicia.

Me pergunto se o tom que ele usou era de um pai repreendendo uma criança desobediente ou de um namorado ciumento. Ele não era nenhum dos dois meu, mas não ousei discutir. Cruzei os braços e olhei para o lado de fora da janela, quase como uma criança emburrada. Acabamos indo para o restaurante, afinal. Não que comer pasta ou ir ao cinema fizesse diferença, mas gostaria de ter sido avisada no meio do caminho, só para sentir o direito de poder escolher também.

- Kevin me disse que você gosta de comida italiana.

Ótimo. Kevin estava envolvido nisso também. Comida italiana era uma coisa tão minha e Justin que presumi que nem Dean, nem Kevin soubessem do meu real motivo por gostar tanto.

Era um restaurante tão pequeno e aconchegante como ele disse. As paredes eram de tijolos, as mesas servidas em toalhas rodadas brancas e velas no meio. Havia um palco no canto, onde uma banda tocava canções da Billie Holiday. Minha avó costuma ouvir tanto ela que reconheci todas as canções tocadas. Um garçom nos entregou o cardápio. Dean me perguntou logo o que eu desejaria beber. Como eu não considerava que ele tivesse dinheiro para nos pagar taças de vinho e não sabia se ele reagiria surpreso de mais a ponto do garçom suspeitar e pedir nossas identidade, fiquei na coca-cola. Dean pediu o mesmo e disse que nos decidiríamos sobre os nossos pedidos depois, dispensando o garçom. Mesmo assim, não tirei os olhos do cardápio.

- Viu? Não está sendo tão ruim assim.

- O encontro mal começou, quero ver o desenrolar dele. - respondi seca.

- Sua simpatia me surpreende.

- Obrigada.

- E seu senso de humor também.

Forcei um sorriso e voltei a encarar meu cardápio. Como ele não disse mais nada, pude me concentrar. Penne ao molho de tomate com manjericão, Capelete a Putanesca, Nhoque, Berinjela a Parmegiana... Ah, o Carpaccio custa quinze dólares! Talvez eu peça apenas para ver a cara dele e até onde ele está disposto a ir.

- Eu tenho que te confessar uma coisa - ele disse de repente. Fechei o cardápio e o encarei. - Eu sabia quem você era quando nos vimos pela primeira vez. Eu sabia que era você quem eu devia ter conhecido naquela noite do cinema.

Fiquei tensa, e confusa. O que isto significava? Por que ele estava me contando isto agora?

- Como é que você sabia?

- Kevin me mostrou seu facebook. Te reconheci na hora. Fiquei até animado em saber que era você quem eu ia encontrar. Até decepcionado quando você furou. - ele riu envergonhado.

Balancei a cabeça para esclarecer a mente.

- Por que não me contou?

- Eu não sei - ele deu de ombros. - Fique com vergonha, eu acho. Depois com medo de te assustar.

- É - eu sooei norvosa. - Eu estou bem assustada agora.

- Bem... me desculpe.

- Eu preciso de um pouco de ar, tudo bem? - disse jogando o guardanapo de pano do meu colo na mesa e me levantando. - Eu vou até o toalete.

Ele tentou me deter, mas depois deixou que eu fosse. Não olhei para trás, andando o mais rápido possivel até uma porta escritos "Signore" que apostei ser o banheiros feminino. Era um tanto exagerado a forma como eu estava reagindo. Tudo bem, foi revelador, mas não era para tanto, Alicia. Por que você está agindo assim? Parecia que me faltava o ar. Até onde sabia, eu não era asmática. Segurei nos dois cantos da pia e me apoiei lá. A dor no meu peito e o buraco na minha barriga era inexplicável para a tal situação. Então por que eu estava gindo daquele jeito, pelo amor de Deus? Eu não devia está aqui. O local, o ambiente, a música, Dean, até o esmalte que eu estava usando, tudo parecia errado de mais. Me peguei prestes a chorar. Quando foi que deixei a minha vida chegar a esse ponto? Considerei rapidamente tudo o que estava passando nos últimos meses e era o oposto do que eu desejava para mim. Eu não podia continuar aqui. Tentei me recuperar nos segundos seguintes e fui até Dean. Sua expressão era de quase alívio quando ele me viu de volta, mas aí eu disse:

- Podemos ir embora?

Ele pareceu desapontado, mas não discutiu.

- Claro. Só me deixe pagar a bebida.

Não havia percebido que as coca-colas já estavam na mesa. Dean foi mais rápido do que eu no quesito de abrir a carteira e jogar o dinheiro na mesa, depois me arrastou para fora do restaurante. Caminhamos para o carro em silêncio, ele mais a frente do que eu e eu, embaraçada o seguindo. Quando entramos no carro, eu disse:

- Aqui, deixe-me ajudar a pagar o refrigerante.

- Não precisa. - ele balançou a cabeça, mas não olhou para mim.

- Bem, muito obrigada, Dean.

- Tudo bem.

Decidi me calar agora, mas ele perguntou, um tanto pertubado:

- Foi pelo o que eu disse, não foi?

- Não!

- Porque se foi, pode me dizer, é serio.

- Não, não foi pelo o que você disse, Dean. Foi até fofo, eu diria.

- Então o que foi?

Ele parecia triste?

- É só que... É que eu não sou a garota pra você.

Ele franziu a testa.

- Quem te disse isso?

- Eu sei. Eu sou cheia de problemas. São coisinhas pequenas, mas que quando você chega mais perto, dá pra ver o quanto é profundo. E não é qualquer um que consegue lidar com isso.

- Me deixa tentar pelo menos? - ele não tirava os olhos da estrada.

Demorei para responde-lo. Eu queria que ele tentasse?

- Não vou te machucar.

- Eu não sou um garotinho de 10 anos, Alicia. Não precisa se preocupar comigo.

- É, eu sei disso. - sorri para ele e esperei que ele virasse para mim, mas ele não fez.

- Tem certeza que não foi por nada do que eu disse?

- Dean, não é você. Sou eu.

- Ah claro - ele tentou soar sarcastico. - O velho papo de "não é você, sou eu"

Ah, como é que isso parecia tanto que eu estava terminando com ele? Tentei pensar um pouco no que dizer, mas sem sucesso. Acho que o melhor não é dizer nada neste momento. Ele não entenderia de qualquer jeito agora. Mas sobreviveria e conseguiria dormir tranquilo esta noite. Eu, por outro lado, só me contentava em dizer a mim mesma que o que eu estava fazendo era correto. Quando ele me deixou na porta de casa, olhou para mim, felizmente não parecia chateado ou com raiva.

- Amigos?

Eu sorri e concordei.

- Amigos.

Não tinha por que não. Deixei Dean ir embora, sorridente, mas assim que o carro dele desapareceu, meu sorriso foi junto. No meu interior, o Justin da minha cabeça se zangava:

Alicia, por que você fez isso?

Eu não quis responder. Eu não sabia o que responder. Ora, merda! Entrei dentro de casa sentindo todas as emoção possíveis. Raiva, dúvida, tristeza... até que tudo se embaralhou e formou um bolo na minha garganta. Passei depressa pelas escadas.

- Alicia? - minha mãe chamou, mas não parei. Ela veio atrás de mim. Escondi o rosto nos travesseiros da minha cama antes que alguem me visse chorar. - Alicia?

- Me deixe em paz! - gritei e isso saiu completamente infantil.

Minha mãe subiu na minha cama e me puxou para ela. Exatamente o que eu não queria, mostrar que estava chorando. Me sentei de costas para ela enquanto ela me abraçava e colocava a cabeça na curva do meu pescoço e ombro.

- O que aconteceu, meu amor?

- Nada, mãe, por favor... - mas eu não conseguia concluir nenhuma frase. Comecei a soluçar alto e violento enquanto me derretia em lágrimas.

- Shh - minha mãe tentava me acalmar, mas era impossível.

- Eu quero morrer - disse quando finalmente consegui falar.

- Não diga isto - ela me abraçou mais forte. - Vamos, vai ficar tudo bem.

- Não vai, não - solucei. - Tá doendo muito, mãe.

- Vai passar.

Mas não parecia que ia passar. Meu coração continuava acelerado, ao mesmo tempo que eu mal conseguia respirar e começava a ficar tonta. As náuseas que senti mais cedo no restaurante também voltara e podia sentir calafrios pelo corpo todo. Minhas  mãos ficaram trêmulas de modo que eu não poderia segurar um lápis. Merda, o que estava acontecendo comigo? Minha mãe percebeu que eu não estava mesmo bem e correu para me buscar um copo d'água, mas pareceu que meu ataque não iria passar. Me ajoelhei no chão e chorei mais do que nunca. Acho que assustei minha mãe, porque na mesma hora ela pegou o telefone e chamou um médico.

----------x---------

Estava me sentindo completamente embaraçada sentada na minha cama segurando com as duas mãos o copo d'água enquanto minha mãe conversava com o médico. Do corredor, onde eles estavam, dava para ouvir um pouco da conversa deles. Ele estava perguntando se eu estava passando por alguma situação difícil no momento. O rémedio que ele me deu havia começado a fazer efeito há uns dois minutos e taquicardia, tontura, tremedeira e falta de respiração passaram. Eu parecia de volta ao normal. O médico e minha mãe entraram assim que dei meu terceito gole na água.

- Como você está se sentindo, Alicia? - o doutor perguntou.

- Bem, agora.

- Ótimo. Os sintomas devem desaparecer completamente em poucos minutos e você estará completamente boa. O que você teve, Alicia, se chama Ataque de Pânico. É causado por alguma fobia ou desequilíbrio emocional. É bastante normal, no entanto, se acontecer apenas uma ou duas vezes na vida. Diga-me, você tem passado por alguma dificuldade ou situações que possam ter te conturbado ultimamente? Na escola, em casa...

Estou pertubada, ainda tentando entender o que eu tive. Um Ataque de Pânico, não é algo que eu achei que algum dia poderia ter.

- Bem, a estréia da minha peça da escola é amanhã... - disse vagamente, apreensiva em dizer os outros motivos.

- E também tem aquilo que eu disse para o senhor, doutor, nós temos passado momentos difíceis em casa com avó dela doente e tudo mais - minha mãe interrompeu e eu, de certa forma, fiquei irritada dela ter contando.

- Isso é tudo? - o doutor me pergunta e eu depressa balanço a cabeça. - Alicia, isso é claramente o seu copo lhe dizendo que, seja lá o que você está passando, esse é o seu limite e você não deve força-lo.

Que limite de merda, pensei. Eu sou mesmo tão fraca que nem posso aguentar um dia ruim?

- Bem, o remédio deve dar conta. Em caso de qualquer outra alteração, por favor, me liguem.

- Sim, muito obrigada, doutor - minha mãe disse. - Venha, eu lhe acompanho até a porta.

Enconstei a cabeça na cabeceira da cama, tentando descançar. Mesmo o ataque tendo passando, minha mente continuava cheia de mais com tudo o que aconteceu durante o dia. Quando a minha mãe voltou, subiu na minha cama e me abraçou novamente.

- Você está bem mesmo, não é? - ela me perguntou depois de um minuto caladas na escuridão.

- Sim - suspirei.

- Que susto...

Não respondi. Fechei os olhos e tentei descançar, com preguiça de mais para colocar o pijama.

- Ali, se você está assim tão sobrecarregada, podemos viajar. O que você acha? Las Vegas? Nova Orleans? Ah você sempre quis conhecer Nova Orleans.

Sorri, mas balancei a cabeça negativamente.

- Ou podemos voltar para casa, passar algumas semanas no Brasil. Você não vai lá há tanto tempo.

Ponderei a idéia. Depois me virei de lado e ajeitei o travesseiro.

- Talvez. Agora eu preciso dormir.

- Ah claro - minha mãe puxou as cobertas e me cobriu, mas não saiu de perto de mim. Quando olhei para ela confusa, ela balançou a cabeça. - Você sabe que eu não vou sair de perto de você essa noite.

Eu ri.

- É serio - ela se ajeitou do meu lado da cama.

- Ta bom. Só não ronca - brinquei.

------- x-------

No próximo capitulo:

Ali faz sua estréia no teatro. Será que tudo correrá bem? Sam se sente arrependida. Ali recebe flores... e mais flores? Ashley está entediada. Luke finalmente vai falar. E beijos nos camarim (uuuuh).

Não percam!


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No fim de semana, ganhei mais 4 leitores (yeeew!!). Mas mesmo com 24 acompanhando a fic, estou recebendo uma média de 3 reviews por capitulo. Leitores fantasmas, por favor, não se sintam envergonhados. O único modo de eu saber se vocês estão gostando ou acompanhando a fanfic é pelos reviews. Caso contrário, vou me sentir desanimada em criar os próximos capitulos. Infelizmente, vou ter que adotar certas medidas aqui. O PRÓXIMO CAPITULO APENAS SERÁ POSTADO DEPOIS DE 5 REVIEWS. Me desculpem. E, claro, não se esqueça de recomendar se você acha que eu mereço. Tenha uma ótima semana!