Acordei e não sabia aonde estava. Eu enxergava tudo embaçado, não conseguia ver quase nada. Eu imaginei de tudo, mas não sentia nada. Não sentia dores de estupro, de balas, de pancadas, de crueldade. Sentia a dor psicológica, sentia a dor do medo, do pânico.

Ouvi vozes. Vozes de meninas, coxixando.

- Ela acordou, vai buscar um copo d'água, vai logo!

Era uma voz adulta.

Eu abri os olhos, enxerguei uma mulher bonita, olhos castanhos claros, loira. Não tinha cara de criminosa.

- Are you okay? - Ela me perguntou.

Eu cheguei para trás, quase dei uma outra pancada com a cabeça. Não entendi o que aquela mulher falava! Que língua era aquela? Aonde eu estava? Cadê meu pai? Eu me esqueci por alguns segundos que eu estava nos Estados Unidos, e que falava em ingles.

- Calma - Ela respondeu em português - Você está segura aqui.

- Oi Bia, pode ficar tranquila, essa é minha mãe. Você está na minha casa.

Enxerguei a Gabi. Tranquilizei.

Alguns minutos depois, eu falei pra Gabi, que precisava falar com meu pai. Ela disse que já tinha ligado pra Carol, e avisou o que tinha acontecido. Eles estavam lá embaixo, me esperando. Eu estava no quarto da Gabi.

Desci.

Pensei que meu pai fosse me dar um esporro tão grande, mas tão grande, que nem sabia o que ia acontecer comigo. Já desci preparando o choro, pra ver se ele sentia pena de mim ou alguma coisa assim.

- Minha filha! - Meu pai falou com um tom de voz de preocupado, e me abraçou.

- Ai Bia, que susto você nos deu! E como você tá se sentindo? - Perguntou minha irmã, que depois me acalmou com um abraço.

- Eu tô bem, relaxa.

Meu pai, minha irmã e eu agradecemos a Gabi e a Tia Déia, Mãe da Gabi.

Quando eu fui dar um abraço em Gabi, sussurrei em seu ouvido:

- Gabriela, você não me escapa. Preciso falar com você, quero saber quem me salvou.

- Bia, descansa. Beijos, se cuida. - Ela me deu um beijo na testa.

No dia seguinte, no domingo, foi todo mundo lá pra casa com um bolinho e docinhos, e não entendi por quê. Gabi, Ashley, Audrey, Ash, Brad e Dustin. Todos foram ver como eu estava, todos souberam do que aconteceu. Eu me senti uma doente, parecia que eu estava internada entre a vida e a morte, e todos foram lá pra me ver antes que eu partisse. Cruzes, odeio pensar nisso. Imagina perder alguém assim? É a pior coisa do mundo, eu já vivi isso.

Enfim, os meninos ficaram um tempo, comeram, beberam, me deram uns abraços, uns beijos, uns carinhos.

- Bia, temos que ir, o Brian está nos esperando.- Disse Ash.

- Esperando aonde?

- Aqui fora.

- Ué, manda ele entrar.

- Não, não, ele tem vergonha. Beijos - Me deu um beijo na testa - Seu cuida.

Retribuí os beijos ao Dustin e ao Brad. Todos me disseram as mesmas coisas. Eu não sabia quem era Brian, só fui educada, chamando-o para entrar. Mas me parecia muito familiar.

Segunda-feira, dia de aula. Tava quase fazendo chantagem emocional ao meu pai, para não ter que ir ao colégio. Êta preguiça. Tomei banho, Coloquei um short jeans, meu adidas branco com listras rosa, e uma blusa decotada em V, ,branca com um casaco de meia manga, rosa claro, por cima. Peguei minha mochila e saí.

Tive aula, fui recebida com abraços por todos que eu conhecia e até mesmo quem eu não conhecia. O colégio inteiro já estava sabendo e a pergunta era sempre a mesma que eu não sabia responder.

- Quem te salvou?

Hora do almoço. Sentei na mesa com a companhia de sempre, eu, as meninas e os meninos. Dessa vez com umas pessoas a mais. Uns puxa-sacos, na verdade.

Acabamos, e todos iam levantando. Eu segurei o braço de Gabi, e nós duas ficamos alí, sentadas. Ela já sabia o que era, ficou disfarçando com o olhar. Ela estava nervosa.

- Você já sabe o que eu quero te perguntar, Gabi. Quem foi?

- H-hã? Quem foi o que? Não sei do que você tá falando. - Ela tremia as pernas, olhava para os lados.

- Gabriela, é sério. Quem me salvou?

***