Porque Nada é tão Fácil escrita por CuteMari


Capítulo 5
Pesadelos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/25350/chapter/5

"Mamãe estava fora de si. Gritava insultos para quem quisesse ouvir. Papai escutou todos quieto e com perfeita disciplina. Ouvi meu pai sair e passar pela minha frente para entrar no quarto de casal. Estranho, eu estava na antiga casa onde morávamos quando eu tinha 10 anos. O que era isso?

Mas, quando ele saiu do quarto com as malas prontas rapidamente me lembrei daquela cena. Comecei a chorar e corri para abraçá-lo, mas não podia encostar nele, não podia toca-lo. Eu era só uma espectadora da cena mais triste da minha vida e não poderia inteferir. Meu pai continuou o caminho decidido até a porta. Eu acompanhei o desenrolar da cena desesperada. Mesmo já sabendo o seu fim, eu teimava em manter a esperança de que eles na verdade ficariam juntos.

Quando ele passou, Joyce apenas limitou-se a olha-lo. Não emitiu nem um ruído mas era possível ouvir seus soluços. Papai não se abalou, abriu a porta e saiu sem olhar para trás. Mas uma figura a deteu. Uma pequena garotinha, choramingou aos seus pés e agarrou-lhe a barra da calça. Seus olhos negros imploravam que ficasse. Ele simplesmente abraçou a demorada e ternamente, estalou-lhe um beijo na testa e continuou o caminho.

Sumiu no horizonte de nossa rua, junto com o Pôr do Sol. A menininha então sentou-se nos pés da porta, encolhida, com a cabeça escondida nos joelhos. Chorava descontroladamente. E eu sofri ainda mais por relembrar de tudo aquilo. Por me ver ali no chão, por me sentir desconsolada de novo, por reviver tantas angústias, tantas dores. Me desesperei, tudo que eu queria era abraçar a garota, consolá-la, dizer que estava tudo bem. Que o pai voltaria para seus braços, que sentiria seu calor de novo, que aquilo era só uma briguinha cotidiana. Mas eu não podia, primeiro porque estava fadada a apenas assistir esse horrível pesadelo fruto do meu próprio inconsciente; e segundo porque não era verdade. A distância com o pai seria muito mais duradoura do que eu própria jamais imaginei."

Acordei de repente, suada na cama. Triste e pesarosa. Nada me doía mais do que lembrar daquilo tudo. Sim, eu sabia que não havia sido culpa de meu pai, na verdade não havia sido culpa de ninguém, mas como sempre, eu jogava todo o rancor dessa situação nas costas de minha mãe.

Eu nunca entendi a briga entre os dois, desconhecia o motivo, mas era algo bem sério. Por isso meu pai nunca me visitava na casa de minha mãe, as vezes eu passava uma semana com ele na sua casa de praia.

Ele tinha se tornado Dr. Júlio Rossi, um importante executivo e mantinha uma empresa imobiliária na região litorânea. Não tinha formado uma família nova, diferente de Joyce.

É claro que ele sempre tentava ter um tempo comigo mas era muito ocupado e acabava pecando em não reservar um espaço só pra mim em sua vida. Aprendi a conviver com a falta dele, mas, nos piores dias tudo isso me machucava demais.

 

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!