Eu olhava o celular e ao pegá-lo tremia, muito. Não sabia o que fazer. Já não conseguia mais chorar e minha cabeça só rodava em dúvida. Que mal faria atender? Apertei o botão verde e aproximei o celular do ouvido.

- Alô ? – Eu reconheci aquela voz grossa e doce imediatamente.

- Oi. – Respondi em um fio de voz.

- Tudo bem? – A voz tinha tom de preocupação e seriedade.

-Não, eu estou um lixo, nunca me senti tão mal assim na vida. Você sabe de todos os meus problemas com as pessoas que simplesmente vão embora, você podia ter mandado um sms dizendo “tchau, estou saindo de viagem, até nunca mais. Você foi usada.” Mas... NÃO ! NADA ! SEU IDIOTA, ESTÚPIDO, INSENSÍVEL, EGOÍSTA, EU TE ODEIO E NUNCA MAIS ME PROCURE!

Eu poderia ter dito tudo isso e desligado o celular na cara dele, mas não.

- Tudo e você ?

- Tudo bem... quer dizer, mais ou menos. Tive que vir em um trabalho de emergência, mas não pra modelar e sim pra ser filho. Meu pai tá falecendo.

O silêncio me invadiu. Eu pensando o pior e ele se tornando órfão. Mas não me culpo. Eu não sabia. O sms poderia ter vindo então dizendo “Oi Alice, fui visitar meu pai que não está bem. Até nunca mais e você foi usada.” Ainda assim melhor que nada. Rio mentalmente das minhas mensagens imaginárias.

- Nossa, meus pêsames. Onde você tá?

- Londres.

- Não sei o que te dizer Guilherme, sinceramente.

- Não tem o que dizer Alice, mas obrigado pelos pêsames. Eu só liguei para dar uma satisfação e dizer que... (pausa muito mais que dramática) que eu estou com saudade de você e queria estar do seu lado agora.

Meu coração desatou de todas veia e artérias existentes conectadas nele, venceu a lei da gravidade subindo pela minha traqueia, saiu pela minha boca, nadou na espuma, correu em volta da banheira e voltou pro lugar dele. A sinceridade no tom de voz me fez sorrir.

- Fica forte, cuida do seu pai e estou te esperando. – foi tudo que consegui dizer.

Nos despedimos e eu terminei meu banho. Ao deitar meu celular apitou mensagem. Remetente ? Diego. “Boa noite Ali, desculpa mais uma vez. Beijos.”

“Sem problemas Di... boa noite. Bjs.”

Dormi bem rápido. Mais do que de costume. Sempre fico rolando pra lá e pra cá. A chuva caindo facilitou.

No dia seguinte quando cheguei na escola, Camis me esperava na porta e só sorrisos. Comecei a procurar o lindo que não estava do lado dela. E sim com a turma de moleques que ele insiste em andar. Eu e Camis andávamos com uma turma de 9 pessoas. Nós duas mais sete (der). Nunca fui muito fã da galera da minha sala. Mas são as pessoas que convivi por 3 anos então certo carinho tenho. Tenho boas memórias. Semana que vem será nosso cruzeiro, viagem de formatura. Cinco dias em alto mar. Preciso de 30 mil comprimidos para enjoo. Me sentei do lado de Camis e me virei pra ficar de frente pra ela.

- Despeja!

- O que? – ela disse com um sorriso maroto.

- Você sabe bem.

- No intervalo! Que conto pra Let e pra Moni já.

- Tá bom... mas me adianta alguma coisa.

- Estamos juntos. – que veio seguido de um sorrisão típico de Camis.

Eu a abracei quase matando-a sufocada. Nessa hora o Lindo olhou pra nós e sorriu de ladinho. Menino com cara de lerdo.

- eeee ! Parabéns! – sussurrei pra minha irmã de alma.

Nesse momento bate o sinal e a maratona de duas aulas começa.

....

Depois da maratona descemos da sala em direção ao pátio. Nos encontramos com as duas garotas e Camis começou a contar do seu maravilhoso encontro com o lindo.


CAMIS POV:

Foi perfeito gente. Primeiro que ele chegou super pontualmente. E eu fiquei lá no meu quarto enrolando por cinco minutos fazendo um charme.

(risos geral)

Quando eu desci ele tava sentado no sofá mexendo nos dedos sem parar. Acho que ele tava meio ansioso. Mas ok... Eu fui lá, cumprimentei ele, ai saímos. Tinha um táxi na porta de casa. E adivinhem pra onde ele me levou? Outback ! Para eu comer minhas costelas prediletas! Que começo eu a achar que são as únicas coisas melhores que ele.

- Menos dona Camis. – comentou minha bailarina.

- Ah, mas elas são divinas. – todas começamos a rir.

- Só uma coisa. – interrompeu Alice – Por que que vocês não estão grudados?

- Ah, porque decidimos ficar discretos no começo. As M’s não autorizariam esse namoro nunca. Ainda mais a ratinha. – respondi. Ela fez ombros balançando a cabeça em concordância.

- Continuando... chegamos no outback, e começamos a conversar e conversamos a noite toda. Na hora de ir embora ele não quis me deixar pagar a conta, de jeito maneira. Ok... saímos do outback e fomos pra praia um pouco. Sentamos na areia e ficamos conversando e beijando e rindo até duas horas da manhã. Como meus pais estão viajando, não tinha ninguém pra me colocar horário. E não era como se eu estivesse fazendo alguma coisa errada.– ri do tom de voz que usei que quase deu a entender que era mentira. Só que não é. Juro. – Daí, teve uma hora que ele me sentou de frente pra ele e olhou nos meus olhos e me pediu em namoro, e eu obviamente disse sim. Então ele me levou pra casa e eu fiquei levitando. E agora vamos começar a bolar os esquemas de como nos encontrar aqui na escola quando estivermos afim de nos beijar. Sem que ninguém descubra claro.

As meninas riram e me desejaram os parabéns, nunca entendi o real motivo de parabéns quando se namora. Será que você tava encalhada e as pessoas começaram a se preocupar e parabéns que você desencalhou? Não sei... mas não tem problema. To feliz. Quando voltamos pra sala presencio a cena que mais odeio. A ratinha pendurada no MEU LINDO! Não sou ciumenta... mas ela abusa. Sério... preciso dar um jeito dessa folgada se tocar.