Porque Nada é tão Fácil escrita por CuteMari


Capítulo 18
Emergência




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Sábado inteiro e lá em casa só conseguia ouvir meu choro. Eu não sabia mais se chorava de nervoso, tristeza, raiva... Pensei tanto em Lipe. Eu realmente amava demais ele! Sem dúvida. Mas e a Naty? Sim, agora eu me lembrava dela. Ela era a prima de segundo grau gostosa que vinha nos feriados importantes e deixava todos os outros garotos hipnotizados.

"Era provavelmente o meu último dia de férias no sitío da vovó. Amanhã eu voltaria para casa e nem sei se voltaria no próximo ano. Vovó já havia cansado de falar que o casamento de seu filho não duraria muito. É verdade, apesar de nova, eu já era matura ao bastante para saber que meus pais se separariam dali a pouco tempo. Então eu juntei minhas coisas, que estavam espalhadas em cada metro quadrado daquele sítio. E fora dele também, considerando que havia acabado de encontrar um chinelo pendurado na árvore. Eu sentiria falta daquele lugar.

Nos 10 anos que eu me conheço por gente, todas as folguinhas que eu tenho, eu gasto aqui. Sem excessões. E pensar que aquilo tudo mudaria... Sentei abraçada aos meus joelhos e senti lágrimas escorrerem por meu rosto. Então vi meu reflexo em um espelho. E imediatamente cessei minhas lágrimas. Vi no meu rosto, o rosto de minha mãe. Eu estava cansada de vê-la chorar e prometi pra mim mesmo que não  seria mais assim. Eu não a faria ficar pior, eu seria forte!

Levantei e fui até a cozinha onde eu encontrei minha vó. Me despedi dela calmamente e fui atrás do resto de meus primos. Então quase desisti. Lá estava ela, sentada no MEU balanço. Com um mini-shorts e umas belas coxas de fora. Ela era um ano e meio mais velha que nós, mas já tinha o corpo bem desenvolvido. Bem diferente de mim. Seus cabelos pretos com reflexos ruivos eram perfeitamente lisos e caiam sobre seus seios, já fartos. E ao lado dela estava Filipe. Ele nem havia me percebido, estava mais ocupado olhando para ela. Estava quase babando, como cachorro olhando frnago assado na máquina. Mas ela tinha me percebido, e sorriu de canto de boca. Ela estava lá, onde eu deveria estar. No meu balanço, ao lado de meu melhor amigo. Como sempre, roubando todas as atenções. Me senti perdida e abadonei a cena.

Não Filipe não recebeu minhas despedidas naquele dia, eu entrei direto no carro de minha mãe que veio me buscar. Não demoramos a sair. Eu estava quase chorando, mas segurei minhas lágrima. Eu iria ser forte, eu prometi!"

Certas lembranças, quando vêm à tona, magoam como se fossem feridas frescas. Fui até o banheiro e vi meu rosto no espelho do armárinho. Mas eu não era a mesma Jenn. E as cicatrizes que eu tinha não era apenas aquela que pegava toda minha nuca. Meus olhos estavam inchados e vermelhos. O rosto totalmente descuidado, a boca seca e rachada. O cabelo estava embramado e mal cuidado. Dava para perceber como eu tinha emagrecido. Minhas olheiras eram muito grandes. Eu fiquei muito nervosa e revoltada com aquela imagem. Puxei violentamente a porta do armário e a empurrei na direção da parede. Ela bateu com um estrondo muito barulhento e o espelho se quebrou em vários grandes pedaços sobre a pia.

Então, na minha frente, vi revelada a gilete do banheiro. Ela brilhou quando eu a peguei na mão, refletindo a luz do teto. Eu examinei ela, hipnotizada. Era uma saída bem fácil. Tudo acabaria em poucos minutos. Eu veria essa maldita vida escurecer e se apagar diante de meus olhos. Talvez, depois disso, eu fosse realmente feliz. Passei num movimento rápido um de meus dedos sobre a lâmina. Senti a dor aguda e vi o sangue escorrer. Um corte superficial. Seria preciso muito mais. Era realmente aquilo que eu queria?

Ouvi em minha mente, ecoar aquela música que as vezes me fascinava.

"Tento achar que não é assim tão mal, exercita a paciência./ Guardo os pulsos pro final, saída de emergência."

Emergência era a palavra certa para a minha situação. Cheguei a apoiar a gilete sobre meu pulso e fazer uma leve pressão. Passaram pela minha cabeça cenas de tudo que eu tinha vivido nesse tempo todo. Meus pais, minha irmã, Luís, Júlia, Mih, meu pai no hospital, Filipe me beijando... Uma última e grossa lágrima escorreu de meus olhos e parou em meus lábios. Senti seu gosto salgado. Então, me assutei com o meu celular tocando e vibrando alto ao meu lado. A música eletrônica e animada ao meu lado constratou com a situação e eu, no susto larguei a lâmina no chão.

Quem me ligava era a Líliam, mas eu não atendi. Eu simplesmente não estava em condições. Chutei para longe a gilete e sai do banheiro. Eu teria que lembrar também, de agradecer a Lih por salvar minha vida. Era noite e eu precisava sair de casa antes que cometesse alguma besteira.

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Bom gente, capítulo meio Dark, mas é que eu to meio emo esses dias! xD

Ah, e a música que ela cita é Pulsos, Pitty.


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