Eu declarara-me ao Eric. Tipo, declarara-me a sério, com as palavras "eu amo-te" no discurso. E ele tivera um acidente logo a seguir. Que timing excelente. Vê-lo ali, deitado naquela cama de hospital, todo engessado, inconsciente... foi a pior coisa que já vi na vida e nunca me custou tanto respirar como nos dois dias em que ele estivera inconsciente. Felizmente ele estava bem, claro, mas e se ele não tivesse acordado? E se ele não tivesse saído daquele coma? Como poderia eu viver a minha vida sem ele presente nela?

Mas ele acordara.

– Aria? - Chamou ele, do seu quarto.

– Sim? - Respondi, subitamente alerta.

– Hum... Podes-me trazer um pouco de água por favor? - Pediu-me.

Eu ri-me, aliviada. Por momentos, pensei que ele se pudesse ter sentido mal e que fosse necessário levá-lo ao hospital mas, no final, ele apenas precisava de água. Por isso, levantei-me e fui até à cozinha, enchi o copo e fui até ao quarto dele, encontrando-o deitado, ainda engessado, à minha espera.

– Aqui tens. - Sorri.

– Obrigada, pequena. - Disse ele, pegando no copo com a sua mão que não estava engessada.

– De nada. - Senti-me corar. - Então, pronto para tirar o gesso logo à tarde?

– Sim! Finalmente, estou farto de não me poder mexer. - Riu-se. - Vens comigo, certo? - O seu sorriso desvaneceu-se, dando lugar a um sobrolho franzido.

– Claro que sim. - Respondi, séria.

– Boa. - Ele voltou a sorrir.

Aproximei-me dele e beijei os seus lábios ao de leve, como se ele se fosse partir se eu exercesse demasiada pressão.

– Podes beijar-me decentemente. - Disse ele, de olhos fechados e com um sorriso torto nos lábios.

Ri-me e, levando a mão ao seu rosto, beijei-o com paixão até o ouvir gemer de dor.

– É por isso que eu não te beijo decentemente. - Ri-me, afastando-me dele.

Ele reclamou qualquer coisa entre dentes. Eu não pude evitar sorrir e beijei-lhe a testa, indo para o meu quarto logo a seguir, onde fiquei até serem horas de levar o Eric ao hospital para ele ir tirar o gesso.

Peguei na minha mala e ajudei o Eric a meter-se no carro. A minha mãe e o meu padrasto tinham voltado apenas durante tempo suficiente para poderem estar com o Eric até ele tirar o gesso. Partiriam nessa noite.

– Pronto para isto, campeão? - Perguntou o Paul, a olhar para o Eric pelo espelho retrovisor, com um sorriso.

– Mais do que pronto. - Disse o Eric a rir, embora a sua gargalhada fosse nervosa.

O Paul riu-se e ligou o carro. Em pouco menos de meia hora, chegámos ao hospital. Era hora de o Eric se livrar de todo aquele gesso.

Fiquei na sala de espera enquanto o Paul e o Eric entraram para o consultório, onde ficaram mais de uma hora. O gesso devia demorar muito a sair, pelo aspecto da coisa. Mas a verdade é que eu mal podia esperar por ver o Eric com uma aparência normal de novo, sem gesso, sem vestígios do acidente. Claro que ele teria de fazer fisioterapia para remediar os estragos feitos pelo acidente, mas pelo menos não andaria por aí a mostrar, constantemente, que se tinha magoado. Era bom, certo? Certo.

Assim, quando ele saiu daquele consultório, com o Paul mesmo atrás dele de sorriso na cara, não pude evitar correr de encontro a ele e abraçá-lo com força, ignorando o seu gemido de dor inicial, que foi seguido de um abraço apertado da sua parte. Só nos largámos quando o Paul clareou a voz.

– Então, hum, vamos embora? - Disse o Paul com um sorriso constrangido.

– Vamos. - Disse eu, com um sorriso envergonhada, afastando-me de Eric.

Quando olhei para Eric, ele estava corado e com um sorriso doce no rosto, aquele sorriso que me derretia o coração. Eu não podia amá-lo mais do que naquele momento, ao ver o seu sorriso tolo depois do nosso abraço.

– Amo-te, pequena. - Sussurrou-me ele ao ouvido, quando estávamos a entrar no carro, e eu podia jurar que o meu coração tremeu com aquelas simples palavras.