How Things Began... escrita por RitalinLove


Capítulo 14
Missing you


Notas iniciais do capítulo

Meus amores, queria pedir desculpas mais uma vez pela demora, mas semana passada foi uma LOUCURA na minha vida! Ontem fez exatamente uma semana desde o show -lindo, perfeito e maravilhoso - do SP em Brasília, e foi o dia que eu conheci os meninos (comprovando que eles são uns amores - apesar do Pierre não ter entendido a piada que eu contei para ele, mas enfim *cof cof lerdo cof cof * rsrsrs) e então minha vida foi só os shows deles no Brasil durante a semana!
(minha relação com o David também estava bastante abalada e eu não me sentia bem de vir escrever a fic desse jeito... Rrssrsr sente como eu sou idiota? xD -q)
Mas enfim, aí está o capítulo! Queria agradecer muitíssimo pelas reviews lindas que vocês estão deixando para mim, de coração isso me ajuda a continuar (e não digo só na fic, viu?). Vocês são incríveis! ;3
~ e vão se acostumando, eu sou aficionada por escrever, então minhas "notas" sempre serão grandes desse tanto u.ú ~



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No dia seguinte, acordei tão mal e indisposto que podia claramente ser confundido com ressaca ou algo assim. Estávamos os cinco na cozinha tomando café: Eu, Seb, Pat, Jeff e Chuck. Apenas David ainda não tinha se levantado. Os meninos conversavam normalmente, mas eu apenas fingia ter fome, num completo desinteresse. Seb não parava de me olhar preocupado.


David finalmente chegou e meus olhos seguiram seu rosto em um movimento involuntário, sem que eu notasse. Ele parecia bem. Parecia feliz. Nada tinha a ver com o David da noite passada.


– Bom dia! - Ele disse abrindo aquele sorriso perfeito. Ele não havia virado o rosto pra mim… Até agora. E de relance, ainda - Érr… Chuck, se importa de trocar de quarto comigo? A gente pegou as mesmas camas, tecnicamente. Embaixo do beliche… - Eu arregalei meus olhos e pude ver Seb percebendo que eu estava prestes a desabar, e em um só movimento, segurou minha cadeira bem firme, discretamente. Eu sabia que ele estava confuso… E eu então? David queria se livrar de mim.


– Hã… Tá, tanto faz… Mas porquê? - Chuck perguntou.


David deu de ombros - Sei lá, acho que me acostumei a ser perturbado pelos roncos de um certo careca - Ele disse enquanto ia na direção de Jeff, dando-o um pedala. Jeff fez uma careta e bagunçou o cabelo espetado de David.


– Nhé-Nhé, sabias que não viveria sem mim, Ritalin! - Jeff disse e David o abraçou.


– Credo, como vocês são gays! - Debochou Pat com uma careta.


– Não precisa ter ciúmes, Pat. - David disse enquanto abraçava Jeff, que afagava seu cabelo em zombaria.


– Acho que vocês três no mesmo quarto não vai prestar… - Zombou Chuck e os outros três riam sem parar. Apenas eu e Seb ficávamos quietos. Seb por solidariedade e eu… Bem, aquilo estava me matando.


Eu sabia que estava fulminando de raiva. Eu podia sentir o ciúmes, a angústia e a confusão correndo por minhas veias. "Droga, é tão difícil de entender que o David é meu?" Pensei e suspirei. Eu jamais poderia dizer isso… David já não era meu. Quer dizer, sejamos francos, ele nunca foi. Nunca quis ser. Quão patético eu era? Não conseguia desviar o olhar dele, tão perfeitamente feliz, e ao mesmo tempo, não conseguia de fato olhá-lo. Doía. Doía malditamente muito.


– Pierre… - Seb me tirou do transe. Eu já até havia esquecido que ele estava lá, ao meu lado. Grunhi para que ele continuasse - Que porra aconteceu? - Ele sussurrou, mas sua expressão estava alterada, como se gritasse. Aquilo me surpreendeu. Seb nunca era rude assim.


– Hã? - Eu ia tentar me fazer de desentendido, mas Seb já imaginava o que ia fazer e me repreendeu com o olhar - Ah… A gente… A gente "terminou". - Ressaltei as aspas com as mãos.


Seb arregalou os olhos, incrédulo - Que… Como assim?


– Desse jeito que eu falei. - Dei de ombros fingindo não me importar. Claro, fingindo muito mal…


– Que merda, Pierre! - Seb falava inconformado. Não parecia estar tentando me consolar, parecia estar chateado por si mesmo.


Fiquei olhando-o assustado com sua reação, esperando que explicasse-se.


– Isso tá errado! Muito errado! - Ele mexia as pernas nervosamente, me fazendo lembrar do David…


– É, eu sei. Mas… Por que isso te incomoda tanto?


– Porque? - Ele riu sarcasticamente e eu franzi o cenho. Me virei por um segundo e vi David sorrindo, enquanto ia para o studio com os outros. - Porque, Pierre? - Ele repetiu um pouco mais alto, agora que estávamos sozinhas na cozinha - Cara… Você sequer tem noção, né? Você sabe o quão perfeitos vocês são um por outro? Pierre… Os seus olhos… Eles brilham quando vocês se vêem. Vocês… Sei lá… Se completam. Pierre, você notou a rapidez em que se apaixonou por ele? E ele… Poxa, era visível pelo olhar que ele sentia o mesmo. Vocês se desejam, tanto. Você cuida dele como se fosse sua própria vida. Aliás, melhor do que sua própria vida. E ele… Ele deixa que você o faça. Deixa que cuide dele. Ele é tão carente do seu toque, de você… Porra, e eu sou só um observador nisso tudo, nada além disso, Pierre. Nem consigo imaginar o que mais passa dentro de vocês, então… É como se vocês tivessem sido feitos um para o outro. Como se tivessem esperado um pelo outro durante a vida toda… Tá - ele riu corado -, eu sei que soa ridículo, infantil… Talvez "pesado" demais… Mas você sabe melhor que eu. - Sim. Eu sabia. Tudo que Seb havia dito era verdade - Vocês são muito intensos, Pierre.


Intensos. É. Essa era a palavra que nos definia. Eu sabia disso, já havia chegado a essa conclusão antes.


– Sim, eu sei. - Falei por fim, no meio de um longo suspiro.


– E então?


– E então…? - Perguntei confuso.


– Pierre! - Ele revirou os olhos - Para de ser lerdo. Resolve as coisas com o David!


– Érr… Não é tão fácil assim… Aliás, é bastante complicado.


– Quê? Qual é, Pierre! O que tem de complicado nisso? Corre atrás dele! - Seb retrucou impaciente. Eu juro que riria de tanta implicância para ver dois amigos juntos, se ainda não estivesse preocupado e destruído por aquela situação toda.


– Eu não posso simplesmente correr atrás dele, Seb… - Antes que ele pudesse retrucar com algum comentário qualquer - Na verdade… Eu que terminei com ele… - Abaixei o rosto, evitando a cara chocosa de Seb.


– Você O QUÊ? - ele deu um tapa na testa - Como você é idiota, Pierre! - levantei o olhar, já bastante irritado com Seb - Por que? - Ele falou com certa calma, depois de ver minha reação.


– Porque… David não me quer realmente, Seb. E, tudo bem, eu se que eu era assim… Você sabe, eu só sabia de ficar com as meninas, não tinha nenhum interesse de realmente ter alguém fixo, algo sério… Mas como você mesmo disse, tudo com David é diferente, eu realmente o quero… - respirei fundo antes de prosseguir - Eu… Realmente quero ficar com ele… Pra valer, sabe? - Me envergonhei de falar tudo aquilo, era tão duro… Quer dizer, era a primeira vez que eu admitia aquilo em voz alta - David não me vê assim. Ele não me quer da forma que eu o quero. Ele não me quer. - Repeti, mais para mim mesmo, para ver se eu entedia aquilo de uma vez por todas.


De repente, Seb fez a última coisa que eu esperava que alguém, sensato, fizesse: Me de um baita soco no braço.


Comecei a resmungar, Seb tinha noção de que eu poderia simplesmente me levantar e parti-lo em dois?


– Para de ser idiota, Pierre! Isso não é verdade.


– É sim. - Falei por fim, dando aquela conversa por encerrada . Seb parou de insistir e me lançou um olhar que dizia "sinto muito". É, eu sabia o que ele sentia, Sabia que ele… Érr… "Shippava" eu e David, mas eu não podia fazer nada.


Segui para o studio, por fim, e Seb veio calado atrás de mim.


Claro que meu olhar correu para ele, que estava tocando seu baixo. A melodia de Worst Day Ever soando por entre seus dedos - o que fez meu estômago embrulhar um pouco… - . Jeff também ensaiava, mas era alguma música aleatória que não me ative a reconhecer, Chuck rodava de um lado para o outro, na frente de Pat, que falava no telefone mais a frente. Seb me deu uns tapinhas no ombro, e pegou sua guitarra em um canto qualquer. Eu… Eu fiquei olhando David. Argh, eu só posso ser masoquista, não é possível.


– O que aconteceu? O QUE ACONTECEU? FALA LOGO, FALA! - ouvi Chuck aos berros e balancei a cabeça para voltar meu foco para o resto das coisas - sem ser David -, me virando para Comeau.


Pat havia desligado o telefone, e parecia em alguma espécie de luta interna sobre deixar um sorrisinho nascer em seus lábios, ou manter a postura séria. Não demorou muito para ele soltar uma gargalhada gostosa. Eu não sabia do que se tratava, mas Chuck parecia ainda mais angustiado à medida que Pat enrolava mais para falar - o que quer que fosse que ele tinha pra dizer -.


– Ok, meus projetos de artistas venham cá, se aprocheguem! - Pat falou, exalando felicidade. Nos aproximamos, Chuck praticamente se jogou em Pat. - O que vocês acham de… Vocês sabem, pegarem uns dias aí, e pararem de gravar o CD? Quer dizer, fazer uma breve pausa, sabe, nas gravações… Mas depois a gente volta! - Aquele pedido era ridículo. Seria perda de tempo parar com as gravações. Mas a julgar pela cara sagaz que Pat transbordava, eu tinha certeza que tinha mais coisa ali.


– Cala a boca, Langlois! Não acho que perder o dinheiro, que não é pouco, que estamos gastando aqui seja a melhor ideia que já passou pela sua cabeça loira! - Jeff rolou os olhos em zombação. Pat sorriu ainda mais, confirmando meus primeiros pensamentos.


– É, você está certo, Stinco… - Rolei meus olhos para Chuck e ele estava quase explodindo de curiosidade, porém, se mantinha quieto - ele sabia que o suspense era de praxe das notícias que Pat dava, então era preciso esperar -, rolei meus olhos mais uma vez para o cinismo de Pat antes dele continuar - Mas acho que é meio difícil sair em tour e continuar gravando em São Franciso ao mesmo tempo, né?


Meus pensamentos se resumiam a isso: Ai meu deus, puta que pariu! Ai meu deus, puta que pariu! AI MEU DEUS, PUTA QUE PARIU! Um tour?!


– Ai meu deus, puta que pariu! Um tour? - David disse se levantando, tirando o baixo do seu colo, sem cuidado algum, e pulando freneticamente.


– Você conseguiu? Conseguiu MESMO?! Uau! - Chuck finalmente falou. Então ele já sabia sobre o que a tal ligação era.


– Sim, porque eu sou demais e vocês devem suas vidas a mim! - Pat disse de modo esnobe, soprando as unhas, arrancando gargalhadas da gente.


– Sem dúvida alguma, lôro! - Jeff disse, abraçando Pat de um modo… Nada carinhoso. Como moleques, sabe?


– Vamos para Nova York daqui a algumas semanas, para divulgar o álbum… E a banda, claro. Se tudo der certo lá, vão fazer mais uma série de shows! Isso não é incrível?



Sim, era incrível demais. Era muita sorte para quem a um ano atrás, tinha como maior público, sei lá… Minha mãe.


Era incrível demais o fato desse ser um dos momentos mais importantes para o início de uma banda, e eu estar tão dividido entre ficar realmente feliz com isso e voltar para minha tristeza cotidiana pelo spiky hair que sequer olhava na minha cara. Era a droga de um momento especial, seria bom se ele pudesse ser comemorado por toda a banda, juntos, felizes.


Fazer o quê?



[…]



Passou uma semana, e continuamos com as gravações intensamente. O trabalho pesado havia começado, afinal. Eram noites e madrugadas viradas, mas pelo menos estávamos rendendo alguma coisa.


David estava dormindo no outro quarto e a gente parcamente se falava, quando acontecia era sempre sobre assuntos da banda e nada além. E mesmo assim, ele geralmente fazia questão de ser bastante curto, sem me dar qualquer tipo de atenção. Isso quando não era grosso… A verdade é que David estava inconstante. A verdade era que o humor dele, mexia com todo mundo. Sério, David tem esse poder de, sei lá, alterar o humor das pessoas. Quando ele estava feliz, todo mundo ficava de bem com a vida e as coisas fluíam com mais facilidade. Mas nas vezes que ele não estava tão bem, todo mundo ficava meio lento para fazer tudo, de mau humor. Eu tentava desfrutar dos momentos em que ele estava alegre - com aquela alegria infantil, meiga e contagiante que eu amava - porque vê-lo assim, me fazia bem também - quero dizer, mais do que todo mundo -.


Estar "brigado" com David tinha seu lado bom: Eu realmente me concentrava no trabalho e não deixava que ele me distraísse - mesmo que o simples fato de existir e ser tão putamente lindo já era uma distração difícil de se ignorar -.


O lado ruim era… Bom, todos os outros lados.


[…]


Os meninos resolveram pegar um final de semana para saírem por aí e farrear. Eu preferi ficar em casa, aproveitando minha tristeza para compor alguma coisa - afinal, ficar depressivo serve para isso quando somos músicos, não é? -.


Eu estava sentado à beira da cama, já com o meu caderno de músicas e ensaiava algumas, com o violão, enquanto a inspiração não vinha. Do nada ouvi passos e barulhos vindos da escada. Estranhei, claro, considerando que os guys tinham saído pela cidade já à algum tempo. Porém, não demorou muito para minha dúvida ser saciada: Em um impulso, Seb abriu a porta do quarto puxando… David? Pelo braço. O mesmo, se debatia, tentando ir embora. Arregalei os olhos para aquela situação e me levantei de onde estava, levando meus olhos rapidamente até David, como se em uma pergunta muda, questionasse o que estava acontecendo.


– Hunf, pergunte para ele, eu realmente não sei. - Ele respondeu de prontidão, enquanto Seb trancava a porta.


– Aí, 'tá vendo?! - Seb dizia com os braços levantados em derrota, vindo em nossa direção - Vocês conversam por olhares! Por olhares, seus idiotas! Poque estão estragando isso?!


– Seb, o que você quer? - David perguntou, cruzando os braços, ignorando a última fala de Sébastien, que por mais desagradável que estivesse sendo, era uma grande verdade.


– Eu quero… - Ele falou pausadamente, me puxando para ficar de frente para David - Que vocês parem com frescura, e resolvam isso de uma vez.


– Não tem nada a ser resolvido. - David resmungou antes que eu pudesse pensar em alguma coisa. Céus, ele era tão malditamente orgulhoso… E ficava tão sexy assim que me dava ainda mais raiva dele.


– Tem sim. - Seb falou. Okay, ele ia mesmo se meter naquilo. Eu não ia nem discutir.


Logo percebi que não havia falado nada desde que eles tinham entrado.


– Eu não tenho NADA a trata com ele. - David continuava frio. Talvez por isso não sentia vontade de falar nada… Já sabia que ele não ia mudar de ideia, além do mais, ele odiava ser contrariado.


– Ok, David, vamos deixar de lado que você é uma criança e resolver isso de uma vez! - Seb disse, já batendo o pé estressadamente.


– Sou mais velho que você, Sébastien. - David respondeu. Ríspido como sempre.


– Ele está falando de mentalidade, Desrosiers. - Só me dei conta do que eu tinha falado, depois que vi os olhos de David arregalarem furiosamente para mim. Certo, eu fui muito grosso… Mas eu precisava dizer aquilo.


Logo David começou a me xingar de tudo que é coisa, das possíveis às inimagináveis. Soltei um suspiro fundo, me sentando na cama de novo.


– Ok, ok, troca de "elogios" à parte… - Seb cessou a gritaria de David com sarcasmo - Alguém pode me explicar como vocês foram de um casal perfeitamente adorável, para isso?


– Nós não éramos um casal. - David respondeu, e eu agradeci mentalmente por sua voz estar mais calma.


– E nunca poderíamos ser… - Completei e David concordou com um olhar triste.


– E porque não? - Seb questionou.


– Porque… - Comecei, tentando me explicar - Porque… É complicado… - Abaixei meu rosto, estalando meus dedos nervosamente.


– Isso você já me disse. - Seb olhou nos meus olhos, depois nos de David - Agora você devia dizer o que me falou para o David. - David levantou o olhar depois de seu nome ser mencionado, esperando uma resposta da minha parte.


Tudo que eu fiz foi congelar. Eu pensava se devia mesmo falar o quanto ele estava me fazendo sofrer - o que era irônico, considerando que não queria falar para não magoá-lo -. Por fim, pensei… É, não podia ficar pior do que estava:


– David… - Levantei da cama de novo, ficando realmente próximo do seu corpo. Suas orbes esverdeadas me olhavam com curiosidade e tristeza, ao mesmo tempo. - Eu… Eu não vou ser seu brinquedinho. - Falei simples, e a confusão veio à tona em sua expressão.


– E porque você pensa que seria? - Ele disse, seus olhos pareceram ainda mais verdes… Aquele olhar, céus, simplesmente me matava por dentro.


– Você me disse… Disse que era só diversão. E você é assim. E olha, tudo bem, você pode sair e curtir com que quiser - Até parece que eu realmente pensava assim. Só de imaginar David com outra pessoa, qualquer uma, me queimava de ódio -, mas… Não comigo.


– Por que não, Pierre? - Ele já havia perdido a pose de antes, agora choramingava abaixando o rosto - Pie…


– Para com isso, David… - Eu estava prestes a ceder e ir abraçá-lo. Porra, ele me chamou pelo apelido, era golpe baixo eu sei… Mas vê-lo daquele jeito não era justo. - Olha… - Suspirei, levantando seu queixo para que olhasse de novo para mim - Eu… Eu realmente gosto de você, entende? Gosto muito. E, e bem… Eu consigo me imaginar com você, sabe, pra valer. Mas eu sei que você não. Então, eu simplesmente achei melhor por um fim nisso, antes que eu acabasse me… - Por sorte do destino, parei de falar naquele instante, antes que falasse algo para me arrepender. - Me… Me envolvendo demais com alguém que não quer nada comigo.


– Mas Pierre… Eu nunca disse isso! - Ele falou um pouco mais alto, mas com a voz embargada. O rosto era triste e abandonado - Você me entendeu errado…


– E ainda teve aquele cara no bar. - Joguei a informação nele de uma só vez e pude vê-lo estremecer.


– Ele que me beijou, não foi culpa minha… - Fiquei levemente satisfeito porque ele não se atreveu a mentir. Não que isso fizesse as coisas melhores, mas…


– Tudo bem, eu vi, eu sei que foi ele. Mas David, isso não muda o fato de que você sequer me contou isso e… Você saiu com aquelas pessoas…


– Eu não contei porque… Eu sabia que ficaria zangado, Pierre. Porque sabe, eu… - Ele suspirou bem fundo antes de continuar - Eu sei que eu estava errado em não ter dado atenção ao que você disse. Eu sei que eu sou difícil de lidar, ok? E que, eventualmente, meu gênio cansa as pessoas… Eu não queria admitir que errei em não ter te dado ouvidos, Pierre. Me desculpa, eu sei que foi idiotice.


– A maior idiotice foi você pensar que eu ficaria zangado com você por ser sincero. Eu não faria isso. Droga, David, eu te escutaria, você sabe disso. - Eu estava um pouco mais alterado e pude vê-lo tremer levemente - Mas mesmo assim, não foi por causa do beijo em si que eu fiz o que fiz…


Meus olhos correram por ele por inteiro e eu coloquei as mãos em sua cintura. Ele pediu que eu continuasse, voltando a se comunicar com os olhos, e só então me dei conta de que Seb ainda estava lá, só que encostado na porta, como se estivesse realmente aéreo à nós dois.


– David, eu, uh… Eu entendo você, ok? Eu era assim, eu saia para festas, fazia o que eu bem entendia com quem eu quisesse… Mas… Mas aí as coisas mudaram. Aí eu conheci você. - Acabei por deixar um sorriso abobado sair no canto dos meus lábios. Ok, eu estava realmente me declarando para ele. - Poxa vida, depois que eu te vi, no palco daquele bar, eu não consegui acreditar que um ser humano pudesse ser assim, tão perfeito… Eu te chamo de anjo porque, para mim, é a única explicação para você ser tão maravilhoso do jeito que é. De um jeito que nenhum ser humano consegue ser. Você é um anjo. Eu fiquei morrendo de medo por estar de repente gostando de um garoto, claro… - Olhei para Seb, que me sorriu encorajador, por meio segundo antes de me sentir necessitado do rosto infantil que à pouco eu encarava - Mas a minha vontade de ficar com você é, e se dependesse apenas de mim, sempre seria, muito maior do que qualquer medo que eu possa sentir. E, bem, durante quase um ano, eu guardei isso para mim , e toda vez que eu te via, me via gostando cada vez mais de você… Então, David, eu simplesmente não queria saber de mais ninguém. Ninguém, além de você, importava. Então, não pense que eu não gosto de você, eu gosto até demais. Por isso, tive que por um fim nisso. Eu não posso ser seu brinquedinho. Não dá.


Seus olhos estavam molhados e brilhantes. - Pierre… Eu… - Ele colocou as mãos no rosto e parou assim por alguns segundos, como se se preparasse para finalmente falar - Eu sou muito ruim nisso. Eu… Me desculpa, ok? Eu sou péssimo nesse lance de gostar de alguém… Eu, caramba… - Ele liberou algumas lágrimas - Eu não sei lidar com isso! Eu não queria te machucar… Eu só, droga, eu sei lá porque fiz isso… Eu sempre acabo estragando tudo… Eu ajo por impulso, sem pensar e… Ok, eu sou mesmo uma criança. - Ele falou sua última frase se virando para Seb, mas logo voltou o rosto choroso para mim - Mas, Pierre… Você está sendo injusto comigo. - Levantei as sobrancelhas e ele suspirou - Está sendo um idiota em falar como se eu não gostasse de você.


– Você gosta?


– Imagine, idiota. - Ele rolou os olhos.


– Ótimo jeito de demonstrar… - Falei sarcástico - Por que não me xinga mais?


– Estou te xingando porque não sabia que você pudesse ser tão incrivelmente lerdo e tonto assim! - Ele começou a alterar a voz de novo. E lá vamos nós, aos surtos de bipolaridade outra vez.


Seb saiu de perto da porta, voltando para o nosso lado, revirando os olhos.


– Eu posso ser lerdo, mas puta que pariu, David, você é a pessoas mais confusa que existe! - Alterei minha voz também, soltando sua cintura finalmente.


– Eu posso ser confuso, mas você sequer tentou me entender dessa vez. - Ele se aproximou perigosamente de mim mais uma vez - Eu não estava querendo dizer que queria que as coisas entre a gente terminassem… - Ele corou, lindamente - Eu queria que elas… Hã… Começassem? Pra valer… Também… - Ele sorriu timidamente e eu tive o ímpeto de agarrá-lo no mesmo instante, mas me contive.


– Você… Estava mandando uma indireta? - Seb perguntou, quando percebeu que eu não o faria, e David balançou a cabeça concordando.


– Desde quando você virou uma mulher para simplesmente não falar as coisas na cara? - Ok, talvez eu estivesse um pouco nervoso…


– Desde quando você virou um débil para não ser capaz de entender um sutil indireta? - Ele respondeu sarcástico rindo de leve, com as mãos na cintura fininha, e Seb resmungou alguma coisa que eu não entendi.


– Essa foi boa! - Respondi entre risada, colando meus olhos nos de David e ele nos meus. Ele sorriu, parcamente, de um jeito meigo. Nos estávamos… Tão próximos. Coloquei minhas mãos em sua cintura de novo. Eu sequer piscava, só conseguia olhá-lo e nada além. Meio como se o resto do mundo tivesse ficado embaçado. A melhor parte era que eu podia sentir que David sentia exatamente a mesma coisa.


– Ai meu deus… - Seb falou com a voz temerosa, mas eu não quis saber de me virar para vê-lo. Nem eu, nem David. - Vocês… Vocês não vão se agarrar agora, né? Eu estou bem aqui…


– Vai passear, Seb. - Eu e David falamos ao mesmo tempo e ele riu daquela adorável "coincidência".


– Fala sério… O quarto é meu também… - Ele resmungou, e David simplesmente apontou para a porta, meio que como expulsasse Sébastien com autoridade, ainda sem tirar os olhos de mim. O mesmo soltou um suspiro, mas por dentro eu sabia que ele estava super contente, e então saiu sem reclamar mais.


Meio que como em um filme, no mesmo instante que ouvimos o "clic" da porta se fechando, meus braços rodearam o corpo magro e pequeno de David, enquanto os seus correram para envolta do meu pescoço, logo com uma mão que acariciava meu rosto e o a outra minha nuca. Beijá-lo de novo era tão… Bom. Tão maravilhoso. Eu poderia certamente fazer aquilo pelo resto da minha vida. Estava tão concentrado em atacar seus lábios com voracidade, que mal percebi quando joguei seu corpo contra a parede. Segurei seus pulsos, meio que evitando que ele saísse de lá - embora, para minha felicidade, essa parecesse a última coisa que ele poderia querer -, suas pernas já havias se enroscado, bem presas na minha cintura e eu sustentava seu peso - praticamente mínimo -.


Ficar tanto tempo - mesmo que tanto "tempo" seja uma única semana - sem poder tocar em David, foi o pior castigo que eu já tive que lidar. Eu sentia falta de tudo, não interessando se ele estava do meu lado, eu não o tinha pra mim. Sentia falta do seu cheiro - o melhor cheiro do mundo, tão doce quanto a sua personalidade -, seu sorriso largo, mostrando alguns dentes levemente tortinhos - mas ainda assim, extremamente adoráveis -, seu cabelo espetado roçando no meu rosto, seus braços finos envolta do meu pescoço, sua fileira de machucados espalhados pela perna - culpa de uma falta de coordenação ao andar de skate -, seus piercings, que pareciam se encaixar tão bem em seu rosto, o brilho dos seus olhos meigamente esverdeados, seus bicos, sua gargalhada, o modo como ele me surpreendia todos os dias… Eu sentia falta de tudo nele. Até mesmo de suas implicâncias e infantilidades.


Por isso, não tive como me segurar quando pude tocá-lo de novo. Foi como uma onda de eletricidade passasse por todo meu corpo quando senti o calor de sua pele outra vez. Eu não pude me segurar. Não pude e não queria. Nossas bocas se recusavam a se separar, travando uma batalha extremamente quente. David não se importava por estar sendo completamente segurado por mim, mas tentava insistentemente liberar seus pulsos de minhas mãos, e quando o fiz, ambas suas mãos correram para o meu corpo, uma agarrava minhas costas até meu pescoço com uma certa violência - deliciosa -, certamente deixando marcas de unhas por toda a extensão. A outra mão pousava em um carinho no meu tórax, por vezes me puxando, pelo tecido da camiseta, para ainda mais perto - embora parecesse impossível nos colar ainda mais -. Com minhas mãos livres, percorri o corpo dele inteiro, levantando a barra da sua camisa levemente enquanto acariciava de sua barriga até suas costelas. Com a outra mão, rocei minhas unhas em sua coxa esquerda por de cima do jeans que ele usava. David começou a gemer e ofegar dentro da minha boca, o que já estava me fazendo delirar - e fazendo uma quantidade realmente incômoda de sangue se deslocar para a minha virilha…


É, estava quente demais.


David é quente demais.


– Hmm… Pierre? - David falou, ainda ofegante, quando decolou seus lábios dos meus. Colei minha testa na sua de modo que conseguisse olhar bem para seus olhos. Murmurei um "hm" para que ele pudesse continuar - Érr…


Pude percebê-lo extremamente tímido - e talvez desconfortável - com aquela situação extremamente repentina e me dei conta do que de repente aquilo estava sendo intenso demais. Coloquei-o de volta no chão delicadamente, mas ainda continuava tão próximo quanto antes. Ele continuou a corar, cada vez mais e mais - ficando igualmente cada vez mais adorável -, mas sorria brandamente, o que me fez sorrir alegre e sinceramente.


– D… - Chamei simples. Ele ainda fitava meus olhos, então não tinha dúvidas de que ele estava escutando - O que vai fazer hoje à noite?


– Eu não sei. Eu queria passar com um cara alto e lindo, de bochechas rosas e que não sabe fazer um moicano direito… - Ele riu infantil e eu sorri de volta - Mas isso vai depender dele também, sabe?


– Sei… Se for quem eu estou pensando, sei que ele vai adorar passar a noite com um baixinho maravilhoso, de cabelo espetado e que tem o sorriso mais encantador do mundo. - Falei e gostei. Era tão idiota, mas eu me sentia bem em elogiá-lo. Era bom ser um daqueles românticos idiotas, quando se tratava dele.


Ele sorriu em resposta e continuamos colados durante não sei quanto tempo - só sei que muito–, calados, apenas curtindo nossas próprias presenças.


– Vai se arrumar, David. - Falei depois e algum tempo, descolando nossas testas e beijando a pontinha do seu nariz.


– A gente vai sair? - Ele perguntou de um modo fofo, parecendo não gostar da repentina falta de contato.


– Vamos, anjo. - Ele sorriu largamente - Ainda tenho que me vingar de você, lembra?


Ele não pareceu entender mas concordou, suspirando enquanto saia do meu abraço e ia tomar banho.


Eu fiquei alguns bons minutos sorrindo para o nada. Sorrindo pelo simples fato de ter meu anjo de volta.


Ainda não tanto quanto eu gostaria...



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Notas finais do capítulo

Muito doce ou muito quente? Haha muito os dois! xD ui!
Uhuuul, quem queria me bater agora quer me abraçar? Quem me odiava já voltou a me amar? *-*
E ah, gente, se vocês não estiverem amando o jeito "entrão" e "tô nem aí, me meto mesmo" do Seb, eu desisto de vocês, porque ele é muito amor, sério *-* rsrsrsrs
Todo mundo super grato pelo Seb, viu? ♥



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