Resolvi voltar andando pra casa, no meio do caminho eu pararia ali na praia e sentiria um pouco do cheiro de maresia que sempre me acalmava, tomaria uma água de coco da melhor barraquinha de Ipanema. Enquanto estou no meu processo de meditação meu celular apita mensagem. Quando olho no visor abro um sorriso perigoso. Aquele tipo de sorriso que quando você vê que está desse jeito já diz logo: “Merda”!

D: Hey Alicita !

Alicita ? Mesmo? Não tinha um apelido pior não? Isso foi uma coisa que nunca gostei no meu nome. Não tem apelido pra ele, no máximo do máximo um “Lice” que eu acho muito sem graça. Aline é do mesmo jeito.

A: Hey Di!

Em menos de um minuto veio a resposta.

D: Que tá aprontando?

Resolvi demorar um pouco pra responder. Embora nunca gostei desses joguinhos ridículos porque sempre fui muito direta, as vezes eu fazia. É bom saber o que passa com o menino também e querendo ou não esses joguinhos ridículos mostram

A: To na praia aqui em Ipanema. Tudo bem?

D: Tudo bem sim e ai?

A: Sobrevivendo.

D: Difícil assim?

A: Um pouco.

D: Quer falar?

A: Na verdade não. Você bem que podia me distrair pra ser sincera.

Enquanto ele não respondia liguei pra minha mãe pra saber se ele podia ir lá em casa ver um filme comigo. Minha mãe conhecia o Diego e gostava dele. Ela falou que tudo bem e tava esperando por nós.

D: Distraio com prazer Alicita. J

Nossa, lá vem ele de novo com o Alicita broxante dele.

A: Bora lá pra casa ver um filme?

D: ué... pode ser. Quer que eu te pegue ai?

A: eu ainda queria ficar aqui mais um pouco.

D: Sem problemas... daqui uns 20 minutos eu saio daqui do trabalho, tomo um banho e colo lá.

A: Nesse caso te espero então. :D

D: tá bom. Beijos.


Continuei meditando nas coisas recentes que tinham acontecido. Será que ele partiu sem falar tchau mesmo? Quanto tempo ele ficaria longe? Por que não deu um tchau que fosse? Poxa, acho que eu merecia isso. Não era namorada dele nem nada, mas um beijo significa alguma coisa principalmente com todo cenário e contexto que foi o nosso.


Ouço o som de buzina e olho pra trás. Vejo o Civic preto e sorrio meio automaticamente, me levanto em direção ao carro. Entro no carro com a cabeça dando voltas de quanto tempo eu havia ficado ali. Quando entro no carro um cheiro incrivelmente bom me entra pelas narinas fazendo me suspirar.

- Oi Alicita – ele disse acompanhando o apelido broxante de um sorriso sincero.

- Oi Di... – respondi, cumprimentando com um beijo na bochecha.

- E ai, como foi teu dia? – ele perguntou de maneira bem direta ao meu ver.

- Você quer a verdade ou o que você vai ouvir menos?

Nesse instante ele me olhou e ergueu uma sobrancelha.

- A verdade óbvio.

Suspirei e comecei.

- Ah, é que conheci esse menino incrivelmente príncipe, mas já deveria saber que príncipes não existem. E ele foi embora, viajou do nada. E nem tchau deu. Foi como perder o chão. Em todos os sentidos. Principalmente no momento que eu admiti a mim mesma que ele tinha ido sem se despedir. Meu coração doía de uma maneira que nunca fosse possível doer. Cólica não chega nem perto do que eu senti. O coração doía, repuxava, torcia, dava agulhadas. E não no sentido figurado. No sentido literal. Eu chorei, chorei e chorei até não ter mais um ml no meu corpo. Mas ai uma hora passou. A dor sumiu. As lágrimas também. E agora só fica a dúvida mesmo, de porque ele foi, com quem e porque ter ido sem um tchau.

- Nossa... difícil né?  Até pra falar alguma coisa fica difícil. Mas sei lá... fala com ele. Liga, manda mensagem no facebook, no celular. Qualquer coisa.

- Não... deixa ele vir falar comigo... ele que tem que dar satisfação. Né?

- Nem sempre. Talvez ele ache que não tenha essa obrigação.

- Hum.

Estávamos chegando em casa quando o celular dele tocou. Não sei porque olhei no visor e vi “Julia”. Seria a mesma Julia que ele namorava quando éramos adolescentes pirralhos?

- Tá bom, eu vou. (silêncio). Beijos, tchau.

Ele desligou o celular e me fitou.

- Ali... não vou poder ficar. Desculpa.

- Tudo bem. – sorri de lado. Precisava mesmo de um tempo sozinha. Terminar de organizar meus pensamentos em relação ao Guilherme.

- Juro que marco outro dia pra gente! Surgiu um imprevisto.

- Relaxa Di... tudo de ótima.

Dei outro beijo na bochecha dele e sai do carro. Em casa não tinha ninguém. Me joguei na minha cama e dormi por uns bons 40 minutos. Sabe aquele sono rápido mas relaxante? Bem esse mesmo. Levantei e fui pro banho. Enchi a banheira e coloquei muita espuma. O tempo começou a fechar e a chuva a cair. Liguei as velas ao redor e coloquei He is we pra tocar. As melhores músicas que já ouvi na vida. Calmas e não falam de amores. Tem melhor?

Apaguei as luzes e me deitei na banheira. Depois de brincar com a espuma relaxei a cabeça pra trás e fechei os olhos. Quando comecei a entrar em transe ouço o meu celular... quando olho no identificador meu coração para.

“Guilherme chamando”

Verde ou vermelho?