Cheguei em casa, nos Estados Unidos. Falei com meu pai, com o Snoopy, e quando subi para o meu quarto tinha mais uma carta dele:

"Me desculpe se outro dia eu te fiz chorar, é que às vezes eu não sei direito me explicar. Vê se me entende.."

Não é possível... O que deu nele? Uma hora ele diz uma coisa, outra hora ele diz outra! Vai ver é só uma crise...

No dia seguinte, eu fui pro colégio e fui recebida com abraços por todos! Foi ótimo, me senti muito bem esse dia. Só que Brian não estava lá. Ele tinha faltado, e não me avisou nada. Ah, esqueci... ele não tem que me dar mais satisfações, na verdade nunca teve.

Eu estava lá, conversando com a Gabi. E Pra detonar meu dia, veio a Kristen.

- Eu te dei um aviso, e você continua na mesma. Não se preocupa com ele mesmo, né?

- Kristen, não enche. Não tenta acabar com meu dia que você não vai conseguir.

- Ok, eu me preocupo com ele. Vou vê-lo mais tarde.

O que ela queria afinal? Me matar? Ele já estava solteiro, livre pra ela, pra quê essa implicância comigo? Não posso negar que fiquei preocupada agora. Por quê ela me falaria isso? Será que aconteceu alguma coisa com ele? Bem, fui ver com a Gabi, vai que ela sabe de alguma coisa...

- Gabi, aconteceu alguma coisa com o Brian?

- Brian? Ele só faltou a aula..

- Há quanto tempo ele tem faltado?

- Ah, Bia.. Sei lá.

Ok, ela não queria dizer.

- Gabi, me fala a verdade. O que aconteceu com ele?

- Bia..

- FALA!

- Ok, ok... Lembra naquele dia que você me disse que já tinha decidido morar no Brasil?

- Lembro.

- Então, ele tava lá. Por isso que eu disse que precisava sair, pra ele não ler mais. Ele queria saber como você tava, quando iria voltar... Na hora que você disse aquilo, ele levantou e foi embora. Eu tentei ir atrás dele, mas já era tarde...  A partir desse dia, ele não veio mais a aula.

Meu deus, o que eu fiz? Eu sou um monstro! Eu preciso falar com o Brian!!

Na hora da saída, fui correndo e passei na casa do Brian. Não tinha ninguém. Liguei pro celular dele, ninguém atendia. Fui pra casa, meu pai percebeu o meu estado. Fiquei lá no quarto, chorando, pensando no que podia ter acontecido com ele. Eu ainda o amo! Na verdade, nunca esqueci!

Meu pai subiu no meu quarto, e veio me dar alguns conselhos. Meu pai. Ele nunca tinha feito isso...

- Filha, é por causa dele, não é?

- É, pai...

- Não fica assim, vai lá conversar com ele. Ele veio tantas vezes aqui se explicar, tentar falar com você...

- Ele veio aqui? - Eu olhei pra ele espantada.

- Veio. Vai lá visitá-lo, vê como ele está. Ele com certeza tá precisando de você agora.

- Eu tô tentando! Passei na casa dele não tinha ninguém.

- Mas você não foi lá no... - Ele parou, me encarou... - Oh não..

- O que?? Pai, o que foi?? O que tá acontecendo, me di....

O telefone tocou. Não é possível, até meu pai sabe de alguma coisa que eu não sei!! Era a Gabi.

- Gabi, não posso falar agora, espera um pouco... - Meu pai foi saindo do quarto.

- Não, Bia. Você tem que me escutar! É o Brian...

- Gabi dep.... Brian?? O que tem ele?

Eu já estava ficando louca!

- Você tem que ir visitá-lo, ele precisa de você!

- Do que você tá falando? Aonde ele está? Gabriela, pelo amor de Deus o que exatamente tá acontecendo?

- Bia, ele tá internado no Jackson Health System.

Nessa hora eu não conseguia falar mais nada. Só meus pensamentos ocupavam meu corpo por inteiro. "O que eu fiz? O que ele tem? Ele tá bem? Ele vai morrer?" Todos vão me culpar! Meu Deus, eu nunca me odiei tanto! Eu não sabia o que fazer!

- Bia, você ainda tá aí? Corre, ele precisa te ver!

Eu tenho que correr! Pode ser tarde demais quando eu chegar lá! Eu soltei o telefone, nem desliguei e nem respondi a Gabi. Peguei a chave do meu carro e quando já estava saindo, meu pai me segurou.

- Pai você não vai me impedir! A culpa foi minha! Eu tenho que vê-lo!

- Eu te levo. Você não vai dirigir assim.

Pensei que ele fosse me parar. Que bom que foi ao contrário.

Eu me sentia culpada. Muito culpada.

Cheguei no hospital, encontrei a mãe dele. Subi correndo as escadas, não tinha tempo de pegar o elevador. Abri a porta do quarto e vi Brian. Ele estava deitado na cama, ligado a aparelhos. Ele estava dormindo, eu queria acordá-lo mas não podia. Não se eu quisesse me sentir mais culpada ainda... Na mesma hora, ele virou o rosto pra mim, e sua aparência era fraca; bem fraca. Ele me olhou, eu comecei a chorar inda mais e corri para ele. Deitei minha cabeça em seu peito, meus braços estavam colados em seu corpo. Nunca me senti tão ameaçada, e tão protegida ao mesmo tempo. Eu tinha medo de perdê-lo, mas quando eu estou perto dele, não sinto medo de nada. Não sei até agora o que eu sentia naquele momento. Só sei que esqueci todo o meu orgulho, esqueci o que poderia ter acontecido entre ele e Kristen, pouco me importava aquela vadia. Pouco me importava se ele me traiu, se ele não estava feliz comigo. Muito me importava, naquele momento, o tamanho do meu amor por ele. Só me concetrava na gente, dalí em diante, só nós dois, pra sempre. Eu fiquei alí a noite toda com ele. A última noite dele no hospital. Ainda bem que cheguei a tempo, era a noite que ele mais precisava de mim. A mãe dele entrou no quarto acompanhada do doutor. Ele conversou um pouco com Brian, parecia que eles já se conheciam. O médico disse que precisava conversar com a mãe dele, e nós saímos. Ela fez quetão da minha presença. Eu fiquei lá ouvindo tudo o que ele dizia.

- Os exames dele estão em ordem, o Raio-X foi tirado novamente. O que ele teve foi despreocupante, mas o tratamento não pode parar.

- Ok, entendi doutor. Obrigada. - A mãe dele respondeu.

- Dona Khristen, que exames ele estava fazendo? - Eu pergunte.

- Ué.. os exames do... Oh não. Ele ainda não te contou?

- Me contou o quê?

- Por quê você acha que ele está aqui, internado?

- Ué... - Perdi as palavras. Olhei fixamente pra ela.

- Bia, querida. O Brian tem Câncer.

Agora sim, as palavras fugiram. Eu nem sabia mais o que eram palavras, não sabia mais o que era o mundo, não sabia mais o que era a vida. Esqueci o mundo lá fora, só lembrava do Brian. Esqueci quem era eu, só sabia que o garoto que eu amava estava correndo risco. Não sei como criei forças pra entrar no quarto dele, talvez eu tenha sido guiada. Por pouco eu não desmaio e paro alí na cama, do lado dele. Fiquei alí, junto do meu amor. Não queria sair de lá sem ele.

No dia seguinte, acompanhei Brian até sua casa, e fiquei com ele lá por um tempinho. Eu estava muito bem com ele, e nem toquei no assunto de Kristen, da separação, da doença, nada.

- Desculpa por esconder isso de você.

- Brian, não fala nada. Deita, nós estamos bem, e é isso que importa.

- Eu não te traí.

- Meu amor, não importa. Deita, por favor.

- Eu terminei porque eu não queria que você sofresse por minha causa.

- Brian, tá tudo bem!

- ... Mas depois eu vi que sem você meus últimos dias de vida não teriam graça, não seriam dias de vida.

- Brian, CHEGA! Não quero ouvir isso! - Eu comecei a chorar.

- Não quero te perder nunca mais.

De toda a nossa conversa, essa última frase foi a única que chegou aos meus ouvidos soando bem. Foi como uma música pra mim, me trouxe uma tranquilidade, e a certeza de que sem ele eu não fico nunca mais. Não enquanto o pra sempre durar. O nosso pra sempre.