POV Lisa

Eram quatro e meia da manhã quando o meu telemóvel começou a tocar. Achei um bocado estranho pois o casamento só começava às quatro da tarde e o cabeleireiro e a costureira para as duas e meia.

Harry dormia ao meu lado, o seu curly hair repousando suavemente no seu travesseiro.

Atendi o celular no banheiro, onde não iria incomodar Harry, e estranhei quando, no visor, vi o nome de Mariah. Já tinha acontecido bosta.

- Mariah?

- Oi para você também. Eu preciso de um favor seu. Estou numa balada fora da cidade. Não sei de Rubén. Me vem buscar, por favor – e só aí percebi que ela estava chorando.

- Estou indo. É aquela em que nós fomos da última vez?

- Hum Hum – murmurou e eu desliguei.

Realmente, só a mim para me acontecer estas coisas… Vesti os mesmos jeans de ontem e uma t-shirt de Harry, não estava afim de procurar uma minha e afinal, daqui a bocado teria de me preparar para a cerimónia.

Ao sair do quarto Harry acordou.

- Onde você está indo, meu amor? – me perguntou.

- Buscar a bêbada da minha irmã mais nova. Você toma conta de meu bebé por mim? – perguntei, brincando com meus cachos.

- Tomo sim, vá lá. Não se preocupe.

- Muito obrigado Harry, você é o meu anjo da guarda – disse lhe dando um selinho.

- Eu sei – murmurou aquele grande convencido que eu adoro.

- Adeus! Beijo.

- Adeus… Conduza com cuidado…

- Descansa. Adeus, meu amor…

Sai do quarto e, passando pelo da minha bebé para ver se estava tudo bem (e estava), fui buscar a moleque da minha irmã mais nova.

Peguei no meu carro, que eu trato como meu bebé, afinal, quem disse que mulheres não podem gostar de carros? E fui em direção da balada, onde, supostamente a minha irmã me esperava.

Um friozinho percorreu a minha espinha e senti o meu telemóvel vibrar e tirei os olhos da estrada para ver quem me estava a ligar às cinco da manhã.

POV Harry

Senti um mau estar no estômago e me levantei para ver se estava tudo bem no quarto de Mimi, afinal, ela era como uma filha para mim, embora eu nunca poder gozar desse direito.

Entrei no quarto discretamente o que foi desnecessário pois Mimi já estava acordada.

- Mamãe você demorou a chegar – ao reparar que eu não era a sua mãe, se virou para mim e com cara de má, murmurou – você não é a minha mamãe.

- Não, eu não sou sua mamãe. Porque você pensava que era ela? – perguntei demasiado curioso.

- Mamãe sabe quando eu tenho pesadelos e vem me voltar a adormecer… - murmurou triste – Onde está minha mamãe? – perguntou, os seus olhinhos azuis tão parecidos com os meus a me fixarem tristemente.

- Sua mamãe não está. Ela foi buscar sua tia…

- Mas eu quero a minha mamãe! – choramingou e depois aquele pedido se transformou num choro incontrolável – Eu quero a minha mamãe! Eu quero a minha mamãe! Eu quero a minha mamãe! Eu quero a minha mamãe! Eu quero a minha mamãe! Eu quero a minha mamãe! Eu quero minha mamãe! Eu quero minha mamãe! Mamãe! – gritou a plenos pulmões.

Com a atitude tão madura de Mimi, por vezes me esquecia que ela era simplesmente um bebé e que tinha apenas três anos. Mas agora, com ela a chorar baba e ranho, vi o quão Lisa era forte por tomar conta da sua menina com a sua idade tão tenra com a ajuda de ninguém.

Sara irrompeu pelo quarto e pegou Mimi ao colo, a embalando suavemente.

Mimi foi acalmando e acabou por beijar a face de Sara quando Gabriela irrompeu pelo quarto e, tomando Mimi nos seus braços, começou a cantarolar:

- O pesadelo já passou, toca a dormir garota, o dia vai começar, você tem de ir nanar. Tá na hora da caminha, o pesadelo já passou, pousa sua cabecinha e esquece que ele te atormentou. Dorme, meu neném, está na hora de nanar e o dia que lá vem, está quase a começar.

Gabriela tornava dos seus pequeninos braços uns protetores para Mimi, que acabou por relaxar e adormecer sorrindo.

Foi aí que eu me apercebi: por mais difícil que seja, Lisa nunca estaria sozinha. Ela sempre teria alguém. Eu também queria ser um desses “alguém”.

Abri novamente a cama e, delicadamente, Gabriela pousou Mimi na sua caminha.

- Eu trato dela agora – murmurei e as duas garotas abandonaram o quarto de Mimi.

Me deitei com ela e, quando ela se virou, foi a minha mão que ela agarrou e se aconchegou.

- O pesadelo já passou, toca a dormir garota, o dia vai começar, você tem de ir nanar. Tá na hora da caminha, o pesadelo já passou, pousa sua cabecinha e esquece que ele te atormentou. Dorme, meu neném, está na hora de nanar e o dia que lá vem, está quase a começar – cantarolei a canção que outrora Gabriela cantara para embalar a sua sobrinha.

Um sorriso se esboçou no angélico rosto de Mimi e reparei que as suas covinhas conseguiam ser ainda maiores que as minhas. “Isso é porque ela é um bebé, idiota” murmurou uma vozinha na minha cabeça e eu sorri.

- I love you without knowing – murmurei e o sorriso, tanto o meu quanto o dela, se alargou um pouco mais.