Não adiantava mais fugir da situação... Fugir da verdade. Eu estava com medo, confesso. Com medo de perder a pessoa que mais amava, a pessoa da qual era meu motivo de viver.

Fiquei na porta aguardando alguma notícia, junto aos pais dele. Nada acontecia, nada fazia barulho. Não do lado de fora, pois do lado de dentro só quem presenciava poderia saber o que estava acontecendo.

Mais alguns minutos parada em frente a porta, e finalmente alguma coisa aconteceu... só que até agora eu não sei queria que tivesse acontecido ou não. Eu vi a porta abrindo rapidamente, e só enxergava uns médicos e enfermeiros de costas. Estava tudo muito rápido, todos com pressa, mas pra mim era como se tudo estivesse em câmera lenta. Quando saíram da porta, vi mais alguns enfermeiros em volta, mas dessa vez carregando uma maca. E pra piorar, com o Brian em cima dela, imobilizado, cheio de aparelhos. Os médicos gritavam, andavam em passos rápidos... mas mesmo assim consegui um olhar e um sorriso do Bry. Ele não tinha forças, dava pra ver. Quando passaram por mim, Brian virou a cabeça, me olhou um pouco cansado, e deu um sorriso. Não sei se foi isso que não me deixou chorar, ou se eu não tinha mais lágrimas em mim. Só sei que não chorei. Pela primeira vez, presenciando aquilo tudo, eu não chorei.

Brian foi levado para alguma sala, não sei se era de cirurgia, ou algo do tipo.

As horas se passaram, e, na sala de espera, aguardávamos notícias dele. Eu não chorava, mas também não falava. É isso que o medo faz com as pessoas. Naquele momento penso até hoje que estava morta. Não tinha reação, não tinha atitude, não tinha fala, não tinha absolutamente nada. Só pensamento.. e aonde ele estava todos já sabem.

A porta da sala se abriu, era o médico dele. Ele entrou de um jeito típico de todos os médicos: De cabeça baixa, tirando as luvas e em seguida enfiando as mãos no bolso do jaleco.

- Mr. Math Miller e Mrs. Khristen Miller?

- Sim, somos nós. - Disse Math se levantando do sofá

- Preciso falar com os senhores; é sobre Brian.

Os dois olharam para trás, e a intenção... Bem... Acho eu, que era um olhar mais ou menos assim: "Você vai querer ouvir também?" Prefiro pensar que é isso... mas não, eu não quis ouvir.

- Com licença. - Me levantei e saí da sala de espera.

Fiquei na recepção do hospital, andando de um lado para o outro, com mil pensamentos na cabeça e um copo de água na minha mão que não parava quieto, recebendo toda a tremedeira do meu corpo.

O tempo se passou, e eu avistei o médico, aquele mesmo médico que entrou na sala, passando pelo corredor. Deixei o copo d'água em cima da mesinha e fui correndo para a sala. Entrei e vi Math e Khristen, sentados no sofá, ela com a cabeça no ombro de seu marido, recebendo uma carícia quase sem força do mesmo. Algumas lágrimas caíam de seus olhos.

- Está tudo bem? - Perguntei

- Querida... - disse Khristen estendendo sua mão para mim

Fui em sua direção, segurando a mão estendida, e ajoelhei no chão de frente para os dois

- O Brian... Ele... Teve uma falta de ar, e foi para a UTI. Nós vamos rezar para que acabe tudo bem. - Completou

- Para a UTI? Tem certeza que foi apenas uma falta de ar? - Perguntei com uma certa desconfiança.

Ela fechou os olhos. Não adiantava nada tentar me enganar, eu sabia que não era apenas uma falta de ar. Mas ela disse certo, o que poderíamos fazer era rezar.

A porta da sala abriu novamente, passados alguns minutos. Era a enfermeira.

- Mrs. Math M. e Mrs. Khristen M.

-Sim? - Math respondeu

-Brian quer vê-los.

Soltei as mãos de Khristen e eles saíram do quarto. Eu não queria mais saber o que estava acontecendo, só segurei fime as mãos com um terço entre elas e rezei. Pedi a Deus que ele fizesse o melhor para Brian, o adequado nesse momento tão delicado. Confio Nele, e o que Ele fizesse estava feito.

Rezei esperando Math e Khristen voltarem. A porta, que não se cansa de abrir, abriu e lá estavam Math e Khristen.

- Bia.. ele quer vê-la. - Disse Math.

Acenei positivamente com a cabeça, saí pela porta, andei pelos corredores acompanhada da enfermeira, e entrei no quarto.

- Hey... como vai?

- Fraco...

Me aproximei mais dele.

- Mas você vai melhorar.

Ele sorriu sem exibir os dentes, de olhos fechados Um sorriso sarcastico.

- Não dessa vez... - ele ainda estava com uma voz fraca - Chegou o fim.

- Não diga bobagem, Brian.

- Realidade não é bobagem.

- Chega, por favor.

- Bia... você foi a melhor coisa que aconteceu nesses últimos tempos pra mim. Quero te agradecer por entrar na minha vida, e por ter ficado do meu lado. E também me desculpar, por te fazer sofrer.

- Sofrer? Eu sou feliz ao seu lado! - Lhe dei um abraço e fiquei alí.

- Não importa o que aconteça... - ele ficou mais fraco - Meus pais vão te ajudar com tudo o que precisar. Eles vão estar ao seu lado...

- Não! Você vai ficar do meu lado, você vai estar junto comigo, você vai...

- Eu juro que queria estar junto a vocês dois... - ele me interrompeu - Me perdoa...

- Não precisa fa...

- Eu te amo! - cortou minha fala.

Eu olhei fundo naqueles olhos tão lindos, e que estavam tão fracos. Não dava para não chorar, todos sabíamos o que estava acontecendo e o que estava pra acontecer. Minhas lágrimas rolaram pelo meu rosto.

- Me beija... por favor... - Pediu.

Eu fiz o que ele pedia com tanto esforço. Levantei de seus braços, me inclinei até seus lábios e fiz com que os meus encostassem nos seus, levemente. Ele parecia se concentrar apenas naquilo. Nenhum dos dois queria sair dalí tão cedo; Aquele beijo nos fez esquecer de toda a desgraça que acontecia nas nossas vidas, e entramos em um mundo só nosso. Estávamos sonhando juntos! Em um lugar bem mais tranquilo e feliz. Infelizmente, nosso sonho foi despertado, e o despertador, infeliz despertador, foi o som do monitor que conectava os aparelhos ao corpo de Bry. O som foi aumentando, ficando mais rápido, mais acelerado, mais intenso, mais medonho. Até que ele ficou monótono. Me afastei do corpo de Brian, e fiquei gritando seu nome, até chamar a atenção das enfermeiras do lado de fora do quarto, que imediatamente entraram e me levaram pra fora. Uma delas me carregava, me ajudando a andar; eu não tinha forças pra andar, nem me mover. Do lado de fora deparei com Khristen e Math, que me avistaram e me abraçaram, e os três choravam forte. Não adiantava mais nada. Acabou.

Nos afastamos por alguns poucos centímetros de distância, e Khristen me entregou uma carta. Uma última carta, e nela estava mais uma letra de música:

"Vou ter sempre você comigo
Nosso amor eu canto e cantarei
Você é tudo que eu amei na vida
Nunca vou te esquecer"

Eu lia, ria, e chorava. Encostei aquele papel em meu peito, e apertei forte com a cabeça baixa. Ao abrir os olhos, vi um outro papel no chão. Peguei, e nele estava escrito:

"Palavras não são nada...

Você é tudo... Foi tudo. Agora tudo acabou, e bem do jeito que eu queria:
Partir feliz, sentindo seu beijo. Seu doce beijo...

Feliz por te ter por inteira na minha vida. Saiba que, mesmo não estando mais no seu mundo, te amarei eternamente. Cuide bem de nosso ventre."

De seu eterno; Brian M.

Brian partiu. Meu amor foi embora... Mas esse não é o fim. Ele sempre será eterno na minha vida. Ele pode ter ido, mas foi com a certeza de que o nosso amor foi intenso e verdadeiro; Nós acreditávamos nele. E o resultado de todo esse amor, hoje, está aqui; dentro de mim. Este é o nosso ventre, a marca de Brian em mim. Suas cartas eu guardarei comigo pra sempre, assim como as lembranças de todos os nossos momentos.

Esta história, esta vida, eu dedico a você, Brian - Meu amor.

Em paz eu viverei, com sua alma em mim.

Eu te amo

De sua eterna; Ana Beatriz.

FIM