Era uma noite fria e escura. As ruas centrais estavam lotadas, mas eu não queria companhia. Eu queria ficar sozinha. A cidade era bem pequena, então, depois de um tempo, esbarrei em meus amigos. Estavam lá Jonny, Ana, Mih, Marina e mais metade da classe. Estranhei a ausência de Júlia e Luís, mas afastei pensamentos pessimistas da minha cabeça.  Meus amigos dos quais eu me afastei faz tempo. Eles estavam sentados na varanda de um do barzinhos. Tocava música ao vivo e todos pareciam se divertir. A primeira a me notar foi Mih. Ela deu um breve sorriso, mas ao não receber um resposta pareceu entender que alguma coisa estava errada. Logo depois Jonny me viu e me chamou com as mão, fazendo sinal para que eu me juntasse a eles.

Senti outra lágrima no meu rosto. Rapidamente sequei-a com a manga da minha blusa. Abaixei minha cabeça e continuei andando. Mas, pude ver pela visão periférica Camila abaixando serenamente as mãos de Jonny, que ainda acenava para mim. Saí de lá o mais rápido possível, não queria mais ser vista. Vi vários conhecidos pela rua, mas só um casal me chamou a atenção.

Agora eu sabia extamente onde estavam Luís e Júlia. Ele estava agarrando ela. Uma das mãos na bunda dela e a outra agarrando sua nuca. Já ela, abraçava a cintura dele, grudando os dois corpos. Os dois se beijavam em ritmo frenético, totalmente perdidos um no outro. Pareciam um casal loucamente apaixonado, no primeiro beijo. É claro que foi inevitável lembrar do meu primeiro beijo com Luís. Foi realmente amor? Eu devia acreditar nele? Eu fui mesmo a idiota que todos me disseram?

Então pisquei os olhos ainda olhando pra eles, tentando afastar essas lembranças. Mas então me lembrei de Filipe. Do que era amor de verdade, do que era estar apaixonada. E então naquele abraço, não era mais Júlia e Luís e sim eu e Lipe. Éramos nós dois que nos beijavamos, éramos nós dois que nos agarravamos como se ninguém mais existisse. Tentei correr dali, para afastar todas aquelas visões. Mas por qualquer rua que eu passasse, em todos os casais que eu visse, eu sempre conseguia ver os rostos meu e do Lipe.

Entrei em desespero, e depois de muito tentar fugir de minhas visões, me sentei sem forças numa alameda escura. Segurei a cabeça com as mãos, espremendo os olhos pela dor que eu sentia com tanto sofrimento. E junto com minhas primeiras lágrimas, senti escorrer pelo meu rosto também, as gotas da chuva que começava a cair. Eu não me mechi. Que caísse o mundo na minha cabeça! Não importava agora.

Então, vi a imagem de eu criança e minha promessa. "Eu iria ser forte, eu prometi!" Passei por tanta coisa, aguentei tanto. E eu não acabaria com a minha vida por um amor qualquer. Segurei meu choro e escondi o rosto entre os joelhos.

- Dia difícil? - Perguntou uma voz. Senti alguém se aproximar do meu lado e se sentar comigo.

Levantei a cabeça instântaneamente e olhei para o lado.

- Jonny?! - Exclamei exasperada.

- Surpresa?

Sim, eu estava muito mais surpresa do que ele esperava. Mas não respondi.

- Luís tem vários problemas em casa que muitos desconhecem, e as vezes ele extravasa de um jeito errado e comete várias besteiras.

Mesmo não sendo Luís a causa dos meus problemas me interessei pelo que ele disse:

- O que você está insinuando? - Perguntei.

- Ele bebe as vezes, Jenn. Como hoje. Isso não começou há muito tempo, mas ele vêm cometendo vários erros e magoando várias pessoas desde então. - Explicou sereno.

- Ele estava muito sóbrio no tempo todo em que me usou. - Senti uma pontada de dor emocional ao pronunciar essas palavras.

- Em momento nenhum estou querendo dizer que ele é inocente, mas apesar de ter errado, ele gostava muito de você. E você sabe disso.

Isso me confundiu um pouco, mas me forcei a voltar a outro foco. Lipe.

- Mas seu problema não é exatamente esse, não é? - Perguntou Jonny, sua capacidade psiquiátrica estava me assustando.

- N...Não...

- Olha Jenn, só temos mais uma semana de aula antes das férias. E ouvi dizer que seu pai já voltou a morar naquela casa de praia maravilhosa dele, e está quase recuperado, mas isso você já sabe. Líliam só volta no começo das aulas e não é difícil perceber que você está péssima. Fuja de tudo isso, seu pai vai te receber de braços abertos.

Então ele se levantou e começou a se afastar, e disse sem se virar para mim de novo:

- Pense nisso.

Ele mal tinha virado a esquina e eu já tinha saído da sargeta e corrido para casa. Estava meio boba com a capacidade dele, e também sobre o que ele disse de Luís. Bêbado? Não fazia muito sentido, não era fácil aceitar imaginar o Luís assim. Eu sempre admirei ele. Mas, numa coisa Jonny me ajudou muito, eu fugiria para a casa do meu pai sim...