Crush escrita por slytherina


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Renée conhece melhor aqueles que a cercam.



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Renée voltou a sua rotina familiar. Dedicou-se seriamente aos estudos e pensou pela primeira vez no futuro. Ainda não se decidira sobre o que gostaria de fazer. Seus pais estranharam a mudança no seu visual, mas como já havia muitos góticos no bairro, eles consideraram apenas que ela estava tentando se enturmar, e que isto era uma moda passageira.

 

George telefonara para ela algumas vezes. Ela não atendeu nenhuma delas. Seus pais reclamaram que ela deveria ser cortês e educada com o filho de seus anfitriões, mas ela disse-lhes que ele a estava assediando quando já tinha namorada, portanto não estava interessada. Isso os acalmou um pouco, pois acharam que sua filha estava ajuizada.

 

Nancy mandava-lhe um e-mail por semana e Sebastian mandara-lhe um após duas semanas que haviam se conhecido. Ele a convidou para irem ao cinema. Foram ver um filme romântico, com direito a final trágico e tudo. Renée lamentou que tivesse carregado no delineador, pois agora seu rosto estava todo borrado, de tanto que chorara. Sebastian também chorara. Após a saída do cinema foram comer pizza.

 

_Que série você faz? - Renée iniciou a conversa.

_Eu passei para o 2º ano.

_Realmente? Eu também. Achei que você ainda fazia o fundamental.

_Todo mundo acha isso. Mas eu já tenho 16, então está tudo certo.

_Eu também tenho 16. Você não se parece com um rapaz de 16 anos.

_Você não acha que eu tenho altura suficiente?

_Não é isso, é que você é tão...

_Infantil?

_Já te disseram isso?

_Freqüentemente.

_Já escolheu qual profissão vai seguir?

_Eu vou ser ator.

_Que legal. Já atuou em peças na sua escola?

_Já. Estou pensando em me mudar para o Rio ou São Paulo, e fazer teste para TV.

_Você é tão jovem... Sua família vai junto?

 

Sebastian fez um movimento com os ombros, significando "eu não tou nem aí".

 

_Sebastian, você se lembra da turbulência do avião, e de como você entrou em pânico?

_Sim.

_Se você for morar sozinho numa cidade grande, sua vida será o tempo todo como aquela turbulência do avião.

_É, mas você não entrou em pânico. E você só tem 16 também.

_É, mas eu estou calejada. Já passei por muitas turbulências. Posso ter apenas 16, mas minha alma tem 32. Você por outro lado é tão doce, tão vulnerável, parece um chapeuzinho vermelho a espera do lobo mau. Desculpe essa comparação, ela foi terrível.

_Tudo bem. Eu acho que já ouvi algo semelhante.

_Quem te disse isso?

_Meu namorado.

 

Renée primeiro ficou chocada, depois considerou que fazia sentido. Sebastian tinha qualquer coisa de feminino nele. Não era a aparência física, era a personalidade dele. Perto dele, ela sempre se sentia a mais velha e a mais experiente, como se fosse sua obrigação protegê-lo dos perigos da vida. Mas se ele era homossexual ele escolheria outro homem para assumir essa função. Era tudo muito confuso para Renée.

 

_Você ficou chocada Renée?

_Eu? Pra falar a verdade fiquei, mas eu também já fui muito apaixonada por outra menina, logo somos os dois muito loucos.

_Eu já havia notado esse traço masculino em você.

_Traço masculino? Agora eu fiquei ofendida.

_Ah, ah, ah, ah... Sério. Você tentou me proteger e ser mais forte. Usa delineador e batom preto, mas parece um cantor emo. Acho que você se identifica mais com Bill Kaulitz do que com Kate Perry.

_Ui! Essa foi no fígado.

_Estou enganado?

_Não, acertou todas. Sebastian me faz um favor?

_O que é?

_Não enfrente o mundo sem mim, ok?

_Não sei se entendi.

_Eu estou dizendo que se você quiser viajar para tentar a sorte na cidade grande, então me chame para te acompanhar. Deixe-me ser sua guarda-costas, ok? Eu gosto muito de você, e não quero te ver sozinho por aí.

_Não me diga que está apaixonada.

_Talvez.

 

O tempo passou e Renée saía algumas vezes com Sebastian, quando ele não estava com o namorado dele. Ele deixou de falar em sair de casa, mas constantemente perguntava dela se ainda se sentia como sua protetora. Ela passou a incentivar seu pendor artístico e até ia assistir às peças da escola dele. Tornaram-se bons amigos.

 

Certo dia, Renée recebeu um bilhetinho de alguém pedindo um encontro em um barzinho da esquina. Estava assinado Cissa. Renée ponderou que isso era o mesmo que enfiar-lhe uma faca no peito e retorcê-la para o estrago ser maior. Talvez não fosse bom tornar a ver Cissa. Ela já nem lembrava mais de seus traços fisionômicos. Lembrava apenas da mágoa que sentira dela. Se ela fosse falar novamente com Cissa, com certeza voltaria arrasada para casa.

 

Procurou mentalmente um motivo para Cissa estar querendo vê-la. Chegou à conclusão que Cissa confundira alguma garota boba com ela, e agora vinha pedir-lhe novamente para largar do seu pé. Nesse estado de espírito foi falar com Cissa.

 

Ela estava muito bonita e feminina, de vestido amarelo acinturado e bolero rendado, combinando com um escarpin bege. Estava sentada com as pernas cruzadas numa mesinha do barzinho. Renée vestira-se como punk, com piercings chamativos e jeans rasgados.

 

_Oi Cissa, como está?

_Oi Renée! - Cissa beijou-lhe as duas faces.

 

Renée engoliu em seco. Seu sangue circulou mais rápido nas veias. Tentou se controlar, mas sentiu uma vontade muito grande de dar umas tapas na cara de Cissa. Renée mordeu os lábios, até senti-los dormentes.

 

_Sabe Renée, eu achei que tínhamos que acertar algumas coisas que foram mal interpretadas no passado.

_... O que?

_Bem, eu acho que interpretei mal a tua amizade com aquela moça Nancy. Eu pensei que fosseis namoradas.

_E daí?

_Daí que ela me enviou uma mensagem dizendo que sempre fostes apenas amigas, e que ela vai se casar com um homem.

_Oh!... Eu acho que isso acerta as coisas, não?

_É. Isso significa que tu não arranjaste ninguém depois daquele baile em Junho.

_... Sabe Cissa, eu realmente gostaria de falar muitas coisas com você, não apenas sobre o baile, mas sobre a primeira sessão de cinema que assistimos juntas, a primeira maquiagem que você fez em mim, sobre a vez em que eu te chamei de prostituta, sobre o meu braço quebrado, sobre a sua namorada Inês, sobre tudo. Eu realmente gostaria de ter essa conversa. Mas eu acho que já passou da hora.

_Eu não estou mais com Inês.

_...

_Eu posso sentir que tu estás brava comigo. Eu entendo a tua mágoa. Eu também fico com raiva de mim mesma, às vezes. Eu só queria que voltasses a ser minha amiga novamente. Eu acho que nós tínhamos alguma coisa especial e que ainda podemos resgatar isso.

_Cissa você se lembra de como eu era quando me conheceu? Essa pessoa não existe mais. - Renée levantou-se e colocou uma nota de 10 reais na mesa. - Isso é para pagar a bebida. Boa sorte pra você Cissa.

 

Renée saíra apressadamente do barzinho. Estava indignada com tudo aquilo. Caminhou decidida até sua casa. Antes de chegar à rua de casa, resolveu que precisava de um ombro amigo. Pegou o celular para ligar para Sebastian. Enquanto esperava que ele atendesse a chamada, deu meia-volta e viu que fora seguida. Cissa estava em pé, parada a alguns passos dela. Renée desligou o celular.

 

_Eu achei que se te explicasse tudo, entenderias o que aconteceu. - Cissa falou com voz aguda.

_O que eu tinha que entender? Que você enjoou de mim, e que precisava me dar uma lição pra te deixar em paz?

_Não, que eu estava com ciúmes. Que eu achei que tinhas me trocado por Nancy. Que eu te queria só pra mim. - Cissa estava chorando.

_ (Renée sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto) Oh, bem. Você é uma garota muito estranha Cissa, pois você nessa época tinha milhões de namorados. Céus, eu mal suportei que um homem encostasse as mãos em mim, e você tinha um diferente a cada dia. Eu não entendo como você poderia querer exclusividade quando nem você mesma é fiel a si própria.

_Eu tinha, digo tenho um problema psicológico, mas eu estou em terapia agora. Eu não ando mais com tantos homens, ou mulheres. Eu descobri que a única pessoa que eu queria ao meu lado eras tu Renée. Eu estou me humilhando aqui, agora para ti, porque é a única coisa que faz sentido pra mim nesse mundo. Todo o resto é muito confuso.

 

Renée ainda estava muito magoada, muito ferida, sentia uma vontade muito grande de ferir Cissa, por tudo que ela a fizera passar, mas a vontade de amparar aquela pessoa tão frágil na sua frente falou mais alto. Ela aproximou-se de Cissa e a abraçou. Cissa a enlaçou pela cintura e chorou em seu ombro. Renée pela primeira vez sentiu aquele corpo tão amado nos seus braços. Pela primeira vez pôde deslizar suas mãos pelos lisos cabelos sedosos da outra. Logo as duas aproximaram os rostos e trocaram seu primeiro beijo apaixonado, desde que se conheceram. Quando o beijo acabou, continuaram abraçadas ainda por algum tempo, então se separaram e deram as mãos. Caminharam até a casa de Cissa. Despediram-se com outro beijo e Renée falou baixinho no ouvido dela: "Eu te amo Cissa", ao que a outra retrucou também baixinho: "Eu também te amo".

 

Fim

 

 


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Notas finais do capítulo

Happy end. Ninguém morreu e todos viveram felizes para sempre. Dou uma tapinha no ombro direito (como em "the sims 2"), me congratulando por conseguir escrever 10 capítulos de mil palavras cada. Foi a primeira vez que fiz isso.



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