Coming Wave escrita por Hi there Lívia, Licurgo Victorio


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oi de novo :)
(ou oi pela primeira vez se pulou o primeiro capítulo, vai que)
Aqui é a Cassandra narrando, já já vamos conhecer o Licurgo.



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Então era isso. Eu havia perdido a calma. A garota que sempre via o lado bom de tudo havia perdido a calma.

Eu empurro a porta com força, fazendo-a bater na parede com um estrondo. Uma parte de mim sabe que não estou sendo racional e que talvez não fosse a melhor maneira de conversar sobre isso. Clareff e Rendall, meus pais adotivos, olham-me com um leve ar de surpresa, como se ouvissem portas batendo o tempo todo. Enquanto Sam olha-me como se estivesse me vendo pela primeira vez na vida.

— Sam não vai se voluntariar. – Meu tom de voz está baixo e estável, bem diferente de como me sentia. Fechei minhas mãos em punho para não transparecer como tremiam.

— Querida, – Clareff começa com um sorriso afetado que poderia muito bem ser falso. – É para isso que ele vem treinando. Não é mesmo Sam?

Sam não responde e isso basta para mim.

— É para isso que adotam essas crianças? O que ganham com isso?

— Só estamos tentando dar uma chance de sobrevivência. Eles podem ser sorteados a qualquer hora. Mas com todo esse treinamento, seria um desperdício não voluntariar.

— Ele não está pronto ainda, deixe-me ir então.

— Você sabe que não podemos, – Rendall diz  sem emoção na voz. Eu sei que ele dissera isso não porque se importava em me ver em perigo, mas porque meu tio me deixara aqui para que eles me protegessem e me mantivessem longe dos Jogos. Mas pensei… eu realmente pensei que eles tentavam proteger as crianças que adotavam. Nos treinassem sim, mas para termos a chance de sobreviver caso fôssemos escolhidos, não para que nos tornássemos voluntários desse terror. 

— Fico feliz em ver que se importa comigo. Mas por que Sam tem que ir?

— É assim que sabemos se o treinamento dele valeu a pena, querida. Precisamos receber algo depois de tê-lo treinado durante tanto tempo.

Eles queriam apenas a glória, apenas fazer parte do show. O que eu estava pensando? Que eles haviam nos adotado pela bondade em seus corações? Claro que não. Eu sabia que eles nos mandavam os chamar de pais para manter a fachada. E eu acreditei. Como eles não podiam me envolver, eu estive em segurança, alheia ao perigo ao meu redor na minha própria casa. Se é que eu podia chamá-la assim. Um nó no estômago se forma quando percebo que a segurança dos meus irmãos nunca foi prioridade e quando dou por mim, estou gritando.

— Sam não vai se arriscar.

— Não se atreva a gritar conosco, Cassandra Collinray.

— Esse não é meu nome, – eu disparo no meu último fôlego. Não sei o que deu em mim, mas sinto como se estivesse sem ar. Eu o vi crescer e agora querem que eu o veja… não posso. Nós ficamos nos encarando enquanto eu respiro pesadamente até que completo – meu nome é Cassandra Abernathy, sobrinha de Haymitch Abernathy, vencedor do 50º Jogos Vorazes. É por isso que estou aqui e a culpa não é de Sam.

— E de quem é a culpa então, querida?

— Tenho certeza de que todos nós sabemos de quem é a culpa. – Com isso me viro e já estou a meio caminho da porta quando pergunto ao Sam – Você vem?

Ele olha apressado para seus pais e corre até mim, seu olhar já não tinha mais medo. Pelo menos não tanto.

Como eu não consigo mais ficar em casa, vou para o treinamento. Havia diferentes climas e terrenos para treinarmos. Isso porque as arenas dos Jogos Vorazes eram diferentes todo ano. Houve um ano em que a arena só continha pedras, areia e arbustos inúteis e pequenos. Não foi um ano muito interessante para falar a verdade, pois não havia como os tributos se esconderem o que tornava a maioria presa fácil. Em outro ano havia gelo e neve.

Por isso haviam várias simulações de arenas e um dos meus preferidos era um campo florido onde o Sol era morno. Parece ser um lugar confortável para treinar, mas com o aroma agradável e a brisa fresca era difícil manter o foco e assim funcionava a armadilha do lugar. Antes que percebesse, você estava pensando em lindas tardes quentes enquanto alguém se aproximava para matá-lo. Contudo, em outras circunstâncias era um ótimo lugar para se passar a tarde quando não se tinha vontade de fazer coisa alguma.

Mas não foi para os campos que me dirigi. Foi para onde a paisagem formava um bosque onde a terra era coberta por folhas e havia árvores por todos os lados. Havia muitos galhos e raízes que te atrapalhavam e faziam barulho se não estivesse acostumado a eles. Eu amava aquele lugar. Havia algo ali que enfeitiça. Às vezes me pergunto se o distrito 12 é assim, se há uma parte de mim que sabe que aqui é casa, mas não tenho como saber. Eu não passava de um bebê quando fui embora. 

Eu penso em deitar em meio as folhas e passar despercebida, mas antes que eu pudesse concluir o pensamento ouço passos se aproximando e as vozes de Finnick e Trynia.

— Eu disse a você que ela estaria aqui, – diz Trynia dando um risinho. Ela tem longos e crespos cabelos castanhos e grandes olhos cor de amêndoa que refletiam sua inquietação e alegria constantes.

— Não, você não disse, – Finnick responde. – Você apenas saiu correndo e entrando em todos os lugares.

— E qual é a diferença?

— Ela tem razão, Finnick. Não vejo diferença nenhuma, – completo, séria.

— Ótimo. Então eu estou errado, – ele resmunga, mas vejo que ele segura um sorriso.

— Achei que já estivesse acostumado com isso a essa altura.

Em um movimento rápido, Finnick saca seu tridente e Trynia saca suas facas quase que no mesmo instante. Eu, por minha vez, continuo imóvel, esperando. Finnick investe contra Trynia, que rola no chão para desviar. Ela, talvez pensando que eu estava distraída com o movimento de Finnick, lança uma faca em minha direção, mas eu estava atenta. Eu havia deixado que a faca que estava presa na minha manga escorregasse para minha mão e, em um movimento circular perto do meu rosto, desvio a faca dela, que foi se fincar em uma árvore próxima.

No momento em que eu corro para recuperar a primeira faca, a segunda já estava a caminho e passa assobiando pelo meu ouvido, onde antes estivera a minha cabeça. Não se deixando abalar pela perda das duas facas, Trynia tira a lança que estava presa nas costas e investe contra mim. Conhecendo a mira de pescadora dela, me movimento rápido para sair de seu ângulo de visão, o que teria sido um bom plano se ela não tivesse vindo atrás de mim e investido mais diretamente, segurando a lança no alto com as duas mãos. Ela desce a lança em direção a minha cabeça com agilidade, mas eu intercepto o golpe formando um x com minhas duas facas, a faca menor embaixo da maior oferecendo apoio.

Uma leve onda de surpresa e riso passa pelo rosto de Trynia, mas empurro as duas facas com força, forçando-a a recuar. Nesse breve momento de recuo, Finnick surge do nada e me atinge na perna com o cabo do seu tridente. Minhas pernas falham e eu caio, logo percebendo as três pontas afiadas de seu tridente apontadas para meu pescoço e faço o que era mais prudente: atiro uma faca em sua direção, que cai inofensiva perto dele, rolo para longe e faço esforço para me levantar, minha perna protestando levemente. Ele ri.

— Está fugindo agora?

— Eu não gosto muito de ter armas afiadas apontadas para meu pescoço, – eu respondo. – Não é nada pessoal.

Enquanto falo, eu me movo lenta e o mais discretamente possível em direção a uma árvore próxima, que eu reconheço por ter escondido um arco e algumas flechas aquela semana. Eu ainda tenho uma faca, mas o alcance do tridente de Finnick é maior e ele pode facilmente desviar minha faca se eu atirar.

Aparentemente, eu não havia andado tão discretamente assim, pois Finnick pega a faca do chão e a atira em um ponto muito próximo da minha mão, que já havia alcançado a árvore e está apoiada nela.

— Eu prefiro que você não pegue seu arco, – Finnick comenta com um sorriso sarcástico. – Não é nada pessoal.

É claro. Eu havia esquecido que ele havia treinado comigo no dia que escondi meu arco. Preciso distraí-lo, mas não sabia como. Então eu vejo, um pouco atrás dele, um lugar onde um grupo estivera armando armadilhas para praticar. Sempre tínhamos aulas como essas, mas as armadilhas ainda estavam armadas, prontas para prender sua presa. Pego uma pequena pedra e a jogo na direção de Finnick que, como eu esperava, desvia facilmente.

— Como você é chato, Finnick, – digo, fazendo uma exagerada cara de tédio. – Deixe-me pegar meu arco.

Ele ri, mas seu riso some quando ouve um estalo e sei que a pedra havia atingido a armadilha. Não era uma das mais silenciosas, mas eu queria que fizesse barulho. Finnick se vira na direção do barulho, mas percebe tarde demais o que havia acontecido, pois quando volta sua atenção para mim, já estou a dois metros do chão.

Trynia escolhe aquele exato momento para voltar, eu até já havia me esquecido dela.

— Achei que vocês já haviam terminado. Vim aqui lutar com quem sobrasse, – ela diz em um tom quase entediado.

— Concordo, – diz Finnick. – Por que você não se entrega e te deixamos em paz?

— Na verdade, – respondo enquanto tiro meu arco do esconderijo e posiciono uma flecha. – Eu estava pensando em ganhar de vocês dois, assim vocês teriam que me deixar em paz.

Aponto a flecha para Finnick e digo:

— Morto.

Depois mudo a mira para Trynia e repito:

— Morta. Pronto, ganhei. Posso ir?

— Não, nós ainda estamos vivos. Você poderia errar ou nós poderíamos desviar.

— Tem razão, – respondo. – Você quer que eu atire para ter certeza de que vou acertar?

Eles não respondem e eu rio. Em alguns movimentos rápidos eu volto ao chão, agora com o arco na mão.

Nós rimos e conversamos enquanto andávamos até a saída. Contudo, todos nós estávamos preocupados. Ou com nós mesmos ou com alguém que nos importamos. Esse é o efeito que a colheita tem em nós.



Quando chego em casa, Clareff e Rendall não estão, mas Caio, Kareen, Sam e Wellie jantam o peixe que pescamos de manhã. Nós temos tudo o que queremos desde que não desrespeitemos as regras de nunca pegar a produção do Capital, mesmo que tivéssemos pescado. Eu sei que a situação era assim porque aqui é o distrito quatro, uma dos mais ricos e prestigiados, mas vários outros distritos, como o 11, que trabalha com agricultura, e o 12, com carvão, passam muita fome se não lutarem.

Sou tirada de meus devaneios quando sinto os braços de Kareen e Wellie em minha cintura. Eles me chamam para comer e me sento ao lado de Sam. Todos tentamos manter a conversa leve, mas um assunto deve ser tocado. Kareen tem apenas 10 anos, mas é muito inteligente. A garotinha de cabelos negros percebe que evitamos algo e convida Wellie para subir com ela, usando alguma desculpa sobre ver a roupa de amanhã que deixa a caçula muito animada.

— Sam, – começo em um tom suave. – você sabe que não deixaremos você ir a lugar algum, não sabe?

— É fácil para você falar, nunca terá que se voluntariar.

— Você também não, – afirmo. – E não seja tão injusto conosco. Só queremos te ajudar.

— Eu sei, desculpe, – ele concorda, olhando para baixo. – É que eu tive que escutar a honra que seria vencer os Jogos e como a Capital ficaria feliz. Não quero fazer nada que deixe a Capital feliz.

Eu troco um olhar tenso com Caio. Aquelas palavras, ditas de maneira tão casual, me preocuparam muito. De onde ele tinha tirado aquilo? Caio e eu sempre fomos muito cuidadosos nas nossas conversas. Não queríamos que nossos irmãos acreditassem no bem da Capital, mas também tomávamos cuidado com o que falávamos perto deles. São bem poucos os ouvidos que podem ouvir aquilo e poucas as bocas que podem falar e continuar vivas.

— Claro que não, meu bem. – digo hesitante. – Apenas tenha cuidado com suas palavras, senão Kareen irá repeti-las e onde iremos parar?

— Em uma rebelião com certeza, – diz Caio. – Por que você tem tanto medo disso?

— Porque uma rebelião não planejada resulta em morte, se as crianças começarem a falar isso por aí... uma rebelião contra algo tão poderoso quanto a Capital precisa ser discreta no começo até ganhar força. Não adiantaria nada se saíssemos falando isso pelas ruas porque ninguém aqui pensa como nós, apenas iríamos divertir os pacificadores.

Os pacificadores eram soldados do Capital. Eles estavam em todos os distritos para manter nossa “segurança”, mas todos sabíamos que é mais uma forma do Capital nos vigiar. Qualquer um que saísse da linha era pego pelos pacificadores.

— Qual é seu plano então? – Sam pergunta, os olhos interessados presos em mim. Os olhos escuros dele são tão grandes e parecem tão vulneráveis enquanto olham para mim agora que me lembram, quase dolorosamente, o quão novo ele é.

— Meu plano é proteger vocês enquanto precisarem de mim. Depois eu vou para o Capital cuspir na cara do presidente Snow.

— Claro, esse é um plano muito mais inteligente, – Caio comenta sarcasticamente.

— O Capital é onde as pessoas poderosas estão, – completo. – Eles tem contato com o resto de Panem sem serem impedidos pela Capital, eles sabem o que está acontecendo. Se conseguirmos infectá-los, teremos uma arma poderosa em mãos.

— E como vamos infectá-los?

Desta vez foi Caio quem respondeu.

— Eu sei que alguns já estão infectados e estão do nosso lado. Temos que ir até lá, de alguma forma...

Um barulho do lado de fora o interrompe e decido que já estava bom por uma noite. Já falamos demais. Eu me levanto e me despeço com um boa noite.

— Você não tem que se preocupar, Sam. Você vai ficar em segurança. Eu prometo.

 


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Notas finais do capítulo

Aiai essa Cassandra fazendo essas promessas doidas... tadinha, iludida, parece eu.
Próximo será a grande estreia de Licurgo :)



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