As Duas Faces De Johanna 2 - A Nova Era. escrita por Lina Pond


Capítulo 2
Só me ajude.




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- Olha só, a tia mais maravilhosa do mundo chegou – disse enquanto me aproximava do berço e pegava o filho de Annie e Finnick no colo – você é muito mais lindo pessoalmente Michael. Por que Michael, Annie?

- Finnick gostava do nome.

- Michael Cresta Odair. Você tem um belo nome Mike – disse enquanto o abraçava o sentia o cheiro de mar e brisa que só Finnick tinha. – Sabe Annie, você tem sorte. Pelo menos você tem alguém pra amar. Alguém que te lembra dos melhores momentos da sua vida.

- Te lembra dos seus também – Annie sorriu – e você pode ficar aqui conosco sabe? Pra sempre.

- Eu ia amar Annie, mas o distrito sete precisa de mim.

- Eu achei que eles te odiavam – Annie riu.

- E odeiam – disse enquanto fazia cócegas no Mike – mas precisam de alguém que não os deixe tirar o pé do chão.

- Você acha que pode acontecer de novo? – Senti os olhos da Annie pairando pelo ar e quis evitar um ataque.

- Não Annie. É só que, eles vão esperar uma vida perfeita. E nós não vamos ter isso.

- Mas vamos ter uma vida boa, certa?

- Sim Annie. Isso eu posso te prometer.

Eu podia ficar com Mike o dia inteiro, mas o novo prefeito do quatro queria falar comigo. Os tributos vencedores que não morreram na rebelião se tornaram super estrelas. Não sabia se Katniss ou Haymitch tinham uma vida de glamour, mas eu, Enobaria e Peeta vivíamos sendo requisitados pra assuntos de Panem.

- Johanna Mason, seja bem-vinda.

- Obrigado senhor.

- Eu queria falar com você sobre um assunto meio delicado.

- O que houve?

- O povo da Capital quer você... Quer você como mentora de um dos novos jogadores.

- Sim, já falaram comigo, mas eu recusei.

- Bem – o prefeito levantou-se de sua cadeira, que mais parecia um trono e me encarou – como você votou por uma última edição de Jogos Vorazes, eles sentem que é sua obrigação tentar ensinar alguma das crianças a sobreviver.

Um arrepio tomou conta do meu corpo. O calafrio. Maldito dia aquele em que eu aceitei o fato de termos mais um Jogo.

- Quem mais vai?

- Enobaria já aceitou. Haymitch e Katniss sequer pensam na ideia.

- Se eles se negarem, eu tenho direito também.

- Johanna. Haymitch e Katniss tiveram um papel importante na revolução. Você só... – ele se deteve quando ia falar o quão inútil eu tinha sido em todo aquele tempo – bom...

- Eu entendi. Mas não vou pra Capital. Meu ódio por aquele lugar não passou.

- Bom você vai ter que conversar com nossa presidenta sobre isso.

- Era só isso Senhor Prefeito? – disse enquanto me levantava e tentava correr em direção a porta antes de explodir.

- Na verdade, acho que você devia pensar que Finnick faria isso.

Senti minha temperatura subir e corri em direção ao prefeito que se deteve, tentando fugir da minha fúria.

- Não, Finnick jamais apoiaria isso.

- Talvez essa seja tua única chance de vingar ele. Ele morreu por esse lugar.

- Finnick não era do tipo que apoiava a vingança.

- Já você...

Sai da sala o mais rápido possível tentando abafar a voz do prefeito. Mas foi inevitável escutar: “O trem parte em dois dias. Esteja pronta”.

- O que eles disseram Johanna? – disse Annie enquanto atravessava a sala até chegar perto de mim.

- Nada Annie – peguei Mike no colo e me sentei em uma das poltronas confortáveis da sala. Bem a nossa frente, um retrato de Finnick deixava a sala ainda mais apresentável. Era da última vez em que estivemos na Capital, antes da rebelião. Eu me lembrava do dia que tiramos a fotografia, eu tinha um retrato igual.

- Você está mentindo pra mim.

- Certo Annie, eles precisam de mim na Capital. Vai ser rápido e eu vou voltar logo.

- Pra quê?

- Querem que eu ajude os novos tributos. Só preciso convencer os novos diretores que não tenho condições mentais pra isso.

- Mas você tem.

- Mas ninguém precisa saber.

- E se tirarem coisas de você? – Annie balbuciou - e se acharem que você é louca?

- Não vão – Mike começou a bocejar em meu colo e o levei até o berço – não se preocupe Annie. Eu sempre vou voltar pra vocês.

- Nós não queremos perder você também – Annie disse enquanto acariciava meu cabelo.

- Vocês não vão. Nunca.

No dia seguinte acordei com o sol invadindo o quarto de hóspedes da casa de Annie. Fui até a janela e vi o mar. Era um bom lugar pra criar seus filhos. O distrito mais bonito entre todos. Ninguém da casa parecia estar acordado então resolvi dar uma volta pelo distrito quatro. Coloquei um casaco e sai da casa fazendo o máximo de silêncio possível. Toda a cidade parecia descansar em paz depois de muito tempo vivendo com medo. As ruas eram desertas, mas seguras. Eu podia ouvir os passos das pessoas em suas casas, se preparando pra mais um dia. Um dia de trabalho, de escola ou até mesmo de lazer. Os risos, sem pacificadores armados nas ruas, lojas que rondavam toda a cidade, jardins, parques, escolas. Era impossível não sorrir. Junto com meu sorriso, vieram as lágrimas. Como eu queria que Finnick visse aquilo. Queria que ele soubesse que valeu a pena. Que ele tinha mudado o mundo, junto com Katniss, Peeta, Gale. Queria que ele pudesse trazer Mike para o parque num dia em que ele não estivesse pescando ou fazendo redes. Queria que ele pudesse levar Annie para o lugar do primeiro encontro deles, queria ter morrido no lugar dele. Ele ia saber o que fazer numa situação dessas. Me sentei perto de uma grande árvore e fiquei lá chorando por alguns minutos, até ouvir leves passos vindo em minha direção.

- Me desculpe – uma voz séria e rouca me fez virar pra ver quem estava falando comigo – não queria te assustar.

- Não assustou.

- Meu nome é Erick – ele disse deixando a voz séria de lado e abrindo um sorriso – como você se chama?

- Johanna – disse tentando sorrir como ele, mas falhando.

- A garota da revolução, certo? – antes que eu pudesse evitar ele estava se sentando ao meu lado e puxando papo – você está vermelha. Você estava chorando?

- Sim, eu sou e talvez.

- Te acho muito corajosa. Você quer conversar sobre o motivo das lágrimas?

- Obrigado. E não.

- Ok... Você está passando uns dias por aqui?

- Sim. Ficando com a Annie, ajudando ela com o bebê.

- Ah sim, minha mãe bordou uma colcha pro Michael. Com um tridente nela.

- Incrível – disse deixando escapar um riso – gostaria de ver isso.

- Você vai embora logo?

- Amanhã.

- Pro seu distrito?

- Pra Capital.

- Sério? – seus olhos ganharam um brilho excepcional e ele abriu um novo sorriso, dessa vez mais entusiasmado. Erick tinha cabelos castanho dourado, como quase todo mundo do distrito quatro. Tinha olhos verdes e uma pele clara, mesmo tento passado tanto tempo num distrito com tanto sol. Tinha um sorriso do tamanho do mundo e um dente meio torto na parte de baixo, o que deixava ele ainda mais charmoso. Eu reconhecia ele de algum lugar. Mas a coisa mais fofa era como ele sempre olhava pra mim enquanto falava. Mesmo com todos os meus erros estampadas no meu rosto, ele queria olhar. Queria falar. Ele não tinha medo de mim.

- Nossa, pra que tanta animação? - disse, incrédula.

- Eu queria muito conhecer a Capital.

- Não tem nada de bom lá.

- Talvez você só ache isso porque só esteve lá em tempos ruins.

- Não. É porque não tem nada de bom lá mesmo.

- Eu queria decidir isso.

- Eu não vou te levar se é isso que você está insinuando. Eu nem te conheço.

- Nós vamos em vagões diferentes. Eu pago minha passagem. Eu só preciso de alguém que me explique como as coisas funcionam lá.

- O que você espera de um lugar em que as pessoas colocam crianças pra matar uns aos outros?

Seus olhos se perderam no vasto mar e eu senti o quão desapontado ele estava.

- Sua mãe te deixaria ir?

- Quantos anos você acha que eu tenho?

- Se você não falar com ela, não te deixo ir – aproveitei a deixa e me levantei enquanto Erick pensava na proposta – Você sabe aonde me encontrar. Quer dizer, sua mãe sabe.

Fui andando em direção à praia, tirei os sapatos e coloquei os pés na água gelada do mar.

- Finnick – disse enquanto olhava para o mar – me ajude a fazer a coisa certa. Não me deixe fazer tudo errado como da última vez. Eu vou cuidar deles por você, mas você sempre foi mais maduro que eu. Então... Só me ajude.


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