Calm Envy escrita por FranHyuuga
Notas iniciais do capítulo
Saudades de algumas pessoas por aqui... *chora litros*
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'Mesmo que estivesse casada, com seu destino entrelaçado a outro, ele não a deixaria desamparada.'
CALM ENVY
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Capítulo O1
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Eu poderia acreditar em você apenas por estar diante de mim
me no mae ne iru anata dake wo shinjite ikeru
{the GazettE – Calm Envy}
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Estavam em uma das salas de reunião da PS Company argumentando uns contra os outros na escolha das músicas para o próximo álbum. Ruki e Aoi, como sempre, discutiam fervorosamente, enquanto Uruha acendia um cigarro e Reita se distraía com a caneta em mãos.
Kai suspirou pesadamente quando a voz grave do vocalista expressou ‘aquela’ frase tão conhecida:
- Eu estou disposto a pagar para vocês manterem essa música no álbum! – Reita pousou a caneta e Uruha tragou mais profundamente o cigarro.
- Essa sua confiança de merda não vai funcionar mais uma vez, chibi! – Aoi retorquiu irritado.
- Quanto você quer, Aoi? – O baterista ajeitou-se na cadeira e conteve um sorriso. Ainda que lhe custasse uma carranca mal-humorada do Aoi, era preciso dar crédito ao Ruki por sua persistência.
- Merda. – Grunhiu o moreno. – De que adianta dar um valor se você nunca paga? – E sentou-se ao lado do Kai, visivelmente derrotado.
Ruki sorriu, aquele típico mostrar de dentes vitorioso. Ah, se ele soubesse quão irritante ficava daquela maneira. Alguém bateu na porta antes que pudessem prosseguir e Reita gritou para que entrasse. Os bagunçados fios negros da secretária apareceram na porta entreaberta e pelo jeito com que seu rosto redondo contorcia-se em timidez os rapazes souberam se tratar de algo desagradável.
- Ano... Kai-san. – O baterista franziu o cenho ao ouvir seu nome. – Tem uma mulher na recepção que exige falar com você.
- Quem? – Kai lançou um olhar contrariado ao Uruha por perguntar antes dele, mas o loiro apenas sorriu maliciosamente atento à resposta da secretária.
- E-Ela não quis se identificar, porque disse que se Kai-san soubesse não a atenderia.
- Como sabe que não é uma fã mentindo? – Reita cruzou os braços, confuso com a iniciativa da secretária em procurá-los em uma situação claramente suspeita.
A secretária abriu a porta completamente e adentrou a sala. Então, estendeu ao Kai uma foto antiga.
- Ela possuí várias fotos suas, Kai-san.
O baterista observou a si mesmo na imagem, quando tinha apenas 6 anos, na companhia de uma garota da mesma idade no parquinho. Os dedos sujos pela areia, os cabelos revoltados com o vento e os sorrisos nos lábios foram eternizados naquele retrato. Os olhos dele estavam voltados para a garota, fascinados por seu rosto delicado levemente corado pelo sol daquele verão. À frente deles havia bolos, tortas e outras guloseimas de areia, naquela típica brincadeira infantil que representava uma desejável realidade.
Kai segurou a foto entre os dedos e levantou-se, murmurando um agradecimento e desculpando-se por não poder ficar até o fim da reunião. Sob os olhares atônitos dos amigos e sem nenhuma outra palavra, saiu a passos largos com destino à recepção, sentindo o coração agitar-se em ansiedade. No elevador pensou que não estava pronto para um reencontro, mas conhecia a si mesmo o suficiente para saber que nunca negaria a ela um pouco do seu tempo.
Alcançou o saguão com a secretária em seu encalço, pensando somente neste momento por que simplesmente não autorizou que a mulher subisse até onde estava. Ao invés disso, desceu ao seu encontro como se não suportasse sequer esperá-la. Inferno, seria possível que após todos esses anos continuasse um tolo quando se tratava dela?
Em frente ao balcão da recepção, ele a viu. Os cabelos castanhos e sedosos caíam em ondulações suaves sobre as costas femininas e seu corpo parecia tão frágil e pequeno quanto se lembrava, exceto pelas curvas acentuadas que podia notar sob o tecido do vestido floral que usava. O rosto fino, de traços elegantes e delicados, havia se tornado menos inocente, mas o característico sorriso gentil continuava moldando seus lábios rosados. Ela elevou os olhos e encontrou-o. Aquelas esferas de um âmbar claro, sempre tão vívidas, ainda lhe lembravam o mel com seu tom levemente dourado. Kai sempre achou incrível a miscigenação dela, um equilibrado nipônico-europeu, atraente e curioso.
- Yuk-kun... – A jovem sussurrou e ainda que não pudesse ouvi-la àquela distância, o movimento dos seus lábios denunciou o que dissera. Encararam-se em silêncio por alguns instantes, até o momento em que algo pareceu despertá-la e com sutileza agradeceu as recepcionistas. Guardou várias fotos em sua bolsa e com um suspiro avançou até ele, movimentando suavemente os quadris de um jeito que muitos homens certamente voltariam o rosto para observar.
Seus passos cessaram diante dele e seus olhos o analisaram como se procurassem reconhecer as pequenas mudanças que os anos lhe trouxeram. Kai sentiu o estômago afundar-se no corpo quando notou as esferas âmbar tornarem-se mais cristalinas sob as lágrimas contidas.
- Eu não vou abraçar você aqui, não se preocupe. – A voz dela continuava tão suave! – Mas, estou tão feliz por ver você.
Kai sentiu ímpeto de envolvê-la em seus braços e ignorar os olhares curiosos que lhes lançavam, apenas para senti-la real. Para reconhecer que Misaki estava ali, fitando-o com uma terna saudade, chorosa por encontrá-lo. Ele tinha tanto a dizer, tanto a demonstrar, mas se limitou a assentir em resposta e caminhar até o elevador novamente em um claro pedido emudecido para que o seguisse.
Quando as portas de aço se fecharam, o silêncio pareceu esmagador sobre seu peito. Era como se uma mão maldosa pressionasse sua garganta e não deixasse que nenhuma palavra fluísse e em troca seu coração sofresse um colapso por não ser capaz de expressar quão perturbado e emocionado a presença daquela mulher lhe deixava.
Tão logo as portas se abriram no 10º andar, Misaki abraçou a si mesma enquanto o seguia. Seus pés pequenos moviam-se um à frente do outro, chocando-se contra o chão encarpetado com os saltos dos sapatos vermelhos. Sentia-se pequena naquele ambiente tão agitado e profissional, vislumbrando as costas largas daquele homem ao qual não via há tanto tempo. Queria tê-lo procurado antes, em outras circunstâncias, mas agora era tarde demais para lamentar.
- Podemos conversar aqui. – Kai afirmou com a voz rouca, fechando a porta do que parecia um camarim.
- Eu sinto muito por aparecer de repente. – A jovem começou, sentindo as teimosas lágrimas persistirem mais uma vez, lutando para contê-las. – Eu estou com um grande problema, Yuk.
O moreno suspirou, sentando-se em uma cadeira enquanto a olhava atentamente. A tênue decepção por saber que Misaki voltara por esta razão o fez franzir o cenho, disfarçando em uma expressão concentrada a dor latente no peito.
- Estou ouvindo. – Falou parecendo indiferente, muito embora soubesse que Misaki era uma das únicas pessoas capazes de reconhecer sob aquele tom o seu real interesse.
Eram amigos de infância. Tão próximos que não havia máscaras que pudessem escondê-los do olhar perspicaz um do outro. Tão íntimos que não havia segredos entre eles. E, por muito tempo, tão necessários que não havia outra pessoa a quem pudessem amar mais do que um ao outro.
No entanto, cada um prosseguiu com seus sonhos. Viveu seus próprios planos. Fingiu esquecer o que antes os unia. Kai ansiava saber o que de tão sério havia acontecido para que Misaki fosse à sua procura, mesmo depois do seu fatídico último encontro.
- Vou ser direta, Yuk. – O jeito como sua voz soou parecera frágil e Kai notou, pela primeira vez, quão desamparada Misaki estava. – Eu me casei.
A respiração falhou, como se de repente o ar fosse limitado demais e fizesse o coração tremer em sofrimento. Sentiu vontade de gritar uma maldição, de expressar a frustração que sentia tão consistente, como se um tijolo pesado tivesse sido engolido e lhe pesasse sobre os órgãos.
- O quê? – Formulou, torpe e perdido, ainda com aquela mesma expressão de quem esconde quão afetado está.
- Eu fui enganada. – As palavras ganhavam vida própria em sua mente, como a forte correnteza de um rio frustrado por ser incapaz de arrastar qualquer maldita pedra em seu caminho! – Heisuke me convidou para a comemoração anual do restaurante em Las Vegas. Eu sempre quis conhecer os Estados Unidos, você sabe, então aceitei o convite sem sequer medir as consequências. Eu não lembro muito bem, mas bebi um coquetel alcoólico azul que ele me ofereceu e então... então... – Não sabia como continuar, mas o olhar intenso de Kai a fez concluir: – Acordei com ele na cama do hotel! Ele me disse que nos casamos em uma maldita igreja qualquer. Eu entrei em pânico, pedi mil e uma desculpas por ter bebido e por envolvê-lo em tal problema, mas que logo resolveríamos, porque qualquer casamento em Las Vegas precisa de um documento oficial de confirmação. – Misaki afundou-se na cadeira à frente dele, abatida e cansada. – Ele sorriu e disse que sempre me amou. Que não estava bêbado quando nos casamos e que já havíamos assinado a confirmação, porque ele já tinha tudo planejado. Eu a assinei durante a cerimônia, sem sequer saber o que assinava, Yuk! Eu não lembro de nada!
Misaki fitou-o com desespero, despertando em Kai uma onda intensa de raiva pelo que lhe fizeram. Heisuke era um primo distante dela, um rapaz arrogante que sempre a exigia para si quando vinha visitá-la durante as férias. Nunca gostou dele. Nunca o tolerou. E agora, mais do que achava ser capaz, nunca o odiou com tamanha intensidade!
- O que você fez depois disso? – Perguntou recuperando um pouco a compostura, contendo o anseio de quebrar alguma coisa.
- Eu fiquei muito assustada com o jeito dele. Nunca pensei que pudesse me enganar assim. Quando voltamos, ele fazia planos para vivermos juntos e tão logo fiquei sozinha, peguei minhas coisas e fugi. Eu quero processá-lo, Yuk. – Suspirou como se a resolução lhe pesasse o mundo sobre as costas. – Eu pensei em falar com meu Otoo-san, mas...
Ela não concluiu. E não precisou. Misaki era a filha bastarda do seu pai, que tivera um caso passageiro na Europa. Sua mãe morreu quando tinha apenas 3 anos, deixando orientações sobre como encontrá-lo. Envolveram a embaixada japonesa para migrá-la, mas a família paterna era muito prestigiada e preocupou-se em conter o escândalo para que não ganhasse proporções desastrosas e destruísse sua nobre posição social. Somente por isso seu pai a assumiu. Era odiada pela madrasta, ignorada pelo pai e desleixadamente cuidada pela meia-irmã mais velha – filha legítima do casal. Nesse contexto, era bastante óbvio que seu pai não a apoiaria. Ao contrário, veria em Heisuke a oportunidade de livrar-se dela.
- Eu não tinha ninguém mais para procurar. – Explicou chorosa, os lábios trêmulos e os âmbar fixos nele como se fosse seu próprio salvador.
- Eu não esperava vê-la. – Kai levantou-se e agitou os cabelos negros um pouco longos com uma das mãos. – O que exatamente precisa de mim, Misaki?
- Heisuke assumiu meus bens. – O moreno grunhiu irritado com a absurda falta de caráter daquele homem. – Estou sem casa, sem dinheiro, sem emprego. Ele havia assumido o restaurante onde era a cheff. Ele pensou em tudo realmente. – Inspirou o ar, desconfortável. – Você poderia me emprestar algum dinheiro para o advogado? E para me hospedar em algum lugar?
- Você apareceu depois de cinco anos para me pedir dinheiro emprestado? – Não conseguiu se controlar ao perguntar. Ela realmente havia pensado que depois de ouvir tal relato a ajudaria somente com dinheiro?!
- Não! – Respondeu rapidamente, mas ao vê-lo cruzar os braços em uma postura desafiante, corrigiu: – Quero dizer, sim. Mas, pagarei você de volta assim que arranjar algum trabalho anônimo!
- Anônimo? – Estranhou, ignorando o fato de que ela ainda pensava que estava hesitante em emprestar-lhe dinheiro. A ajudaria de bom grado, com tudo o que pudesse fazer por ela.
- Sim, Heisuke provavelmente acionará a polícia. Serei dada como desaparecida. Não posso circular pelas ruas sem correr o risco de que ele me ache. – A situação parecia se complicar a cada grau de insanidade que esse homem poderia chegar. – Até que se prove o contrário, ele é meu marido. E... – Interrompeu-se.
- E? – Instigou. Havia algo naqueles olhos claros que o fez aproximar-se um passo.
- Estou com medo dele, Yuk.
O moreno franziu o cenho, uma nova onda de raiva invadindo-o.
- Ele fez algo contra você? Fisicamente?
Misaki não respondeu, limitando-se a fitar o chão e conter novas lágrimas que ansiavam sair. Ela tentava ser forte à sua frente, notou, mantendo os ombros eretos e cerrando as mãos pequenas em punhos. Kai entendeu que Misaki estava se esforçando ao máximo para manter o autocontrole. Se ela desmoronasse, talvez não fosse capaz de sair disso. Talvez se visse presa a Heisuke, de tal modo que nem a justiça poderia afastá-la. Tardaria muito tempo até que pudesse se divorciar, porque certamente seu repulsivo marido resistiria. E o que poderia acontecer até lá era uma amedrontadora incógnita.
Só de pensar no que Heisuke poderia ter feito a ela, tomando-a como sua, provando o sabor de ter roubado suas escolhas, o fazia se sentir doente de raiva.
- Eu vou ajudar você, Misaki. – E não seria apenas com dinheiro, prometeu a si mesmo. – Ele não te tocará outra vez.
Os olhos claros encontraram os seus e irradiavam uma calorosa esperança. Irradiavam aquele sentimento que sempre lhe foi dedicado, que os uniu antes e que ainda os unia. Que os deuses tivessem clemência para poder controlar a si mesmo, porque Kai ainda a amava. Absoluta e verdadeiramente, ele a amava. Mesmo que estivesse casada, com seu destino entrelaçado a outro, ele não a deixaria desamparada.
Erraram antes, quando decidiram se afastar. Erraram de tal forma que nenhum deles foi capaz de encontrar a própria paz. Ela afundou-se nas suas excêntricas receitas, tornando-se uma reconhecida gourmet, enquanto ele afundou-se nas próprias criações artísticas com sua bateria, consolidando uma carreira de sucesso internacional. E quando estavam assim, sós, olhando-se em silêncio, nada disso importava.
Era como se voltassem àquela infância, quando tudo era simples, quando tudo eram sonhos. Quando nunca pensavam em se separar.
- Obrigada, Yuk. – E com aquelas palavras, Misaki abraçou-o, afundando o rosto em seu peito como se com isso a desastrosa situação desaparecesse. Ele retribuiu o gesto, acolhendo-a em seus braços e sentindo o perfume de baunilha e lavanda do qual sentira falta.
- Você sempre está envolvida em encrencas. – Riu com os lábios perdidos nos fios sedosos dela.
- Modo gentil de colocar as coisas. – Ela respondeu divertida, brindando-o com o delicioso som de sua risada.
- Por que achou que não fosse recebê-la se dissesse quem era? – Perguntou depois de um momento, recuperando a seriedade.
Misaki afastou-se um pouco, o suficiente para encará-lo nos olhos.
- Pensei que estivesse magoado pelo nosso último encontro.
Permaneceu em silêncio, as lembranças amargas de uma briga sem sentido invadindo sua mente. Palavras frias carregadas de mentiras, dos dois.
- Eu sei que não queria me ver outra vez, Yuk. – Afirmou com melancolia. – Eu continuaria respeitando isso se pudesse, se não estivesse nessa situação, se...
- Shh... – Calou-a com um dedo sobre os lábios rosados, ligeiramente fascinado com sua maciez. – Você fez bem em me procurar.
E depois de cinco longos anos sem vê-la, sem sequer ter notícias além daquelas distribuídas na mídia, Kai ainda sentia o costumeiro conjunto de sensações que Misaki despertava. Ainda sentia aquela adorável e perigosa reciprocidade. Aquela sensação de que se a beijasse não seria rejeitado. Ele sabia que mexia com ela, apenas pelo jeito com que o olhava, tão desejoso como estava.
- Vamos. – Afastou-se, agarrando o pequeno resquício de sanidade que ainda tinha. – Vou contatar o advogado.
E ao vê-la seguindo-o um pouco entorpecida, Kai sentiu o interior revolver em um desejo insano de agarrá-la.
Aquele seria um longo dia.
Continua...
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E AÍ, POVOOOO?
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Ah, que alegria voltar com algo que envolve os nossos gazeboys maravilhosos! Estou ansiosa para saber se vou contar com a presença de alguém acompanhando essa história! :) Ela não será longa. Poucos capítulos. A depender do quanto agrade. ;)
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O que acharam do Kai? E da história da Misaki? HAHAHA. Que azarada, não? D:
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O passado deles será melhor explorado assim que começarem a conviver um com o outro novamente, ok?
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Aguardo comentários! :)
Beijo carinhoso e obrigada por ler!